sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Capítulo 7 - Revolução: A Nova Finnel (Cont.)

- É tão bom vê-los junto novamente!
- Nossa, eu quase esqueci que vocês estava aqui! Mas não se engane! Eu estou muito feliz por ter o Bernardo de volta ao meu lado, mas nada vai me impedir de expressar a minha indignação por você ter contado ao Raul sobre a sua... relação... com o Rafael! Por que você fez isso?
- Você contou a ele?! Nós já havíamos conversado sobre isso Hugo!
- Bem, eu não consegui mentir para o Raul! Depois de todo o mal que eu fiz, o mínimo que ele merecia é a verdade!
- Você tem bons motivos! Não gosto quando vou brigar com alguém e a pessoa tem argumentos!
- Eu sei bem!
- Olha, você deveria ficar calado e descansar! Quanto a você Hugo, eu entendo os seus motivos e até concordo com eles. Mas agora nós temos um problema enorme nas mãos! O Rafael será julgado pelos moradores de Arlyston e não há nada que eu possa fazer para protegê-lo! Você só piorou as coisas revelando ao Raul o envolvimento de vocês, pois ele tem uma grande influência sobre os outros! Você sabe que, apesar de ser bruto, ele tem carisma e as pessoas passam a considerá-lo uma referência! Ele não vai conseguir ser imparcial na votação sobre o que fazer com o Rafael.
- Eu sei... mas também não há nada que eu possa fazer para ajudar o Rafael! Se algo de ruim acontecer com ele, vai ser por coisas pelas quais, de fato, ele é culpado! Não haverá injustiça! Infelizmente, ele tem sido uma pessoa horrível!
- Ele tem razão Felipe...
- Sim... eu sei que ele tem... mas, surpreendentemente, eu estou preocupado com o futuro do Rafael. Quero dizer, eu quero que ele pague pelos erros que cometeu, mas eu não quero ter nada a ver com a morte dele!
- Bem, ele não necessariamente vai ser condenado... vai?
- Eu sinto muito Hugo, mas... sim... a probabilidade é muito alta!


- Não! Eu já disse que preciso ver o meu irmão!
- Por favor Davi, eu já expliquei que não podemos lhe levar ao seu irmão, pois ele...
- Mentira! Vocês não querem me levar! Eu pensei que vocês fossem pessoas boas!
- Não! Eu juro que não podemos! Nós lhe levaríamos até ele, mas o seu irmão está...
- Ele está preso Davi... É isso o que o Tomás quer dizer!
- Mas... por quê?
- Eu prefiro não ter que lhe dizer isso... Você pode pensar que eu estou mentindo! Portanto, eu vou pedir ao Felipe que você possa ser levado até o seu irmão e, assim, poderá obter as respostas diretamente dele! Está bem assim?
- Vocês prometem?
- Definitivamente!
- É claro que nós prometemos!


- Nós temos tanto a conversar! Mas eu preciso ir para o julgamento!
- Eu sei Felipe, você pode ir! Eu estarei aqui lhe esperando!
- Eu sei... mas eu fiquei tanto tempo sem você ao meu lado... eu...
- Você está com medo de me deixar e não tornar a me ver, certo?
- Sim...
- Eu estou bem! Vá fazer o que precisa ser feito e quando você estiver livre venha correndo me ver, pois eu estarei aqui ansiosamente esperando para ter você a meu lado novamente!
- Eu vou com você Felipe! Eu já estou me sentindo bem!
- Você tem certeza que é uma boa ideia? Você, o Rafael e o Raul no mesmo espaço não me parece tão promissor!
- Eu sei, mas eu preciso estar lá...
- Lá vamos nós! Você está sendo impulsivo novamente! Olha, eu concordo que você vá, com uma condição: diga o que você vai fazer e nós vamos pensar JUNTOS se isso seria uma boa ideia ou não!
- Certo...Bem, eu estou pensando em contar aos outros o modo como eu me sinto em relação ao Rafael... Eu sei que parece a pior coisa a se fazer nesse momento, mas eu não vejo outra pessoa que possa falar melhor sobre arrependimento e mudança! De fato, foi isso o que me fez me interessar pelo Rafael! Lá no fundo, ele é somente alguém que está muito perdido... como eu...
- Não acredito que vou dizer isso, mas pode vir para o julgamento...
- Sério?!
- É claro! Eu não posso te impedir de dizer às outras pessoas o que você acabou de me dizer! É uma linda declaração e eu acho que, acima de todos, o Rafael deveria ouvi-la! Quem sabe isso toque o coração dele...
- Então vamos! Eu estou pronto!
- Hugo, só um conselho, procure não estar certo novamente na frente do Felipe nos próximos dias, ou ele pode ser bastante perigoso!
- Ei! Eu sou perfeitamente compreensivo quando as pessoas estão certas!
- Tem certeza?
- Sim! Bem... eu posso ficar um pouco incomodado... Mas... Olha Hugo, faça o que o Bernardo disse!

Desse modo, enquanto Bernardo e Hugo gargalhavam, eu deixei o local e me dirigi ao julgamento de Rafael. De certa forma, eu estava muito apreensivo sobre o destino do meu primo, pois, apesar de todas as coisas terríveis que ele havia feito, incluindo me torturar, eu não desejava a sua morte. A declaração de Hugo só reforçou esse sentimento.
Por outro lado, eu estava muito preocupado com Raul, pois, continuamente, as coisas pareciam dar errado para ele.
No caminho, eu percebi que as ruas estavam lotadas de pessoas, aparentemente esperando a decisão que seria tomada. Além disso, quando cheguei à sede de reuniões do conselho, todos os membros,  incluindo Raul, já estavam esperando para deliberar sobre o futuro de Rafael, o qual estava no centro da sala.

- Muito bem, agora que meu primo está aqui, nós podemos começar!
- Se eu fosse você, não estaria tão feliz com a minha presença. Não há muito que eu possa fazer para te defender. De fato, se os conselheiros me permitirem, gostaria de fazer algumas considerações antes de começarmos a votação.
- Eu acho que não há problema Felipe.
- Obrigado. Bem, para começar, gostaria de dizer que escolho me abster de voto neste caso, visto que há uma ligação com o Rafael que poderia deixar o meu voto menos objetivo e, assim, desqualificar a seriedade da decisão a ser tomada por este conselho. Segundo, eu gostaria que o nosso companheiro Hugo tivesse a oportunidade de falar, antes da votação, pois há algumas informações que ele escolheu compartilhar conosco, caso vocês concordem. Por fim, eu gostaria de falar um pouco sobre a minha experiência pessoal com o acusado, com o objetivo de lhes mostrar a minha perspectiva sobre o assunto. Estou ciente de que eu e Hugo pretendemos compartilhar informações que podem influenciar os seus votos, portanto peço a sua permissão.

O conselho deliberou a minha requisição e, surpreendentemente, Raul foi mais uma vez o porta-voz.

- Todos concordamos que tanto você como o Hugo contribuíram muito com as pessoas deste vilarejo, portanto, se vocês acham que precisam compartilhar tais informações sobre este caso, nós ficaríamos honrados em ouvi-las. Confesso que, pessoalmente, a sua decisão de abdicar do seu voto me fez refletir e decidir que também preciso abdicar do meu, pois há alguns aspectos deste caso que podem influenciar a objetividade do meu julgamento. Além disso, caso seja possível, gostaria que este conselho me dispensasse desta reunião.
- Se você se sente desta forma, você está dispensado Raul. Quanto a você Felipe, gostaríamos de ouvi-lo primeiro e, em seguida, ouviremos o companheiro Hugo. Somente após os seus discursos nós prosseguiremos com o julgamento.
- Eu agradeço! Bem, como eu imagino que todos saibam, o Conde Rafael é meu tio e, portanto, o acusado é meu primo. Entretanto, nunca houve muita aproximação entre as nossas famílias, tanto que eu nunca soube da existência dos meus dois primos até o incidente em Pasine, o qual, como também é de conhecimento geral, foi um verdadeiro massacre. Eu fui... fui torturado durante vários dias enquanto estive em Pasine e Rafael II estava presente em muitos momentos. O meu primo jamais transpareceu qualquer arrependimento em qualquer uma das vezes. Ele, sem dúvida, é uma pessoa com valores extremamente pervertidos. Além disso, eu sei que ele está envolvido na morte e tortura de familiares e amigos de muitas pessoas deste vilarejo. Com base nestas informações, eu e vocês poderíamos, sem dúvida, concluir que o meu primo merece ser executado como punição por seus crimes. Porém, eu gostaria de ressaltar duas coisas: a primeira, na verdade, é uma história que pertence ao passado de Rafael II e que, portanto, cabe somente a ele revelar, de modo que eu deixo a critério dele lhes contar como todo o ódio que ele sente por "pessoas como nós" começou, pois eu acho que isso pode explicar muito do comportamento que ele vem apresentando. Segundo, gostaria de ressaltar o quão difícil eu imagino que deva ser a convivência com alguém cuja mente é tão deturpada como o meu tio. Eu juro que cheguei a pensar que enlouqueceria durante o tempo que passei em Pasine, pois eu não conseguia acreditar nas loucuras que eu ouvia aquele homem falar. Eu consegui entrar na cabeça dele por algum tempo e isso quase me enlouqueceu, pois ele, de fato, tem uma mente doentia. Porém, isso foi por apenas algumas semanas e eu, sinceramente, não me surpreendo que alguém que passou a vida toda com ele tenha construído valores pessoais tão podres. Dito isso, eu peço que reflitam sobre o que eu disse antes de julgarem o acusado, pois eu acredito em segundas chances, mesmo para alguém como ele. Ressalto que não estou pedindo perdão e nem arranjando desculpas para o que ele fez, pois não há qualquer modo de reverter todo o dano que ele causou e todas as suas ações foram indesculpáveis, mas eu gostaria que ele pudesse ter um recomeço para poder construir valores melhores.
- Nós agradecemos a informação, conselheiro Felipe. Vamos levar em consideração o que foi dito. Agora podemos passar para o discurso do companheiro Hugo.
- Muito obrigado por essa oportunidade conselheiros. Eu sei que a maioria de vocês mal me conhece, portanto agradeço o voto de confiança em um assunto tão delicado. Entretanto, sem querer abusar da sua boa-fé, eu gostaria de pedir que o acusado pudesse contar a sua história antes de revelar o que eu tenho a dizer.
- Bem... acho que não há problema... acusado, você deseja compartilhar conosco a sua história? deseja se defender? se é que isso é possível...
- Não...
- Felipe, por favor!
- Eu já disse que não!
- Felipe, eu preciso que você faça isso... por favor!
- Nã... Por quê? Não há esperança!
- Você não sabe disso! Talvez... de alguma forma...
- Eu sei que não há esperança para mim! Então pare! Ouçam bem, pois eu só vou falar disso uma vez e não espero ser questionado depois de terminar.
- Você não acha que está fazendo muitas exigências para alguém na sua condição?
- Pode ser, mas seu eu vou morrer, o que eu tenho certeza que vai acontecer, o mínimo que eu posso fazer é morrer com honra e alguma dignidade.
- Honra?!Olha aqui... Quer saber, esqueça. Prossiga com a sua história para podermos acabar com isso de uma vez.
- Bem, meu nome é Rafael Carlos Francisco Miguel Xavier Leopoldo Gonzaga Almeida, Visconde de Pasine. Eu sou casado... fui casado com um plebeu do vilarejo de Gorgi de nome Pierre. Sim, caso estejam se perguntando, eu sou homossexual e me casei com um homem... o homem dos meus sonhos... alguém que eu amava... Desde quando eu era criança, sempre gostei de andar disfarçado pelas ruas de Pasine, pois fazia de tudo para passar o mínimo possível de tempo com o meu pai dentro do castelo. Eu mantive este hábito quando estava mais velho e, em uma dessas ocasiões, quando estava andando pelo mercado de trocas, esbarrei em Pierre, o qual estava vendendo produtos que trouxera de Gorgi. Infelizmente para ele, eu me apaixonei no momento em que ele pediu desculpas por ter esbarrado em mim. Eu nunca tinha estado com outro homem até então e sempre fiz de tudo para esconder os meus desejos, mas Pierre, simplesmente, parecia enxergar através de todos os meus esforços, de modo que, de alguma forma, ele me convenceu a acompanhá-lo até a saída da cidade, para que pudéssemos nos conhecer melhor. Quando eu percebi, já estávamos nos beijando em uma floresta ao redor de Pasine e eu percebi que já estava perdidamente apaixonado por ele. Pierre partiria no dia seguinte e, para minha surpresa, ele disse que gostaria que eu lhe acompanhasse. Eu solicitei ao meu pai que pudesse viajar sob o falso pretexto de conhecer outras partes do nosso reino e, no dia seguinte partira em direção a Gorgi na companhia de Pierre. Diferentemente do meu pai, a família de Pierre não via nada de anormal em dois homens se amarem e me acolheram muito bem. Eu costumava ir até Gorgi para visitar Pierre e vice-versa, de modo que a nossa relação floresceu e, finalmente, decidimos que queríamos nos casar. A família dele adorou a ideia e fui convidado a morar com eles em Gorgi, onde eu seria aceito e amado. Nunca tive coragem de contar a Pierre quem eu realmente era... Mal sabiam eles do que estava por vir... Como muitos sabem, Gorgi era conhecido por realizar casamentos entre homossexuais há muitos anos e, há algum tempo atrás, foi devastado pelo exército de meu pai. O que não deve ser de seu conhecimento é que meu pai só descobriu este vilarejo e o devastou porque eu decidi me casar com Pierre e vir morar com ele. A família de Pierre, a qual me acolheu, foi sumariamente executada bem diante dos meus olhos e, pouco tempo depois, o meu pai fez a seguinte proposta para o meu marido: Pierre teria uma hora para decidir entre ficar comigo - neste caso nós morreríamos juntos - ou fugir para bem longe na direção oposta de Pasine ou qualquer outro reino aliado - neste caso nós nunca mais teríamos contato e minha vida seria poupada para que eu pudesse viver com a culpa e a vergonha. Adivinhem qual foi a opção que o meu marido escolheu... Ele nem hesitou...
- Então Gorgi... Foi por sua causa... Mas... por que você odeia os homossexuais e compactua com as ações do seu pai, sendo que você mesmo já amou um homem?
- Veja bem, depois que Pierre fugiu eu caí em desespero profundo. Como prometido, eu vivi para sentir a dor, a culpa, o ódio e a vergonha... Porém, no fundo, eu não sentia nada... No início, o meu pai me mantinha trancado no meu quarto para definhar. Porém, na maior parte do tempo, eu estava desligado daquilo que acontecia ao meu redor. Eu acordava quando algum servo deixava uma porção minúscula de comida e água, ou então quando estava sendo examinado pelos homens de confiança do meu pai, o qual queria me manter minimamente vivo para que eu pudesse sofrer ainda mais. Fora essas duas ocasiões, eu passava os dias dormindo, tentando permanecer nos dias em que eu fora feliz... ainda que eu soubesse que não eram reais, era melhor do que aquilo que eu estava passando. Um dia, o meu pai adentrou o meu quarto e me submeteu a um tratamento que vocês conhecem muito bem... a inestimável "cura". O meu pai acha que há uma "cura" porque, aparentemente, ela funcionou comigo... Mas a grande verdade é que eu não sentia nada por ninguém... Ninguém me interessava... Nenhum amigo ou amor... Eu não precisava fingir...
- Foi aí que você começou a torturar os seus iguais...?
- Não exatamente... Ouça, mesmo sem querer, o fato de estar "curado" melhorou o modo como o meu pai me tratava e, pouquíssimo tempo depois, ele me apresentou à sua mais nova atividade favorita: as caçadas. Segundo o meu pai, ele nunca pretendeu deixar Pierre viver. O que ele realmente queria era me mostrar o quão fraco era o amor dele por mim. Bem... funcionou. Meu pai me contou que, de fato, ele deu uma vantagem de uma hora para que Pierre pudesse fugir, mas logo em seguida ele e seus homens partiram em seu encalço. Ele foi encurralado e violentamente torturado dois dias depois em uma floresta ao sul de Gorgi. Este processo deu tanto prazer ao meu pai que ele teve a ideia de fazer isso com todos os homossexuais nas áreas próximas a Pasine e, principalmente, com as pessoas em Gorgi que ainda tivessem a ousadia de se declararem homossexuais. Isso deu origem ao reino de terror que meu pai vem expandindo nos últimos tempos e eu sempre estive ao seu lado, tanto em caçadas como em invasões a outros vilarejos. Eu assisti a tudo. Porém, por mais surpreendente que isso possa parecer, eu nunca matei ou torturei uma única pobre alma. Eu confesso que assisti e nunca me mobilizei pelo sofrimento das pessoas durante tais eventos e disso eu sou culpado, mas eu jamais feri diretamente uma pessoa. Bem, exceto Felipe, o qual eu realmente torturei e feri deliberadamente, mas isso é porque eu... eu... eu o invejo... Inveja foi a única coisa que realmente eu consegui sentir em muito tempo e isso foi tão avassalador que me fez agir do modo como eu agi...
- Inveja?
- Ah, vamos lá! É só olhar para ele e Bernardo! A relação deles é tão perfeita que chega a ser irritante! O Felipe conseguiu, de uma só vez, despertar inveja, raiva e nojo! Sério, ele me irrita muito e eu tenho vontade de socar a cara dele! Mas este é um caso isolado! Quanto aos demais, em minha defesa, eu fui apenas um cúmplice nas ações doentias do meu pai! Como eu disse, eu sou culpado de omissão e eu sei que nunca poderei ser perdoado por isso, mas eu nunca feri alguém.  Pelo menos não fisicamente...
- Algo mais que você gostaria de dizer?
- Acho que isso foi suficiente...
- Muito bem... Hugo, é a sua vez.
- Eu serei breve. Eu pedi ao Felipe que me deixasse falar por dois motivos: o primeiro é porque eu tive ou tenho... na verdade eu não sei direito ainda... uma relação com o acusado. Portanto, conheço o Rafael em um nível mais pessoal e já ouvi estas mesmas histórias que ele acaba de lhes contar. Durante o tempo que passamos juntos em Pasine, eu pude perceber que ele já sofreu bastante e, por mais que ele insista em manter uma postura autoritária e esnobe, eu sei que ele só está procurando paz e algo que o faça sentir algo significativo de novo. Ressalto que o Rafael sabe por experiência própria que a cura não funciona, portanto sabia que eu e Bernardo nunca tínhamos sido "curados", mas ele nunca nos delatou ou armou para que nós fôssemos apanhados enquanto planejávamos a nossa fuga de Pasine. O segundo motivo de estar aqui é porque eu mesmo já cometi muitos erros no passado e posso, com toda propriedade, dizer que estou arrependido e regenerado atualmente. Dito isso, gostaria de pedir aos senhores que considerem olhar para esta pessoa e tentar enxergar os motivos que o levaram a fazer o que ele fez. Assim como o Felipe, eu também acredito em segundas chances, pois eu mesmo já fui beneficiado por isso e consegui melhorar quem eu sou, portanto acredito que o Rafael também merece esse benefício. Isto era tudo o que eu tinha a dizer, eu agradeço a sua atenção!
- Bem, eu acho que já ouvimos todos e agora podemos prosseguir com a votação para decidir o futuro do acusado. Eu peço ao conselheiro Felipe, o qual abdicou do seu direito de voto, que se retire da sala e leve o companheiro Hugo consigo. Procederemos à votação e, assim que finalizarmos, vocês serão informados do veredito.

Eu e Hugo nos retiramos da sala e, assim que saímos, encontramos William, o qual estava na companhia do meu outro primo. Estranhamente, Hugo saiu correndo, sem dar explicações.

- Primo! Eles disseram que o meu irmão está preso! É verdade?
- Sim Davi... É verdade...
- Mas eles disseram que eu poderia ver o meu irmão! Eu vou poder ver ele?
- Eles disseram isso? Que interessante!
- Em nossa defesa, ele é tão voluntarioso quanto o primo! Não havia alternativa!
- Tudo bem irmão, eu acho que você fez a coisa certa! Mas neste momento não vai ser possível, pois eles estão votando...
- William é seu irmão?
- Sim Davi! Bem, meio-irmão na verdade, mas isso não faz muita diferença pra mim!
- Então ele é meu primo também?!
- Eu acho que sim! Na verdade você é meu primo por laços maternos e William não compartilha a mesma mãe comigo, mas, de novo, essas questões não fazem muita diferença já que vocês estão se dando tão bem! Portanto, você pode considerá-lo seu primo!
- Eu não tinha atentado para isso! É verdade Davi, nós somos primos! Viu só? Você não precisa mais duvidar da minha palavra! Afinal, um primo mentiria para você?
- Eu acho que não!
- Eu também penso que não! Quanto ao seu irmão Davi, você só vai poder ver ele depois que as pessoas decidirem se ele é culpado ou não.
- Mas, o que o meu irmão fez?
- Bem... eu...
- Nós combinamos que ele mesmo iria lhe contar, não foi Davi?
- Ah! Essa é uma ótima ideia! Obrigado William!
- Sem problemas! Felipe, você se importa de ficar com o Davi por enquanto? Eu gostaria de ir ficar com o Tomás, afinal ele ficou só enquanto eu vim trazer o Davi para falar com o irmão.
- É claro William! Eu agradeço muito você ter ficado com ele todo esse tempo! Há tanta coisa que eu preciso resolver! Bernardo acordou, mas eu nem pude ficar muito tempo ao lado dele!
- Ele acordou? Então eu vou fazer uma visita e ver como ele está antes de ir encontrar o Tomás!
- Ele vai ficar muito feliz de ver você!

Assim que William saiu, percebi que outras pessoas estavam silenciosamente se aproximando de nós. Finalmente, uma delas indagou:

- Qual foi o veredito?
- Ainda não temos um veredito. Eu abdiquei do meu voto, pois assim não haveria dúvidas de que essa será uma decisão imparcial. Estou esperando para saber o que foi decidido, assim como vocês.
- E quanto a essa criança? Também não é filho de Conde Rafael?
- Sim... este também é meu primo...
- O que vai acontecer com ele? Ele não deveria estar sendo julgado também? Afinal, ele é filho daquele homem vil! Deveríamos infligir dor a Conde Rafael por meio do filho dele! Isso seria uma boa retribuição por tudo que ele já nos fez!
- Primo! Eles querem me ferir!
- Vejam! Ele é só uma criança e está extremamente assustado! Não vamos esquecer de que somos as vítimas e não os vilões aqui! Eu imagino toda a revolta e dor que vocês estão sentindo, mas ferir esta pobre criança não vai deixar nada melhor!
- Ele tem razão! Não vamos nos comportar como selvagens e esquecer de que lutamos contra a violência de Conde Rafael! O próprio fato de pensar em ferir esta criança já enfraquece a nossa causa, pois isso nos faria semelhantes a ele! Seriamos pessoas doentias!
- Sábias palavras Raul!

Depois do que Raul disse, ninguém mais se pronunciou. Mas várias pessoas continuaram esperando do lado de fora da sala de reuniões do conselho para saber o que havia sido decidido. Aparentemente, Hugo e Raul tinham se encontrado e rumado para o local. Ou será que Hugo tinha ido, imediatamente, atrás de Raul quando saíamos da sala de reuniões?

- Está tudo bem entre vocês?
- Sim. O Hugo é meu amigo acima de tudo! Se ele ama outra pessoa, eu deveria pelo menos ser capaz de aceitar isso... Embora eu não goste...
- Obrigado Raul! Eu sinto muito...
- Podemos deixar isso para trás? Eu realmente quero seguir em frente Hugo...
- Claro...
- Você foi atrás dele? Foi por isso que saiu correndo tão de repente?
- Sim! Eu estava tentando ajudar o Rafael, mas não queria magoar o Raul! Eu fui atrás dele e nós tivemos uma breve conversa, então eu o convenci a estar presente quando derem o veredito, pois ele é parte do conselho e tem o direito de estar aqui. 
- Eu expliquei a ele que não estou magoado dessa vez! Na verdade ele foi sincero comigo e eu aprecio muito o modo como ele vem lidando com essa situação. Eu apenas estou triste e um pouco frustrado... Mas isso vai passar! Ainda continuamos amigos!
- Com certeza Raul! Todos vocês são muito importantes para mim! Eu nem sei se estaria vivo sem a ajuda de vocês!
- Ei, você é amigo do meu irmão, certo?
- Eu sou sim Davi! Você se lembra de mim?
- Claro! Eu vi você beijando meu irmão e...
- Atenção! A quem interessar, nós já temos o veredito sobre o acusado Rafael II!

A decisão, finalmente, tinha sido tomada. Eu tinha me eximido da responsabilidade de decidir o futuro do meu primo e ainda não estava totalmente certo do quão bom isso tinha sido. Caso ele fosse condenado à morte, eu não seria culpado por omissão? Afinal, eu era a única família que poderia intervir por ele no meio de tantas pessoas que ele magoou! Agora nada disso tinha importância, pois, em alguns instantes, os conselheiros iriam revelar o futuro de Rafael e já não havia mais nada que eu pudesse fazer por ele.