quinta-feira, 31 de julho de 2014

Capítulo 2 - A Lenda do Homem de Fogo (Cont.)



A viagem para Los Angeles, patrocinada pelos Fletcher, foi bastante tranquila e o grupo de elementais foi bem-sucedido em controlar seus poderes dentro do avião, embora uma aeromoça tenha jurado ver pequenos brotos na poltrona de Gabriela. Mesmo depois da longa viagem, os elementais estavam determinados a encontrar Saulo e se dividiram em dois grupos para vasculhar as ruas de Los Angeles:

- Eu acho que nós deveríamos nos separar em dois grupos, assim nós poderemos cobrir uma extensão maior da cidade. Eu vou para o lado oeste da cidade, com a Alba, a Sophie e com você irmãozinho - disse Ethan apontando para Oliver.
- Irmãozão...eu acho melhor eu ir para o outro lado com o outro grupo, afinal nós somos meio que os responsáveis por essa viagem... - respondeu Oliver, calmamente. De fato Oliver acreditava em suas palavras, porém, o motivo principal era a presença de Sophie, que ainda lhe suscitava sentimentos ambíguos.
- Ah...tudo bem então...então você pode vir conosco Marco - disse Ethan olhando para o rapaz.
- Certo! - respondeu Marco empolgado.
- Tudo bem, então Themba, Gabriela e Cho, sigam-me para o lado leste da cidade! - disse Oliver em tom animado - Nos encontramos aqui no aeroporto em duas horas, se não conseguirmos encontrá-lo. Porém, caso o meu grupo o ache, sigam a neve ou, caso o seu grupo o encontre, nós seguiremos o vento, tudo bem Alba?
- Pode contar comigo!
- Bem, então é isso...até mais irmãozinho! - disse Ethan, despedindo-se com um meio sorriso.
- Até mais Ethan... - Oliver realmente queria dizer mais, porém não conseguiu proferir mais nenhuma palavra. Por algum motivo, ele estava chateado com Ethan, mas isso não fazia sentido nem mesmo para ele.

A busca pela cidade não durou muito, já que o grupo de Oliver utilizou os poderes do elemental do gelo para percorrer mais rapidamente a cidade e logo encontrou Saulo atormentando as pessoas na San Diego Freeway. Ao avistá-lo, Oliver só teve tempo de criar uma tempestade de neve antes de ser atingido por uma bola de fogo, cair, bater a cabeça no chão e ficar inconsciente. Depois disso, Cho utilizou uma barreira elétrica para protegê-lo enquanto Gabriela tentava acordá-lo e Themba caminhava em direção a Saulo, dizendo:

- Vamos ver o que consegues fazes contra isso! - O rapaz ergueu as mãos e o chão começou a tremer e rachar, então os pedaços do asfalto se concentraram ao redor dele - Tiro ao alvo! - com um movimento das mãos para frente as pedras voaram em grande velocidade em direção a Saulo, que foi atingido, porém desviou a maior parte das pedras com um movimento do braço, o qual produziu labaredas ao seu redor.
- Minha vez! - Saulo ergueu as mãos e disse: -  Sagitta - então uma flecha de fogo voou em direção a Themba.
- Proteção! - rapidamente um bloco de pedra se ergueu em frente a Themba, protegendo-o por pouco de ser atingido pela flecha de Saulo.
- Não chegas nem aos pés de um elemental de Géon! Essa foi a pior defesa que eu já vi alguém fazer com o elemento terra!
- Quando eu quiser a sua opinião eu falo! - respondeu Themba - Agora defende essa aqui! - Ele fez um movimento circular com as mãos e poeira começou a subir do chão, rotacionando ao seu redor. Nesse momento, Oliver despertou, bastante desorientado, e Themba cochichou para Gabriela: - Gabi, eu vou criar uma distração e vou tentar segurá-lo até que os outros cheguem, tira o Oliver daqui! - depois disso, tornou a focar em Saulo e disse: - Vamos ver o que consegues fazer sem nos ver e com seus poderes bloqueados! - o rapaz apontou novamente com as mãos para Saulo e uma tempestade de areia cobriu o inimigo. Enquanto isso, Gabriela corria com Oliver apoiado em seu pescoço, enquanto Cho permanecera parada ao lado de Themba, o qual disse: - Cho, sai daqui! Você precisa se proteger!
- Ninguém vai ferir o meu amigo e ficar ileso! Eu quero lutar junto com você! - disse a garota, determinada.
Ignis firmamento! - Saulo gritou e uma cúpula de fogo cobriu Cho e Themba, os quais tentaram utilizar seus poderes para contra-atacar, porém a cúpula parecia impenetrável - Não sejam idiotas! Não há nada que os seus poderes possam fazer dentro dessa prisão de fogo! E é melhor pouparem o seu ar, porque ela está se alimentando dele a cada segundo e vocês ficarão sem oxigênio em breve! Agora me digam, onde está aquele elemental do fogo?
- Bem aqui! - exclamou Ethan enquanto lançava uma bola de fogo, a qual fez um buraco na cúpula de Saulo e viabilizou a saída de Themba e Cho.
- Nossa, você ficou mais forte desde a última vez que nos vimos hein! Mas, como da última vez, ainda não é páreo para mim! - Saulo lançou uma versão melhorada do ataque com flechas - plures sagittas!
- Não esteja tão certo disso - um escudo de fogo surgiu em frente a Ethan - O que você quer nesta cidade? E o que aconteceu com Flamus?
- É este o meu propósito nesta cidade! - disse Saulo - Pode relaxar a sua barreira, eu não vou mais atacar! Eu precisava testá-lo e decidir se realmente és digno da informação que eu tenho para compartilhar!
- Como assim? - respondeu Ethan confuso, ainda com a barreira a sua frente.
- Eu ataquei esta cidade porque eu soube que o último elemental oficialmente treinado por Flamus era de Los Angeles! Eu preciso compartilhar uma informação muito valiosa, porém somente os mais fortes são dignos dela! Bem, eu pude ver que tens muito potencial como um elemental do fogo, considerando-se que conseguistes bloquear um ataque muito poderoso, mesmo com um nível de treinamento tão pobre e sem qualquer conhecimento sobre os segredos dos Imortais.
- Cara, isso foi um elogio? - disse Ethan perplexo - E por que me contarias algo, depois de teres matado o meu Imortal?
- Veja bem, o que aconteceu com Flamus vais precisar descobrir sozinho, porém, o que eu tenho a te dizer eventualmente vai te levar a isso!
- Pare de falar em código! Apenas seja direto e diga o que tens a dizer! - exclamou Ethan.
- Eu estou morrendo Ethan... - disse Saulo com feições sérias - Mas eu preciso compartilhar a minha grande descoberta com alguém! Eu tenho câncer em estágio de metástase e isso está afetando os meus poderes, a minha energia vital está sendo prejudicada e o meu poder está me consumindo, parece que eu estou queimando por dentro!
- Eu... eu sinto muito! - exclamou Ethan, sem saber o que mais dizer, então extinguiu a barreira de fogo, como um gesto de compaixão.
- Não sinta! Eu não sou uma pessoa boa, apenas estou morrendo e...bem, talvez eu mereça isso! Mas deixe-me lhe explicar algo...bem, na verdade eu vou lhe contar uma breve história que o somente povo mais antigo da minha cidade conhece:

Há muitos séculos, quando os seres humanos ainda viviam em cavernas, um homem pré-histórico encontrou durante uma caçada alguém muito diferente dele: um homem que possui traços humanos, porém estava envolto por uma aura de fogo, a qual o cobria como se fosse uma manta e não queimava o seu corpo.
Este homem permaneceu entre os homens das cavernas e lhes ensinou o segredo do fogo. A partir dessa época ele passou a ser adorado pelos homens como um deus e sempre lhes favorecia em batalhas com outros povos que não possuíam o conhecimento sobre o fogo.
Porém, um dia o homem de fogo, como era conhecido, ficou cansado da sua vida entre os mortais e resolveu escolher uma pessoa daquele povo, que tinha prosperado bastante e se expandido, para revelar segredos ainda mais profundos sobre a manipulação do fogo e para proteger aquele povo durante o seu planejado descanso.
O homem de fogo gostava tanto daquele povo, que compartilhou com eles a chave para fazê-lo entrar em um profundo descanso e depois acordá-lo, quando eles estivessem em perigo perante outros povos ou na ocasião em que outra pessoa precisaria ser escolhida para conhecer mais profundamente os segredos do fogo.
O primeiro homem escolhido foi o líder do povo, o qual proferiu o encanto para colocar o homem de fogo em descanso profundo e depois levou o seu povo a prosperar ainda mais, sempre seguindo as ordens do seu deus quanto ao uso racional dos seus poderes. Este ciclo foi sendo seguido por diversas gerações ao longo da história da humanidade, porém, eventualmente, os escolhidos passaram a esquecer a racionalidade exigida pelo homem de fogo e passaram a usar os poderes para conquistar territórios e escravizar outros povos.
Percebendo essa subversão dos escolhidos para usar o seu poder, o homem de fogo, com muito pesar, resolveu destruir o seu amado povo, que tinha se tornado ambicioso e subvertido. Assim, um incêndio eliminou quase todos aqueles que sabiam da existência do homem de fogo e aqueles que um dia tiveram o conhecimento e o poder de controlar os segredos do fogo e até mesmo aquele conhecido como o homem de fogo. As poucas pessoas que sobreviveram difundiram a utilização do fogo, mas o conhecimento sobre o homem de fogo foi se perdendo ao longo dos anos, embora poucos ainda contem essa lenda para perpetuar o conhecimento sobre a existência de tal ser imortal.

- Então...de quem achas que essa história fala?
- Flamus! Essa história é sobre Flamus! - exclamou Ethan.
- Exato! E aquelas pessoas para quem ele contou o segredo do fogo foram os primeiros elementais, por assim dizer!
- Mas, se Flamus realmente destruiu aqueles que sabiam sobre a existência dele, como essa história conseguiu sobreviver tanto tempo?
- Como eu disse, somente os mais velhos na minha cidade sabem essa história e, ainda assim, são pouquíssimas pessoas, nas quais ninguém acredita. Há pessoas como a minha avó, cuja família sempre esteve lá e que vêm perpetuando essa história!
- Certo...mas e quanto aos elementais? Por que nós estamos aqui se Flamus desistiu deles?
- Porque, no fundo, Flamus é um fraco, de coração mole! Ele me contou que ele e os outros imortais resolveram mudar o modo de escolha dos elementais. A partir de certo momento, eles começaram a escolher as crianças, por acreditarem que seria mais difícil subverter o coração delas, mas eles estavam errados, considerando-se a sociedade em que vivemos! Além disso, não haveria mais um povo a ser beneficiado e sim toda a humanidade, sendo que os elementais deveriam ser sigilosos e não mais tão exibidos como antigamente.
- Mas o que isso tem a ver com o fato de teres matado o Flamus? Por que fizestes isso?
- Eu tenho meus motivos, que não são da sua conta, mas eu posso lhe dizer que o fato de eu saber tanto é uma mera coincidência de ter relacionado o meu papel de elemental à velha história que a minha avó me contava todas as noites antes de dormir. Associando isso às informações que Flamus compartilhava comigo, eu consegui deduzir que talvez o segredo de Flamus não estivesse totalmente perdido, pois o que nem mesmo ele sabia era que os homens das cavernas tinham um hábito muito interessante de desenhar coisas nas paredes das cavernas. Quando eu descobri que o local onde o povo de Flamus viveu corresponde a uma porção da minha cidade, eu fui investigar e acabei encontrando o segredo para colocar o Imortal do fogo em sono profundo, que só pode ser quebrado por um elemental, com as palavras corretas.
- Então Flamus só está em algum lugar dormindo?
- Pode apostar que sim! Mas ainda não celebre, porque vais ter muito trabalho para acordá-lo, se é isso que realmente queres! - disse Saulo - Quer um conselho? Deixe-o dormindo e governe o mundo! É isso o que eu faria se esse câncer não estivesse literalmente me consumindo!
- Mas isso não é o tipo de coisa que eu faria! - respondeu Ethan zangado.
- Bem, ninguém pode ser perfeito, então não posso esperar que sejas tão determinado quanto eu! Então, se vais mesmo acordá-lo, eu tenho uma dica: às vezes as palavras ditas na linguagem certa têm mais poder!
- O que isso quer dizer?
- Descubra! Eu só não queria morrer com todo esse conhecimento sem compartilhá-lo om alguém, mas não vou facilitar a tua vida! - disse Saulo virando as costas para Ethan e caminhando na San Diego Freeway - Ah, uma última dica - Saulo virou o rosto para Ethan e disse: - Não deixe o mundo dizer o que deves fazer, apenas faça o que o seu coração manda garoto! Precisas ser mais determinado e, quem sabe, um dia sejas um elemental tão poderoso quanto eu! - depois disso, ele continuou caminhando enquanto uma chama surgiu ao redor do seu corpo, até que, em poucos segundos, o seu corpo caiu inerte no chão, com marcas de queimadura por toda a sua extensão.
- NÃO! - Ethan fez menção de correr em direção ao corpo, porém foi impedido por Themba.
- Deixe-o Ethan...a polícia logo aparecerá para recolher o seu corpo! Não há nada que nós possamos fazer mais e...bem, temos problemas maiores!
- Do que você está falando Themba?
- É o Oliver...
- Oli?! O que aconteceu com o meu irmão Themba? Onde ele está? - perguntou Ethan apreensivo.
- Bem, ele foi atingido por Saulo assim que chegamos aqui, mas a Gabriela fugiu com ele consciente enquanto eu lutava.
- Para onde eles foram Themba?! Me diga!
- Eu não sei Ethan! - disse Themba triste - Desculpe-me, eu deveria protegê-lo, mas eu não consegui! Desculpe-me, eu estraguei tudo!
- Não meu amigo! Ouça, sou eu quem precisa pedir desculpas, eu só estou aflito que algo possa ter acontecido a ele, mas isso não é culpa sua! Na verdade você o salvou, pois poderia ter sido pior se o Saulo o tivesse atacado novamente! Então muito obrigado por isso! - disse Ethan, enquanto batia nas costas de Themba, em um gesto de gratidão. Depois disso, ele disse para os outros: - Ouçam, não vamos nos separar dessa vez! Vamos todos juntos procurar o Oli e a Gabi!

O grupo de elementais percorreu dois quarteirões pela W. Century Boulevard, que, devido à confusão causada por Saulo, estava vazia, e encontraram Gabriela e Oliver em uma esquina. Ao avistá-los, Ethan correu e se ajoelhou junto do irmão, dizendo:

- Oli! Irmãozinho, você está bem?
- Irmãozão... - disse Oliver com um tom de voz fraco - Eu acho que não estou no meu melhor momento - Todo o lado esquerdo de Oliver, onde o ataque de Saulo atingira, estava coberto de queimaduras muito graves.
- Eu não sabia o que fazer Ethan! Então apenas coloquei algumas ervas para aliviar a dor! Mas o efeito está passando e eu não sei como faremos para levar ele para um hospital!
- Você foi perfeita Gabi! Agora deixa comigo - disse Ethan, confortando Gabriela. Então, virou para Oliver e, olhando bem no fundo dos olhos do rapaz, disse: - Irmãozinho...eu acho que posso reverter isso, mas talvez doa um pouco, então eu quero que você aperte a minha mão quando sentir dor, mas me deixe terminar isso, tudo bem?
- Tudo bem...mas, eu queria que você soubesse que eu sinto muito e...
- Shh - disse Ethan, colocando o indicador nos lábios de Oliver - Eu sei, isso não importa agora! Deixe-me melhorar isso! - Ethan fez um gesto de mãos e uma fina chama envolveu o corpo de Oliver - Não se mexa! - os locais onde a chama tocou voltaram ao estado normal, deixando uma leve vermelhidão na pele do elemental do gelo.
- Irmãozão, você conseguiu! - disse Oliver, com a voz ainda bastante fraca, apertando a mão de Ethan.
- Sim Oli! Ainda bem que isso deu certo ou eu não sei o que eu faria! Mas eu estou bastante fraco e você precisa ir ao hospital para verificar se não houve nenhum dano mais sério!
- Não é necessário! - disse Oliver.
- Eu acho que é necessário Oliver, afinal você caiu, bateu a cabeça e ficou inconsciente!
- O que?! Eu não sabia disso! Agora que não tem discussão mesmo! Vamos logo!

Os elementais adentraram o hospital alegando terem sido feridos pelo homem que estava causando tumulto na cidade, o que foi um motivo bem aceito, dadas as atuais circunstâncias em que a cidade se encontrava.
A equipe do hospital fez alguns exames em Ethan e Oliver, os quais permaneceram em repouso, enquanto os outros precisaram ligar para os Fletcher, a fim de informar o que havia ocorrido com os dois rapazes e providenciar o pagamento das despesas do hospital. Os pais de Oliver ficaram muito aflitos e afirmaram que iriam pegar o próximo avião para os Estados Unidos. Enquanto isso, Ethan saiu do seu leito e caminhou até o de Oliver, então disse:


- E aí Oli, como você está se sentindo?
- Bem, eu acho... - respondeu Oliver com um meio sorriso - Eu sinto muito mesmo!
- Ah, qual é Oli! Esquece isso! Eu já esqueci...bem, eu não entendo porque você está agindo assim, mas eu não me importo, afinal ver você daquele jeito elimina qualquer mágoa que eu possa ter!
- Eu não quero que você se magoe comigo... - disse Oliver com a cabeça baixa - Mas não posso evitar de agir assim, eu não sei o que há comigo!
- Eu não estou Oli! Bem, eu fiquei depois que você deliberadamente se excluiu da minha companhia, mas como eu disse, isso não importa! Você pode estar passando por uma fase meio confusa, mas eu estou do seu lado para te apoiar, tudo bem? Sempre! Eu só não quero que você minta para mim ou esconda as coisas de mim! Você não precisa fazer isso!
- Eu sei...desculpa por isso também! Eu realmente não sei qual é o meu problema!
- Você não tem nenhum problema! Você é perfeito do jeito que é!
- Para...eu sei que você quer me animar, mas essa coisa com a Sophie é muito estranha e precisa parar, ela não me fez nada!
- Sophie? O que ela tem a ver com isso? - perguntou Ethan - Espera, foi por causa dela que você não quis vir comigo?
- Sim...
- Mas qual o problema dela vir conosco?
- Eu não sei Ethan, eu só não consigo suportar ver você juntos...sei lá, estou confuso.
- Então...você realmente estava com ciúmes dela no dia do seu aniversário?
- Não Ethan...não sei, talvez...essa é a explicação mais razoável até agora!
- Não há razões para ter ciúmes Oli! A Sophie e eu somos apenas amigos, ela não vai tomar o seu lugar!
- Como assim o meu lugar?
- Sabe, antes de morrer, o Saulo me disse uma coisa que eu acho que faz sentido! - disse Ethan olhando fixamente para o elemental do gelo - Eu preciso ser mais determinado - Ethan pôs as mãos na bochecha do rapaz e continuou: - Eu te amo Oli! - Então, Ethan se inclinou e beijou os lábios de Oliver.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Hawaii (Havaí)

Hawaii (Havaí), 2013


Eugenio (Manuel Vignau) busca inspiração para o roteiro que está escrevendo enquanto passa o verão hospedado na casa dos tios. Enquanto isso, Martin (Mateo Chiarino) está sem lugar para morar e busca um trabalho temporário na casa de Eugenio, sem revelar a ele sua situação. Ao longo da história, os dois descobrem que eram amigos na infância e começam a construir uma relação que mistura fatos do passado e várias emoções.

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domingo, 27 de julho de 2014

Defying Gravity (Defying Gravity)

Defying Gravity (Defying Gravity), 1997


John "Griff" (Daniel Chilson) é um universitário bastante ativo em sua fraternidade, o qual mantém uma relação superficial e secreta com o seu amigo Pete (Don Handfield), que espera muito mais dessa relação. Certa noite, Pete é agredido e seriamente ferido por um grupo homofóbico e "Griff" é a única testemunha do fato, o que o coloca em uma posição em que ele precisa escolher entre manter as aparências e ajudar Pete, por quem ele descobre nutrir sentimentos bem mais profundos do que ele esperava.

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Capítulo 6 - Seguindo em Frente (Cont.)

Encontrar Daniel novamente, depois do que pareceu uma eternidade sem vê-lo, fez a barriga de Enzo se contrair de nervosismo e o seu coração bater mais forte. Porém, ele manteve uma postura séria e disse:

- Oi Daniel...Bem, na verdade eu já estava indo embora...
- Espera - disse Daniel, incerto sobre como se portar - Fica um instante...eu preciso te contar uma coisa...
- Daniel...eu não sei...talvez não seja uma boa ideia!
- Eu só preciso de dez minutos! Depois disso eu juro que não vou te impedir de ir embora, se você quiser...na verdade, você pode ir embora agora, é claro, mas me promete pelo menos que você vai me dar uma chance de te contar isso outro dia!
- Nesse caso, eu prefiro que seja outro dia... - respondeu Enzo.
- Tudo bem...mas é sério né? Você vai me ligar para a gente marcar?
- Não Daniel! Eu sou um homem de palavra, eu te espero amanhã lá em casa! Não preciso te ligar, apenas apareça lá umas duas da tarde!
- Sério?! Que bom! - disse Daniel animado.
- Sim, eu te espero amanhã então!

Enzo saiu imediatamente da casa de Daniel, sentindo uma grande ansiedade em pensar que eles se encontrariam no outro dia e que ele teria, provavelmente, que ouvir aquilo que Pedro lhe contara naquele dia. Enquanto isso, Daniel, imediatamente depois de fechar a porta da sua casa quando Enzo saiu, se dirigiu ao pai:

- Pai, o que o Enzo estava fazendo aqui?
- Ah meu filho...eu o convidei aqui para conversarmos e me desculpar sobre como o havia tratado no hospital!
- Mas foi tudo bem?
- Sim, esse realmente é um bom rapaz...será que é tarde demais para vocês ficarem juntos? - disse Pedro.
- Eu não sei...talvez sim! Ele foi meu grande amor, mas não sei se isso é suficiente para eu querer que ele me perdoe... - respondeu Daniel em tom triste.
- Mas o que você quer conversar amanhã com ele, meu filho?
- Nem eu sei pai...eu queria poder abraça-lo, pegar em meu colo e depois beijá-lo como eu nunca fiz...errr...desculpa, isso te deixa desconfortável pai?
- Err...não meu filho...bem, um pouco, mas não se preocupe! Eu prefiro te ver assim, empolgado com algo!
- Tudo bem então, mas como eu estava dizendo - continuou Daniel - Eu não acho que possa fazer isso...não posso exigir isso dele...então, eu simplesmente vou pedir desculpas novamente pelo que eu fiz a ele, pelo modo como eu me portei e por ter estragado a nossa amizade! Eu vou contar o verdadeiro motivo...espero que isso seja suficiente!
- Boa sorte meu filho...mas eu acredito que o Enzo é um rapaz sensato! Ele vai lhe entender.

Assim que Enzo chegou em casa, correu para o quarto, a fim de contar tudo o que acontecera a Guilherme, o qual estava deitado em sua cama ouvindo música. Quando o rapaz viu Enzo entrar no quarto, retirou os fones de ouvido e disse:

- E ai?
- Tenho muita coisa para te contar - disse Enzo resumindo.

Enzo sentou ao lado de Guilherme na cama e lhe contou tudo o que Pedro havia lhe dito sobre a situação de Daniel e sobre o pedido que ele lhe fizera, ao que Guilherme reagiu dizendo:

- Mas você vai conversar com ele certo?
- Sim, amanhã! Aqui em casa! - respondeu Enzo - Você acha que eu deveria ter marcado outro local?
- Não...vocês vão ficar mais à vontade aqui! - enfatizou Guilherme - Não se preocupe, vai dar tudo certo!
- Eu espero que sim...mas...o que é esse certo? Nossa, eu tô tão confuso! Eu não sei mais como me sentir em relação a isso! Eu estava com raiva do Daniel, mas agora eu entendo os motivos dele e os meus sentimentos em relação a ele estão uma bagunça agora! Não quero ser precipitado e nem me machucar novamente!
- Calma Enzo! Uma coisa de cada vez! Amanhã você só precisa saber o que ele tem a dizer! Não precisa tomar qualquer outra decisão!
- Você tá certo! Mas mesmo assim eu fico nervoso!
- Pois não fique! - Guilherme puxou Enzo para o seu colo e disse: - Eu estarei aqui para te apoiar sempre!
- Obrigado Gui, mas eu acho que não vais poder fazer isso de São Paulo, certo?
- Bem, mesmo se fosse de lá eu me esforçaria...mas eu tenho uma novidade - disse Guilherme empolgado - Eu tentei transferência para a UETUP (Universidade Estadual de Tupã) e há uns quinze minutos atrás eu verifiquei o resultado...EU PASSEI!
- Gui!!! - disse Enzo pulando do colo de Guilherme - Nossa, que bom! Então você vai voltar a morar aqui?
- Sim! Infelizmente, você vai ter que me aguentar todos os dias pelo resto da sua vida! Para onde você for eu vou!
- Tudo bem, eu vou tentar conviver com isso! - disse Enzo rindo - Nossa, fiquei muito feliz Gui! Eu vou adorar ter essa sua irreverência no meu cotidiano!
- Sabe Enzo...eu senti muito a sua falta quando fui embora - disse Guilherme em tom sério, segurando a mão de Enzo - E fico muito feliz de poder te ter de novo na minha vida!
- Eu também Gui! - disse Enzo e, nesse momento, pairou um silêncio entre os dois, o qual foi quebrado por Guilherme, que beijou Enzo, porém este disse: - Não Gui...desculpa, mas eu acho que não posso mesmo fazer isso! Não me entenda mal, você está ainda mais atraente do que na época em que a gente namorou, mas eu não posso fazer isso e, sinceramente, não quero te dar falsas esperanças!
- Eu entendo Enzo - respondeu Guilherme em tom de voz baixo - Desculpa, eu não queria te deixar desconfortável...eu só...não sei o que me deu mesmo! Talvez eu deva ir embora...desculpa mesmo! - o rapaz se levantou da cama.
- Pára com isso! - disse Enzo segurando o braço do rapaz e o puxando de volta para a cama - Você não tem do que se envergonhar! É o meu sex appeal, eu sei! - os dois riram bastante do que Enzo dissera e Guilherme permaneceu na cama, deitado no colo de Enzo, que, depois de parar de rir continuou: - Mas agora é a sua vez Gui, você não me contou nada desde que chegou aqui! Só quer ficar ouvindo as coisas da minha vida!
- Ah, mas o que você quer saber sobre a minha desinteressante vida?! - respondeu Guilherme.
- Gui, não há uma parte sequer da sua vida que seja desinteressante! Agora desembucha, eu quero saber como foram esses dois anos em São Paulo sem o minha companhia!
- Ah, São Paulo é uma cidade muito boa e muito viva! Nossa, eu adorava ir para as baladas lá e você sabe como eu adoro danças né?! Mas lá também pode ser um pouco solitário sabe?! Eu me sentia um pouco só às vezes, longe da minha família, dos meu amigos...de você, do seu sex appeal! - finalizou Guilherme rindo.
- Mas você não se envolveu com ninguém desde então? - perguntou Enzo.
- Nada sério! Eu fiquei com alguns caras, mas nunca mais namorei! Nao sei, acho que estava esperando alguém tão especial quanto você!
- Desista! Não vai ocorrer! - respondeu Enzo rindo.
- Eu sei!

Os dois foram interrompidos quando Maria foi averiguar o porquê dos dois ainda não terem descido para almoçar. Guilherme aproveitou a deliciosa comida preparada por Maria e ainda ficou com Enzo pelo resto da tarde, até que por volta de sete da noite ele se despediu e foi embora. Depois disso, Enzo surfou pelos canais da televisão, até que, por volta das oito e meia da noite ele recebeu uma ligação de Pietro:

- Oi Enzo...esqueceu de mim hoje?
- Oi Pietro! - disse Enzo animado - Não esqueci de você, apenas tive um dia um pouco cheio!
- Cheio? Por que? O que você fez hoje?
- Ah, o Guilherme passou aqui e nós conversamos bastante, além disso eu tive uma conversa com o pai do Daniel...
- Como assim? Para que?
- Ah, longa história!
- Quero ouvir tudo! Passo aí em 20 minutos! - disse Pietro decidido - Vamos sair para comer alguma coisa!
- Tudo bem! Vamos sim!

Pietro buscou Enzo em casa de carro e os dois rumaram para um restaurante no centro de São Patrício, no qual Enzo novamente contou o que havia acontecido na casa de Daniel. Pietro, prontamente, disse:

- Vocês vão reatar então!
- É claro que não! - disse Enzo surpreso - Não é assim tão simples Pietro! Isso só muda o fato de que eu posso perdoá-lo por ter sido tão rude comigo, afinal eu posso de certa forma entender os motivos dele!
- Entendi...Mas você ainda gosta dele né?
- Ah, não sei Pietro...é difícil esquecer um grande amor desse jeito, mas talvez eu não me sinta mais da mesma forma! Mas, por que a pergunta?
- Bem...vou ser sincero Enzo! Você é um cara muito lindo, eu adoro o seu jeito e adoro passar o meu tempo com você! A sua amizade tem me feito muito bem e eu me sinto confortável com a minha orientação sexual ao seu lado...mas, há alguns dias, eu venho me perguntando e imaginando se o que eu sinto não é algo diferente de apenas amizade e...eu acho que...tô apaixonado por você!
- Pietro...nossa, eu nunca imaginei que você pudesse sentir isso por mim...nossa, não sei nem o que dizer...tipo, você tem sido essencial para mim todo esse tempo e eu me sinto extremamente à vontade do seu lado! Mas sempre te enxerguei como um amigo...e não estou preparado para assumir nada com ninguém agora...eu sinto muito, mas não acho que possa corresponder aos seus sentimentos!
- Não se desculpe Enzo - disse Pietro em tom sereno - Eu imaginei que dirias isso mesmo...mas eu precisava ser sincero contigo! Caso você não sinta o mesmo pelo Daniel e se um dia você achar que está preparado para um relacionamento, eu quero que você saiba que eu posso ser uma opção!
- Pietro...eu adoraria poder gostar de você assim! Mesmo! Você é uma pessoa tão incrível e amável, que seria uma honra poder ser seu namorado, mas por enquanto eu não posso mesmo!
- Tudo bem, relaxa! Eu só não quero que algo mude entre nós por causa disso!
- Nada vai mudar!
- Que bom! Agora eu tenho outra coisa para te contar...
- Pois conte! Quero saber de tudo!
- Eu e o Guilherme ficamos ontem!
- O quê! Como você não me contou isso logo?! Mas e aí, conta mais!
- Ah, ele é muito atraente e dança muito mesmo, como você disse, então acabou rolando! Mas nós dois gostamos de outra pessoa e decidimos que ficaríamos só na amizade mesmo! Mas ele é quente, isso não pode ser negado!
- Muito! Ele me conquistou assim que eu o conheci e nós começamos a namorar logo em seguida! Eu me sentia muito sortudo porque um cara tão gato abriu mão de curtir a vida do ensino médio para ficar com alguém tão simplório como eu! Ele poderia ter quem ele quisesse fácil!
- Eu imagino! Mas ele sabia o que estava fazendo, porque você não é simplório! Aposto que ele viu esse algo especial que você tem, que conquista qualquer pessoa! Sr. Carisma!

Pietro deixou Enzo em casa por volta as onze da noite. Quando chegou, o rapaz prontamente foi para o quarto e deitou para refletir, como ele sempre fazia. Em sua mente, vieram três figuras: Daniel, o seu ex-namorado que até pouco tempo parecia um canalha sem coração, mas que agora se mostrara alguém com problemas emocionais que estava extremamente arrependido de como se portara e, por mais que Enzo detestasse admitir, ainda exercia grande atração sobre ele; Guilherme, o seu outro ex-namorado, que havia feito parte de uma fase muito boa da sua vida e que agora retornara para ficar na cidade e que se mostrara uma pessoa bem mais sensível e madura do que antes; e por fim Pietro, um grande amigo que se tornou o seu porto seguro e que agora expressara o desejo de ser bem mais do que isso na vida de Enzo. Diante disso, a seguinte pergunta pairava na cabeça do rapaz: Devo seguir em frente ou voltar para aquele que tinha sido o seu grande amor? E se for seguir em frente, deveria escolher um grande e verdadeiro amigo ou o amigo que já foi um grande amor?

quinta-feira, 24 de julho de 2014

What Happens Next (What Happens Next)

What Happens Next (What Happens Next), 2011


Paul (Jon Lindstrom) é um empresário aposentado que recebe uma linda cadela de presente de sua irmã Elise (Wendie Malick). Este presente, totalmente inesperado, acaba sendo um caminho que o leva a conhecer Andy (Chris Murrah), um bonito rapaz que começa a fazer parte da sua nova rotina e com quem ele vai descobrir novos sentimentos.

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domingo, 20 de julho de 2014

Capítulo 5 - Revolução: A Homorevolta (Cont.)

Passaram-se dois dias até que William a Raul se convencessem de que era seguro procurar algum lugar para passar mais do que alguns minutos descansando. Nós havíamos corrido e caminhado por dentro da densa floresta e eu, com certeza, não sabia onde estávamos. Hugo, surpreendentemente, parecia bastante orientado:

- Nós não podemos seguir por esse caminho! Ainda estamos longe da fronteira de Naquim e Conde Rafael deve estar patrulhando as estradas principais!
- O que sugere então Hugo? Eu sinto muito, mas eu estou perdido!
- Eu também! E isso é algo difícil, porque já andamos muito por Naquim! E quanto a você Raul?
- Eu sei onde estamos...mas também não sei o que fazer agora! Nós fugimos sem qualquer suprimento e Naquim se tornou um reino muito pobre desde que Conde Rafael começou as "caçadas", de modo que nem sei se valeria a pena sairmos da floresta e nos arriscarmos a sermos pegos em outro vilarejo, porque não sabemos onde há suprimentos!
- Isso não é bom...mas você tem alguma ideia Hugo?
- Nós podemos seguir aquele rio que vimo há alguns metros atrás, então chegaremos até Finnel...este era um vilarejo perto do meu, onde Conde Rafael estabeleceu uma base, então ainda deve ter suprimento lá!
- Você é louco Hugo?! Por que iriamos em direção a uma base de Conde Rafael?!
- Essa é a nossa opção mais viável...ou iremos morrer de inanição! Além disso, essa é uma das poucas bases nas quais eu nunca vi muito trânsito de pessoas.
- Eu acho que essa é a opção mais viável meu amor!
- Mas você sabe que ele me conhece!
- Por que Conde Daniel conheceria um mero camponês como você?!
- Err...é somente um modo de dizer Raul!
- Não...Ele conhece você! E eu quero saber o porquê!
- Calma Raul!...Pessoal, eu acho que teremos que contar a verdade, ou não conseguiremos cooperar para sobreviver!
- Desculpem-me!
- Não se preocupe meu amor! Isso ia ter que acontecer algum dia, então é até melhor que seja agora, porque talvez eles cooperem conosco para te proteger!
- Por que eu deveria proteger ele, especificamente?...Você não é um camponês, certo?
- Não Raul...olha, nós vamos explicar tudo...
- ENTÃO EXPLIQUE LOGO!
- NÃO GRITE COM O MEU IRMÃO! Eu vou explicar tudo, mas quero deixar muito claro que você nos tratava como bem queria dentro daquele acampamento, então se você não se comportar eu vou te deixar incapacitado de dizer qualquer outra coisa!...Veja bem, o meu querido irmão aqui é o filho do Rei Otávio, de Heliópolis, este é o namorado dele, o único camponês de verdade, do vilarejo de Luminus, e nós somos oficiais da guarda pessoa do pai de Felipe.
- Vocês mentiram para mim?! Eu os acolhi e vocês simplesmente mentiram para mim?! Por que?
- É simples Raul, me diga o que você acha de Heliópolis?
- É um reino soberbo no qual todos são contra os casais homoafetivos! Eu odeio aquele lugar!
- Aí está a sua resposta! Nós não poderíamos dizer a verdade sem sermos odiados logo de primeira, então preferimos omitir nossas reais identidades e mostramos a você como poderíamos ser úteis! Pode dizer o que quiser, mas nós realmente contribuímos muito quando o acampamento ainda contava com pouquíssimas pessoas!
- Isso é verdade...mas eu não gosto de mentiras!
- Ninguém gosta Raul...mas foi necessário!
- Mas o que dois casais como vocês faziam em Heliópolis! Aquele lugar está aliado a Conde Rafael! E já matou mais homossexuais do que qualquer outro lugar!
- Não é bem assim Raul, o meu pai realmente condenava o homossexualismo até algum tempo atrás e realmente tirou algumas vidas ao longo dos anos, mas não tem qualquer participação nessas "caçadas" de Conde Rafael! Inclusive este é o motivo de estarmos aqui, já que tivemos que fugir de Heliópolis, pois Conde Rafael queria me executar com o suposto aval do meu pai, que na verdade era contra isso e arquitetou a minha fuga, junto com os seus fiéis oficiais, que aqui estão.
- Espera, então o Rei Otávio era contra isso?
- Sim! Bem, ele nunca seria a favor das "caçadas" e também passou a não ser contra o homossexualismo...bem, o que eu posso dizer? Ter um filho nessa "situação" pode mudar uma pessoa e....eu acho que ele estava me protegendo o tempo todo!
- Como assim?
- Veja bem, o meu pai me exilou quando descobriu que eu era homossexual e eu o odiei por fazer aquilo comigo...mas eu tenho refletido sobre isso...talvez ele não tivesse tanta escolha como eu pensava e estivesse me protegendo de Conde Rafael...Ele não me executou e acho que não poderia me deixar livre sem que isso chegasse ao conhecimento de Conde Rafael, então preferiu me exilar...o que foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, porque eu encontrei o Bernardo! Mas pensando sobre o meu pai, eu acho que o odiei sem saber que ele estava fazendo o melhor por mim!
- Nossa, eu não imaginava que Rei Otávio era assim...eu achei que ele fosse um ditador, que caçava os homossexuais! Mas então por que ele se aliou a Conde Rafael?
- Bem, isso é uma coisa de família! A minha mãe, que era a favor das relações homoafetivas, tinha um grau de parentesco com o Conde Rafael, por isso o reino dele sempre teve relações boas com Heliópolis, mas agora o Conde acha que tem direito a metade de Heliópolis, agora que a minha mãe morreu!
- A sua mãe morreu? Eu sinto muito...ela realmente era uma ótima pessoa...eu conheço várias pessoas de confiança que afirmaram que ela era uma pessoa generosa e solidária com o seu povo!
- Ela era tudo isso sim! E muito mais! Mas agora preciso que você me responda, ainda vamos seguir como um grupo já que você sabe da verdade?
- Eu acho que sim Felipe...eu realmente não aprecio mentira, mas acho que posso entender os motivos de vocês...eu sei que pareço irracional e às vezes ajo assim, mas eu também posso ser compreensivo!
- Nesse caso, agora precisamos resolver se seguremos o plano do Hugo, que tem dois grandes riscos: encontrar a base cheia de pessoas, com as quais não poderemos lidar e, especificamente para o Felipe, encontrar com o Conde Rafael, que já o conhece!
- Felipe...se você realmente estiver disposto a enfrentar os riscos, eu acho que essa é a nossa melhor aposta!
- Eu acho que posso fazer isso! Eu me sinto bem mais confiante atualmente, do que há alguns dias! Então vamos seguir esse plano, antes que definhemos aqui!
- É assim que se fala discípulo! Vamos logo!

Nós voltamos até o ponto em que um rio de águas rasas cortava a floresta, então o seguimos em sua margem esquerda em direção ao norte. Após meio dia de caminhada, nós chegamos a uma área em que a floresta se tornou menos densa, então Hugo disse:

- Vamos parar aqui e planejar a nossa entrada. Eu acho que eu e Raul, que somos nativos daqui, deveríamos ir primeiro, então, conforme a situação, nós voltaremos para buscá-los.

Ninguém discordou do plano, seja por assentimento ou por falta de energia. Bernardo, William, Tomás e eu nos sentamos encostados a troncos de árvores e esperamos pelo que pareciam ter sido horas, até que Hugo voltou dizendo:

- Pessoal, tenho uma notícia boa: não existem muitas pessoas no local! Mas também tenho uma ruim: parece que Conde Rafael trouxe os nossos amigos para cá e os está mantendo prisioneiros em porões do vilarejo!
- Isso quer dizer que ele pode voltar a qualquer momento, certo?
- Sim...
- O que você acha meu amor?
- Nós precisamos arriscar! E eu não tenho medo, já que vocês estão ao meu lado!
- Então vamos lá cunhado!

A visão do vilarejo foi ainda mais deprimente do que eu havia imaginado, haviam casas com janelas e portas quebradas, abandonadas, derrubadas e/ou com pessoas tristemente sentadas na varanda. A alegria e a vida haviam sido tiradas daquele vilarejo há muito tempo e as pessoas estavam apenas vivendo uma semivida ali, na qual não lhes faltava suprimento, como em outros lugares, mas todos os dias eles viam pessoas sendo executadas ou levadas para a execução em outro lugar.
Hugo nos conduziu pelo vilarejo até uma estalagem, onde Raul estava a nossa espera. Conforme tínhamos sido instruídos, nós nos declaramos "caçadores de homossexuais" e estávamos a serviço de Conde Rafael na área. Desse modo, o estalajadeiro nos deu quartos para descansarmos e nos ofereceu comida, o que aceitamos de bom grado.
Depois disso, nos reunimos no meu quarto para planejarmos os nossos próximos passos, os quais foram divididos em grupos de tarefas, que era como Raul gostava de agir: eu e Bernardo iriamos nas casas dos moradores, para conseguirmos mais informações sobre o que vinha acontecendo no vilarejo; Tomás e Raul iriam em busca de armas e outros utensílios nas casas abandonadas; e Raul e Hugo iriam procurar a casa que abrigava as pessoas do nosso acampamento que haviam sido capturadas. Ficamos de nos encontrar em duas horas na estalagem, para fugirmos antes de Conde Rafael chegar, com todos as armas, utensílios, suprimentos e pessoas nós conseguíssemos.
Eu e Bernardo fomos em várias casas, em muitas das quais não fomos permitidos entrar, porém, de repente, enquanto andávamos por uma pequena rua, uma mulher aparentando meia idade nos chamou:

- Ei, vocês!
- O que foi senhora? Algum problema?
- Eu conheço vocês! Vocês estavam no acampamento!
- Como a senhora sabe sobre o acampamento?
- Por que o meu filho foi para lá...ele vinha me visitar às vezes...eu o deixei no acampamento e, antes de voltar para cá, eu lembro de ver vocês dois!
- O seu filho é homossexual senhora?
- Shh! Não repita essa palavra aqui! Entrem, depressa!

Nós entramos, então a mulher continuou:

- O que vocês estão fazendo aqui? É perigoso para alguém como vocês estar aqui! Conde Rafael tem vindo muito aqui nos últimos dias!
- Eu sei senhor...mas precisávamos comer e coletar suprimentos!
- Eu tenho o que vocês precisam aqui! Afinal, ser um "vilarejo das caçadas" trouxe uma espécie de riqueza a esse vilarejo nesse sentido! Apenas peguem tudo e vão embora, por favor! Eu não quero que aconteça a vocês o que aconteceu com o meu filho!
- O que aconteceu com o seu filho senhora? E por que a senhora não foi para o acampamento com ele?
- Ele...ele foi levado ontem...para uma "caçada"...e eu nem pude me despedir dele! Vejam bem, ele achou que eu estaria mais segura aqui, se mantivesse em segredo que tinha um filho homossexual, e realmente estou segura, mas jamais serei feliz novamente!
- Senhora...eu lamento a sua perda...mas junte-se a nós então...pegue os seus suprimentos e nos acompanhe, porque depois nós iremos vingar a morte de todas as pessoas que, como o seu filho, foram mortas por motivos tão fúteis!
- Eu não posso! Para mim a vida não tem mais sentido! Eu vou tirar a minha vida hoje, mas antes quero lhes ajudar a sair daqui, venham...

Ela empacotou vários suprimentos para nós e, em seguida, nos mostrou uma passagem no porão, dizendo:

- Este vilarejo já foi invadido diversas vezes, devido à sua localização, então o povo daqui aprendeu a se unir para lutar! Estas passagens dão acesso a quase todas as casas da rua e se ligam a diferentes locais dentro do vilarejo. Sigam por elas e tomem cuidado!
- Muito obrigado senhora! Mas qual o seu nome? e o do seu filho?
- Meu nome é Maria e o meu filho se chamava Paulo.
- Novamente muito obrigado Maria! Eu prometo que vamos vingar a morte do Paulo!

Nós caminhamos pelos túneis por alguns minutos e percebemos que tudo estava muito escuro porque, provavelmente, todos no vilarejo haviam obstruído as passagens das suas casas com algum móvel no porão. Porém, em certo momento, nós nos deparamos com uma fresta de luz e a seguimos, depois empurramos os pedaços de tábua que obstruíam a caminho e seguimos para o andar de cima, onde encontramos Raul e Hugo em uma cena que nos deixou desconfortáveis: estavam sem roupas em uma cena bastante quente.

- Como vocês dois chegaram aqui?
- Raul, vocês não deveriam estar procurando pelos reféns?
- Bem...sim, nós procuramos! Mas não achamos...
- Duas palavras: continue procurando! Vamos, nós não temos tempo! Vistam-se e depois nos sigam até o porão!
- Por que ao porão?
- Hugo, não discute! Vamos, apressem-se!

Nós voltamos ao porão e aguardamos Hugo e Raul descerem, então explicamos sobre as passagens que Maria tinha nos mostrado. Depois disso, entramos na passagem de onde tínhamos vindo e procuramos por novas "portas", até que encontramos outro feixe de luz e fizemos o mesmo que havíamos feito anteriormente: quebramos as tábuas, adentramos a casa e procuramos por elementos úteis. Fizemos isso mais cinco vezes, porém, na sexta vez encontramos algum bem mais valioso: cerca de vinte dos nossos amigos, que estavam amarrados a cadeiras e amordaçados. No andar de cima haviam dois guardas, que foram facilmente abatidos, visto que não esperavam que alguém surgisse do porão. Depois, nós libertamos todos os prisioneiros e, segundo eles, havia um grupo maior e mais bem guardado na casa ao lado, porém, de acordo com a nossa recém-adquirida perícia, não havia entrada pelo porão. Era isso que Maria queria dizer com quase!
Nós planejamos, junto com todos os prisioneiros, uma estratégia para entrar na casa ao lado de uma maneira que os guardas fossem neutralizados o mais rápido possível e não houvesse nenhum dano. No fim, concluímos que não teria como calcular tudo, então teríamos que arriscar.
A nossa investida foi bem-sucedida, embora algumas pessoas, incluindo Hugo, tenham ficado levemente feridas. No final conseguimos neutralizar dez guardas e libertamos mais trinta prisioneiros, dentre eles Fábio e Gustavo, que eram, assim como Raul, os líderes do nosso acampamento, o que aparentemente justificava a disparidade na segurança para aquela casa.
Depois de libertarmos todos os prisioneiros, voltamos à casa em que os primeiros foram encontrados e seguimos pelos túneis, confiando no senso de direção de Bernardo, o que era a nossa única alternativa, pois um grupo tão grande de pessoas chamaria muita atenção nas ruas. Depois de algum tempo, Bernardo bateu em algumas tábuas, as quais quebraram e revelaram um porão que, segundo Bernardo, deveria pertencer à estalagem. Ele estava certo, porém combinamos com os prisioneiros para que permanecessem nos túneis, onde Raul e Hugo distribuiriam racionalmente os suprimentos que havíamos encontrado. Enquanto isso, eu e Bernardo subimos até a estalagem, onde quase fomos flagrados pelo estalajadeiro, e então encontramos Tomas e William no quarto, os quais haviam acabado de chegar de sua bem-sucedida busca por armamento e suprimentos.

- Onde estão Hugo e Raul?
- Calma William, eles estão bem, mas preciso te explicar algumas coisas!

Bernardo explicou sobre as passagens entre as casas e sobre o nosso contingente de ex-prisioneiros, então Tomás disse:

- Bem, então vamos munir todos com as armas que achamos! Depois vamos tomar esse vilarejo!
- Apoio plenamente Tomás! Vamos tomar esse vilarejo como a nossa primeira base de resistência ao Conde Rafael!

Dito isso, nós caminhamos em direção ao porão. Tomás e William foram na frente, porém, quando eu e Bernardo íamos entrar, nós ouvimos uma voz familiar dizendo:

- Olá sobrinho! Que surpresa sem igual é encontrar-lhe aqui nesse fim de mundo! Quem diria, um nobre entre aquele monte de homossexuais sem-teto!

Eu me virei em direção à porta da estalagem, onde o meu tio estava localizado, então disse, com uma fúria no olhar:

- Ouça bem isso: Você vai perecer Conde Rafael! E vai em breve!

Depois disso, eu corri para o porão, fechei e tranquei a porta atrás de mim, então gritei para que todos corressem para os túneis. Naquele momento, eu jurei para mim mesmo que seria a última vez que fugiria de Conde Rafael, pois em breve eu iria obter a vingança que havia prometido para Maria.