Os dias que se
seguiram à fuga de Heliópolis foram os piores da minha vida, porém a presença
de Bernardo e Manoel amenizaram os seus efeitos, afinal, apesar de tudo, eu
estava com a minha família.
Tomás e William
também se mostraram pessoas muito agradáveis e fiquei surpreso em saber que
eles escondiam um romance, há 10 anos, bem diante do meu pai, o que, segundo
eles, era muito perigoso e ao mesmo tempo lhes despertava uma sensação que
avivava a relação.
Porém, o que
mais me surpreendeu em relação à relação daquele casal, foi a revelação de que,
há um ano, enquanto eles viajavam coletando impostos, eles se casaram em um
pequeno vilarejo no qual, tal como Luminus, a relação homoafetiva era
considerada absolutamente normal.
Assim, no nosso
quarto dia de viagem, após termos dormido em clareiras - encostados em troncos
de árvores ou aninhados nos galhos mais altos -, nós paramos em um vilarejo
que, aparentemente, estava despovoado, então adentramos uma casa e nos
alojamos. Prontamente, William, que parecia ser o mais centrado e decidido da
equipe, disse:
- Não poderemos ficar muito tempo! Precisamos verificar se há suprimentos, tomar um banho, trocar nossas roupas e continuar na estrada!
- Certo! Eu
verificarei a dispensa e vocês três podem ir tomar banho e trocar de roupa!
- O que
aconteceu a esse lugar William?
- Bem,
digamos que Conde Rafael esteve aqui!
- Não me diga
que este é o vilarejo de que vocês tinham falado?
-
Sim...Infelizmente, este é o local onde nós nos casamos...Ele foi invadido, há
dois meses, por Conde Rafael!
- Mas eu pensei
que ele não tivesse domínio sobre Heliópolis!
- E não
tem...ou não tinha...Mas nós não estamos mais em Heliópolis Felipe! Estamos no
vilarejo de Gorgi, que fica no Reino de Naquim. Nós passamos a fronteira oeste
de Heliópolis há uma hora!
- Nossa! Eu
nunca estive em Naquim William!
- E nem
deveria! Este não é um reino amigo de Heliópolis! Por isso mesmo é um dos
poucos lugares para onde Conde Rafael acha que viríamos, porém é melhor não
confiarmos muito nisso, então vamos nos apressar!
- Acho que
vocês terão que ir sem mim rapazes...eu não aguento mais prosseguir com vocês!
- Seu Manoel! O
senhor está passando mal?
- Não meu
filho, eu apenas estou cansado demais para continuar a jornada! Eu já não sou
mais tão vigoroso quanto antes!
- Pai...eu
lamento dizer isso, mas eu acho que o senhor precisa voltar para Luminus sem
mim!
- Você não
virá comigo?
- Eu...eu não
posso deixar o Felipe...quero dizer, não agora! Ele precisa de mim ao lado dele
e você não pode seguir conosco ou acabará definhando! Então, volte para casa e
eu prometo que, em breve, eu voltarei!
- Bernardo, não
precisa...eu acho que você deveria voltar com o seu pai...
Inesperadamente, Bernardo me puxou para si e me abraçou forte. Então, disse:
- Eu não poderia ficar em casa sem notícias suas! Eu não conseguiria viver assim! Então eu serei de mais serventia ao seu lado!
- Mas
Bernardo...
- Não
Felipe, ele tem razão! Eu sei como é amar alguém e eu não tenho a mínima dúvida
que, desde o primeiro dia em que vocês se viram, foi amor o que aconteceu entre
vocês! Eu posso ver isso claramente e eu entendo a opção do meu filho!
- Muito
obrigado por entender pai!
- De nada
meu filho! Mas eu, com certeza, também ficarei aflito em casa sem notícias
suas, então, por favor, não demore a retornar!
- Eu prometo!
Assim, decidimos que Manoel nos deixaria e seguiria em direção a Luminus por uma rota que William e Tomás conheciam muito bem, devido aos anos em que caminharam para recolher impostos. Porém, antes disso, todos nós tomamos banho, trocamos nossas roupas, que já estavam esfarrapadas e sujas, bem como coletamos os pouquíssimos suprimentos que restaram na casa. Posteriormente, já estávamos prontos para a partida, então me despedi de Manoel dizendo:
- Muito obrigado pela sua companhia Manoel, você tem sido um pai para mim e eu espero poder te ver muito em breve!
- Você, como
eu sempre digo, já é parte da minha família Felipe e eu também espero que
possas retornar em breve para a minha casa! Quanto a você Bernardo, cuide de si
e do Felipe, por favor! E retorne o quanto antes para casa meu filho, o meu
coração só irá sossegar depois de poder te ver na minha frente!
- Pode deixar
pai, eu cuidarei de nós dois e não se preocupe, porque nos veremos em breve!
Desse modo, eu e Bernardo abraçamos e nos despedimos de Manoel, que montou em seu cavalo e, antes de partir, disse:
- William e Tomás, cuidem dos meus filhos! Por favor!
- Pode
deixar Manoel!
- Nós
cuidaremos!
Depois disso, Manoel se virou e partiu em direção ao horizonte com o seu cavalo. Enquanto observávamos ele se afastar até se perder de vista, não percebemos duas figuras que se aproximaram de nós e nos golpearam. A última coisa que vi foi um rosto com uma expressão agressiva e, quando acordei, encontrava-me com as mãos amarradas, em uma sala na qual também estavam Bernardo, William e Tomás, os quais estavam inconscientes.
Enquanto uma
forte dor martelava em minha cabeça, eu vi uma figura, a mesma que me
nocauteou, adentrar a sala, dizendo:
- Quem enviou vocês aqui? Quantos vocês apanharam e onde os esconderam?
- O que? Eu não
estou entendendo!
Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, um golpe me atingiu no rosto, o qual fico, insuportavelmente, latejando e, enquanto um zumbido ressoava em meu ouvido, a figura perguntou novamente:
- Responda à pergunta: Quem enviou vocês aqui? Quantos vocês apanharam?
- Eu não sei do
que você está falando! Nós não pegamos ninguém!
- Não minta pra
mim!
Enquanto o homem bradava isso e cerrava os punhos para desferir outro golpe, eu fechei os olhos, porém, antes de ser atingido, eu ouvi a voz de William gritando:
- NÃO! NÃO! Nós não estamos aqui para ferir ninguém! Nós somos como vocês!
- O que quer
dizer com "nós somos como vocês"?
- Quero
dizer que nós também estamos sendo caçados!
- Como vou saber
que não é mentira? Eu nunca vi vocês por aqui!
- Bem, isso
é por que não somos daqui e sim...e sim...
- E SIM DE ONDE?
RESPONDA!
- E sim de
Heliópolis! Mas nós estamos fugindo de lá pelo mesmo motivo que vocês estão
sendo caçados aqui! Conde Rafael quer se apossar de Heliópolis!
- NÃO DIGA ESSE
NOME AQUI! Então vocês também são homossexuais? provem!
- Provar? Mas
como vamos provar?
- Eu não sei,
apenas provem!
- Escute,
nós até casamos aqui! Você deve se lembrar de nós!
- Nós celebramos
muitos casamentos aqui em Gorgi! Não posso lembrar de cada pessoa que passou
por aqui!
- Espera, eu
estou te reconhecendo! Você é o homem que foi deixado no altar pelo namorado!
Ele disse não no último momento e você correu atrás dele para fora da igreja!
- COMO VOCÊ SABE
DISSO?
- Porque nós
nos casamos naquele dia! É verdade Tomás, é ele mesmo! Agora eu me lembro.
- Bem, eu acho
que vocês estão dizendo a verdade! Eu ameacei todos que comentassem sobre isso
e se vocês sabem desse fato, então é porque estavam lá e não são daqui para
terem a ousadia de falar sobre isso na minha cara!
- Então vai nos
libertar?
- Sim, mas se
vocês comentarem sobre isso outra vez eu garanto que não vão viver para
espalhar a história!
O homem, que informou se chamar Raul, nos libertou e nos conduziu até um outro cômodo onde encontramos o seu comparsa, que prontamente disse:
- Por que você os libertou Raul?
- Eles são como
nós! Não acho que seja a hora de eliminar as pessoas do nosso próprio
"tipo", não é verdade? Principalmente se realmente vamos fazer
aquilo!
- Fazer
"aquilo" o que Raul?
- Bem, acho que
talvez vocês possam ajudar! Nós queremos encontrar e matar o Conde Rafael! Nós
temos um grupo de, aproximadamente, 30 pessoas comprometidas com essa causa, as
quais foram as únicas que sobreviveram ao massacre que ocorreu em Gorgi há dois
meses! Então...vocês querem ajudar?
- Como nós
poderíamos os ajudar!
- Bem, eu não
sei, digam vocês! Mas eu sei que estes dois aqui e você têm corpos que parecem
terem sido moldados para o combate! O que vocês faziam antes de fugirem?
- Eu era
pastor de ovelhas!
- E quanto a
vocês?
- Nós dois
também!
- E quanto a
você rapaz? O que fazia? Não parece muito proveitoso para o combate, mas talvez
possa ser de alguma serventia na área estratégica!
- Ele
trabalhava comigo! Ajudava a contabilizar os ganhos!
- Ah,
interessante! Bem, vamos ver onde colocar você depois! Agora, vocês querem
ajudar ou não?
- Sim, com
certeza! Conte conosco!
- Nesse caso,
nos acompanhem até o nosso acampamento...nós já ficamos tempo demais aqui!
Nós pegamos nossos cavalos e os seguimos até uma floresta muito densa, então penetramos fundo na vegetação, até que encontramos uma clareira na qual podiam ser vistas diversas pessoas amontoadas ao redor de uma fogueira, Estas, quando nos viram, apontaram várias armas em nossa direção, porém, ao verem Raul e se companheiro, as baixaram.
Raul nos
apresentou ao resto das pessoas, que foram pouco receptivas e aparentavam
estarem bastante abatidas e apáticas, o que ele explicou ser decorrente do
racionamento de comida e do luto pela morte de entes queridos.
Depois de nos
mostrar um local em que poderíamos ficar, Raul se retirou. Depois disso, eu
rapidamente me dirigi a Bernardo:
- O que nós estamos fazendo? Por que acompanhamos esse homem?
- Nós não
tínhamos escolha Felipe! Aquilo de "vocês querem ajudar?" não era uma
pergunta e sim uma intimação, pois se nos recusássemos, ele iria acabar conosco
ali mesmo, afinal o que ele teria a perder?
- Mas então o
que faremos? Nós não podemos ajudá-lo! Não podemos nos envolver em um conflito
direto com Conde Rafael!
- Felipe,
com todo respeito, a vida é mais complexa fora dos muros do castelo ou dos
limites de Luminus! Aqui a pessoas estão sendo cassadas e mortas por pura
diversão e somente porque elas escolheram dizer ao mundo que gostam de pessoas
do mesmo sexo! Eu, particularmente, quero me envolver nessa luta e, apesar de
não ter gostado de Raul em si, eu gostei da proposta dele! Era isso que eu
estava esperando a minha vida toda: uma chance fazer a diferença e parar de me
esconder porque eu amo o Tomás! Sinceramente, eu entendo se vocês quiserem ir
embora e até os ajudarei nisso, mas, me digam, vocês não querem fazer a
diferença?
- Eu concordo
com ele Felipe! Luminus foi a melhor coisa que aconteceu para alguém como você
depois que foi expulso de Heliópolis, então você não pôde perceber o quão
difícil é a vida fora do castelo! Nem eu mesmo sei, afinal eu nunca saí de
Luminus e sou aceito na minha família e na minha comunidade. Mas será que não é
nosso destino estar aqui para lutarmos pelo nosso direito de amar quem nós
quisermos? Pensa bem, havia tantos lugares para nós irmos em nossa fuga e
acabamos encontrando um grupo tão grande de pessoas que querem lutar por isso!
- Bernardo, eu
entendo que queiras lutar, mas o que eu poderia fazer? Você ouviu o que ele
disse, eu não tenho um porte de um guerreiro!
- Felipe, eu
preciso comentar que as mais bem-sucedidas guerras não foram ganhas por corpos
treinados para combate e sim por mentes treinadas para pensar além do óbvio!
Além disso, eu sei que você teve muitas aulas de luta e combate desde de
pequeno!
- Bem, sim, mas
eu nunca pus isso em prática, afinal eu nunca me interessei muito por esse tipo
de assunto!
- Não tem
importância, nós podemos treinar juntos! Eu acho que William e Tomás não vão se
importar de nos dar aulas, certo? Por que eu, apesar do porte, não entendo nada
de combate!
- Seria uma
honra!
- Mas então
vocês aceitam ficar aqui e lutar conosco?
- Claro que
sim...eu não tenho como recusar isso, afinal, se não fosse por vocês eu nem
estaria aqui, então eu preciso fazer o esforço valer a pena! Mas a gente
precisa necessariamente matar o Conde Rafael? Eu não compartilho muito desse
espírito sanguinário!
- Felipe, eu
entendo isso, mas você não pode impedir essa gente de querer matá-lo, afinal
eles viveram coisas que você nem imagina vendo os filhos deles serem presos e
depois caçados pela nobreza. Então, lute conosco e apenas se mantenha longe de
Conde Rafael, porque eu tenho certeza que se você não quiser matá-lo, há muitos
aqui que irão!
- Tudo bem!
- Outra
coisa...como eu disse, Naquim não é um reino onde Heliópolis é bem-vinda, então
jamais mencione que você é da realeza de lá e tampouco que é o príncipe! Para
todos os efeitos nós somos meros camponeses de Luminus!
- Certo!
- Certo!
- Bom, agora
temos que descansar, porque amanhã vamos começar o treinamento! Então, boa
noite a todos!
Tomás conduziu William até um tronco de uma árvore, onde os dois se aconchegaram e dormiram abraçados. Quanto a mim, eu me encostei em uma árvore e rapidamente adormeci, enquanto Bernardo tinha ido conversar com outras pessoas para se ambientar. Eu acordei durante a noite com ele se aconchegando ao meu lado e, por algum tempo, não consegui voltar a dormir. Durante esse período eu refleti sobre a sucessão de acontecimentos que se passaram no período de uma semana em minha vida e, principalmente, sobre a nova tarefa que me tinha sido imposta: participar de uma revolução para defender o direito de amar Bernardo, a qual terminaria com a morte de Conde Rafael, que, embora fosse alguém por quem eu não nutria nenhum tipo de afeto, eu não necessariamente queria ver morto. No fim das contas eu me sentia lisonjeado por poder participar deste fato, pois se nós fossemos bem-sucedidos, eu poderia viver tranquilamente ao lado de Bernardo e até poderia voltar a ver meu pai. Assim, quando o sono veio, eu me entreguei e voltei a dormir.
O primeiro dia
no acampamento dos refugiados de Gorgi começou pouco auspicioso, já que o nosso
anfitrião Raul nos despertou com um balde de água fria, diretamente
coletada do rio mais próximo para essa finalidade, gritando:
- ACORDEM! Precisamos iniciar as tarefas do dia!
- Quais tarefas
Raul? E por que tão cedo?
- Por que eu
estou mandando! Vai questionar minhas ordens?
- É claro
que não! Certo Felipe?
- Err...certo,
certo! O que nós precisamos fazer?
- Eu já vou lhes
dizer! Mas acho melhor que vocês aprendam quem está no comando aqui!
- Nós
sabemos Raul. Nem se incomode em explicar!
- Melhor
assim! Não demorem!
Assim que Raul se afastou, William se virou para mim e disse:
- Felipe, precisas ter mais cuidado com o Raul, afinal ele não é a pessoa mais equilibrada que eu conheço!
- Eu sei
William, eu só...desculpa, vocês devem estar achando que eu ainda sou um
principezinho mimado...
- Nós
sabemos que não é o caso, mas precisas tomar mais cuidado ok?!
-
Tudo bem! Obrigado pelo conselho William!
-
De nada! Apenas se cuida tá?!
Inesperadamente, William me abraçou e eu me senti a obrigação de retribuir, embora não tenha entendido a motivação do gesto. Depois disso, ele e Tomás foram até o rio para realizar o asseio, enquanto eu, finalmente, me dirigi a Bernardo, que ainda não tinha se pronunciado naquele dia:
- Bom dia Bernardo! Por que você está tão calado hoje?
- Felipe...queres
me explicar o que foi isso que acabou de acontecer aqui com o William?!
- O que? o
abraço? Eu também não entendi!
- Eu não
sabia que vocês tinham esse tipo de intimidade!
- Ah, nem
eu, mas...pera aí... você está com ciúmes?
- O que?
Eu...não!...Quero dizer, sim...ah, eu não sei! Mas fiquei surpreso com
isso!
- Eu também
fiquei! Acredite!
-
Tudo bem, vamos esquecer isso então! Agora, mudando de assunto...você vai
ao rio agora?
-
Sim...precisamos ir até lá pra os livrarmos desse suor e sujeira! Mas por que a
pergunta?
- Bem, é
que nós nunca nos vimos...em trajes menores...você não se
importa?
-
Ah...eu não tinha pensado nisso!...o que você acha disso?
- Se você
quiser ir sozinho eu posso esperar, sem problemas!
- Ah...não
sei...acho que deveríamos aproveitar ao máximo as nossas oportunidades de
ficarmos juntos e a sós, certo? Então acho que deveríamos ir juntos!
-
Tudo bem, se é isso que você quer...vamos lá!
Nós esperamos William e Tomás voltarem do rio, então fomos até lá. Confesso que eu fiquei nervoso por ter que tomar banho ao lado de Bernardo, porém eu tentei parecer o mais tranquilo possível, pois eu percebi que, ao me perguntar como eu me sentia em relação a isso, ele estava expressado a sua própria ansiedade. De fato, eu entendo o nervosismo dele, afinal ele não esteve com muitas pessoas ao longo da vida e duvido que alguma vez tenha se exposto dessa forma.
Conforme ele
retirava as suas roupas eu pude, efetivamente, perceber o quão atraente
e bonito ele é. O trabalho braçal lhe conferiu um porte realmente
digno de um guerreiro. Ele tem um peitoral grande, braços musculosos, abdômen definido
e pernas torneadas. Esse conjunto de características contrastam com a
delicadeza do seu rosto, que, apesar de ter traços bastante másculos, tem
impressas nele a pureza e a tranquilidade com que ele vê a
vida. Enquanto eu processo essas percepções, eu não noto que ele
me flagrou o observando, até que ele diz:
- Você está me deixando sem graça...
Ele está, evidentemente, envergonhado, pois o seu rosto está levemente corado. Eu fico da mesma forma, pois eu não sei como lidar com a situação. De fato, o que me deixa nervoso sobre isso não é a beleza do seu corpo, mas o fato de ser Bernardo, o meu namorado, com quem eu ainda não tive nenhum tipo de intimidade. No passado, eu já vi muitos homens com belos corpos, mas nenhum deles tocou meu coração ou me fez realmente atentar para outras coisas, como o fato de que o rapaz que está a minha frente fica muito lindo e atraente quando está encabulado. Pensando nisso, eu finalmente decido o que fazer. Eu me lanço em direção a ele e o beijo apaixonadamente, então digo:
- Eu peço desculpas! Mas, embora isso não tenha a menor importância, você é um homem muito lindo!
- Você está me
deixando sem graça novamente! Eu...não sei o que dizer...
- Não
diga nada! Apenas aceite o elogio! E, a propósito, você fica uma gracinha
envergonhado!
Dito isso, nós dois rimos da situação e o clima fica mais leve, então eu também retiro as minhas roupas. Assim, nós adentramos o rio juntos e nos sentindo bastante à vontade em relação à nudez um do outro, tanto que aproveitamos o tempo para nos beijarmos e trocarmos carícias que não nos permitimos quando estamos rodeados de pessoas. Nesse sentido, eu percebo que Bernardo me toca com mais intensidade, até que, de repente, ele me puxa para mais perto de si e diz próximo à minha orelha:
- Eu te amo! Prometo que isso vai terminar logo e nós poderemos nos casar e...ir além...
- Eu posso
esperar...meu...meu amor!
- Você não
fica frustrado de ter que ir tão devagar?
- De forma
alguma! O que me importa é estar ao teu lado! Apesar de não poder deixar
de notar o quão belo você é ou te desejar cada dia mais! Porém, a sua
fé me cativa e eu posso muito bem respeitá-la, já que você respeita o fato
de eu já ter experiência e nunca ter dito qualquer coisa a esse respeito.
-
Eu nunca te julgaria Felipe! Eu posso ver, a despeito do seu passado, a
maravilhosa pessoa que você é! Mas...mudando de assunto, eu ouvi você me
chamar de meu amor?
- Bem...sim!
Você é o amor da minha vida! Aquele que me fez redescobrir os meus valores e as
minhas aspirações na vida! Sabia que eu nunca tinha pensado em me
casar antes? Mas agora é o que eu mais quero!
- Sério? E
pode ser comigo?
- Não meu
amor, lamento, mas eu quero me casar com o Raul!
Enquanto eu e ele rimos da última frase, Raul realmente aparece, bradando:
- O que as donzelas estão fazendo aqui para demorarem tanto?
- Desculpa
Raul, já estamos terminando!
- Eu
acho bom! Se eu não vir vocês na clareira agora, vocês sofrerão
sérias consequências!
Assim que Raul toma o caminho de volta para a clareira, eu me viro para Bernardo e digo:
- Será que ele ouviu?
- Acho
que não!
-
Ainda bem! Porque ele é, definitivamente, a última pessoa com quem eu quero
me casar!
Ainda rindo da situação, eu e Bernardo saímos do rio, alcançamos as nossas roupas, nos vestimos e seguimos o caminho de volta para a clareira. Quando nos reunimos ao restante dos acampados, Raul está na frente de todos dizendo:
- Até que enfim resolveram se juntar a nós! Eu já ia começar a discutir as tarefas! Bem, minha contagem identificou que nós temos, atualmente, trinta e dois acampados aqui, então eu vou dividir quatro grupos de oito pessoas nas seguintes tarefas: busca de suprimentos, preparação da refeição, coleta de madeira para a fogueira e proteção do acampamento. Vocês, novatos, estarão divididos entre os quatro grupos, então o magricela ali (Felipe) vai ficar a preparação da comida, o porta-voz aqui (William) vai comigo para a busca de suprimentos, o namorado dele (Tomás) vai com o grupo da coleta de madeira e o grandão ali (Bernardo) vai ficar no grupo de proteção.
Assim que o discurso terminou, as pessoas se juntaram aos seus respectivos grupos, porém eu não me movi, apenas virei para os meus companheiros e disse:
- Vocês acham que é seguro nós nos separarmos?
- Claro
que não Felipe! Mas, aparentemente, não temos outra escolha!
Mas...por que ele me chamou de porta-voz?
- Ah querido, é
porque você é sempre o primeiro a falar ou amenizar uma situação desde que
chegamos aqui!
- Do que estás
reclamando! Ele me chamou de magricela diante de todos!
- Ah, isso
realmente soa pior! Desculpe! Mas, mudando de assunto...tomem cuidado enquanto
estivermos separados e observem se há algo suspeito nas pessoas com quem
vocês estarão. Precisamos saber se é realmente seguro nos juntarmos a
eles.
William se despediu de mim me abraçando e eu pude ver, novamente, o quanto isso desagrada Bernardo pela expressão que ele faz ao observar o fato. Tomás, entretanto, não pareceu nem minimamente incomodado com isso.
Talvez
percebendo a situação, William também deu um discreto abraço
em Bernardo e depois saiu para se juntar ao seu grupo, assim como
Tomás. Quando restamos apenas eu e o meu namorado, eu comentei:
- Por que essa cara?
- O que? Que
cara?
- Se você vai
começar a mentir para mim, eu acho melhor você treinar antes...
- Desculpe!
Eu não sei...apenas não gosto do modo como o William se tornou tão
carinhoso em relação a você!
- Mas qual o
problema?
- Eu não
sei...isso...isso me faz sentir incomodado...ameaçado talvez...eu não sei
explicar!
- Isso se chama
ciúmes! E é normal! Mas, você não precisa se sentir assim, porque
eu não estou interessado no William e acho que nem ele em mim!
Além disso, você viu que o Tomás pareceu nem se importar com isso?
- É, isso é
verdade! Bem, desculpe Felipe, eu só...te amo muito e...não sei lidar com
esses sentimentos ainda!
-
Tudo bem...nós descobriremos juntos tá? Apenas...não esconda como
você está se sentido de mim...isso pode deixar as coisas confusas!
- Eu prometo
que não vou mais fazer isso!
- Que bom!
Agora vamos logo trabalhar, antes de sermos advertidos de novo pelo senhor
simpatia!
Quando todos os grupos já haviam se envolvido em suas respectivas tarefas, ainda estava o começo da manhã. Confesso que ter sido colocado no grupo de preparação de refeições foi um pouco humilhante, primeiramente pelo fato de que só haviam mulheres nele e, em segundo lugar, porque eu não possuo qualquer habilidade culinária. Porém, tentei ajudar no que foi possível e quando os outros grupos retornaram, quase no final da manhã, havia um recipiente enorme cheio de verduras misturadas com restos de carnes variadas, o qual foi colocado para ferver na lenha trazida pelo grupo de Tomás, que foi o primeiro a retornar.O grupo de William retornou logo em seguida e eles, aparentemente, tiveram sucesso em coletar novos suprimentos, considerando-se os sacos que alguns deles tinham em mãos. Assim que chegou, William se dirigiu a Tomás e eles se beijaram intensamente, o que eu nunca os tinha visto fazer, pois eles sempre foram bastante discretos com carícias e beijos, provavelmente pelo tempo que tiveram que ocultar isso enquanto trabalhavam para o meu pai. Porém, depois do beijo, William caminhou até mim e disse:
- Como foi o primeiro dia de trabalho Felipe?
-
Ah...foi bom...apesar do fato de que eu não entendo nada sobre
preparação de refeições!
- Vais te
acostumar!
- Assim espero!
-
Err...Felipe, eu queria conversar sobre uma coisa contigo, mas não sei por
onde começar...
- O que é? Pode
falar...é algo grave?
-
Relaxa, não é grave... é só um pouco complicado! Por isso acho melhor
fazermos isso em outro lugar...podemos caminhar até o rio?
-
Ah...eu não sei...eu ainda estou esperado o Bernardo e não
sei o que ele vai achar disso!
- Eu prometo
que vou ser o mais direto possível!
-
Tudo bem! Despertastes a minha curiosidade!
Caminhamos até a margem do rio, então eu, prontamente, disse:
- Agora me diga William, o que querias me contar?
- Eu vou ser
direto Felipe... Há alguns anos, antes de morrer, a minha mãe me revelou a
identidade do meu pai, que eu pensava até então estar morto...
- Certo...mas
como eu entro nessa história?
- Bem, é aí
que eu quero chegar...Felipe, a minha mãe me revelou em seu leito de morte que
o meu verdadeiro pai era o Rei, que na época era apenas o príncipe, com quem
ela se envolveu secretamente e que logo depois se casou com a sua mãe, sem
saber que minha mãe estava grávida...
- O que?!
Então... o que você está me dizendo é que...que eu e você somos...irmãos?
- Sim! É
isso mesmo Felipe!
- Mas como eu
nunca soube disso? O meu pai sabe desse fato?
- Eu contei
para ele há algum tempo, mas ele me pediu que não tornasse isso público... Ele
não queria ter um filho bastardo, mas prometeu que cuidaria de mim e da minha
"esposa" no que fosse necessário.
- Eu sinto
muito William...tens tanto direito de ser um príncipe quanto eu...
- Não se
preocupe Felipe, eu não me importo com essas titulações. Além disso, eu sei que
o Rei é um bom homem e que realmente teria cuidado de mim.
- Eu imagino
que sim...Ele pode ser um pouco severo com a família em prol do povo, como ele
mesmo diz, mas tem um bom coração!
- De fato
ele tem...Foi ele quem me pediu, de joelhos, que te guiasse para fora de
Heliópolis. Além disso, ele sofreu cada dia que estivestes longe dele...eu sei
porque era um dos seus oficiais mais próximos e me tornei ainda mais íntimo
depois que lhe contei que era filho dele.
- Ele pediu de
joelhos?
- Sim...e,
na noite da nossa fuga ele me pediu para cuidar de você, enquanto estivermos
foragidos e caso algo de ruim aconteça com ele...
- Nossa...eu
sempre vi ele como um homem sem emoções... mas ele sempre esteve lá para
mim...sempre me protegendo...
- Sim...ele
sempre te amou e sempre vai te amar Felipe!...E eu prometi a ele que cuidaria
de você... meu irmãozinho!
- Eu nunca
pensei que fosse ter um irmão mais velho...eu acho que vou gostar da ideia!
- Sério?
Então tudo bem pra ti? Quero dizer... você me aceita como irmão?
- É claro
William! Tens me protegido todo esse tempo...eu te devo a minha vida! Além
disso, és uma pessoa muito agradável, apesar de um pouco imperativo às
vezes...definitivamente o papel de irmão mais velho combina contigo!
- Muito
obrigado Felipe! Isso é muito importante pra mim!
Novamente,
William me abraça e dessa vez eu não sinto nenhum estranhamento em retribuir.
Porém, nesse momento eu ouço alguns galhos quebrando e vejo um vulto correndo
atrás das árvores, então nos afastamos e eu digo:
- Bem...eu tenho que procurar o Bernardo agora, mas eu realmente fiquei contente com a notícia!
- Que bom!
Por falar nisso, conta pra ele a notícia, ou então eu vou acabar sendo agredido
da próxima vez que te abraçar!
- Confesso que
ambos estávamos confusos com a ideia de me abraçares a todo momento! Mas acho
que agora ele vai entender, embora seja melhor irmos mais devagar com essas
demonstrações de afeto por enquanto.
Eu e ele saímos rindo da confusão que uma demonstração de carinho fraternal pode causar. Assim que alcançamos a clareira, Tomás se dirige a mim:
- E aí cunhado?!
- Então já
sabias?
- Bem, ele me
contou há alguns dias e eu quase o mato por não ter confiado em mim antes, mas
depois ficou tudo bem!
- Eu disse a
ele depois que nos flagrastes no castelo, que realmente tinhas mudado e que
adoraria te contar que éramos irmãos. Aquela foi uma prova de que tinhas
amadurecido sabe?
- Que bom que
tivestes essa impressão, porque eu odiaria ainda ter qualquer traço do príncipe
mimado que eu era! Agora eu vou procurar o Bernardo, ele já deveria ter
voltado!
- Espera, vocês
não encontraram com ele? Ele disse que ia procurá-los. Bem, ele pode ter tido
que voltar para a vigília, pois eles não podem abandonar completamente a
proteção do acampamento, então estão se revezando para se alimentarem e
ele já veio aqui.
- Pode ter sido
isso! Eu vou procurar ele...
- Até mais
irmãozinho!
- Até...
No caminho de volta, eu repassei o que William me disse em minha cabeça e realmente fiquei feliz por ter um irmão agora. Isso tirou o peso da dúvida de que ele estivesse interessado em mim e me trouxe uma sensação boa de ainda poder contar com alguém relacionado à minha antiga família e ao meu pai...uma pessoa maravilhosa que eu, infelizmente, não tive a oportunidade de conhecer. Quando cheguei à margem do nosso acampamento, onde o grupo de Bernardo fica posicionado, eu o encontro sentado em um tronco, de cabeça baixa, então pergunto:
- Bernardo... tudo bem?
- Não
Felipe...nada está bem...eu estou muito decepcionado com você!
- Como assim? O
que foi que eu fiz?
- Eu vi você e
o William na beira do rio!
- Ah...então
foi você quem saiu correndo naquela hora?
- Sim...eu não
aguentei ver aquela cena!
- Que
cena meu amor? O que você acha que viu?
- O que eu
acho que vi? Não há como lutar contra os fatos, você estava nos braços dele!
- Você me viu
beijá-lo? Ou algo mais comprometedor?
- Eu não
fiquei para ver!
- Não havia
nada para ver! Eu e o William estávamos sim nos ABRAÇANDO, mas somente porque
ele me revelou que, na verdade, é meu irmão! Eu esperava que você pudesse me
perguntar algo antes de me acusar ou, até melhor, que você pudesse confiar em
mim...
Eu estava profundamente desapontado com a falta de confiança de Bernardo, então simplesmente virei as costas e caminhei de volta para a clareira. Porém, logo ele me alcançou dizendo:
- Felipe, essa história é verdade?
- Por que eu
mentiria?
-
Nossa...desculpa Felipe! Eu...eu sou um bobo por pensar aquelas besteiras...
- Sim, você
é...e eu estou chateado!
- Desculpa
Felipe! Mas é que...
- Por que você
não confia em mim para começo de conversa?
- Não é que eu
não confie em você...é só que eu não sei por que você não iria preferir o
William a mim!
- Porque eu te
amo!
- Eu...eu
também te amo! Perdoa o que eu disse...por favor!
- Tudo
bem...mas eu quero ficar sozinho tá? Preciso caminhar um pouco e espairecer!
- Eu
entendo...
- Te encontro
na clareira tá?
Eu beijo levemente os seus lábios e depois sigo caminhando por entre as árvores. É a primeira vez que Bernardo me decepciona dessa forma e eu não consigo deixar de sentir raiva dele por ter desconfiado de mim. Enquanto eu penso nisso, eu entro em um riacho que encontro pelo caminho, a fim de refrescar o corpo, assim como a minha mente e os meus pensamentos. Devido à confusão na minha cabeça associada à falsa impressão que o riacho dá de ser raso, eu não percebo quando há um desnivelamento no solo, até que eu estou me debatendo na água e a minha visão começa a ficar turva. Nesse momento eu tenho certeza de que vou morrer, pois eu não sei nadar, mas eu luto com todas as forças contra essa possibilidade, pois gostaria de ver o rosto de Bernardo mais uma vez e poder lhe dizer novamente o quanto eu o amo. Porém, minha visão escurece completamente e eu acho que não vou conseguir fazer isso.
Em meio à
escuridão, o anseio por encontrar Bernardo novamente é ainda mais forte, tanto
que eu consigo vê-lo me pegando em seus braços e me tirando da água. Eu sei que
é um produto da minha imaginação, porque Bernardo estava muito longe do riacho,
porém me entrego à essa ilusão e o beijo intensamente quando ele me tira da
água e toca os seus lábios nos meus.
Porém, de
repente, a minha visão clareia novamente e eu consigo ver que o homem que está
debruçado sobre mim não é Bernardo e me afasto assustado, enquanto continuo a
tossir. O homem, que eu reconheço como sendo Raul, antes mesmo de eu me
recuperar completamente, brada:
- O que você estava pensando?! Como pôde ser tão estúpido de entrar nesse riacho? Não sabes que é perigoso, principalmente para alguém tão fraco como és?
- EU NÃO SOU
FRACO! E se eu sou tão estúpido, porque me salvou então?
- Não ouse
gritar comigo novamente! E não seja mal agradecido também!
- Desculpa! Mas
uma experiência dessas deixa qualquer um nervoso!
- Ok! Só cala a
boca e não faz mais isso certo?
Naquele momento, eu percebi um tom diferente na voz de Raul. O que ele disse não foi de um modo imperativo, como ele costuma fazer, e sim uma espécie de súplica. Desde que conhecera Raul, eu tinha detestado o modo como ele tratava as pessoas e, em especial, a mim, pois imaginava que ele fosse somente outra pessoa amargurada com o amor, cujo principal passatempo fosse infernizar a vida dos seus semelhantes. Porém, hoje eu senti uma coisa diferente: uma espécie de compaixão, cujo motivo eu desconhecia, mas que me nutria de uma forte vontade de perguntar a ele qual o motivo da tristeza que eu percebi em sua voz, que foi o que eu fiz:
- O que aconteceu?
- O que queres
dizer com isso? Como assim "o que aconteceu"?
- Ah, eu não
sei...olha, o modo como me pedistes para não fazer isso de novo me fez pensar
que algo pode ter acontecido! Alguém querido para ti se afogou aqui? Raul...eu
não sei porque me odeias, mas eu não sinto o mesmo por ti! Então, quero poder
te ajudar!
- E quem disse
que eu preciso de ajuda?
- Todo mundo
precisa! E, desculpe-me a sinceridade, mas eu não acredito que alguém possa ser
tão rude, sem um pouco de tristeza ou mágoa no coração.
- O que isso
significa?
- Significa que
eu acredito fortemente que o seu comportamento rude é apenas um reflexo da sua
tristeza com algo que aconteceu em algum momento da tua vida!
- Mas como podes
ter certeza disso?
- Não tenho!
Apenas acredito nas minhas impressões sobre as pessoas!
- Ah...então
pare de acreditar, porque estás errado!
- Tudo bem,
então me desculpe...eu vou voltar para a clareira. E...desculpe por ter
parecido mal agradecido! Eu te devo a minha vida!
Dito isso, virei-me para andar de volta à clareira, porém Raul segurou meu pulso e disse:
- Você me lembra muito dele...
- O que?
- Você me lembra
muito do meu irmão! É por isso que eu te pedi para não fazer isso de novo e
também é por isso que eu odeio o modo como és fraco, assim como ele era!
- Por que você
continua insistindo que eu sou fraco? Você mal me conhece...mas enfim, me fala
o que aconteceu com ele?
- Você é fraco,
porque não acredita em si mesmo e espera que o seu namorado seja aquele que vai
te defender o tempo todo! O meu irmão também era assim! Ele era uma pessoa
incrível, porém não acreditava em si mesmo para ser um guerreiro porque tinha o
seu biótipo, então desistiu disso e se dedicou apenas às artes. Não entenda mal
isso, ele era incrível nisso e eu sempre o admirei pelo seu talento, mas todo
mundo precisa saber se defender e, o mais importante, todo mundo tem potencial
para isso, independente do seu tamanho. Quando essa caçada implementada por
aquela corja real começou, o meu irmão foi um dos primeiros de Gorgi a
morrer...ele tinha um namorado que jurou protegê-lo para todo o sempre no
altar, porém, quando eles foram emboscados, ele foi o primeiro a fugir e deixar
o meu irmão para trás, o qual não estava tão bem preparado e apenas correu para
cá, onde ele foi atingido e morreu agonizando na água...sozinho!
- Nossa...eu
sinto muito Raul! Eu não fazia ideia!
- É claro que
não...olha...err...desculpa por te tratar mal, mas eu realmente não consigo
desvencilhar a imagem de vocês dois ainda!
- Tudo bem...
- Olha, eu tenho
uma proposta: você me deixa te dar o devido treinamento de batalha e eu prometo
que vou pegar mais leve contigo...no dia-a-dia, porque no treinamento eu vou
pegar pesado! O que achas?
- Bem...é um
começo! Mas...porque faria isso por mim?
- Porque eu não
pude preparar o meu irmão para esse mundo, que ainda é muito difícil para pessoas como nós! Mas eu posso fazer algo por ti e, assim, talvez eu consiga me
redimir com ele!
- Nesse caso,
tudo bem!
- Só tem uma
condição, você não pode contar os meus motivos para ninguém, nem mesmo para o
seu namoradinho, entendeu?
- Mas, por que?
O que eu vou dizer a ele sobre a sua mudança, digamos assim, meio brusca de
comportamento?
- Você vai
encontrar uma maneira, eu tenho certeza! Mas se quebrares o nosso acordo, eu
vou pegar tão pesado contigo, que vai preferir ter se afogado!
- Certo, certo!
Já estava estranhando a nossa conversa sem uma ameaça da tua parte!
Depois disso, eu e Raul caminhamos em direção à clareira, enquanto conversávamos sobre o treinamento que ele me prometera. Quando chegamos, eu vi Bernardo, que corria em minha direção e, quando me alcançou, disse, em tom de preocupação:
- Onde você estava? Eu...eu fiquei preocupado! Está...está tudo bem entre a gente?
Eu nem pensei duas vezes, apenas enrosquei meus braços ao redor do pescoço dele, o puxei para perto de mim e o beijei, tal como queria fazer no momento em que achei que iria morrer e tudo o que me importava era lhe dizer:
- Eu te amo! Ninguém me interessa além de você e eu mal posso esperar pelo dia em que vou poder te chamar de marido!
-
Então...então você me perdoa?
- É claro meu
amor! Nada disso tem a menor importância...eu já esqueci!
- Muito
obrigado meu amor! Você é incrível!
- Não, você é
que é incrível! Porque você me fez ser quem eu sou hoje!
Nesse momento, eu agarrei a mão dele e corri até William, que estava encostado a um tronco de árvore conversando com Tomás. Quando ele me viu, levantou-se e disse:
- Por onde você andou?
- Nós estávamos
preocupados!
- Eu peço
desculpas...não quero falar sobre isso, mas eu estou bem. Agora, mudando de
assunto, eu quero pedir uma coisa a vocês!
- Claro,
pode falar!
- Eu quero que
vocês sejam os nossos padrinhos de casamento?
- Vocês vão
se casar? Que bom! Claro que nós aceitamos, certo Tomás?
- É óbvio que
sim! Fico lisonjeado com pedido!
- Mas meu
amor, que história é essa? Nós nem conversamos sobre isso ainda!
- Eu sei amor!
Desculpe-me, é que eu tive uma ideia! Nós não temos uma pessoa para realizar a
cerimônia aqui no acampamento, além disso, eu sei que você prefere que seja na
igreja do seu vilarejo, assim como eu. Porém, eu quero que nós possamos entrar
nessa batalha que acontecerá em breve, como maridos, ainda que de modo
não-oficial. Então eu quis convidar os nossos dois amigos aqui, para serem nossos
padrinhos, o que você acha?
- Eu acho que
eu te amo cada dia mais! Essa é a ideia mais romântica que eu já ouvi e eu fico
muito feliz de concordar com ela!
- Então tudo
bem se o William for o meu padrinho, já que ele é meu recém-descoberto irmão, e
o Tomás for o seu, já que não tem ninguém da sua família aqui e ele é nosso
amigo? Sem problemas?
- Com certeza!
- Ele me
pediu desculpas ainda há pouco Felipe e está tudo esclarecido entre nós!
- Isso é muito
bom! Porque vocês farão parte da mesma família agora! Então já temos os
padrinhos e só precisamos de alguém para realizar a cerimônia, e eu já sei
exatamente quem chamar! Esperem aqui!
Eu sabia que esse era um pedido muito audacioso, mas mesmo assim o meu coração dizia que eu deveria fazer isso. Desse modo, eu caminhei em direção a Raul e disse:
- Raul, eu preciso de te pedir uma coisa!
- Estou ouvindo!
- Eu quero
celebrar uma cerimônia não oficial de casamento com o Bernardo e...bem, eu
queria que fosse você a celebrá-la?
- E por que você
acha que eu faria isso?
- Por que você
é o líder dessas pessoas e, também, porque eu quero que você celebre uma união
que não vai ser tão frágil quanto...quanto a do seu irmão!
- Cuidado com o
que fala! O meu irmão tinha uma ótima relação, mas apenas escolheu a pessoa
errada.
- Desculpe-me,
eu não quis dizer que a relação dele não era boa...eu tenho certeza que ele
amava o namorado dele, mas eu tenho certeza que escolhi a pessoa certa?
- Sério? E como
tem tanta certeza?
- Por que ele
já poderia ter me deixado diversas vezes, mas ele escolheu ficar ao meu lado e
entrar em uma batalha, sem nunca nem ter estado em nenhuma antes! Só porque ele
me ama!
- Nesse caso,
talvez você realmente tenha escolhido a pessoa certa!
- Eu tenho
certeza! Mas então, você vai celebrar a cerimônia?
- Sim! Avise a
todas as pessoas para se reunirem na clareira e se prepare para casar!
Naquele dia, eu a Bernardo fomos unidos em matrimônio em uma cerimônia que, mesmo sendo não-oficial, foi linda e eu senti que as pessoas que assistiam realmente partilhavam da nossa felicidade. Talvez, nesses dias em que tudo está tão ruim, algo tão simples pode trazer felicidade.
Depois da
cerimônia, eu e ele fomos para a beira do rio, nos abraçamos e permanecemos em
silêncio, até que eu ouvi um soluço e percebi que ele estava chorando, então
perguntei:
- O que aconteceu meu amor?
- Eu estou tão
feliz por ter você! E ao mesmo tempo tenho tanto medo de te perder!
- Eu também
estou muito feliz meu amor! Hoje é um dia em meio a vários que eu espero passar
ao seu lado, então não tem como você me perder! Não adianta, agora você já
disse sim, vai ter que viver ao meu lado por toda a vida!
Nós rimos daquilo e logo em seguida ele disse:
- Eu passaria até duas vidas ao seu lado!
- Olha lá hein!
Na outra vida eu vou te procurar para cobrar a promessa!
- Eu estarei
esperando ansiosamente! Isso se eu não te encontrar primeiro!
- Vamos ver
então! Agora, mudando de assunto, como foi a conversa com meu novo irmão?
- Ah, foi
muito boa! Ele realmente gosta muito de você e espera o melhor para a sua
vida...eu não sei como eu pude acreditar que existia algum outro tipo de
sentimento entre vocês!
- Não seja tão
duro com você! Até eu achei que existia algo mais!
- Eu não vou
fazer isso novamente! Eu não preciso mais ter medo de você não gostar de mim!
Eu seria muito idiota para não perceber de uma vez que você é apaixonado por
mim!
- Bem, não
posso negar isso!
- Não sei o
que faria se te perdesse! Ainda bem que você me perdoou dessa vez! E, por
falar nisso, onde você foi depois que nós nos separamos?
- Meu amor...se
eu te contar isso, você vai ter que me prometer que vai ficar calmo!
- Como assim?
Você está me assustando amor! Conta logo!
- Bom, para
começar, eu andei pela floresta, depois eu entrei em um riacho, que parecia
raso, então...então...não consigo...
Eu comecei a chorar e aninhei minha cabeça no peito de Bernardo, que apenas repousou a mão na minha cabeça e acariciou os meus cabelos. Permanecemos assim, em silêncio, por longos minutos, até que ele perguntou:
- Você não precisa falar, se não conseguir!
- Eu preciso
dividir isso com você, mas odeio lembrar da sensação! Bernardo, tinha uma
depressão no solo do riacho e eu não sei nadar, então eu quase me afoguei!
- Meu Deus!
Meu amor, porque você não me contou isso antes! Ainda bem que você conseguiu
sair de lá!
- Bem...eu não
consegui. Foi o Raul quem me salvou!
- Raul?!
- Eu sei!
Inacreditável né? Mas eu devo a minha vida a ele e é por causa dele que nós
estamos aqui...err, tipo casados!
Apesar de tentar amenizar o clima com uma piada, Bernardo continuava sério, então eu disse:
- O que foi meu amor?
- Você quase
morreu e eu não estava lá para te ajudar! Como posso ser um bom marido para
você?!
- Você é um bom
marido quando me ouve e me apoia! Você não pode estar comigo o tempo todo e
isso estava fora do seu controle!
- Mas eu
deveria te proteger!
- Você não pode
fazer isso o tempo todo meu amor! E é por isso que o Raul prometeu me treinar
para combate daqui para a frente!
- Prometeu?
Por que ele faria isso?
- Meu amor, eu
não posso te contar isso! Você vai ter que confiar em mim!
- Tudo bem! Eu
confio!
Eu imaginei que ele iria me questionar sobre o assunto e pedir explicações sobre as intenções de Raul, porém, novamente, Bernardo me surpreendeu, ao simplesmente confiar em mim. Então eu disse:
- Obrigado por ser tão...você!
- Como assim,
tão eu?
- Ah, você tem
um jeito tão próprio que eu nem sei como te definir, então eu te agradeço por
simplesmente ser assim!
- Ah,
obrigado...eu acho! Mas olha só, eu quero exigir só uma coisa!
- O que?
- O Raul pode
te ensinar o combate, mas eu quero ter o privilégio de te ensinar a nadar!
- Ah, é só
isso?! É claro que eu aceito, até porque eu vou adorar ver você sem essas
roupas, enquanto me ensina a nadar!
Bernardo corou subitamente e eu o beijei apaixonadamente. Apesar de eu saber que nós não poderíamos ter nossa noite de núpcias, porque nosso casamente não estava sacramentado, eu aproveitei o nosso tempo juntos para nos proporcionar momentos ainda mais íntimos, com carícias e beijos intensos.
Vários dias se
seguiram ao meu casamento com Bernardo, nos quais nós nos concentramos na
preparação para a batalha que, segundo Raul, aconteceria muito em breve, quando
nós invadiríamos cada vilarejo ou reino aliado a Conde Rafael. Nesse tempo, a
nossa população cresceu, pois Raul e o grupo de busca de suprimentos também passou
a desenvolver o papel de busca de aliados.
No quadragésimo
segundo dia depois do casamento, eu já me sentia mais preparado para entrar em
uma batalha e até mesmo Raul me elogiou em um dos dias de treinamento, embora
ele usualmente pegasse bem pesado, como havia prometido, e me xingasse de
várias maneiras. Além disso, as aulas de natação com Bernardo se tornaram a
parte mais aguardada do meu dia, pois vê-lo sem suas roupas era maravilhoso
para mim, assim como a possibilidade de me livrar do medo de entrar em águas
mais profundas, que eu tinha desde quando era criança.
Neste mesmo dia,
um dos acampados, cujo nome era Hugo e tinha entrado recentemente no meu grupo
de preparo das refeições - o qual se tornou mais trabalhoso, dado o contingente
de, aproximadamente 80 pessoas que atualmente habitavam naquela floresta -,
estava fazendo aniversário e nós estávamos comemorando. Este fato foi estanho
para todos nós, pois nenhum aniversário foi comemorado antes, porém eu já
desconfiava do porquê, o qual foi confirmado no início da festa, quando Raul
anunciou que estava namorando rapaz.
Eu e Bernardo
comemoramos com o resto das pessoas por um tempo, porém, depois nos retiramos
para a margem do rio, que se tornou o nosso local preferido. Nós ficamos
conversando e namorando por algumas horas, até que ouvimos uma forte gritaria e
vimos William, Tomás, Raul e Hugo correndo em nossa direção, os quais
simplesmente gritaram, sem parar de correr, quando nos alcançaram:
- Corram! Conde Rafael nos achou!
Passaram-se dois dias até que William a Raul se convencessem de que era seguro procurar algum lugar para passar mais do que alguns minutos descansando. Nós havíamos corrido e caminhado por dentro da densa floresta e eu, com certeza, não sabia onde estávamos. Hugo, surpreendentemente, parecia bastante orientado:
- Nós não podemos seguir por esse caminho! Ainda estamos longe da fronteira de Naquim e Conde Rafael deve estar patrulhando as estradas principais!
- O que sugere então Hugo? Eu sinto muito, mas eu estou perdido!
- Eu também! E isso é algo difícil, porque já andamos muito por Naquim! E quanto a você Raul?
- Eu sei onde estamos...mas também não sei o que fazer agora! Nós fugimos sem qualquer suprimento e Naquim se tornou um reino muito pobre desde que Conde Rafael começou as "caçadas", de modo que nem sei se valeria a pena sairmos da floresta e nos arriscarmos a sermos pegos em outro vilarejo, porque não sabemos onde há suprimentos!
- Isso não é bom...mas você tem alguma ideia Hugo?
- Nós podemos seguir aquele rio que vimos há alguns metros atrás, então chegaremos até Finnel...este era um vilarejo perto do meu, onde Conde Rafael estabeleceu uma base, então ainda deve ter suprimento lá!
- Você é louco Hugo?! Por que iriamos em direção a uma base de Conde Rafael?!
- Essa é a nossa opção mais viável...ou iremos morrer de inanição! Além disso, essa é uma das poucas bases nas quais eu nunca vi muito trânsito de pessoas.
- Eu acho que essa é a opção mais viável meu amor!
- Mas você sabe que ele me conhece!
- Por que Conde Rafael conheceria um mero camponês como você?!
- Err...é somente um modo de dizer Raul!
- Não...Ele conhece você! E eu quero saber o porquê!
- Calma Raul!...Pessoal, eu acho que teremos que contar a verdade, ou não conseguiremos cooperar para sobreviver!
- Desculpem-me!
- Não se preocupe meu amor! Isso ia ter que acontecer algum dia, então é até melhor que seja agora, porque talvez eles cooperem conosco para te proteger!
- Por que eu deveria proteger ele, especificamente?...Você não é um camponês, certo?
- Não Raul...olha, nós vamos explicar tudo...
- ENTÃO EXPLIQUE LOGO!
- NÃO GRITE COM O MEU IRMÃO! Eu vou explicar tudo, mas quero deixar muito claro que você nos tratava como bem queria dentro daquele acampamento, então se você não se comportar eu vou te deixar incapacitado de dizer qualquer outra coisa!...Veja bem, o meu querido irmão aqui é o filho do Rei Otávio, de Heliópolis, este é o namorado dele, o único camponês de verdade, do vilarejo de Luminus, e nós somos oficiais da guarda pessoa do pai de Felipe.
- Vocês mentiram para mim?! Eu os acolhi e vocês simplesmente mentiram para mim?! Por que?
- É simples Raul, me diga o que você acha de Heliópolis?
- É um reino soberbo no qual todos são contra os casais homoafetivos! Eu odeio aquele lugar!
- Aí está a sua resposta! Nós não poderíamos dizer a verdade sem sermos odiados logo de primeira, então preferimos omitir nossas reais identidades e mostramos a você como poderíamos ser úteis! Pode dizer o que quiser, mas nós realmente contribuímos muito quando o acampamento ainda contava com pouquíssimas pessoas!
- Isso é verdade...mas eu não gosto de mentiras!
- Ninguém gosta Raul...mas foi necessário!
- Mas o que dois casais como vocês faziam em Heliópolis! Aquele lugar está aliado a Conde Rafael! E já matou mais homossexuais do que qualquer outro lugar!
- Não é bem assim Raul, o meu pai realmente condenava o homossexualismo até algum tempo atrás e realmente tirou algumas vidas ao longo dos anos, mas não tem qualquer participação nessas "caçadas" de Conde Rafael! Inclusive este é o motivo de estarmos aqui, já que tivemos que fugir de Heliópolis, pois Conde Rafael queria me executar com o suposto aval do meu pai, que na verdade era contra isso e arquitetou a minha fuga, junto com os seus fiéis oficiais, que aqui estão.
- Espera, então o Rei Otávio era contra isso?
- Sim! Bem, ele nunca seria a favor das "caçadas" e também passou a não ser contra o homossexualismo...bem, o que eu posso dizer? Ter um filho nessa "situação" pode mudar uma pessoa e....eu acho que ele estava me protegendo o tempo todo!
- Como assim?
- Veja bem, o meu pai me exilou quando descobriu que eu era homossexual e eu o odiei por fazer aquilo comigo...mas eu tenho refletido sobre isso...talvez ele não tivesse tanta escolha como eu pensava e estivesse me protegendo de Conde Rafael...Ele não me executou e acho que não poderia me deixar livre sem que isso chegasse ao conhecimento de Conde Rafael, então preferiu me exilar...o que foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, porque eu encontrei o Bernardo! Mas pensando sobre o meu pai, eu acho que o odiei sem saber que ele estava fazendo o melhor por mim!
- Nossa, eu não imaginava que Rei Otávio era assim...eu achei que ele fosse um ditador, que caçava os homossexuais! Mas então por que ele se aliou a Conde Rafael?
- Bem, isso é uma coisa de família! A minha mãe, que era a favor das relações homoafetivas, tinha um grau de parentesco com o Conde Rafael, por isso o reino dele sempre teve relações boas com Heliópolis, mas agora o Conde acha que tem direito a metade de Heliópolis, agora que a minha mãe morreu!
- A sua mãe morreu? Eu sinto muito...ela realmente era uma ótima pessoa...eu conheço várias pessoas de confiança que afirmaram que ela era uma pessoa generosa e solidária com o seu povo!
- Ela era tudo isso sim! E muito mais! Mas agora preciso que você me responda, ainda vamos seguir como um grupo já que você sabe da verdade?
- Eu acho que sim Felipe...eu realmente não aprecio mentira, mas acho que posso entender os motivos de vocês...eu sei que pareço irracional e às vezes ajo assim, mas eu também posso ser compreensivo!
- Nesse caso, agora precisamos resolver se seguremos o plano do Hugo, que tem dois grandes riscos: encontrar a base cheia de pessoas, com as quais não poderemos lidar e, especificamente para o Felipe, encontrar com o Conde Rafael, que já o conhece!
- Felipe...se você realmente estiver disposto a enfrentar os riscos, eu acho que essa é a nossa melhor aposta!
- Eu acho que posso fazer isso! Eu me sinto bem mais confiante atualmente, do que há alguns dias! Então vamos seguir esse plano, antes que definhemos aqui!
- É assim que se fala discípulo! Vamos logo!
Nós voltamos até o ponto em que um rio de águas rasas cortava a floresta, então o seguimos em sua margem esquerda em direção ao norte. Após meio dia de caminhada, nós chegamos a uma área em que a floresta se tornou menos densa, então Hugo disse:
- Vamos parar aqui e planejar a nossa entrada. Eu acho que eu e Raul, que somos nativos daqui, deveríamos ir primeiro, então, conforme a situação, nós voltaremos para buscá-los.
Ninguém discordou do plano, seja por assentimento ou por falta de energia. Bernardo, William, Tomás e eu nos sentamos encostados a troncos de árvores e esperamos pelo que pareciam ter sido horas, até que Hugo voltou dizendo:
- Pessoal, tenho uma notícia boa: não existem muitas pessoas no local! Mas também tenho uma ruim: parece que Conde Rafael trouxe os nossos amigos para cá e os está mantendo prisioneiros em porões do vilarejo!
- Isso quer dizer que ele pode voltar a qualquer momento, certo?
- Sim...
- O que você acha meu amor?
- Nós precisamos arriscar! E eu não tenho medo, já que vocês estão ao meu lado!
- Então vamos lá cunhado!
A visão do vilarejo foi ainda mais deprimente do que eu havia imaginado, haviam casas com janelas e portas quebradas, abandonadas, derrubadas e/ou com pessoas tristemente sentadas na varanda. A alegria e a vida haviam sido tiradas daquele vilarejo há muito tempo e as pessoas estavam apenas vivendo uma semivida ali, na qual não lhes faltava suprimento, como em outros lugares, mas todos os dias eles viam pessoas sendo executadas ou levadas para a execução em outro lugar.
Hugo nos conduziu pelo vilarejo até uma estalagem, onde Raul estava a nossa espera. Conforme tínhamos sido instruídos, nós nos declaramos "caçadores de homossexuais" e estávamos a serviço de Conde Rafael na área. Desse modo, o estalajadeiro nos deu quartos para descansarmos e nos ofereceu comida, o que aceitamos de bom grado.
Depois disso, nos reunimos no meu quarto para planejarmos os nossos próximos passos, os quais foram divididos em grupos de tarefas, que era como Raul gostava de agir: eu e Bernardo iriamos nas casas dos moradores, para conseguirmos mais informações sobre o que vinha acontecendo no vilarejo; Tomás e Raul iriam em busca de armas e outros utensílios nas casas abandonadas; e Raul e Hugo iriam procurar a casa que abrigava as pessoas do nosso acampamento que haviam sido capturadas. Ficamos de nos encontrar em duas horas na estalagem, para fugirmos antes de Conde Rafael chegar, com todos as armas, utensílios, suprimentos e pessoas nós conseguíssemos.
Eu e Bernardo fomos em várias casas, em muitas das quais não fomos permitidos entrar, porém, de repente, enquanto andávamos por uma pequena rua, uma mulher aparentando meia idade nos chamou:
- Ei, vocês!
- O que foi senhora? Algum problema?
- Eu conheço vocês! Vocês estavam no acampamento!
- Como a senhora sabe sobre o acampamento?
- Por que o meu filho foi para lá...ele vinha me visitar às vezes...eu o deixei no acampamento e, antes de voltar para cá, eu lembro de ver vocês dois!
- O seu filho é homossexual senhora?
- Shh! Não repita essa palavra aqui! Entrem, depressa!
Nós entramos, então a mulher continuou:
- O que vocês estão fazendo aqui? É perigoso para alguém como vocês estar aqui! Conde Rafael tem vindo muito aqui nos últimos dias!
- Eu sei senhor...mas precisávamos comer e coletar suprimentos!
- Eu tenho o que vocês precisam aqui! Afinal, ser um "vilarejo das caçadas" trouxe uma espécie de riqueza a esse vilarejo nesse sentido! Apenas peguem tudo e vão embora, por favor! Eu não quero que aconteça a vocês o que aconteceu com o meu filho!
- O que aconteceu com o seu filho senhora? E por que a senhora não foi para o acampamento com ele?
- Ele...ele foi levado ontem...para uma "caçada"...e eu nem pude me despedir dele! Vejam bem, ele achou que eu estaria mais segura aqui, se mantivesse em segredo que tinha um filho homossexual, e realmente estou segura, mas jamais serei feliz novamente!
- Senhora...eu lamento a sua perda...mas junte-se a nós então...pegue os seus suprimentos e nos acompanhe, porque depois nós iremos vingar a morte de todas as pessoas que, como o seu filho, foram mortas por motivos tão fúteis!
- Eu não posso! Para mim a vida não tem mais sentido! Eu vou tirar a minha vida hoje, mas antes quero lhes ajudar a sair daqui, venham...
Ela empacotou vários suprimentos para nós e, em seguida, nos mostrou uma passagem no porão, dizendo:
- Este vilarejo já foi invadido diversas vezes, devido à sua localização, então o povo daqui aprendeu a se unir para lutar! Estas passagens dão acesso a quase todas as casas da rua e se ligam a diferentes locais dentro do vilarejo. Sigam por elas e tomem cuidado!
- Muito obrigado senhora! Mas qual o seu nome? e o do seu filho?
- Meu nome é Maria e o meu filho se chamava Paulo.
- Novamente muito obrigado Maria! Eu prometo que vamos vingar a morte do Paulo!
Nós caminhamos pelos túneis por alguns minutos e percebemos que tudo estava muito escuro porque, provavelmente, todos no vilarejo haviam obstruído as passagens das suas casas com algum móvel no porão. Porém, em certo momento, nós nos deparamos com uma fresta de luz e a seguimos, depois empurramos os pedaços de tábua que obstruíam a caminho e seguimos para o andar de cima, onde encontramos Raul e Hugo em uma cena que nos deixou desconfortáveis: estavam sem roupas em uma cena bastante quente.
- Como vocês dois chegaram aqui?
- Raul, vocês não deveriam estar procurando pelos reféns?
- Bem...sim, nós procuramos! Mas não achamos...
- Duas palavras: continue procurando! Vamos, nós não temos tempo! Vistam-se e depois nos sigam até o porão!
- Por que ao porão?
- Hugo, não discute! Vamos, apressem-se!
Nós voltamos ao porão e aguardamos Hugo e Raul descerem, então explicamos sobre as passagens que Maria tinha nos mostrado. Depois disso, entramos na passagem de onde tínhamos vindo e procuramos por novas "portas", até que encontramos outro feixe de luz e fizemos o mesmo que havíamos feito anteriormente: quebramos as tábuas, adentramos a casa e procuramos por elementos úteis. Fizemos isso mais cinco vezes, porém, na sexta vez encontramos algum bem mais valioso: cerca de vinte dos nossos amigos, que estavam amarrados a cadeiras e amordaçados. No andar de cima haviam dois guardas, que foram facilmente abatidos, visto que não esperavam que alguém surgisse do porão. Depois, nós libertamos todos os prisioneiros e, segundo eles, havia um grupo maior e mais bem guardado na casa ao lado, porém, de acordo com a nossa recém-adquirida perícia, não havia entrada pelo porão. Era isso que Maria queria dizer com quase!
Nós planejamos, junto com todos os prisioneiros, uma estratégia para entrar na casa ao lado de uma maneira que os guardas fossem neutralizados o mais rápido possível e não houvesse nenhum dano. No fim, concluímos que não teria como calcular tudo, então teríamos que arriscar.
A nossa investida foi bem-sucedida, embora algumas pessoas, incluindo Hugo, tenham ficado levemente feridas. No final conseguimos neutralizar dez guardas e libertamos mais trinta prisioneiros, dentre eles Fábio e Gustavo, que eram, assim como Raul, os líderes do nosso acampamento, o que aparentemente justificava a disparidade na segurança para aquela casa.
Depois de libertarmos todos os prisioneiros, voltamos à casa em que os primeiros foram encontrados e seguimos pelos túneis, confiando no senso de direção de Bernardo, o que era a nossa única alternativa, pois um grupo tão grande de pessoas chamaria muita atenção nas ruas. Depois de algum tempo, Bernardo bateu em algumas tábuas, as quais quebraram e revelaram um porão que, segundo Bernardo, deveria pertencer à estalagem. Ele estava certo, porém combinamos com os prisioneiros para que permanecessem nos túneis, onde Raul e Hugo distribuiriam racionalmente os suprimentos que havíamos encontrado. Enquanto isso, eu e Bernardo subimos até a estalagem, onde quase fomos flagrados pelo estalajadeiro, e então encontramos Tomas e William no quarto, os quais haviam acabado de chegar de sua bem-sucedida busca por armamento e suprimentos.
- Onde estão Hugo e Raul?
- Calma William, eles estão bem, mas preciso te explicar algumas coisas!
Bernardo explicou sobre as passagens entre as casas e sobre o nosso contingente de ex-prisioneiros, então Tomás disse:
- Bem, então vamos munir todos com as armas que achamos! Depois vamos tomar esse vilarejo!
- Apoio plenamente Tomás! Vamos tomar esse vilarejo como a nossa primeira base de resistência ao Conde Rafael!
Dito isso, nós caminhamos em direção ao porão. Tomás e William foram na frente, porém, quando eu e Bernardo íamos entrar, nós ouvimos uma voz familiar dizendo:
- Olá sobrinho! Que surpresa sem igual é encontrar-lhe aqui nesse fim de mundo! Quem diria, um nobre entre aquele monte de homossexuais sem-teto!
Eu me virei em direção à porta da estalagem, onde o meu tio estava localizado, então disse, com uma fúria no olhar:
- Ouça bem isso: Você vai perecer Conde Rafael! E vai em breve!
Depois disso, eu corri para o porão, fechei e tranquei a porta atrás de mim, então gritei para que todos corressem para os túneis. Naquele momento, eu jurei para mim mesmo que seria a última vez que fugiria de Conde Rafael, pois em breve eu iria obter a vingança que havia prometido para Maria.
Os túneis
pareciam um labirinto sem fim, porém, depois de algum tempo correndo, Bernardo
conseguiu nos guiar de volta à casa de Maria, que ficou surpresa em nos ver
novamente:
- Nós sentimos
muito Maria, mas precisaremos usar da sua boa vontade mais uma vez! Precisamos
de abrigo, para que possamos planejar o nosso próximo passo!
- Bem...eu
realmente não tenho nada a perder! Eu fico feliz de poder ajudar aqueles que
uma vez estenderam a mão ao meu filho! Fiquem à vontade!
- Muito
obrigado novamente Maria!
- Do que
você está falando?! Esse vilarejo está cheio de guardas do Conde Rafael! Nós
precisamos fugir!
- Raul, você
esteve me treinando há algum tempo e sempre me disse que eu precisava ser uma
pessoa mais forte! Bem, essa é a nossa chance! Pense bem, essa é a base mais
fraca de Conde Rafael! Como Hugo disse, o fluxo de pessoas aqui é bem menor do
que em outros locais, então, se vamos começar uma revolução, que seja aqui!
- Ele tem
razão Raul! Eu estou orgulhoso de você Felipe! Esse tipo de raciocínio é digno
de um general e eu aprecio muito a sua coragem de querer levar isso a frente!
Eu te apoio plenamente e estou ao seu lado nisso!
- Obrigado
irmão! Você com certeza também contribuiu muito para que eu desenvolvesse esse
senso de batalha! Mas então, o que você acha Raul? Este ainda é o seu grupo de
refugiados!
-
Bem...posso dizer que também estou orgulhoso de você Felipe! Eu confesso que,
quando chegastes ao acampamento, eu te via mais como um empecilho, mas te
provastes mais útil que muitos outros e, nesse momento, também te mostrastes
bem mais corajoso do que a maioria! Por mim, este grupo se organiza agora e
executa uma revolta neste vilarejo contra os guardas de Conde Rafael! Quem está
a favor?
Assim, o grupo
restante permaneceu na casa de Maria, que fez o possível para nos acomodar em
sua casa e nos oferecer uma refeição completa. Nós sabíamos que não tínhamos
muito tempo, por isso tentamos planejar e implementar o plano de ação o mais
rápido possível.
Cerca de uma hora
depois, saímos da casa de Maria divididos em três grupos que atacariam
diferentes partes do vilarejo de maneira sistemática e simultânea. Eu e
Bernardo conduzimos o maior grupo para o centro do vilarejo, Hugo e Raul
conduziram outro para a fronteira leste e Tomás e William o último para a
fronteira oeste. Nossas armas consistiam em algumas armas de fogo, mas havia
uma predominância de espadas e arcos-e-flechas. Eu nunca fui uma pessoa
violenta e, a princípio, odiei a ideia de matar pessoas sob a premissa da
liberdade, porém, a indignação que eu sentia pelo fato de Conde Rafael matar os
homossexuais pelo simples prazer de eliminar algo que ele não aceita ou não
entende me motivou a assumir a liderança do maior grupo, que estava marchando
em direção à estalagem onde nós achávamos que o meu tio estava.
O meu grupo era
o maior porque provavelmente encontraríamos mais pessoas em nosso caminho, o
que de fato ocorreu nos nossos primeiros minutos de caminhada pelo vilarejo.
Porém, nós conseguimos neutralizar, do modo menos violento possível, muitos dos
guardas de Conde Rafael e fomos bem sucedidos em avançar pelas ruas, até que
chegamos à estalagem, onde estavam Conde Rafael e um grupo enorme de guardas. O
meu tio, assim que nos viu, gritou:
- Olá tio! Se
eu fosse você não estaria tão certo disso! Nós viemos decididos a vencer!
- Então
vença disso aqui!
Depois de me recuperar
do choque, eu corri em direção a Bernardo, rezando para que o pior não tivesse
acontecido. Por sorte, a bala havia atingido parcialmente o seu ombro, de modo
que havia muito sangue e ele gritava de dor, mas pelo menos nenhum órgão havia
sido atingido e, felizmente, eu não iria perder o meu grande amor por ter sido
estúpido o suficiente para avançar com a guarda baixa em direção a Conde
Rafael. Eu definitivamente não me sentia um guerreiro naquele momento, mas, com
certeza, eu me sentia alguém inclinado a terminar a minha missão, então rasguei
um pedaço da minha roupa e amarrei ao braço de Bernardo para diminuir a perda
de sangue, o movi levemente para o colocar em meu colo e acariciei a cabeça
dele, dizendo:
- Felipe, isso
não foi nada! Eu sempre vou estar disposto a pular na frente de uma bala por
você, por que eu te amo!
- Eu também te
amo! Mas não quero que você pule na frente de balas por mim! Imagina se você
tivesse morrido! O meu mundo não faz sentido em você!
- Nem o meu
sem você! É por isso que eu sempre vou estar disposto a fazer isso por você!
- É claro que
não! Vá dar uma lição naquele crápula do seu tio!
- Tudo bem,
então eu voltarei o mais rápido possível! Por favor, levem-no com cuidado até a
casa de Maria e cuidem dele lá! Voltaremos assim que possível!
Aparentemente,
os poucos guardas que acompanharam o meu tio o abandonaram no meio do caminho,
pois encontramos muitos deles separados em várias casas durante a nossa busca
pelo vilarejo. Entretanto, o meu tio continuava foragido e eu começava a me
preocupar que o pior tivesse acontecido e ele estivesse realmente na casa de
Maria e preferiria que ele tivesse fugido ao invés de imaginá-lo perto do meu
marido, que estava ferido e de Maria, que parecia tão indefesa.
Quando chegamos
à casa de Maria, por alguns momentos, eu não consegui acreditar no que os meus
olhos viam. Apesar de saber que Conde Rafael organizava caçadas de
"homossexuais", eu não tinha consciência do quão brutal ele poderia
ser, até que eu vi o meu tio com uma faca pressionada ao pescoço de Bernardo,
que estava sendo usado como um escudo humano, e seis cadáveres no chão, sendo
um deles de Maria, a doce senhora que nos acolheu em sua casa e morreu por ter
se envolvido em nossa luta.
- O QUE VOCÊ
FEZ! POR QUE?
- Por que eu
posso! Por que essas pessoas querem defender essa prática antinatural! Elas
merecem morrer, assim como você! Mas essas mortes, especificamente, são sua
culpa, por ter envolvido estas pessoas nessa sua ideia ridícula de que poderia
medir forças comigo! Agora é a vez do seu...com eu posso
dizer..."companheiro"!
- Não, por
favor...deixe ele em paz! Eu...por favor!
- Você
aceitaria ser a minha próxima "presa" se eu deixar o seu namorado em
paz?
- Sim! Eu
aceito! Eu aceito! Mas deixe ele livre!
- Não Felipe!
Eu não quero!
- Cala a
boca camponês! Isso aqui é entre a realeza!
- Bernardo...é
o único jeito!
- Então
vamos logo! Eu não quero mais ficar aqui nesse vilarejo!
- Eu tenho
outra condição! Deixe esse lugar livre! Você perdeu o poder sobre ele!
- Você não
está em posição de fazer exigências! Eu não vou prometer nada, mas realmente
não me interesso por este fim de mundo!
Conde Rafael
trocou Bernardo de posição comigo e me usou de escudo enquanto, para minha
surpresa, dirigia-se em direção ao porão. Quanto a isso eu indaguei:
- Por que
estamos indo para o porão?
- Porque eu
não confio nos seus amigos e nem no seu namoradinho, que já posou de herói
hoje! Então vamos por estes túneis, o que vai dificultar que eles saibam onde
estamos e, eventualmente, impeçam a nossa partida! Caso alguém tente fazer
alguma coisa ou nos seguir pelos túneis, eu te mato na mesma hora! Todas estão
ouvindo? Acho bom ninguém tentar nada!
Conde Rafael
caminhou, comigo a sua frente, até o porão, abriu a porta e me fez entrar
primeiro, dizendo, enquanto apontava uma arma para as demais pessoas:
- Desça!
Esteja pronto para entrar nos túneis e eu descerei em seguida! Se alguém tentar
alguma coisa, eu juro que vou matá-lo!
Eu desci as
escadas ouvindo o meu tio murmurar algumas outras coisas para os meus
companheiros. Porém, quando cheguei ao chão do porão, eu ouvi um murmúrio e,
sem seguida, vi dois corpos rolando pela escada. Um deles era Conde Rafael e o
outro era José, um dos meus companheiros, que ainda no chão, depois da queda,
disse:
- Corra Felipe!
Não existe uma revolução sem você!
Eu prontamente
fui até ele e o ajudei a levantar, depois subimos os degraus lentamente. Porém,
quando estávamos no topo da escada, houve um disparo que atingiu as costas de
José, o qual caiu no chão, enquanto os outros me puxavam para longe da porta do
porão. Nós permanecemos afastados da porta algum tempo antes de percebermos que
Conde Rafael não viria mais até nós e que poderíamos ajudar José, o qual
agonizava no chão durante o tempo em que nos mantivemos esperando pela volta do
meu tio. Infelizmente, as pessoas experientes em ferimentos, declararam que não
poderiam mais salvar José, então nós apenas o movemos até o sofá, onde ele
declarou suas últimas palavras:
-
Viva...a...homorevolta! Você...você conseguiu Felipe! Nós ga...ganhamos
essa...batalh...
A bala havia
perfurado as costas de José na altura dos pulmões, então ele simplesmente
sufocou até a morte. Entretanto, as suas palavras em seu leito de morte me
inspiraram ainda mais a continuar com a nossa revolução, que começou com o que
ele denominou de "homorevolta". José era um senhor cujo filho havia
morrido nas caçadas de Conde Rafael, e ele resolveu nos ajudar porque queria
evitar que isso se repetisse. Isso me lembrou de Maria, que agora jazia morta
no chão, outra pessoa que nos ajudou para evitar que Conde Rafael machucasse os
filhos de outras pessoas.
Inspirado pela
vida e pela morte destas pessoas eu me dirigi aos meus outros companheiros,
dizendo:
- Companheiros!
Não vamos deixar as mortes destas pessoas serem em vão! Vamos continuar
lutando! Vamos transformar esse vilarejo no nosso primeiro local de resistência
contra o Conde Rafael, como havíamos idealizado! Como vocês podem ter ouvido,
ele é sim meu tio, porém não há ninguém que eu despreze mais do que ele! O meu
nome é Felipe, eu sou o príncipe de Heliópolis, o meu pai é o Rei Otávio, que
também abomina as práticas do meu tio, e, se vocês me deixarem, eu quero levar
vocês à vitória contra a caçada dos homossexuais!
Depois disso,
seguiram-se gritos e palmas de incentivo. Além disso, Bernardo me olhava de
modo conivente, então eu finalizei:
- Nesse caso,
vamos encontrar os nossos outros companheiros e começar a agir neste vilarejo,
porque nós temos muito trabalho a fazer! E, acima de tudo, nós temos uma
revolução para continuar!
Já querendo o cap 6!
ResponderExcluirCara adorei, tambem escrevo romance homossexual, mas ainda não tive , sei lá, coragem mesmo de postar nada a respeito! Mas o seu é legal, rsrsrsrs gosti, gosti!
ResponderExcluirQue bom que vocês estão gostando! Agradeço os comentários elogiando e fazendo críticas construtivas.
ResponderExcluirPostarei atualizações em breve! Continuem acompanhando e desculpem pela lacuna entre as postagens.
Espero que o conteúdo compense a espera!
CARA EU AMEI ESSA HISTÓRIA... PELO AMOR DE DEUS POSTA O CAPÍTULO 6 E O FIM DA HISTÓRIA, QUERO SABER COMO TERMINA, POR FAVOOOOOOOR :(
ResponderExcluirGostei muito dessa historia e baseada na nossa realidade mais de um geito diferenciado. Poderia virar um filme ou um livro teria muito susseço entre pessoas homosexuais e heteros e quero que essa historia n tenha um fim tao cedo
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirPoderia ter a idade dos personagem pois fica mais facil pra imaginalos
ResponderExcluirQueroo logo o capítulo 6.. OMG
ResponderExcluiraguardando super anciosooo pelo final da historiaa
ResponderExcluirOlá pessoal, peço desculpas pela demora na publicação de atualizações para os contos, mas eu realmente estou sem tempo.
ExcluirPorém, postarei pelo menos uma atualização na próxima semana.
Continuem acompanhando!
Será que podes POSTAR O FINAL DA HISTÓRIA??? �� �� �� �� POR FAVOR
ExcluirGente muito legal esaa historia
ResponderExcluirto emocionado aqui, pelo fato de nao ser apenas um conto que relata uka atracao sexual entre Felipe e Bernardo,mas mais do que isso, um amor quase incondicional, ou talvez incondicional, um lindo amor
Esse foi o melhor conto gay que ja li em toda a minha vida
acho que muitos heteros homofobicos deveriam ler e ver o quao lindo pode ser o amor entre pessoas do mesmo sexo, e verem tambem que é algo normal como qualquer outro amor, Historia simplismente perfeita,concordo com o Gustavo Alves de Souza, poderia virar um filme que iria fazer muito sucesso.
Parabens Kalil Ribeiro, vc tem muito potencial como escritor, continue assim
aguardamos o capitulo 6
bjs ate breve ;)
Esse romance tem um gosto de Quero mais.....
ResponderExcluirParabéns e espero continuação
Pelo amor de Deus posta o capitulo 6
ResponderExcluirEsse é um ótimo conto estou totalmente envolvido por favor !! Mostre como termina esse lindo romance
Eu li todos os capítulos de uma só vez e nunca li algo tão envolvente e lindo. Quero o cap 6 tbm kkkk me apaixonei por essa história... *-*
ResponderExcluirPrimeiro eu não li devorei , segundo posta logo o 6 estou aguardando ansioso . Parabéns pela criatividade e iniciativa . Historia maravilhosa .
ResponderExcluirEu preciso do capítulo 6
ResponderExcluirObrigado,de nada.
Muito boa passei a madrugada inteira lendo e valeu a pena mesmo, se tiver o capítulo 6 que eu não saiba por favor me avisem. Parabéns ao escritor
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