domingo, 22 de novembro de 2015

Capitulo 7 - (Re) aprendendo a Viver (Cont.)

- Sabe, as coisas que acontecem na nossa vida nos fazem repensar as nossas crenças - disse Enzo em tom calmo - Eu sempre achei que casamento é uma responsabilidade muito grande, por isso nunca imaginei casar tão cedo. Porém, quando aquele carro me bateu e eu tive que passar meses em recuperação no hospital, eu percebi como o nosso tempo é limitado aqui neste mundo! Há tantas coisas que nós não nos permitimos ou não aproveitamos por achar que ainda temos uma longa vida pela frente! Infelizmente, isto não é verdade para todas as pessoas! Desde então eu me decidi a aproveitar a minha vida de forma mais plena! Portanto, se você me dissesse isso a alguns meses atrás, eu com certeza diria que não. Na verdade, hoje a minha resposta ainda é não, mas...  - Enzo estendeu a mão para Daniel, o qual estava com uma expressão confusa no rosto, e o puxou para si. Então aproximou a sua boca da orelha direita do namorado e sussurrou: -  Eu não quero ser o seu marido de mentira! Mas que tal se você fosse o meu noivo de verdade?
- Amor! - disse Daniel, o qual se afastou de Enzo para poder olhá-lo no rosto. Ambos tinham um enorme sorriso no rosto - Então você quer se casar de verdade?
- Sim! Bem, eu não planejo fazer a cerimônia tão cedo, mas noivar é um passo a mais na nossa relação! Noivar exige um voto ainda maior do que uma simples relação de namoro e essa é a minha forma de mostrar que eu quero viver sem ter medo de assumir cada vez mais responsabilidades! Principalmente, porque você é digno de tal gesto! Você também tem sido grande parte do meu mundo e eu quero assumir esse laço de confiança com você e com a nossa relação! Eu só não me casaria com você agora, porque nós não temos condições de sair da casa dos nossos pais no momento! Mas quando tivermos, eu ficarei feliz de poder chamá-lo de marido! Então, você aceita ser meu noivo?
- É claro! - disse Daniel, antes de beijar o namorado. Os dois se envolveram de modo tão intenso e profundo naquele beijo, que não notaram a chegada de Pedro.
- Err... O seu amigo já está alojado!
- Ah... Oi pai - disse Daniel, corado e sem ter coragem de encontrar os olhos do pai - Obrigado!
- Desculpe pela cena Seu Pedro - disse Enzo, também com as bochechas vermelhas.
- Não tem problema meus filhos! Mas, se vocês quiserem mais privacidade, eu posso voltar em alguns minutos.
- Não! - disse Daniel veementemente - Eu tenho uma novidade pai! Eu não sei se o senhor vai aprovar, mas eu vou contar mesmo assim... - continuou ele em tom animado - Eu e o Enzo estamos noivos!
- Noivos?! Como isso aconteceu?
- Bem, eu pedi para ele ser meu "marido", mas seria de modo figurativo! Então ele disse que queria noivar de verdade! Pois, como sempre, ele quer tomar as iniciativas! - completou ele rindo.
- Espere, eu não entendi... vocês pretendem casar ou não?
- Seu Pedro, eu pedi ao Daniel que nos tornássemos noivos, mas isso irá se prolongar até que tenhamos condições de morarmos sozinho e, aí sim, casar! O senhor aprova isso?
- É claro que não! - disse Pedro, o que causou grande surpresa em Enzo e Daniel. Mas para maior surpresa dos dois, ele continuou: - Inadmissível que nós não façamos um jantar para comemorar e oficializar isso!
- Então o senhor aprova?! - disse Enzo, radiante.
- É claro meu filho! Eu já pude perceber que você é uma pessoa centrada e eu tenho certeza que se você decidiu fazer isso, é porque realmente está seguro da sua decisão! Mas eu quero fazer disso algo muito especial!
- Pai! O senhor não sabe o quanto eu fico feliz que o senhor tenha compreendido a nossa decisão! Eu confesso que estava um pouco receoso em relação a como o senhor iria encarar essa questão de casamento, considerando as suas crenças religiosas!
- Meu filho, depois de perder a sua mãe e quase te perder também, não há como eu não ser mais compreensivo em relação à sua relação com o Enzo! Afinal, foi por causa disto que você decidiu não nos deixar! Eu te amo meu filho, e eu só quero te ver feliz! Eu peço desculpas novamente por qualquer atitude passada que tenha te machucado! Eu ainda tenho uma relação íntima com Deus, mas eu estou mudando algumas crenças para que eu possa efetivamente apreciar o maior presente que ele me deu: você! Este processo pode ser lento, mas eu estou me esforçando!
- Pai! - disse Daniel abraçando o pai - Eu também te amo! O senhor tem sido maravilhoso e eu agradeço todo o seu esforço!
- Enzo - disse Pedro, dirigindo-se ao futuro genro - Eu já te disse isso antes e repito: se o meu filho tem que namorar, ou nesse caso noivar, um rapaz, eu fico feliz que esse seja você! Eu te admiro muito e você ganhou o meu respeito e a minha eterna gratidão ao fazer o meu filho feliz!
- Eu fico lisonjeado seu Pedro! Obrigado! - disse Enzo, levemente corado.
- Tá bom Pai, não enche o Enzo de elogios ou ele vai virar um tomate! Sabe, ele não reage muito bem a elogios!
- Daniel, cale-se! Ou eu vou repensar o meu pedido! - respondeu Enzo rindo.
- A sua casa é linda Seu Pedro! - disse Lucas, descendo os degraus da escada que levava para o andar de cima.
- Ah, obrigado Lucas! Fico feliz que tenha gostado! Sinta-se em casa!
- Foi muito difícil encontrar o lugar? - perguntou Daniel.
- Não tanto. Mas é um pouco difícil de chegar sem um carro! Eu precisei pegar um taxi da rodoviária!
- É uma pena que você não pôde vir conosco mais cedo! Isso te pouparia algum dinheiro! - disse Pedro.
- É, eu realmente não podia deixar de ir para a clínica hoje. Mas tudo bem, a viagem até aqui tem uma bela paisagem e a sua casa de campo vale totalmente a pena!
- Que bom que você conseguiu! E bem a tempo de ser um dos primeiros a saber que em breve estes dois estarão assumindo um compromisso muito mais sério!
- Sério?! Isso é ótimo! Quando será o casamento?
- Não tão cedo Lucas, mas seremos noivos de agora em diante! - respondeu Enzo.
- Ah, entendi! Fico feliz por vocês!

A noite não se estendeu por muito mais tempo, visto que todos estavam muito cansados da viagem em direção à casa de campo. Assim, logo todos se despediram e foram para os seus respectivos quartos, sendo que Enzo e Daniel ficaram no mesmo quarto. Os dois deitaram na cama e ficaram acariciando um ao outro, enquanto conversavam.

- Você é lindo sabia?! - disse Daniel, acariciando o rosto de Enzo - Eu sou o cara mais sortudo do mundo em poder, em breve, te chamar de noivo!
- Obrigado! Você é imensamente mais lindo, mas eu aprecio os seus elogios!
- Depois de muita insistência da minha parte né? - disse Daniel, em tom de brincadeira - No começo eu precisava te elogiar inúmeras vezes, até você aceitar que o que eu estava dizendo era verdade.
- Eu só não reajo muito bem a elogios - respondeu Enzo rindo - Mas obrigado por insistir!
- Com você eu insisto em tudo, porque vale a pena! Eu insisti na minha estúpida ideia de te chamar de meu marido e agora somos noivos!
- É verdade, você foi bem insistente com isso! - disse Enzo, acariciando o rosto de Daniel - Eu admiro a sua persistência e o seu comprometimento! Eu te amo!
- Eu também te amo!  Respondeu Daniel, logo antes de suavemente beijar o namorado. Isto evoluiu para um ritmo mais intenso e, de repente o rapaz sentiu a mão de Enzo tocar a sua virilha, pelve e finalmente parar no botão em sua calça - Amor?! O que você está fazendo?
- Você quer, certo? - sussurrou Enzo para o namorado.
- Sim, mas... - Daniel ponderou - Eu quero! Eu só não sei muito bem como... - admitiu o rapaz.
- Bem... eu meio que perguntei ao Yuri sobre isso, quando eu estava internado - disse Enzo, levemente corado - Mas na verdade, isso vai ser 80% um processo de descoberta que nós vamos ter que trilhar juntos! Eu não tenho pressa e se não conseguirmos, eu já vou estar contente de poder ver o seu corpo nu! - O rapaz ia corando cada vez mais - O seu corpo é lindo e eu gostaria de poder apreciá-lo por completo mais vezes - Então Enzo puxou Daniel para si e continuou o processo de abertura da calça do namorado, o qual não ofereceu resistência.
- Se é isso que você quer, eu estou disposto a tentar - Disse Daniel, enquanto gradualmente retirava as outras peças de roupa, tanto suas como de Enzo. Assim, os dois estavam nus e, calmamente, explorando o corpo um do outro. Eles não tiveram muitos problemas nas preliminares e passaram o tempo que lhes pareceu necessário e prazeroso nesta etapa. Porém, quando estavam prontos para avançar para próxima etapa, Daniel lembrou: - Eu não trouxe camisinha!
- Eu trouxe! - respondeu Enzo, firmemente - Pega no bolso da frente na minha mochila - enquanto Daniel caminhava, ele acrescentou - Eu disse que eu pensava que esse fim de semana fosse para a gente!
- Esse final de semana É para a gente! - respondeu Daniel, enquanto trazia o pacote de camisinhas. Então, deitando-se novamente ao lado do namorado, ele acrescentou - Agora vamos ver se você aprendeu direitinho o que o Yuri te ensinou! - Ele riu, porém mantinha uma feição sedutora.
- Você sabe que eu sou excelente aprendendo as coisas! Principalmente se isso envolve usar e abusar do lindo corpo do meu namorado! - Então Enzo, novamente, puxou Daniel para si e dessa vez não houve mais interrupções.
No outro dia, Enzo foi acordado por Daniel, o qual sussurrava em sua orelha:

Vamos acordar, dorminhoco?! - ele estava atrás de Enzo e envolvia o rapaz em um abraço.
- Nãão! - respondeu Enzo, em um misto de espreguiçar e falar.
- Mas já são 11h! Precisamos aproveitar o final de semana!
- Tudo bem! - disse Enzo, virando-se para ficar cara-a-cara com o namorado - Mas a culpa é sua por eu estar tão cansado!
- Ora, você vai dizer que não adorou a nossa noite?! Porque eu não notei nenhuma resistência da sua parte! - respondeu Daniel rindo.
- É claro que eu adorei! Eu amei!
- Por falar nisso, não me deixe esquecer de ligar para o Yuri e agradecer, porque ele deve ter te orientado muito bem! Você sabia exatamente o que estava fazendo, mesmo com a sua... bem, com a sua "limitação"!
- Isso é verdade! O trabalho que o Yuri fez foi, com certeza, essencial! É tão bom ter um profissional que ligue exatamente para essas coisas do nosso dia-a-dia, que parecem tão triviais, mas, na verdade, são tão importantes e complicadas de serem realizadas por pessoas que tem uma limitação, como você disse - respondeu Enzo, em tom sério. Então, mudando para um tom brincalhão, completou: - Mas, 50% do trabalho também foi talento desta pessoa que vos fala!
- Enzo, também me lembre de procurar a sua modéstia! - disse Daniel, rindo - Ela ainda pode estar no hospital! Mas, voltando ao assunto, eu adorei a nossa noite e fiquei feliz de poder, você sabe, fazer amor com você! Eu confesso que não estava esperando que isso fosse acontecer tão cedo!
- Para falar a verdade, nem eu! Mas eu não quero deixar que a minha limitação influencie demais na minha vida! Eu te amo e te desejo, então eu quero fazer amor com você quando eu tiver vontade, independentemente se eu vou recuperar os movimentos das minhas pernas ou não!
- Eu também te amo e te desejo! - disse Daniel, enquanto percorria as bordas do rosto de Enzo com as pontas dos dedos - Fazer amor com você é uma experiência maravilhosa! Você me fez descobrir um novo mundo, sexualmente e emocionalmente!
- Bem-vindo ao meu mundo! Regado a festas, sexo e bebidas!
- Cala a boca Enzo! - disse Daniel, rindo e empurrando o namorado - Eu estou me declarando aqui e você fazendo graça!
- Desculpa amor! Eu não resisti! - respondeu Enzo, também rindo - Mas, falando sério, eu fico feliz que você esteja apreciando essa nova experiência! Algumas pessoas não têm boas experiências e acabam achando que o sexo entre dois homens é sempre doloroso ou desagradável! Eu tenho um amigo assim!
- Bem, eu não tenho do que reclamar! A minha primeira vez foi... como eu poderia dizer... maravilhosa! Assim como você!
- Como eu disse: talento!
- Enzo! Você está impossível hoje! - disse Daniel rindo e, levantando-se da cama, disse: - Eu vou tomar banho!
- Quer companhia?
- Sempre! A sua companhia, é claro!
- Obviamente!

Quando os dois terminaram de tomar banho, já era hora do almoço, de modo que estes se dirigiram para a sala de jantar, onde Lucas e Pedro já estavam à mesa.

- Bom dia! Eu já estava me perguntando que horas vocês acordariam! - exclamou Pedro.
- Desculpa pai, nós não vimos o tempo passar ontem à noite e acabamos dormindo tarde!
- Está tudo bem, eu só não quero que vocês deixem de aproveitar este lindo dia! - respondeu Pedro, calmamente - Eu e o Lucas caminhamos um pouco pela propriedade e ele estava me contando as novidades em sua vida.
- Que bom - disse Daniel, imaginando que Lucas, provavelmente, havia omitido a terrível história que ele compartilhara com ele e Enzo, afinal aquele não seria o assunto mais adequado para o momento - Sobre o que conversavam agora, especificamente?
- Eu estava explicando ao seu pai o que um terapeuta ocupacional faz! O que, diga-se de passagem, é sempre algo muito difícil, já que a profissão é tão ampla!
- Que ótimo - disse Enzo - Eu adoraria ouvir isso! Eu me apaixonei pela profissão desde que fui atendido por um terapeuta ocupacional no Hospital das Clínicas de São Patrício!
- Você foi atendido pelo Yuri, certo? - perguntou Lucas.
- Sim, por que?
- Ele é simplesmente um dos melhores terapeutas ocupacionais em São Patrício! - disse Lucas, animado - Eu não o conheço pessoalmente, mas todas as pessoas com quem eu já conversei sobre ele elogiam imensamente o trabalho que ele faz! O Yuri é um profissional que realmente representa a Terapia Ocupacional!
- Nossa, eu sabia que o Yuri era maravilhoso! Mas não sabia que estava sendo atendido por um dos melhores da cidade!
- "Maravilhoso"? - perguntou Daniel.
- Cala a boca amor! - respondeu Enzo rindo - Você sabe o que eu quero dizer!
- Estou brincando amor! O cara é muito competente mesmo!
- Ele se formou na UFTU e foi um dos melhores alunos da turma dele! - Acrescentou Lucas - Ele até trabalhou nos Estados Unidos por um tempo!
- Bem, esse rapaz deve ser muito bom mesmo! - disse Pedro - Mas por que voltou para cá?
- Isso são só boatos, mas parece que ele tinha um companheiro nos Estados Unidos, o qual faleceu. Então, provavelmente, ele está tentando recomeçar no Brasil.
- Isso é tão triste! - disse Enzo - Eu não sabia que ele tinha perdido alguém e tampouco que ele também fosse gay! Deve ser por isso que ele foi tão gentil comigo e com o Daniel!
- Que bom que, pelo menos, ele está conseguindo continuar com o bom trabalho! - disse Pedro.
- Isso é verdade pai!
- Mas mudando de assunto - disse Enzo - Você pode recomeçar a explicar a Terapia Ocupacional Lucas?
- Claro! - respondeu Lucas - Primeiramente, o que você entende por "ocupação"?

Assim, Lucas explicou aos três o que um terapeuta ocupacional, com riqueza de detalhes e muita paixão em cada palavra.

- Lucas, você fala da sua futura profissão com tanta propriedade! - Apontou Pedro - Isso é muito bom! Você está fazendo o que você gosta!
- Eu quero ser um terapeuta ocupacional desde que me decidi a fazer faculdade! - respondeu Lucas.
- Os seus pais devem estar muito orgulhosos de você! - Acrescentou Pedro.
- Bem, eu não vivo há algum tempo com os meus pais Seu Pedro... - um silêncio desconfortável se instaurou ao redor da mesa.
- Desculpe, eu falei algo de errado? Algo aconteceu com eles? - Perguntou Pedro.
- Podemos não falar disso? Desculpe, mas eu não gosto de tocar no assunto - disse Lucas.
- Absolutamente! Eu peço desculpas!

Logo em seguida, Zuleica trouxe o almoço e os rapazes conversaram sobre outros assuntos, enquanto desfrutavam de uma excelente feijoada. Posteriormente, Pedro os convidou para passar a tarde na piscina.

- Você pode usar algumas boias poltronas que nós temos Enzo! - disse Daniel - Eu sei que você não vai querer ficar fora da água!
- Você me conhece muito bem! - respondeu Enzo - Eu só preciso trocar de roupa, então poderemos curtir este dia maravilhoso! E aproveitar o resto da luz do dia que ainda nos resta!
- Então nos vemos daqui a pouco na piscina! - disse Pedro.
- Eu também vou trocar de roupa e irei em alguns instantes - disse Lucas.
- Nossa, que tensa a história que o Lucas contou sobre o Yuri! - exclamou Enzo, o qual já estava no quarto, tentando vestir uma sunga - Você acha que isso é verdade?
- Eu não sei... mas, se for, eu não sei como ele consegue lidar com isso! - respondeu Daniel - Eu não sei o que eu faria se te perdesse!
- Eu também não! Eu entendo o porquê de ele ter voltado para o Brasil! Eu não ia aguentar ficar em um local repleto de lembranças da pessoa que eu amo! - disse Enzo.
- Eu entendo perfeitamente! Às vezes é difícil andar pela minha casa e ver os locais no qual eu costumava conversar com a minha mãe! - Daniel tinha uma expressão serena, mas um pesar estava presente em sua voz - Eu acho que é diferente da situação dele, mas eu entendo um pouco do que o Yuri está sentindo.
- Venha cá! - Enzo estendia os braços - Eu sinto muito por tocar nesse assunto, eu sou insensível mesmo!
- Não se desculpe - disse Daniel, abraçando Enzo - Eu estou bem amor! Eu estou muito mais resiliente em relação à perda da minha mãe!
- Eu fico feliz! - disse Enzo, com um sorriso no rosto.
- Agora, mudando de assunto, você precisa de ajuda para vestir isso? - disse Daniel, apontando para a sunga na mão do namorado.
- Eu consigo sozinho! Mas levaria mais tempo e eu também não posso recursar uma proposta envolvendo você tocando o meu corpo!
- Por que você acha que eu perguntei?! - respondeu Daniel, com um sorriso malicioso no rosto.

Alguns minutos depois, os dois apareceram na área da piscina e encontraram Pedro tomando sol.

- Por que demoraram tanto? O clima está ótimo!
- Está mesmo pai! Acho até que já vamos cair na piscina! - disse Daniel, o qual empurrava a cadeira de rodas de Enzo. Você já quer entrar amor?
- Sim! Vamos nessa! - Então eles entraram na piscina e Enzo abdicou da boia, pois queria ficar novamente em pé, com a ajuda de Daniel - É tão bom poder ficar assim novamente! Obrigado, meu amor!
- De nada amor! Isso não exige muito esforço já que a água faz o seu corpo parecer mais leve!
- Não somente por isso, mas por tudo que você tem feito por mim! - disse Enzo, olhando com uma feição serena para o namorado - Eu sei que você teve problemas na UFTU pelo tempo que passou no hospital comigo!
- Como você descobriu?! - exclamou Daniel.
- Amor... eu espero que você não se ofenda, mas você é péssimo em esconder segredos! O que eu amo, pois é difícil você esconder as coisas de mim, tipo um outro namorado!
- Não seja bobo! Eu nunca ia esconder o meu outro namorado de você! - disse Daniel, rindo.
- Como você ousa! - respondeu Enzo, rindo e empurrando o namorado.
- Mas, respondendo ao que você disse, eu não me importo de fazer nada do que eu tenha feito até agora por você! Eu faria muito mais, se necessário!
- Tem como não te amar?! - Enzo se inclinou e beijou o namorado.
- Obviamente não! - respondeu Daniel - Agora pare de me seduzir na frente do meu pai! - Completou ele rindo.

Posteriormente, Lucas apareceu e se juntou a eles na piscina, seguido de Pedro, o qual não queria ficar sozinho do lado de fora. Diversas conversas ocorreram enquanto eles permaneceram dentro da piscina, até que Pedro avisou que precisaria se ausentar para resolver alguns assuntos relacionados ao trabalho.

- Poxa, eu esqueci meu celular no quarto! - disse Daniel, alguns minutos depois que Pedro havia entrado na casa - Eu acabei de lembrar que alguns colegas de faculdade ficaram de ligar agora à tarde sobre um trabalho que nós precisamos entregar essa semana. Vocês se importam de esperarem aqui, enquanto eu vou lá buscar, rapidinho?
- Claro que não! - respondeu Enzo - Vá lá amor!
- Também não me importo, eu posso oferecer suporte se o Enzo precisar! - disse Lucas.
- Tudo bem, eu já volto!

Enquanto Daniel fora ao quarto buscar o celular, Lucas e Enzo conversaram sobre a experiência do futuro terapeuta ocupacional, o qual já estava cursando o sétimo semestre. Porém, após algum tempo decorrido, Enzo começou a estranhar o fato do namorado ainda não ter voltado e pediu para que Lucas o ajudasse a sair da piscina. O rapaz havia aproximado a cadeira de Enzo da piscina e o estava retirando da água, quando foi surpreendido por um barulho vindo do lado de dentro da casa, o que o assustou e o fez, sem querer, largar os braços de Enzo, o qual caiu novamente na piscina e bateu a cabeça quando atingiu o fundo. O golpe apenas deixou Enzo desorientado, mas ele conseguia ver através da água cristalina da piscina que a figura de Lucas não se moveu por algum tempo, mesmo ele sabendo que Enzo não poderia sair do fundo da piscina sozinho. O fôlego de Enzo logo começou a chegar no limite e o rapaz começou a se desesperar, porém, um pouco antes dele desmaiar pela falta de oxigênio, ele viu uma figura pular na piscina e, momentos depois, ele viu a face desesperada de Daniel olhando para ele, enquanto vigorosamente massageava o seu peito.

- Amor! Amor! - Daniel estava visivelmente desesperado e assustado enquanto o abraçava - Eu não sabia se você... Eu estava com tanto medo!
- Amor... - Enzo tentou falar e percebeu que o seu peito doía muito - O que aconteceu?
- Você caiu na piscina e bateu a cabeça! - disse Daniel, ainda muito alterado - Então eu pulei e te salvei! Mas você estava desacordado! Eu não sabia o que pensar!
- Foi tudo culpa minha!  - disse Lucas, entrando no campo de visão de Enzo - Eu me assustei com um barulho vindo de dentro da casa e acabei soltando o seu braço! Me desculpe!
- O que foi que aconteceu dentro da casa? - perguntou Enzo, com um tom de voz baixo e debilitado, devido à dor em seu peito. Enzo ignorou o pedido de desculpas de Lucas, pois lembrava do que havia visto antes de desmaiar.
- A Zuleica estava limpando a casa e acabou encontrando uma arma que pertence ao meu pai! - disse Daniel - Ela acabou disparando, sem querer, e ainda está muito assustada! A sorte é que eu estava a caminho daqui, então o Lucas me disse que você tinha acabado de cair na piscina! Você está bem?
- Não! - disse Enzo, o qual acabara de perceber que estava deitado no chã, o que não melhoraria a dor que estava sentindo no peito - Você pode me levar para dentro? Eu preciso deitar!

Enzo foi levado até o quarto e Daniel o acomodou confortavelmente na cama, antes de dizer:

- Amor, eu preciso ver como a Zuleica está! Mas eu já volto!
- Tudo bem amor! - disse Enzo, ainda sentindo uma forte dor no peito.

Enzo tentou resistir, mas acabou adormecendo enquanto esperava Daniel. Porém, antes disso, ele refletira sobre o que ele havia visto enquanto estava na piscina: Lucas havia claramente pensado que ele desmaiara quando atingiu o fundo da piscina e mesmo assim não oferecera qualquer ajuda. Ele queria estar enganado, mas a imagem distorcida de Lucas parada na beira da piscina, sem mover qualquer músculo para ajudá-lo, não saía da sua cabeça. Por outro lado, ele estava agradecido por estar vivo. O que ele deveria fazer com aquela cena de Lucas martelando em sua cabeça? Com essa questão em mente, Enzo adormeceu, após um dia no qual ele quase havia perdido a vida.

sábado, 31 de outubro de 2015

Capítulo 6 - Revolução: Pasine (Cont.)

- Conde Rafael, o desequilíbrio nos fluidos corporais que fazem este rapaz gostar de ter relações com outros homens deveria ter sido curado com apenas uma dose! Mas pelo visto eu vou ter que aplicar uma dose extra! Isso é muito perigoso e pode matá-lo! Tem certeza de que eu devo prosseguir?
- Não seja imbecil! É claro que eu estou certo disso! Não me importa o que isso vai custar, o que me interessa é que este indivíduo seja curado! Você também não quer isso sobrinho? Ver-se livre desta doença?
- Que seja...
- Não seja insolente e ingrato! Eu estou lhe fazendo um favor!
- Obrigado tio...
- Assim está melhor! Pois bem, venha amanhã para realizar o procedimento! Não precisamos mais esperar!
- Sim Conde Rafael!

Assim, o meu tio saiu do quarto e eu pude voltar a fazer o que estive fazendo durante os últimos dias: dormir. Depois da traição de Bernardo, eu não me importava com nada que acontecia ao meu redor, não me alimentava adequadamente e estava resignado em permanecer trancafiado no meu quarto e atado à minha cama pelo resto da minha vida. O meu tio insistiu que a segunda dose da minha cura fosse ministrada o mais breve possível, mas Walter o aconselhou a esperar alguns dias. Agora, a data tinha sido marcada. Talvez eu pudesse morrer e o pior de tudo é que eu não me importava.
Rafael II havia me visitado várias vezes durante aqueles dias e eu sempre fingia que estava dormindo, porém neste dia havia sido diferente.

- Olá primo sujo, até que enfim você está acordado!
- Rafael, se você não sair daqui agora, eu vou contar ao Conde o seu segredinho!
- Do que você está falando?
- Não pense que eu não sei o porquê de tanta raiva e o motivo de você vir todos os dias ao meu quarto!
- O que você pensa que sabe?
- Parece que o filho do grande Conde Rafael está tão doente quanto eu!
- Como ousa!

Rafael desferiu um soco que atingiu o lado esquerdo do meu rosto em cheio. Porém, a dor não me incomodava havia muito tempo.

- Não adianta me bater ou negar! O que você sente não vai mudar!
- Eu... Eu não sei do que você está falando! Mas se meu pai ouvir isso ele vai te matar! Ele nunca acreditaria em tamanha mentira!
- Eu não me importo! Isso despertaria alguma suspeita! Eu não tenho nada a perder, então sai daqui, se quiser evitar problemas desnecessários!
- Pois bem, eu não quero passar nem mais um minuto perto de você de qualquer modo!
- Ah não?! Então por que você tem vindo aqui? O que você quer de mim?
- Eu... Eu não entendo o que causa isso...
- Não precisa haver um motivo! Não há nada errado! Essa história de doença é uma invenção do seu pai!
- Se isso não é uma doença, então como você explica o seu "noivo"? Ele está curado!
- Sai daqui!
- Mas você não respondeu...
- AGORA! SAIA!

Eu não suportava ouvir falar do Bernardo. A simples menção do nome era como um soco no estômago! Eu me sentia sem ar e uma forte dor se instalava no meu abdômen. Depois que Rafael saiu, eu achei que poderia finalmente dormir, mas estava enganado.

- ... Já que você insiste! Aqui está ele!
- Vejo que ele ainda está bastante debilitado! Tem certeza de que ele está pronto para a segunda dose?
- Sinceramente, eu não acho que ele vá melhorar muito! Ele se recusa a comer adequadamente! Se o pior acontecer, eu não acho que será de todo mal!
- Entendo! Talvez o senhor tenha razão!
- Mas é claro que sim! Mas voltando à nossa conversa, eu precisarei visitar o Conde Gil e...

Eles saíram do quarto sem me dirigir qualquer palavra. Eu não podia evitar de, bem no fundo, esperar que Bernardo tivesse algum plano e estivesse fingindo tudo aquilo, mas a cada dia as minhas esperanças eram dizimadas. Para a minha surpresa, as visitas daquele dia ainda não tinham se encerrado.

- Oi primo... É verdade que você tá doente?
- Um pouco Davi! Mas eu vou ficar bem!
- Eu ouvi uma coisa ruim... eu fiquei triste!
- O que foi que você ouviu Davi?
- Papai disse que você pode morrer! Mas eu não quero que você vá embora! Eu nunca tive um primo e papai nunca me deixa ver você!
- O seu pai... ele sempre foi assim?
- Chato?

A sinceridade infantil sempre me encantou. Eu nunca tive irmãos, mas eu sempre adorei brincar com as crianças de Heliópolis! Elas sempre me convidavam para me reunir a elas e nunca havia qualquer tipo de interesse secundário.

- Sim! Ele sempre foi rígido desse jeito?
- Que eu me lembre sim! Meu pai nunca brinca comigo! O meu irmão também não!
- Eu sinto muito Davi! Eu queria poder brincar com você! Mas o seu pai acha que eu tenho uma doença contagiosa!
- E você tem?
- Não! Mas o seu pai acha que sim, então eu não posso chegar perto de você!
- O que ele acha que você tem?
- Eu amo... ou melhor, amava um rapaz! O seu pai acha que isso é errado!
- Como ele se chama?
- Bernardo...

Novamente, aquele nome me fez sentir doente. Coincidentemente, o meu ex-amor adentrou o quarto companhado de dois servos.

- Davi! O que você está fazendo aqui?
- Eu... Eu queria ver o meu primo!
- Você sabe que o seu pai não quer que você venha aqui! Você, acompanhe ele até o quarto e se certifique de que ele não saia de lá! Desculpe Davi, isso é para o seu próprio bem!
- Sim senhor!

Um dos servos que acompanhavam Bernardo conduziu Davi para fora do meu quarto. Mas quando passava pela porta, o meu pequeno primo disse:

- Tchau primo! Desculpe não poder ficar com você! Espero que você fique bem!
- Obrigado Davi! Você é muito gentil!
- Você sabe que não deve chegar perto dos filhos de Conde Rafael!
- Sim...
- Você ainda não me perdoou, certo? O que eu fiz foi para o seu próprio bem!
- Eu não me importo!
- Você não precisa! Eu tenho certeza que entenderá tudo o que eu fiz no futuro!
- Senhor, está tudo pronto!
- Muito bem. Está na hora do seu banho! Espero que isso te relaxe um pouco!

O servo que restava havia enchido uma tina com água para que eu pudesse tomar banho.

- Não há nada nesse castelo que possa me relaxar!
- Tudo bem, então apenas tome banho, porque você está horrível!
- Bem, esse sou eu! Agora, que tal você sair do quarto para que eu possa me despir!
- Não há nada que eu, infelizmente, já não tenha visto! Além disso, estamos entre homens aqui!
- Pode ser! Mas eu não o quero aqui! Então saia!
- Se é assim que prefere! Eu vou sair, mas você servo deve tomar cuidado para não ser seduzido! Não esqueça que ele ainda está doente!
- Sim senhor! Eu serei cuidadoso!

Assim que Bernardo saiu, eu me despi e o servo designado me ajudou a entrar na tina. Ele deveria me ajudar durante o processo de banho, mas eu recusei e mandei que ele apenas me ajudasse a sair quando eu tivesse terminado.

- Senhor, tem certeza de que não precisa de ajuda?
- Não, você pode apenas observar, já que isso é necessário, mas eu não quero a sua ajuda!
- Mas eu posso ter problemas se lhe deixar fazer isso sozinho! Esse é o meu trabalho!
- Não se preocupe, eu direi ao Bernardo que você fez o seu trabalho! Apenas me deixe fazer isso sozinho!
- Bem... obrigado senhor! Eu lamento que o senhor esteja passando por tudo isso!
- Obrigado! Você é a primeira pessoa que se sente desse jeito nesse lugar!
- Senhor... eu posso perguntar algo?
- É claro... desde que não seja um insulto!
- O senhor não acredita na cura, certo?
- Bem, eu não estaria nessa situação se acreditasse, certo?
- Por que o senhor insiste em mostrar que a cura não funciona?
- Porque eu quero mostrar que o Conde está errado!
- Mas isso pode afetar muitas vidas!
- O que você quer dizer?!
- O senhor tem ideia de quantas pessoas nesse reino foram "curadas"? Se o senhor continuar mostrando que a cura não funciona, a "sanidade" de muitas pessoas será questionada!
- Espera... então ainda há homossexuais neste reino? Eu pensei que o Conde tinha matado todos em suas caçadas!
- O Conde não mata ninguém do seu próprio reino! Ele se orgulha em dizer que todos os "doentes" do seu reino foram curados! Mas caça os homossexuais de outros reinos como uma forma de diversão e de humilhar os reinos nos quais os homossexuais foram identificados!
- Meu Deus! Então eu estou pondo as pessoas deste reino em risco! Eu... eu não sabia!
- Eu lamento ter que pedir isso, mas se o senhor sobreviver ao procedimento de amanhã, finja que está curado! Ou todos nós estaremos em risco!
- Espera, "nós"? Então você...
- Sim senhor! Eu e meu companheiro fomos apanhados nas dependências do castelo e submetidos à cura!
- O que aconteceu com ele?
- Eu me submeti à cura, mas ele me chamou de covarde e não quis! Ele foi trancafiado no calabouço, mas adoeceu e acabou falecendo há algumas semanas!
- Eu sinto muito por isso! E eu não quero ser insensível, mas se as pessoas não se submetessem a essa ideia de "cura", ninguém precisaria fugir e se esconder por ser homossexual! Eu não sei de onde o meu tio tirou essa ideia!
- Eu concordo senhor... eu só aceitei me submeter a isso porque pensei que o meu companheiro também aceitaria e, assim, poderíamos ter tempo de planejar uma fuga do reino! Mas eu estava errado... De qualquer modo, o senhor ficará surpreso em saber que a "cura" começou com o filho do Conde! Ele foi o primeiro "curado"!
- Então é isso! Eu estava certo! Ele nunca foi curado! Você nunca foi curado! A cura não existe! Mas o Bernardo...
- Eu também não entendo... Mas eu preciso dizer que a "cura" fez bem a ele! Ele é o segundo em comando no reino! O Conde acredita muito na "cura", pois acredita que o filho esteja curado! Desse modo, ele também acredita que o Bernardo esteja curado e por isso o exibe como um troféu para os outros reinos! O fato do Bernardo ter entregue o próprio ex-noivo também aumentou a estima do Conde pelo Bernardo!
- Será... será que ele tem um plano?
- Eu não sei dizer! Mas eu espero que dê tudo certo para o senhor! Quando eu pedi para que "aceite" a cura, eu estava pensando no bem de todos nesse reino, mas eu admiro a sua coragem em lutar pelo que acredita!
- Obrigado por ter me contado essas coisas! Elas me fizeram entender o contexto em que vocês estão! Eu peço desculpas se eu prejudiquei alguém!
- Não precisa se desculpar! Apenas faça o que eu disse, por favor!
- Só mais uma coisa, como foi que o Conde descobriu sobre o Rafael II?
- O senhor Rafael II se apaixonou por um visitante de outro reino! Foi paixão à primeira vista e os dois se visitavam com frequência! Na verdade era muito mais frequente que Rafael fosse a Naquim!
- O namorado do Rafael era de Naquim?
- Sim! E, na verdade, eles foram casados! O filho do Conde até se mudou para um vilarejo chamado Gorgi, o qual era muito receptivo aos homossexuais e sempre realizava casamentos desse tipo. Eu e meu companheiro planejávamos ir até lá para nos casarmos antes de sermos apanhados!
- Eu sinto muito que isso não tenha se concretizado! Isso é estranho, muitos dos meus companheiros são sobreviventes do massacre ocorrido em Gorgi! Eu jamais imaginava que o filho do Conde pudesse ter qualquer relação com esse vilarejo!
- Na verdade, o filho do Conde é a causa do massacre!
- O que você quer dizer? O que o Rafael tem a ver com o massacre de Gorgi!
- Quando o Conde descobriu o porquê de Rafael ter se mudado para Gorgi e o estilo de vida que ele estava levando lá, um exército foi direcionado para a cidade, com o objetivo de exterminar uma doença que estava se alastrando por toda a cidade e havia infectado o seu filho! Por isso tantas pessoas morreram e foi assim que as "caçadas" e a "cura" começaram!
- Eu não sabia disso! Mas o que aconteceu com o marido do Rafael?
- Ele foi a primeira pessoa a ser caçada! O ódio que o Conde sentia por ele era tão intenso que ele não se conformou em apenas mata-lo, ele precisava torturá-lo e fazê-lo sofrer! Depois disso, o senhor Rafael II foi submetido à avaliação por diversas pessoas, as quais deveriam descobrir o que havia de errado com ele! Foi nesse momento que o senhor Walter propôs a cura através das sanguessugas! O senhor Rafael se submeteu a isso e se tornou a primeira pessoa a ser "curada"! Como você pode ver, tudo isso teve início com o filho do Conde!
- Então Rafael é a causa de tudo! Mas por que ele ficou tão perverso?
- Não seja tão duro com ele! O filho do Conde sempre foi um menino muito bom, por incrível que pareça! Ele tinha um coração de ouro, mas depois da "cura" ele se tornou amargo e sombrio! Ele esteve presente em cada uma das caçadas de Conde Rafael e torturou várias das pessoas dessa cidade até que elas aceitassem se submeter ao procedimento.
- Mas ele está traindo o seu próprio grupo! Ele está matando as pessoas que o acolheram!
- Veja bem senhor, quando as pessoas ouvem falar do massacre de Gorgi elas ficam horrorizadas e tristes. Imagine o que o senhor Rafael sente já que ele estava lá e tecnicamente foi a causa de tudo! Isso pode enlouquecer alguém!
- Eu entendo... Mas eu não sei como ajudá-lo!

Nesse momento, Rafael adentrou o quarto.

- O que você está fazendo servo? Não deveria estar ajudando o meu primo a tomar banho?
- Ele já me ajudou bastante! Eu solicitei que ele me deixasse algum tempo na tina, pois isso me relaxa!
- Sim meu senhor! Foi isso que aconteceu!
- Não importa, eu preciso que você saia! Eu quero conversar a sós com o meu primo!
- Mas senhor... eu recebi ordens diretas do senhor Bernardo para que não saísse desse quarto!
- Não precisa sair! Fique!
- Bernardo é apenas um encarregado! As minhas ordens são superiores, afinal eu sou o filho do Conde Rafael!
- Sim senhor...
- Ele já foi! O que você quer Rafael? Eu já disse que não quer conversar se você vai ser rude comigo!
- Eu posso tentar ser menos rude... Mas não posso prometer nada!
- O que você quer comigo?
- Eu quero pedir para que você pare de ser inconsequente!
- O que você quer dizer?!
- Pare de ser resistente ao tratamento! Finja que ele funciona!
- Então você admite que ele não funciona?!
- Eu não admito nada! Mas já que ele não está funcionando em você, talvez o meu pai comece a questionar o funcionamento em outras pessoas e isso vai criar um alvoroço desnecessário!
- Tudo bem!
- Tudo bem o que? Você vai fazer isso?
- Sim! Eu vou fingir que isso funciona!
- Ótimo! Era isso que eu queria! Agora eu vou te deixar em paz!
- Espera, eu tenho uma pergunta!
- O que foi? Seja breve!
- Por que você me odeia tanto? A gente mal se conhece! Por que você odeia tanto os homossexuais?
- Porque esse estilo de vida só causa dor e sofrimento! Isso é errado e as pessoas deveriam saber que disso! Quando as pessoas se recusam a aceitar que isso está errado, ou eu as convenço a se submeter ao tratamento para serem curadas ou elas tem que ser punidas!
- Quem é você para decidir isso? Quem te deu esse direito?
- A vida! E o meu pai!
- Mas você não sente mais nada?
- O que você quer dizer?
- Olha, vamos acabar com esse fingimento! Eu sei que você sente algo diferente por pessoas do mesmo sexo, assim como eu! Mas, por algum motivo, você se recusa a admitir isso! Então eu quero saber se você não sente mais nada ou se é só fingimento!
- Muito bem! Eu não preciso te dizer nada, mas eu quero que você acabe com essas insinuações antes que o meu pai volte de viagem, então lá vai!

Rafael me contou uma versão condensada da história que eu ouvira anteriormente. Eu não podia dar sinais de que já sabia da história ou colocaria rapaz que me contara em perigo. No fim, Rafael afirmou que havia sido curado.

- Como você pode ver, eu já fui como você! Mas hoje em dia eu ajudo as pessoas a enxergarem a luz!
- Você está levando as pessoas para as trevas! Ou melhor, para as sombras, já que as pessoas agora precisam se esconder e fingir que essa tal cura funciona.
- A cura funciona! Eu sou a prova viva disso!
- Você é somente alguém que já sofreu muito! Eu reconheço isso! Mas isso não te dá o direito de fazer as atrocidades que você faz com as pessoas!
- Cale a boca! Você não sabe de nada!

Nesse momento, Bernardo adentrou o quarto, acompanhado do servo que me ajudara com o banho.

- ... deveria ter ficado no quarto, como eu pedi!
- Mas o senhor Rafael me disse que...
- Sim Bernardo, fui eu quem o mandou sair do quarto! Eu precisava conversar com o meu primo!
- Rafael, o Conde recomendou que você e o seu irmão não entrassem nesse quarto! Portanto, eu preciso pedir que você se retire!
- Muito cuidado como fala comigo Bernardo! Não se esqueça de quem eu sou!
- Eu peço isso com todo respeito, meu senhor! Afinal, foi isso que o Conde recomendou! Eu estou apenas fazendo o meu trabalho!
- Assim está melhor! De qualquer modo, eu já terminei o que tinha vindo fazer aqui! Com licença!
- Obrigado senhor! Até mais!
- Até mais primo!
- Pare de tentar seduzi-lo! Isso só vai piorar a situação!
- O que foi Bernardo, você está com ciúmes? Não se preocupe, eu não estou seduzindo ninguém! Eu sou fiel aos meus sentimentos, mas você não entende esse conceito, certo?
- Não me aborreça com as suas acusações! Quantas vezes eu tenho que repetir que eu não sinto nada por você?! Além de pena, é claro! Agora saia da tina, você já teve bastante tempo para tomar banho!
- Não! Eu saio daqui quando eu estiver pronto!
- Eu acho que não!

Eu fui surpreendido por Bernardo envolvendo os braços ao meu redor e me retirando à força da tina. Eu ofereci resistência e lutei para me libertar dos seus braços, mas ele sempre fora mais forte do que eu! Ele me colocou, ainda molhado, na cama e eu não consegui me conter: comecei a chorar, talvez pela surpresa de ter Bernardo me tocando de uma forma tão agressiva, como eu nunca imaginara o ver fazer.

- Servo, retire a tina daqui! Depois disso você está dispensado!
- Sim senhor!

Quando o servo saiu do quarto, eu ainda estava chorando, mas escondia minha lágrimas com os cobertores. Parecia que tudo o que eu estava vivendo fora resumido por aquele momento e eu não conseguia controlar o meu choro.

- Você precisa aceitar que tudo mudou! Isso vai te causar menos sofrimento!
- Me deixe em paz! Você já fez o bastante!
- Como queira...

Quando Bernardo deixou o quarto, eu poderia jurar que vi uma lágrima escorrer pela sua face, mas eu não me atrevi a acreditar. Afinal, ele havia demonstrado que realmente não havia mais nada entre nós, além de uma relação estranha em que ele trabalha para o meu tio e, nesse momento, está encarregado de me preparar para a "cura".
Naquele dia, eu não recebi nenhuma outra visita, então acabei dormindo muito cedo. Não havia qualquer prazer no meu dia-a-dia, então a minha atividade favorita era dormir.
Porém, naquela noite eu acordei com o barulho de pessoas gritando e, de repente, um homem encapuzado entrou no quarto, acompanhado de outros três homens, cujos rosto eu não conseguia ver. Eles se aproximaram da minha cama e eu tentei, sem efeito, lutar, mas eles estavam em maior número e eram, aparentemente, mais fortes do que eu. Além disso, eu estava enfraquecido pela falta de alimentação. Depois de algum tempo resistindo, eu estava exausto e a ponto de desmaiar, então eles conseguiram me amarrar e colocaram uma mordaça em minha boca. Depois, conduziram-me pelos corredores do castelo e, mesmo que eu quisesse, eu não conseguia me debater ou espernear. Enquanto percorríamos os corredores, eu vi várias pessoas desacordadas e algumas outras lutando contra inimigos que eu não conseguia discernir. Aparentemente, Pasine estava sendo saqueada e eu estava sendo levado como refém. Mas o que eu não entendia é como aquilo havia acontecido e onde estava o Conde Rafael.
Finalmente, os homens saíram do castelo e eu reparei que haviam muito mais gente lutando lá fora também. Enquanto isso, os homens que me carregavam se dirigiram a uma carroça e me puseram lá. Três deles voltaram para dentro do castelo, incluindo o homem encapuzado, mas um deles ficou comigo na carroça. Eu estava bastante enfraquecido e levou algum tempo até que eu conseguisse focar no rosto da pessoa que estava comigo e reconhecesse de quem se tratava:

- William!
- Oi irmãozinho! Quanto tempo hein!
- Onde estão os outros?! Onde está o Tomás?
- Calma! Nós vamos te explicar tudo! Mas agora precisamos correr, afinal o conde vai estar aqui em breve!
- O Conde não está aqui? Onde ele está?
- Ele foi a outro reino e nós aproveitamos para te resgatar! Mas precisamos sair agora! Enquanto isso, há alguém que quer conversar com você! Espere aqui!

- Assim, William me deixou na carroça e entrou novamente no castelo. Eu estava tão debilitado que caí no sono novamente e, quando acordei, deparei-me com a figura de Bernardo me fitando.

- William! William! Socorro!
- Calma! Eu...
- William! Me ajude!

Eu queria correr, mas o meu corpo não respondia aos meus comando, então eu somente me arrastava para longe de Bernardo. Porém, ele subiu na carroça e me surpreendeu ao me beijar, do jeito que somente ele conseguia tocar os meus lábios e em uma intensidade me fazia perder o ar. Ele usava o capuz que eu reconheci como sendo do homem que me tirara do castelo anteriormente. Eu não sabia se aquilo era real, mas me deixei envolver pelo momento. Logo depois, ele me abraçou e nós deitamos. Ele envolvia o meu corpo e, finalmente, em muito tempo eu me senti seguro e relaxado novamente. Nós não dissemos nada, pois não havia necessidade. Tudo o que precisava ser dito, foi transmitido através dos nossos corpos juntos novamente. Com Bernardo me abraçando, eu adormeci novamente.
Quando eu acordei, eu não o vi mais e achei que tivesse sido um sonho. Porém, ao meu lado, estava o capuz que Bernardo tinha usado quando fora ao meu quarto, então eu soube que era real. Ao meu lado estavam outras pessoas, incluindo Raul e William, aos quais eu indaguei:

- Onde está o Bernardo?

Os dois trocaram olhares e eu percebi que algo estava errado. Então William respondeu:

- Ele pediu para dizer que te ama! Ele não disse nada ontem porque sabia que você não concordaria com esse plano...
- Qual plano?
- Felipe, o Bernardo ficou em Pasine!

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Capítulo 3 - Gelo e Fogo (Cont.)

Oliver caiu de joelhos no chão, estendeu os braços e bradou novamente. De repente, uma espessa massa de ar começou a emanar das mãos do elemental do gelo e as paredes ao redor da caverna começaram a congelar. Então o elemental, chorando, inclinou-se em direção ao chão e lá permaneceu, praticamente imóvel. Porém, sem que ele percebesse a massa de ar criada havia se alastrado pelos corredores da caverna.
Enquanto isso, Gabriela continuava andando pelo túnel a frente de onde ela havia deixado Oliver e Alba, sem ter qualquer ciência do que havia acontecido:

- Eu não aguento mais - disse a elemental, enquanto sentava no meio do túnel - Está muito quente e eu estou desidratando cada vez mais rápido! Talvez eu devesse conservar energia para quando o Oliver e a Alba me alcançarem! - De repente, a elemental foi surpreendida pelo congelamento das paredes ao seu redor - O que é isso? Oliver? É você quem está fazendo isso? - sem respostas, a elemental resolveu olhar as paredes mais de perto e foi surpreendida pela seguinte inscrição, que até poucos segundos atrás não estava lá: prope est tu dēstinātiōnem. Além destas palavras, as quais Gabriela não conseguia compreender, haviam setas que seguiam pelo túnel e apontavam para a direção de onde a elemental tinha vindo - Bem, acho que está na hora de ver como estão Oliver e Alba.

Em outro ponto da caverna, Ethan também havia notado o mesmo fenômeno que Gabriela, porém, diferente da elemental das plantas, ele conseguia entender as inscrições nas paredes.

Haec via est longa quer dizer este caminho é longo, então quer dizer que pelo menos estou no caminho certo! Mas como isto apareceu aqui? Não havia nada nas paredes da caverna por todo o caminho que eu andei, mas agora elas estão repletas de símbolos e frases! Oliver... - o elemental respirou profundamente, então continuou: - espero que você esteja bem! Obrigado por isto, seja lá o que você tenha feito! - Assim, o elemental do fogo também seguiu caminhando pela caverna.

Oliver permanecera na mesma posição por vários minutos, até que ouviu passos vindo do túnel a frente e, prontamente, posicionou-se em guarda.

- Quem está vindo? - O elemental do gelo atirou diversas estacas de gelo em direção ao túnel.
- Oli! Sou eu! - gritou Gabriela.
- Gabi! - Oliver correu para abraçar a elemental das plantas, mas parou no meio do caminho ao se lembrar de que não possuía corpo físico para isso - Que bom que você está bem! Mas o que você está fazendo aqui? Pensei que estava a vários metros a minha frente!
- Bem, eu realmente estava! Mas aparentemente o caminho é nesta direção - disse Gabriela, apontando para o túnel atrás de Oliver.
- Como você sabe disso?
- O que você quer dizer? Não foi você quem descobriu uma maneira de revelar frase e símbolos nas paredes da caverna?
- Eu não... - o elemental foi interrompido pelo próprio sentimento de surpresa ao olhar para as paredes da caverna e notar, pela primeira vez, que haviam símbolos nas paredes - O que é isso? Eu não me lembro de ter feito isso!
- Mas e todo esse gelo nas paredes? - perguntou Gabriela - Você não o atirou nas paredes de propósito?
- Não, eu usei os meus poderes quando...
- Quando o que Oli?
- A Alba... - lágrimas escorriam dos olhos de Oliver novamente - A Alba se sacrificou Gabi! Ela... Ela se foi!
- O que?! Não! A Alba não... Ela... Meu deus!
- Foi tudo minha culpa! - disse Oliver ainda chorando - Eu não fui forte o suficiente!
- Não diga isso Oli! Eu tenho certeza que você deu o seu melhor! Mas aquela criatura é muito forte! - disse Gabriela, desejando poder abraçar o amigo para poder confortá-lo - Ouça, eu acho que deveríamos descobrir como sair dessa caverna! Era isso o que a Alba iria querer e eu tenho certeza que ela se sacrificou para que nós tivéssemos uma chance de sair daqui!
- Você está certa Gabi! - respondeu Oliver, enxugando as lágrimas - Vamos sair desse lugar e aproveitar que a criatura não está no nosso caminho!

Desse modo, os jovens elementais começaram a seguir as setas que os guiavam pelos túneis da caverna. Porém, Gabriela e Oliver acabaram voltando para o rio de lava que eles haviam atravessado e não sabiam o que fazer a seguir, pois não compreendiam as inscrições nas paredes e as setas o levavam somente até este ponto.

- Vocês não vão gostar do próximo passo! - disse Ethan ao chegar ao mesmo ponto onde os outros elementais estavam.
- Ethan! - exclamou Oliver, genuinamente, feliz de ver o elemental do fogo - O que você está fazendo de volta aqui?
- Ué, eu segui as setas assim como vocês! Você não gostou de me ver novamente?
- É claro que eu gostei, eu queria poder te beijar... digo, te abraçar agora! Mas não posso!
- Eu também gostaria de poder fazer qualquer um dos dois agora! Pena que não podemos nesse estado!
- Vocês poderão fazer isso em breve! - disse Gabriela - Mas, mudando de assunto, como você sabe qual é a próxima etapa?
- Porque está escrito nas paredes! Aqui diz natare ad inveniet - disse Ethan apontando para uma breve inscrição na parede da caverna - Isso quer dizer algo como nadar para encontrar. Eu acho que teremos que mergulhar no rio de lava!
- Ethan, mesmo que isso seja verdade, eu não poderei ir ou então morrerei! O fogo vai queimar ou até mesmo ressecar o meu corpo!
- Quanto a mim, eu vou simplesmente derreter!
- Eu sei! Mas eu não acho que deva fazer isso sozinho! Preciso de vocês comigo! - respondeu Ethan e, aproximando-se da borda do rio, disse: - Apenas confiem em mim, eu acho que sei o que fazer - então ele pulou no rio de lava.
- Ethan! - gritou Oliver ao ver o elemental do fogo pular em direção ao rio de lava.
- Não se preocupe Oli! Não é a primeira vez que faço isso - disse Ethan, o qual estava complemente misturado à lava - Além disso, é muito mais fácil fazer isso sem ter que me preocupar com a minha integridade física! Ouçam, eu vou tentar algo novo e preciso que vocês fiquem muito atentos ao meu próximo comando, porque não sei quanto tempo eu serei capaz de aguentar!
- Tudo bem, mas o que você vai fazer?
- Primeiramente, procurar o que, segundo as inscrições na caverna, nós devemos encontrar nesse rio de lava - Assim, o elemental passou alguns minutos procurando algo que ele ainda não sabia o que era, até que ele emergiu da lava e disse: - Encontrei!
- O que você encontrou Ethan?!
- Esse rio segue mais alguns metros neste nível até que se torna uma grande cachoeira que leva a um nível mais baixo da caverna. Do lado oposto à queda da cachoeira há uma passagem como a que vocês estão agora, a qual eu imagino ser a continuação da nossa jornada até o local onde encontraremos o que buscamos.
- Mas como chegaremos lá?!
- Prestem muita atenção! Eu vou conter o fluxo do rio para que vocês possam correr até o local onde a passagem está! Quando vocês chegarem ao local onde o rio vira uma cachoeira, eu preciso que você construa uma ponte até a passagem, tudo bem Oliver?
- Eu acho que posso fazer isso!
- Excelente! Eu confio em você! - disse Ethan - Agora eu preciso que vocês sejam muito velozes, porque eu nunca tentei conter uma quantidade de lava tão grande! - Então o elemental do fogo se posicionou no centro do rio e disse: - Barreira! - Uma barreira foi criada em frente a Ethan e o chão se tornou visível em toda a extensão do rio atrás do elemental do fogo - Corram! Agora!
 - Imediatamente, Gabriela e Oliver correram em direção ao fim do rio.
- Ponte de gelo! - gritou Oliver, assim que os dois chegaram ao precipício onde a cachoeira de lava deveria estar. Assim, uma ponte se formou e conectou o precipício à passagem que Ethan havia mencionado. Os dois elementais tinham acabado de pisar na passagem quando viram o grande volume de lava que voltara a cair no precipício e destruíra a ponte criada por Oliver.
- Ethan! Onde está você? Está tudo bem? - Gritou Gabriela, preocupada.
- Eu estou bem! Preciso apenas descobrir como chegar aí em cima - disse Ethan, enquanto nadava no rio de lava do nível inferior ao qual estavam Gabriela e Oliver -  Eu vou tentar combustar! - Assim, o elemental explodiu e, em poucos segundo estava ao lado dos outros elementais - Pronto!
- O que foi isso?! - exclamou Oliver, perplexo.
- Isso se chama combustar e é uma técnica que Flamus me ensinou antes de desaparecer!
- Por um momento eu achei que você tivesse desaparecido!
- Eu também! Isso foi assustador!
- Não se preocupe Oli! Eu não vou te deixar tão cedo!
- Isso é bom! Eu realmente queria poder te abraçar agora! - disse Oliver, um pouco corado - Mas acho que vou ter que esperar até termos nossos corpos de volta! Até lá você vai ter...
- Que ficar longe de vocês - completou Ethan - Eu sei! Vocês podem ir na frente, afinal você é quem sabe como revelar as inscrições nas paredes da caverna!
- Bem, na verdade eu tenho apenas uma ideia, já que eu fiz isso sem querer da primeira vez! - disse Oliver enquanto caminhava para dentro o túnel - Tempestade de Gelo! - Assim que o elemental pronunciou as palavras, uma massa branca se ergueu no ar e se afixou às paredes e, em poucos segundos, o túnel estava coberto de gelo e diversas inscrições e símbolos podiam ser vistos nas paredes.
- Ali! As paredes estão cheias de palavras! - exclamou Gabriela - Você pode ler Ethan?
- Sim! Deixe-me ver - respondeu o elemental do fogo - Isto é uma história sobre o surgimento de Flamus, ouçam: Neste local nasceu o segundo filho de Uni e Omni. Seu nome era Flamus, o tigre de fogo. Ele pode adotar várias formas, mas neste local ele somente existe em sua forma original. Os seus filhos falam a linguagem criada por Flamus. Somente eles podem dar o merecido descanso ao tigre de fogo e somente eles podem despertá-lo usando esta linguagem. Quando descansando em sua forma original, o tigre de fogo é protegido por seus leais escudeiros, os quais não medem esforços para punir os invasores deste santuário. Para despertá-lo, um de seus filhos deve proferir as seguintes palavras: acorde tigre de fogo. Para fazê-lo dormir, um de seus filhos deve proferir as seguintes palavras: descanse em paz.
- Então é por isso que estamos sendo atacados? Aquela criatura acha que nós somos invasores!
- Bem, tecnicamente nós somos invasores! Mesmo que as nossas intenções sejam boas! - Pontuou o elemental do gelo - Ethan, que linguagem é essa?
- Na verdade eu não sei, mas eu imagino que seja latim!
- Por que você nunca mencionou que sabe ler latim?
- Porque eu não sabia! Mas aparentemente eu passei a saber no momento em que eu adentrei esta caverna! Deve ser algum tipo de poder que faz parte da nossa natureza elemental! Nós sabemos as linguagens dos nossos elementais e eu imagino que eu seja um dos "filhos" de Flamus mencionados neste texto!
- Então você pode acordar o Flamus se pronunciar aquelas palavras em latim?!
- Eu espero que sim! Mas eu acho melhor nós voltarmos a andar, porque eu não gostei nem um pouco do modo como este texto se refere aos escudeiros de Flamus no plural!
- Então você acha que existem mais criaturas como aquela que nós enfrentamos?
- Eu temo que sim! E eu não quero ficar aqui esperando alguma delas nos encontrar! Vamos continuar a nossa procura pelo local onde Flamus está "descansando"! - disse Ethan determinado. Porém, lembrando-se de algo, acrescentou: - Na correria eu esqueci de perguntar onde está a Alba! Ela não vem conosco?
- Ethan... Eu preciso te contar uma coisa...

Depois que Oliver terminou de contar a sequência de fatos que desencadeou o sacrifício de Alba, Ethan disse:

- A Alba sempre foi muito corajosa! E nós devemos honrar o sacrifício dela! Vamos terminar o que viemos fazes nesse local!
- Sim! Nós estamos cada vez mais perto de conseguir sair desse lugar! Graças ao sacrifício da Alba e ao Oliver que descobriu como revelar as inscrições nas paredes da caverna!
- Eu só tive sorte! Mas fico feliz de poder ser útil! - disse o elemental do gelo - Agora vamos andando, antes que nós tenhamos que enfrentar outra daquelas criaturas! Vá na frente Ethan, afinal você é que sabe ler as inscrições! Além disso, não posso ficar nem mais um minuto tão perto de você ou vou me desfazer em água!

Enquanto isso, em outro lugar da caverna, Marco e Themba estavam escondidos em uma estreita fissura em uma das paredes.

Muito obrigado por ter me ajudado Themba! - perguntou Marco enquanto tentava para o sangramento em seu joelho direito - Você viu para onde a Sophie foi?
- A Sophie sabe muito bem cuidar de si mesma! Ela parece frágil, mas na verdade é muito forte e tem um excelente domínio da água - respondeu o elemental da terra - Isso é uma vantagem aqui nesse cenário! Eu não podia deixar você continuar enfrentando a criatura com o joelho desse jeito!
- O seu elemento também te dá uma vantagem nesse local, afinal você pode formar fissuras como essas e a sua barreira de pedras também nos dá uma boa camuflagem!
- Você tem razão! Mas nós não podemos ficar muito tempo aqui, quanto tempo você acha que precisamos para que você possa andar novamente?
- Sinceramente, eu não sei Themba! Mas você não precisa ficar comigo - disse Marco e repousando a mão no ombro de Themba, disse: - Eu já te agradeço por ter me ajudado a fugir! Muito obrigado!
- Que nada irmão! - disse Themba retribuindo o gesto - Eu nunca te deixaria para trás! E eu vou ficar aqui até que você esteja se sentindo melhor!
- Não tenho palavras para descrever a minha gratidão Themba! - disse Marco, emocionado - Depois que aquela criatura começou a nos seguir, eu percebi que não iria ser de muita ajuda, pois não há nada que os meus animais possam fazer contra a criatura! Você e a Sophie conseguiram contê-la, mas ela acabou nos alcançando novamente e eu fui ferido! Isso me fez sentir duplamente inútil, já que meus poderes não têm nenhum efeito sobre a criatura e eu ainda fui ferido!
- Os seus poderes são muito importantes em outras situações e você não tem culpa de ter sido ferido! - disse Themba, enfaticamente - Por isso eu pedi para que a Sophie tentasse conter a criatura enquanto nós fugíamos! Eu confio na capacidade dela e me preocupo com voc... - O elemental da terra foi interrompido pelo barulho causado pelo desmoronamento da barreira de pedras.
- Themba! - disse Sophie, a qual estava caída sobre os destroços da barreira de pedra - Me ajude!
- Marco, fique aqui! - disse Themba correndo para socorrer Sophie.
- Prisão de água! - gritou Sophie e uma grande massa de água se moveu em direção ao que Themba deduziu ser a criatura.
- Venha cá Sophie! - disse Themba estendendo uma mão para a ajudar a elemental da água a se levantar - Você precisa descansar!
- Eu não posso! - disse a elemental quando já estava de pé - Nós precisamos proteger o Marco!
- Você já fez o bastante -  disse Themba, decidido - Agora vá descansar! - Então o elemental da terra tomou a dianteira e disse: - Dupla barreira de pedras! - Uma enorme massa se interpôs entre os elementais e a criatura, a qual estava livre da prisão de água feita por Sophie - Isso vai nos dar algum tempo para que vocês possam descansar! Depois temos que caminhar para longe dessa criatura! Também precisamos encontrar a Cho!
- Eu quero ajudar!
- Não Sophie! Você deve estar no limite! Eu pensei que você tivesse fugido, mas pelo visto ficou esse tempo todo contendo a criatura! Eu sempre soube que você era forte!
- Obriga... - Sophie não terminou a frase, porque desmaiou.
- Sophie! - exclamou Themba parando a queda da elemental da água - Eu disse que você precisava descansar!

- Alguma novidade nas inscrições Ethan? - gritou Oliver para o elemental do fogo, o qual estava alguns metros a sua frente.
- Não! As inscrições somente repetem que "estamos próximos" - respondeu Ethan - Então vamos apenas seguir as setas por enquanto!
- Espero que elas nos levem a algum local! - cochichou Gabriela para Oliver.
- O Ethan parece estar bem confiante nisso! - respondeu Oliver - Pelo menos agora nós estamos juntos e temos alguma direção levemente concreta!
- É muito bom tê-lo de volta!
- Sim! - disse Oliver - Eu estava com medo de... você sabe... acabar perdido nessa caverna e nunca mais encontrá-lo! 
- Eu imagino! Nesses momentos a gente percebe a necessidade de fazer e dizer o que queremos enquanto ainda temos tempo!
- O que você quer dizer?
- Oliver - disse Gabriela se pondo no caminho do elemental de gelo - Diga ao Ethan o que realmente sente por ele! Mostre a ele o que você sente, enquanto você ainda pode!
- Eu... eu não sei o que fazer Gabi! - disse Oliver, contornando a elemental das plantas e continuando o seu caminho.