quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Capítulo 8 - Aqueles que Amam (Cont.)

- Be...bem, então chegamos ao carro e já terminamos nossa conversa – disse Enzo, manobrando a cadeira de rodas na direção contrária – Agora eu vou voltar... – antes de Enzo terminar a frase, sentiu um braço pressionado contra o seu pescoço, a apertar cada vez mais forte, até que ele perdeu a consciência.

 

Ao retomar a consciência, Enzo se sentia confuso e indisposto. Ele percebeu que suas mãos estavam atadas e ele estava amarrado em uma cadeira. Olhando ao redor, não reconhecia onde estava, porém, ao focar um pouco mais a atenção, percebeu duas vozes vindas de outro cômodo, as quais ele prontamente reconheceu:

 

- ... limites? eu não sei como pretendes sair dessa... mas eu não quero ter nada a ver com isso! Cumpra a sua parte do acordo! – disse a pessoa que Enzo supunha ser Lucas.

-  Mas eu ainda preciso da sua ajuda! – respondeu Frida. Enzo reconheceria aquela voz em qualquer lugar, seja porque antes tinham sido muito amigos ou porque, atualmente, era a sua maior inimiga - Eu só quero dar um susto nele e depois vamos deixa-lo no mesmo lugar! – Naquele momento, Enzo estava muito confuso, afinal os dois estavam trabalhando juntos este tempo todo?

- Não foi isso que combinamos! – Exclamou Lucas - Eu quero que apague definitivamente a gravação e que nunca mais nos falemos! Eu já cumpri a minha parte! Dei aquele “recado” no dia do noivado dos dois e hoje trouxe o Enzo até você! Daqui pra frente você está por conta própria! – Espera... então Lucas tinha sido o autor do incidente no dia do seu noivado, mas Frida tinha sido a mentora? Enzo estava cada vez mais confuso.

- Ah sim?! E se eu não apagar a gravação e ao invés disso mandar para o amigo do meu pai que trabalha na polícia?! O que ele vai achar da sua confissão de que intencionalmente deixou que alguém quase se afogasse?

- Olha, eu me arrependo profundamente disso e quando confessei isso para ti eu achei que fossemos amigos... não podia estar mais enganado! Mas eu não vou me deixar envolver ainda mais nos teus planos ou eu temo que coisa pior possa acontecer com um dos dois!

- O que você quer dizer? Então eu posso enviar esta gravação para a polícia?

- Faça o que quiser! Se me entregar para a polícia, eu te entrego também! Eu posso muito bem provar onde eu estava ontem à noite! Mesmo que o seu plano fosse me incriminar! – disse Lucas, decididamente - Quando me pediu para usar o meu carro, eu imaginei que iria fazer alguma loucura, então me certifiquei de estar em algum lugar com várias testemunhas! Mas eu nunca imaginei que fosse fazer isso ao Guilherme! O que você tem na cabeça? – Esta foi a parte que mais surpreendeu Enzo. Então o carro era mesmo o do Lucas, mas era a Frida quem estava ao volante! Ela, de fato, tem um Uno vermelho, por isso não teve problemas em responder à pergunta sobre o seu carro na frente de todos!

- Então é assim que vai ser? Tudo bem, pode ir embora então! Eu resolvo essa situação sozinha! Mas eu não vou esquecer dessa traição! E mais uma coisa, você não é ninguém para falar de loucuras! Afinal, ias deixar o Enzo se afogar por puro ciúme! O que te diferencia de mim? Nada!

- Você não sabe do que está falando... foi um momento de fraqueza...

- Olha, eu não posso te julgar! O Enzo é extremamente irritante, eu também faria o mesmo e...

- Não é nada disso! – interrompeu Lucas – Eu não tenho nada contra o Enzo, ele é uma pessoa amável e gentil, por isso eu estou realmente arrependido do que fiz e, se eu soubesse que isso me levaria a ter que te ajudar a raptá-lo hoje, eu teria ajudado ele a sair daquele piscina... mas, naquele momento, tudo o que eu conseguia pensar era que, se ele não estivesse ali talvez eu tivesse uma chance...

- Uma chance de que?

- De ter uma segunda chance com o Daniel... – ao ouvir isso, tudo fez sentido para Enzo. Todo o comportamento errático, as mudanças extremas de humor e a obsessão em ir ao encontro de Daniel, mesmo quando ele já tinha sido rejeitado múltiplas vezes.

- Bem, continuo a não poder julgar... – respondeu Frida, mais calma – tudo o que eu estou fazendo, no fundo, é porque eu ainda amo o Daniel... se ele não quer ficar comigo...

- Então ele não vai ficar com ninguém, certo? – completou Lucas – Eu sei como se sente, mas eu não acho que seja o melhor caminho...

- Como assim?

- De fato não há chance para nenhum de nós dois, pois o Daniel é perdidamente apaixonado pelo Enzo. Eles já passaram por tantas coisas juntos, que eu não acho que ele vá ter esse tipo de sentimento por mais ninguém. Portanto, no meu caso, o que eu estou tentando fazer é participar da vida dele de alguma forma, mesmo que não seja como o companheiro dele. O Daniel foi o meu primeiro amor e ele já era incrível como criança, mas ele cresceu para se tornar uma pessoa ainda mais impressionante! Será que é justo acabar com a vida dele? Ou, pior ainda, acabar com a vida do Enzo, que não tem culpa do fato de o Daniel não nos amar?

- Você não entende o que esses dois fizeram comigo! – respondeu Frida, contrariada.

- Você já me contou a história...

 

Enquanto Frida e Lucas conversavam no outro cômodo, Enzo estava com a cabeça cheia de pensamentos e memórias eliciadas pela conversa que acabara de ouvir. Muitas das coisas que estavam acontecendo nos últimos tempos faziam muito mais sentido agora e ele, surpreendentemente, estava feliz em saber que Lucas afinal parecia não estar totalmente convencido em prejudicar a ele e a Daniel. Adicionalmente, Enzo estava mais consciente do ambiente ao seu redor e começou a perceber que ele já havia estado ali há muito tempo atrás. Ele agora reconheceu o quarto de Frida e agora só precisava pedir ajuda, portanto, tentou alcançar o celular que estava no seu bolso esquerdo. Era difícil alcançar o celular com a corda a pressionar o seu tronco e com as mãos atadas, entretanto ele continuava a tentar, pois precisava avisar alguém onde ele estava.

 

- ... afinal, vai me ajudar ou não?! – disse Frida, no outro cômodo.

- Se você não fizer nada com ele, eu te ajudo a levar ele a algum lugar onde possam encontra-lo, sem que descubram quem o tinha raptado – caso queira fazer algo de mal a ele, eu não quero me envolver e saio daqui com as minhas mãos lavadas.

- Por que, de repente, você ficou tão preocupado em não machucar o Enzo?

- Pra começo de conversa, eu nunca tive interesse em machucar ele! Eu já disse que o que aconteceu na piscina foi um erro, mas não é como seu eu tivesse empurrado ele! Ele escorregou das minhas mãos e eu fiz uma escolha errada de não o ajudar!

- Tanto faz, eu já me arrependi desse plano. Vamos fazer isso então... deixamos ele em algum lugar, depois avisamos alguém para... – Neste momento, Enzo estava no meio da sua tentativa de alcançar o celular no bolso, mas o aparelho acabou escorregando do seu bolso e caindo no chão, alertando os demais de que algo se passava no quarto – O que foi isso?

- Eu não sei, parece que veio do quarto. Acha que ele acordou?

- Vamos verificar – disse Frida, dirigindo-se para o quarto. Ao entrar e ver o aparelho no chão e Enzo consciente, este disse: - Viu do que eu estava falando? Extremamente irritante!

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Capítulo 7 - Revolução: A Nova Finnel

- Inicialmente, é necessário dizer que esta foi uma decisão difícil e não-unânime...

- Não! Não é justo! – gritou Hugo, em meio à multidão.

- Companheiro Hugo, por favor, deixe-me terminar de informar a decisão.

- Pedimos desculpas, ele só está muito nervoso. Pode prosseguir conselheiro! Certo Hugo?

- Sim, eu peço desculpas... pode continuar...

- Obrigado! Continuando, esta decisão é controversa, porém representa a opinião da maioria dos conselheiros. Peço a todos os presentes que se comprometam a respeitar a decisão de... bem... conceder anistia ao acusado... – neste momento, várias pessoas na multidão começam a gritar em desaprovação, mas são prontamente contidas pelo porta-voz  - ATENÇÃO! Como eu disse anteriormente, sabemos que esta é uma decisão controversa, mas pedimos que confiem na decisão dos vossos conselheiros e, para aqueles que ainda tiverem problemas com esta decisão, estaremos abertos para ouvi-los a seguir. Entretanto, gostaríamos de ressaltar alguns pontos importantes acerca desta decisão: quanto ao irmão mais novo, visto que não teve participação direta no que ocorreu em Pasine e por se tratar meramente de uma criança, não será realizado julgamento, embora ambos não estão livres para partir, de modo que devem permanecer em Arlyston sob supervisão direta do conselheiro Felipe, o qual foi nomeado como guardião dos dois a partir de agora. Caso algum dos dois tente sair do vilarejo sem supervisão, os demais moradores estão autorizados a tomar as medidas necessárias. O acusado está em período probatório por prazo indeterminado, de modo que deve provar o seu valor ao povo de Arlyston, contribuindo ativamente para o bem do vilarejo. Caso, seja apanhado em qualquer atividade que prejudique o vilarejo ou não contribua da mesma forma que os outros, este conselho fará nova avaliação para reavaliar a decisão de anistia. Por fim, o acusado está obrigado a se desculpar pessoalmente com as famílias de cada pessoa que foi afetada pelas suas ações. Caso Rafael II e o conselheiro Felipe estejam de acordo com essas condições, podemos dar por encerrada a deliberação deste caso e iniciar o período probatório, no qual o ex-visconde deve tentar se integrar a este vilarejo e tentar se redimir dos seus erros.

 

- Eu aceito estes termos e admiro a objetividade do conselho nesta decisão – prontamente respondi – responsabilizo-me pelos cuidados de Rafael II e Davi, fazendo o possível para que se integrem ao nosso vilarejo e sejam dignos da misericórdia que estão demonstrando para com eles.

- Muito bem, que assim seja – respondeu o porta-voz – Tragam Rafael II! – ordenou ele. Assim que o meu primo saiu à rua, a multidão iniciou novamente a gritar – SILÊNCIO! Repito que, qualquer pessoa que esteja descontente com a decisão pode conversar conosco a seguir. Por ora, vamos confirmar se o acusado aceita os nossos termos, em cujo caso será escoltado até o alojamento do conselheiro Felipe. Então, o que tem a dizer em relação ao que foi decidido? – finalizou ele, dirigindo-se a Rafael.

- Eu... bem... – podia-se ver que pronunciar aquelas palavras estava a ser uma tortura para ele – Eu agradeço a oportunidade... vou fazer tudo... tudo para provar que me deixar viver não foi um erro...

- Sendo assim, dou por encerrado este veredito e peço que todos voltem às suas atividades. Como eu disse, quem não se sentiu representado por esta decisão pode vir conversar com o conselho agora – Assim, a multidão dispersou-se, embora muitas das pessoas estivessem visivelmente incomodadas e descontentes.

- Então eu acho que podemos ir – disse eu, depois que a multidão havia se dispersado, dirigindo-me a Rafael, o qual estava sendo contido por dois conselheiros.

- Rafael! – disse Hugo, abraçando-o – Ainda bem que, no fim, deu tudo certo!

- Podes parar com... – respondeu Rafael, corado, visivelmente desconfortável e tentando se desvencilhar de Hugo – isso... sabes que eu não gosto...

- Bem, pois pode começar a se acostumar – respondeu Hugo, determinado – Boa parte da mudança que precisa ocorrer contigo diz respeito a te aceitares! És um de nós agora e aqui nós demonstramos afeto sempre que nos apetece!

- Sim... é que...

- Nem adianta, este aqui quando põe algo na cabeça, é extremamente persistente!

- Sou mesmo! – confirmou Hugo - Agora vamos andando, afinal, com certeza, precisas urgentemente descansar! No momento estás com uma aparência péssima, que não faz jus à tua beleza!

- Está bem! Está bem! Desde que pares com estas coisas de abraços e elogios – respondeu Rafael, visivelmente desconcertado – Será que podem me levar de uma vez ao alojamento... por... favor? – finalizou ele, dirigindo-se aos conselheiros, os quais assentiram e começaram a conduzi-lo, enquanto eu me mantive um pouco atrás, junto com Hugo.

- Bem, parece que as mudanças já começaram – disse eu, sussurrando e rindo – Já até ouvimos um “por...favor?”

- Espero que sim – respondeu Hugo em um tom mais sério – Sabes tanto quanto eu que ele ainda não está fora de perigo e, com aquele temperamento, não sei se ele conseguirá mostrar que mudou... e se eles voltarem atrás na decisão? E se...

- Calma – pus minhas mãos nos ombros dele – Te importas de verdade com ele, não é? Dá para perceber!

- Sim! Como eu disse, que sei que ele foi parte de coisas horríveis... que ele te torturou... e eu sinto muito! Mas eu sei que ele não é tão mau quanto parece!

- Eu também já comecei a perceber isso, embora não possa perdoá-lo completamente por ora...

- Eu imagino...

- Mas não se engane, eu realmente espero que isso dê certo! Afinal, ele é meu primo! A única diferença entre ele e eu é que o meu pai não era um monstro! Olha, eu vou fazer de tudo para que ele consiga se integrar aqui e tentarei convencer o conselho a manter a decisão, mas vou precisar da tua ajuda para ter certeza de que  Rafael vai fazer a parte dele.

- Quanto a isso, pode ficar tranquilo, pois eu estarei todos os dias de olho nele! Fazendo de tudo para que a adaptação seja mais fácil!

- Eu tenho certeza de que sim! – neste momento os conselheiros, que estavam logo à frente, chegaram ao meu alojamento, então eu finalizei – Eu fico muito feliz de ver o quanto crescestes emocionalmente Hugo, a ponto de poderes ajudar outra pessoa que também está perdida a encontrar o próprio caminho! – dito isso, dirigi-me aos conselheiros – Eu assumo daqui. Muito obrigado! – Assim que conduzi Rafael para dentro do alojamento, Davi veio ao nosso encontro e abraçou o irmão, enquanto Tomás e William expressaram com olhar grande surpresa e confusão.

- Irmão! É tão bom te ver de novo! Eu pensei que eles fossem...

- Está tudo bem agora, eu acho… - respondeu Rafael, olhando para mim.

- Ótimo! Quando podemos ir para casa?

- Bem, quanto a isso... Davi, esta é sua a nova casa! O conselho aceitou libertar o Rafael, com a condição de que os dois fiquem aqui em Arlyston... não, se preocupe, pois ninguém os fará mal, isto eu garanto! Mas vocês precisarão executar tarefas, assim como todos neste vilarejo!

- Mas eu nunca fiz nenhuma tarefa... e se não gostarem e quiserem me punir!

- Ninguém vai te punir Davi! Além disso, não se preocupe, pois nós vamos ajudar!

- Prometem?!

- É claro! Nós gostamos muito de você e vamos fazer de tudo para que consiga se sentir em casa aqui!

- Exato! Nós vamos cuidar de você! Isso é uma promessa! E assim que eu estiver melhor eu prometo que vamos te levar para ver as partes mais bonitas do vilarejo!

- Eu gostaria muito! Obrigado Tomás!

- Claro, porque aqui todos vivem felizes para sempre… – resmungou Rafael.

- E… quase! – respondeu Hugo – Quase ficamos uma conversa inteira sem comentários…bem, comentários como só você sabe fazer! – Finalizou ele rindo – Eu peço desculpas, ele ainda é um trabalho em andamento!

- Bem, eu vou dar crédito a ele por ter ficado tanto tempo sem fazer os seus comentários, mas realmente a atitude precisa melhorar! De fato, nós aqui em Arlyston, ultimamente, não temos trabalhado com a perspectiva de “felizes para sempre”, pois, como você mesmo sabe, os nossos entes queridos podem desparecer de nossas vidas de uma hora para outra. Mas temos tentado trabalhar com a perspectiva de fazer tudo uns pelos outros e tentar tirar o melhor do tempo que temos com aqueles que amamos. Talvez essa seja a maior lição que podes aprender conosco e nós... bem... eu, pelo menos, estou disposto a recomeçar do zero e te ajudar no que for possível. Mas eu preciso que estejas disposto a trilhar esse caminho junto comigo.

- Bem…

- Não precisa responder agora, até porque eu preciso ir ver o Bernardo. Mas pensa sobre isso! E digo mais, caso você melhore a sua atitude, eu não vou ser o único a te oferecer ajuda! Aqui em Arlyston, assim como na antiga Finnel, nós estamos abertos a receber todos aqueles que estejam de coração aberto para fazer parte da nossa família – dito isso, eu saí e direção ao local onde estava Bernardo, com o coração um pouco mais leve, por ter momentaneamente resolvido o problema do julgamento de Rafael. Agora, o que eu mais queria era finalmente ter Bernardo nos meus braços, sem pressa... apenas nós dois...depois de tanto tempo.


domingo, 11 de agosto de 2019

Capítulo 4 - Jornadas: Em Busca dos Imortais

30 DE OUTUBRO DE 2018, CARTUM, SUDÃO, 11:48

- Tinha que ser um rinoceronte de novo?! - gritou Oliver, congelando o elemental dos Animais, o qual havia perdido o controle durante a execução da técnica de conexão com Faunum. Quinze minutos depois, Marco retornou para a sua forma humana e o elemental do gelo desfez o bloco que o prendia.
- Eu sinto muito Oli - disse Marco - Mas, pensando bem, isto pode ser um sinal!
- Como assim?!
- Bem, nós já fizemos algum progresso e, desde que cruzamos o estreito de Gibraltar eu sinto uma conexão mais forte com o meu Imortal. Além disso, este não é qualquer tipo de rinoceronte, é um Ceratotherium Simum Cottoni!
- Claro! Isso explica tudo...
- Desculpa - respondeu Marco, percebendo a expressão confusa no rosto de Oliver - É um rinoceronte branco do norte!
- Tudo bem, mas eu ainda não entendi como isso pode ser um sinal! Há milhares de rinocerontes aqui, afinal estamos na África!
- Eu sei, mas essa não é qualquer espécie! - disse Marco, animado - É uma espécie tecnicamente extinta! Acho que, inconscientemente, Faunum está nos dando uma pista de onde ele está!
- Que ótimo - respondeu Oliver, agora também animado - E onde ele está?
- Bem, os últimos animais desta espécie viviam em um conservatório da vida selvagem no Quênia, então ele deve estar no conservatório ou em algum lugar próximo!
- Você tem certeza disso?
- Não... mas é o melhor palpite que nós temos até agora! - disse Marco, decidido - Eu tenho certeza que esse é um rinoceronte branco do norte e isso não pode ser mera coincidência!
- Tudo bem Marco, eu acredito no seu julgamento! Bem, então vamos fazer o seguinte: compraremos entradas para o conservatório, então tentaremos outra conexão com o seu Imortal. Se o seu palpite estiver certo, como eu tenho certeza que está, você será capaz de estabelecer e manter a conexão com Faunum - disse Oliver, acessando o celular - Qual o nome do conservatório e da cidade para a qual nós vamos?
- Ol Pejeta, em Nanyuki.
- Ótimo! Um momento - disse Oliver, digitando no celular - Pronto! Temos entradas para o conservatório!
- Finalmente! Após mais de dois meses de busca, nós finalmente vamos encontrar Faunum e você vai poder ver o Ethan de novo! - disse Marco - Eu me sinto culpado por manter você longe dele por tanto tempo, pois eu sei que você deve estar morrendo de saudade, mas eu agradeço muito por você se oferecer para me acompanhar nessa jornada!
- Imagina! É claro que eu estou sentindo falta do Ethan, mas eu estou adorando esse tempo em que nós estamos na estrada! Afinal, apesar de morarmos no mesmo lugar a maior parte do ano, eu sinto que nós quase não conversamos!
- Isso é verdade, também sinto que pudemos nos conectar nesses dois meses! Acho que acabamos nos concentrando em alguns grupos específicos nesse tempo em que moramos juntos, mas isso deveria mudar!
- Exato! Há poucas pessoas que realmente entendem o que é lidar com os nossos problemas numa base diária e vocês são e sempre serão parte da minha família, então é muito importante que nós fortaleçamos nossos vínculos! Por exemplo, sem esse tempo na estrada eu nunca confirmaria os rumores de que você e a Alba estavam realmente tendo algo!
- Sim! - confirmou Marco, rindo - Entre outras coisas...
- Você está se referindo ao fato de que você também tem uma queda pelo Themba? - disse Oliver, com uma expressão conspiratória - Com certeza essa foi uma grande surpresa para mim!
- Por que? Você já olhou bem para ele? Não tem como não ficar a fim dele!
- Bem, ele com certeza é muito bonito - respondeu Oliver - Mas a minha surpresa é mais pelo fato de você ser bissexual! Eu não diria só de olhar para você e com todos os rumores sobre você e a Alba... Mas isso não importa, o que eu realmente quero saber é quando você se "descobriu"? - finalizou Oliver, realizando o gesto de aspas com as mãos - Eu não gosto do termo, mas é o mais simples de se usar.
- Eu também não gosto desse termo - respondeu Marco - Mas, respondendo à sua pergunta, eu compreendi que eu tinha interesse por garotos quando eu tinha 14 anos! Eu sempre tive uma queda pelo Themba, mas há algum tempo atrás eu e a Alba estávamos conversando e, quando nos demos conta, estávamos ficando. A Alba é incrível e ela me fez perceber que, de fato, eu também gosto de garotas!
- Interessante! - disse Oliver - Então você ficar com garotas é algo mais recente! A Alba é uma garota de sorte!
- Exato e está sendo ótimo! Mas, e para você? Como foi esse processo?
- Quando chegou o momento em que as pessoas geralmente começam a se interessar por pessoas do sexo oposto, eu percebi que quem me chamava a atenção eram os garotos na escola. Mas para mim foi um processo bem natural e, quando eu tinha 16 anos, eu contei isso para os meus pais. Eles trataram o assunto de maneira muito tranquila. A parte mais estranha, na verdade, foi ter que conversar sobre relações sexuais - disse ele rindo - Você sabe como meus pais são detalhistas! Foi quase uma palestra!
- Os seus pais são hilários - respondeu Marco, também rindo - Eu posso imaginar como foi! Mas eu fico feliz que tenha sido tranquilo! E quanto ao Ethan? Como ele reagiram a isso?
- Antes de viajarmos para Los Angeles eu já tinha comentado com eles sobre sentir algo diferente pelo Ethan e eles reagiram bem, mas me pediram para ter cuidado, pois o Ethan poderia não corresponder aos meus sentimentos. Depois que voltamos para casa eu conversei brevemente com eles sobre a possibilidade do Ethan ter correspondido aos meus sentimentos, mas como eu estava confuso naquele momento, eu não entrei em mais detalhes. Mesmo assim eles ficaram muito felizes com a possibilidade! Os meus pais são incríveis, acho que eles me entendem até melhor que eu mesmo! E quanto aos seus pais, eles sabem sobre como você se sente em relação a garotos e garotas?
- Infelizmente, eu ainda não tive coragem de conversar com eles... - respondeu Marco - O meu pai é uma pessoa extremamente preconceituosa e eu não sei até que ponto eu estou preparado para lidar com essa conversa! A minha mãe, por outro lado, eu acho que teria dificuldade inicial de compreender esse conceito de bissexualidade, mas, no fim, eu acho que iria me acolher. A única coisa que me impede de contar a ela é o fato de saber que ela não consegue esconder nada do meu pai, então eu decidi que vou esperar para contar quando eu me sentir preparado para fazer isso para ambos! 
- Você está certo! Conte quando você sentir que está preparado e quando sentir que deve! Enquanto isso, viva a sua vida como achar melhor! Talvez o fato de você morar longe deles a maior parte do ano seja positivo nesse aspecto, já que você não precisa "esconder" coisas deles, embora eu imagine a saudade que você deve sentir!
- Realmente! Eu amo os meus pais e sinto saudade deles todos os dias! Mas, nesse aspecto, estar longe é uma coisa boa. Assim eu posso descobrir melhor quem eu sou!
- Bom, eu fico feliz que você esteja conseguindo se descobrir e espero, de verdade, que os seus pais reajam bem a isso! Porém, seja como for, você sabe que eu, meus pais e os demais elementais estamos aqui para te apoiar no que for preciso!
- Eu sei! E agradeço muito pela forma como vocês me acolheram!
- Nós é que agradecemos por você aceitar ser parte da nossa família! Bem, voltando ao presente, estou animado para cumprir a minha promessa de te ajudar a encontrar o seu Imortal, o que eu continuaria a fazer mesmo se levasse vários meses, porém, não posso negar que eu espero, do fundo do meu coração, que nós estejamos perto de achá-lo! - finalizou Oliver rindo.
- Eu também! - concordou Marco, rindo - Eu não vejo a hora de voltar para casa e encontrar os outros! Por falar nisso, como será que está o progresso deles?

30 DE OUTUBRO DE 2018, PORTO, PORTUGAL, 10:48

- Eu não acredito que estamos quase aperfeiçoando essa técnica! - disse Alba animada - Desse jeito, encontraremos Áeris em breve.
- Pois é! Estamos quase lá! Quem diria que o fato de você quase morrer naquela caverna nos daria a chave para desenvolvermos uma técnica de combinação dos nossos poderes! - respondeu Ethan.
- Precisamente! Enquanto estava enfrentando a criatura na caverna, eu percebi que eu estava conseguindo mediar a intensidade das chamas, porém, como ela estava propositalmente tentando me eliminar, eu acabei sendo "consumida". Porém, como você consegue controlar o fogo, caso ambos estivéssemos empenhados em mediar o processo de combustão, talvez nossos poderes pudessem ser combinados para criar um gás inflamável que pudéssemos controlar para me ajudar a buscar por Áeris! É como dizem, se a vida te der limões, faça uma limonada! - disse Alba rindo.
- Exatamente! Depois que eu aceitei ser seu parceiro nessa jornada, eu refleti melhor e achei que tinha feito a escolha errada, pois os meus poderes não têm qualquer efeito moderador sobre os seus! Você seria muito mais útil em me ajudar a controlar os meus poderes, mas eu não conseguiria fazer muita coisa para ajudar a controlar os seus! Mas, com essa técnica, eu consigo ser quase uma segunda consciência, que te ajuda a se controlar durante o uso dos seus poderes!
- Isso! Valeu à pena termos dedicado mais tempo a essa técnica do que à busca de Áeris em si!
- Eu concordo! Depois do desastre inicial naqueles primeiros dias de busca da sua Imortal, no qual eu tentei te ajudar e acabei fazendo você entrar em combustão, a melhor ideia que tivemos foi tentar aperfeiçoar essa técnica. Demorou quase dois meses e nós ainda estamos em Portugal, mas eu sinto que já temos controle suficiente para tentar uma nova conexão! O que você acha?
- Eu aceito! - respondeu Alba animada - Finalmente vamos sair daqui! Portugal é legal, mas quase dois meses aqui foram suficientes!
- Nossa! Ver você tão animada assim é um lado seu totalmente novo para mim - disse Ethan, rindo - Em Birmingham você era bem mais reservada! Mas é um lado que eu estou gostando muito de conhecer!
- Eu só falo quando eu acho necessário! - respondeu ela indignada.
- Calma! Isso foi um elogio! - respondeu ele, ainda rindo - Você precisa aprender a receber elogios!
- Eu estou trabalhando nisso! Não force a barra ou eu vou ser obrigada a utilizar a única estratégia que eu conheço: agressão física! - disse ela, rindo e socando o ombro do elemental do fogo.
- Ai! - exclamou Ethan - Você tem o desenvolvimento emocional de um ser humano de cinco anos! Precisamos trabalhar nisso urgente!
- Falou a pessoa com desenvolvimento emocional de uma pessoa de... seis anos?
- O que?! Não! - protestou ele - Bem... tudo bem, eu não sou a pessoa mais indicada para te ensinar sobre como lidar com emoções mesmo, mas você precisa trabalhar nisso tanto quanto eu! Talvez por isso a gente se dê tão bem, nós dois temos um couraça para evitar ter que lidar com certas situações.
- É verdade... Mas ambos estamos nos esforçando! Um dia chegaremos no nível dos outros!
- Por falar nos outros, eu não vejo a hora de voltar para casa e poder abraça-los! Eu sinto falta de estarmos todos juntos! Conversando, discutindo, treinando!
- Eu nunca pensei que diria isso, mas eu também estou com saudades dos outros! Não a ponto de coisas como abraços, é claro! Talvez... apertos de mão?
- Tudo bem, eu retiro o que eu disse, até crianças de cinco anos lidam bem com abraços! Talvez você tenha o desenvolvimento emocional de um feto? - respondeu ele rindo.
- Ah não! Isso, com certeza pede por algum tipo de resposta em forma de agressão física!
- Espera! Eu sei de uma pessoa que vê vai querer abraçar e, talvez até mesmo... beijar! - disse ele, simulando uma cara de espanto - Que escândalo! Quem será?
- Eu sabia que não deveria ter te pedido conselhos sobre o Marco! - respondeu Alba, indignada - Mas você realmente parece uma pessoa bem sensata, antes de a gente realmente te conhecer!
- O que você quer dizer com isso?! - respondeu Ethan, agora também indignado.
- Nada, só queria ver a sua reação!
- Não achei graça! 
- Que bom, agora você sabe como eu me sinto em todas as nossas conversas! 
- Impossível! O Oliver me disse que eu sou hilário! Além disso, você já riu de várias das minhas piadas!
- Primeiramente, o Oliver te ama, por isso o senso de humor dele está totalmente desequilibrado quando se trata de você! Segundo, eu posso ter rido de uma ou duas piadas, no máximo, e apenas para não perder a amizade!
- Uau! Você está afiada! Mas, tudo bem, vamos fazer uma pausa nessa discussão e voltar ao que interessa: investirmos nossa energia em usar a nossa técnica para encontrar Áeris!
- Tudo bem... mas vamos voltar nesse assunto depois, pois eu tenho muito mais coisas para dizer que vão acabar com você!
- Não quero mais falar com você! Você não sabe brincar! - respondeu Ethan rindo. 
- Bem, você está pronto?
- Com certeza! Vamos lá! - disse ele, elevando ambas as mãos à altura dos ombros com as palmas viradas para fora.
- Vamos! - respondeu ela fazendo o mesmo, juntando as suas mãos às de Ethan.
- Lembre-se, tente sentir Áeris, mas assim que ouvir a minha voz você tem que parar imediatamente! Assim você não entra em total combustão e não precisaremos esperar os seus poderes voltarem!
- Certo! - respondeu ela - Chegou a hora, 3...2...1...

29 DE OUTUBRO DE 2018, HAMILTON, BERMUDAS, 6:48

- Há quanto tempo você vem pensando nisso? - perguntou Themba, olhando para o mar enquanto conversava com o elemental da eletricidade.
- A minha aparência física começou a me incomodar desde que eu atingi a puberdade - respondeu Cho, sentado ao lado de Themba - Antes disso, eu acho que não tinha muita coisa que me diferenciava de qualquer outro menino, mas, quando eu atingi essa etapa da vida, as mudanças drásticas que ocorreram, incluindo as intelectuais, me fizeram perceber que talvez eu tivesse "nascido no corpo errado". Por isso, desde 2016, eu tenho feito acompanhamento psicológico especializado e, há seis meses, eu decidi que vou fazer a transição! 

- Nós convivemos há tanto tempo e eu nunca percebi que você se sentia assim...
- Não é culpa sua, eu sou muito reservado! Além disso, antes de compartilhar isso com outras pessoas, eu precisava entender o que estava acontecendo! A minha psicóloga tem me ajudado bastante nisso e, hoje em dia, eu estou bem mais seguro e mais confiante!
- Eu imagino! Deve ser libertador poder compreender melhor quem você é!
- É extremamente libertador! - Exclamou Cho, sorrindo - A primeira vez que eu disse em voz alta para os meus pais que eu era um homem trans foi o momento mais emocionante da minha vida!
- Quando você contou para eles? E como eles reagiram a isso? Pode ser difícil para algumas pessoas compreenderem! Principalmente pessoas mais velhas ou que pertencem a culturas mais tradicionais.
- Você acabou de descrever os meus pais! - respondeu ele rindo - Eu contei para eles nas férias do ano passado e eles realmente tiveram muita dificuldade no começo, pois eu venho de uma família extremamente tradicional, na qual o conceito de homem trans é basicamente inexistente. Mas, a despeito disso, os meus pais se esforçaram desde o começo para tentar entender e, atualmente, estão bem mais tranquilos em relação ao assunto! Meu pai me chamou de filho na última vez que nos falamos pelo celular! Eu, simplesmente, me desmanchei em lágrimas!
- Eu fico muito feliz por você! - disse Themba - Mas, de agora em diante, eu exijo que você me peça ajuda sempre que precisar! Você sabe que eu e os outros elementais somos a sua família e você não precisa lidar com nada sozinho!
- Eu sei! - respondeu Cho - Eu prometo que não vou esconder mais nada de vocês! Vocês realmente são uma extensão da minha família e eu quero inclui-los nessa nova fase da minha vida!
- Os outros, com certeza, vão adorar o fato de você sentir que pode compartilhar isso com eles!
- Assim espero! Bem, o importante é que eles entendam que eu sempre fui e sempre serei um homem! Mesmo enquanto eu ainda não realizei a transição!
- Você já iniciou algum procedimento? Ou vai começar só quando voltarmos? Outra coisa, a sua psicóloga não vai estranhar que você ficou vários meses sem ir às consultas?
- Eu ia começar a terapia hormonal na semana em que partimos para a Espanha, mas, considerando toda a confusão nas nossas vidas no momento, eu pedi para adiar. Quanto à minha psicóloga, eu avisei que tinha uma "emergência familiar" e que precisaria me ausentar de Birmingham por alguns meses.
- Foi a decisão mais sensata! Mas eu tenho certeza que em breve estaremos de volta e você vai poder dar seguimento aos seus planos!
- Que assim seja! Mas, de qualquer forma, eu decidi que, assim que voltarmos dessa jornada, eu vou contar a todos, assim como contei para você! Espero que todos tenham uma reação tão boa quanto a sua! Ou melhor... tão engraçada quanto a sua!
- Eu já disse que estava com sono e você me pegou desprevenido! - protestou Themba.
- Mas de todas as coisas que você poderia perguntar ou comentar, por que você escolheria "tá, mas qual vai ser o seu novo nome?" - respondeu Cho rindo.
- Pareceu uma pergunta relevante na hora! Mas depois eu percebi que foi uma pergunta bem idiota! - confessou ele, rindo.
- Sim, de fato foi bem idiota - concordou ele - Mas, em nenhum momento, você tratou isso como algo absurdo e, para mim, isso foi o suficiente! 
- Claro! Se você me diz que é um homem e que agora eu devo usar pronomes masculinos para me referir a você, por mim tudo bem! Porém, em minha defesa, se você não tivesse um nome neutro, a mudança de nome seria algo mais relevante!
- Tudo bem! Eu admito que é um assunto medianamente relevante, mas não para a parte inicial da conversa! - respondeu Cho - Mas, a despeito disso, eu agradeço do fundo do meu coração todo o apoio que você tem me dado, tanto nesse assunto quanto na busca por Electris!
- Como eu disse, você pode contar comigo sempre! Além disso, você é tão bom no controle dos seus poderes que eu praticamente só precisei observar até agora!
- Obrigado! Eu acho que isso tem a ver com o modo como os meus pais me criaram. Desde sempre, eles me ensinaram sobre autodisciplina e autocontrole, então eu consigo sentir quando os meus poderes estão excedendo a minha capacidade de contê-los e quando devo cessar a técnica de conexão!
- Exato! Quando eu penso que eu vou ter que entrar em ação, você já conseguiu se controlar! Você precisa me ensinar como se faz! Eu quero poder encontrar o meu Imortal sem perder o controle também!
- Meditação ajuda muito nisso! Poderíamos aproveitar o fato de não ter ninguém além de nós aqui para meditarmos! Aqui é um ambiente perfeito!
- Eu topo! - Respondeu Themba animado.
- Então vamos lá! Senta nessa posição - disse Cho, sentado na areia com as pernas flexionadas uma sobre a outra à frente do corpo e a parte de trás da mão direita pousada sobre a palma da mão esquerda, repousando sobre as pernas. Themba imitou a postura e, assim, ambos iniciaram o processo e meditação.

30 DE OUTUBRO DE 2018, SOCOTRA, IÊMEN, 12:48


- Eu não acredito que finalmente chegamos! - Disse Gabriela, pulando de alegria embaixo de uma árvore de mais de dez metros de altura.
- Uau! Eu nunca vi nenhuma árvore igual a essa! A copa parece um guarda-chuva - respondeu Sophie, encantada - Mas você tem certeza que essa é a árvore certa?
- Absoluta! A minha conexão com Florên está cada vez mais forte e ela nos trouxe, especificamente até a mais antiga Dracaena Cinnabari, mais popularmente conhecida como árvore sangue-de-dragão. Essa é uma árvore encontrada apenas nessa ilha e o formato da copa é algo singular sobre ela, o que a diferencia de qualquer outra espécie!
- Por que esse nome? - Perguntou Sophie, curiosa.
- Essa é outra coisa que a diferencia das outras! A seiva proveniente deste tipo de árvore é vermelha como sangue!
- Que interessante e, ao mesmo tempo, estranho! - Exclamou a elemental da água - Bem, mas e agora? Como vamos achar o santuário de Florên?
- Quando o Ethan chegou na entrada do santuário de Flamus, ele teve que demonstrar os seus poderes, então talvez eu deva fazer o mesmo - disse a elemental das plantas, tocando o tronco da árvore. Imediatamente, uma porta apareceu na casca da árvore e, acima dela, estava escrita a seguinte mensagem: Bem-vinda elemental! A partir deste ponto, deixe que a sua essência mostre o caminho!
- O que ela quer dizer com isso?! Da última vez, o resultado foi a perda da nossa essência humana! Será que é a mesma coisa?
- Eu não sei, mas, de qualquer forma, eu não tenho muita escolha! Nós nos esforçamos muito para chegar até aqui e eu estou disposta a correr qualquer risco para finalizar a nossa missão! - disse Gabriela, decidida - Mas eu entendo se você quiser esperar aqui!
- Claro que não! Imagina se eu vou deixar você entrar sozinha! - Respondeu Sophie, determinada - Nós vamos entrar juntas e enfrentar quaisquer perigos que nos aguardem! Juntas!
- Obrigada Sophie! Então, vamos entrar?
- Vamos! Mas eu realmente espero não perder o meu corpo de novo! Eu gosto dele!
- Claro, com esse corpo, quem iria querer perder! - disse Gabriela, rindo.
Pode parar! Eu já disse que ainda não tenho certeza sobre o que aconteceu! Talvez tenha sido o vinho, o fato de estarmos em uma praia de nudismo... eu não sei, mas eu preciso de mais tempo para processar isso! Além disso, do que você está reclamando? Você é linda! - Finalizou Sophie, segurando a mão de Gabriela.
- Eu sei, eu estou apenas brincando! - respondeu a elemental das plantas, tocando a face de Sophie - E você sabe que não há pressão nenhuma da minha parte! Embora eu esteja plenamente certa de como eu me sinto em relação a você!
- Obrigada! Isso tudo é muito novo para mim! Eu jamais imaginei que algo assim iria acontecer... eu não sabia que você era...
- Lésbica? Nem eu! Na verdade, eu não sei nem se eu sou lésbica, bi, curiosa ou qualquer outra coisa. Eu também estou tentando entender o que aconteceu em Saint-Tropez, mas de uma coisa eu tenho certeza, eu gostei do que aconteceu entre nós e de que eu gosto de você!
- Eu não posso negar que tenha sido bom, mas os meus sentimentos em relação ao que aconteceu quando estávamos na França ainda estão confusos, então eu preciso me focar no que viemos fazer! - finalizou Sophie, gentilmente soltando a mão de Gabriela - Mas eu prometo que podemos conversar sobre isso quando voltarmos para casa.
- Tudo bem! Como eu disse, sem pressão!
- Eu agradeço! Então, é isso! Vamos lá?
- Vamos! - dito isso, a elemental das plantas segurou a mão de Sophie e tocou a porta na casca da árvore, adentrando-a. Porém, assim que entraram, elas perceberam que não havia qualquer tipo de iluminação no local, ou seja, teriam que achar o caminho sem poder enxergar nada - Bem, agora sabemos o que ela quis dizer com "deixe sua essência mostrar o caminho".
- Faz sentido! - respondeu Sophie - Pelo menos, ainda estamos nos nossos corpos, embora eu não seja de muito ajuda aqui, pois não posso produzir luz e não tenho como nos guiar!
- Não se preocupe, eu vou no guiar! Mas preciso que você siga exatamente o que eu disser e fique ao meu lado o tempo todo!
- Pode deixar! Você guia o caminho!
- Ótimo! A primeira coisa que eu vou fazer é verificar quanto espaço nós temos e me assegurar de que o chão é seguro de andar - dizendo isso, Gabriela materializou diversos ramos, os quais se multiplicaram para todas as direções possíveis - Aparentemente, só temos uma opção: há um declive à nossa direita que leva ao que parece ser um túnel, com, pelo menos, 500 metros de comprimento. O chão parece firme, mas vamos nos manter juntas para o caso de qualquer tipo de armadilha!
- Nossa, você colheu todas essas informações por meio dos ramos? - disse Sophie, surpresa - Isso é incrível! Agora temos alguma pista do caminho até Florên!
- Parece que sim... mas essa aparente facilidade em encontrar o caminho me deixa preocupada! Então, vamos ser cuidadosas!
- Concordo! Mas precisamos avançar ou então nunca chegaremos lá! - disse Sophie, gentilmente empurrando Gabriela - Com ou sem perigos iminentes, precisamos seguir em frente!
- Você tem razão! Vamos em frente! - respondeu Gabriela, caminhando para o declive e seguindo pelo túnel que ela tinha identificado.