sábado, 10 de maio de 2014

Capítulo 6 - Seguindo em Frente (Cont.)

No outro dia, Enzo foi acordado por alguns gritos que vinham do lado de fora de sua casa, então se levantou e abriu a janela para verificar que, para sua surpresa, o seu pai estava gritando com alguém que ele, depois, percebeu ser Daniel. Assim, rapidamente, ele vestiu uma roupa e correu até a frente da sua casa onde Roberto bradava:

- EU JÁ MANDEI VOCÊ IR EMBORA DAQUI RAPAZ!
- Pai, o que está acontecendo? - perguntou Enzo, olhando para os lados, onde alguns vizinhos estavam observando.
- ESSE CARA NÃO TEM NADA O QUE FAZER AQUI! - bradou novamente Roberto.
- Pai, tudo bem...eu resolvo isso! Mas pare de gritar, por favor! Os vizinhos já estão olhando! - disse Enzo encabulado.
- Mas, meu filho, o que você ainda quer conversar com esse rapaz, que te fez tanto mal?
- Eu explico melhor daqui a pouco, só entre em casa por favor!
- Tudo bem, mas qualquer coisa é só me chamar!
- Tudo bem pai, muito obrigado! - Enzo observou o pai caminhar e entrar em sua casa, então se virou para Daniel e disse: - Oi Daniel!
- Nossa, que bom que o seu pai ainda me adora né? - respondeu Daniel rindo - Bom dia Enzo!
- Bom, não é sem motivo certo?! - respondeu Enzo, de braços cruzados e com uma expressão séria - O que estás fazendo aqui?
- Bem...isso é verdade - respondeu Daniel com uma expressão de constrangimento, então complementou - Bem, eu vim te oferecer uma carona para a UFTU! Aceitas?
- Eu não vou para a aula hoje! Eu vou a uma consulta.
- Ah...bem, então eu volto amanhã!
- Daniel...eu não acho uma boa ideia! - afirmou Enzo, com um tom calmo e ponderado - meu pai realmente não te vê com bons olhos atualmente e, além disso, a Frida não vai gostar disso!
- Mas eu pensei que nós voltaríamos a ser amigos!
- E nós somos Daniel! Mas não força a barra, por favor! A gente precisa ir com calma e, com certeza, você vir me buscar em casa não me ajuda a te dissociar do papel de namorado e não de amigo!
- Mas eu sempre de busquei e te deixei na tua casa! Mesmo antes de te beijar na cozinha da casa da Frida!
- Eu sei, eu sei! - aquela lembrança fez o estômago de Enzo se revirar - mas eu acho melhor isso não ocorrer por enquanto! Eu não sei se já te disse isso, mas esse era o melhor momento do meu dia, por isso ainda é muito significativo para mim.
- Eu entendo... - Daniel estava com uma expressão triste - Nesse caso, eu já vou. Desculpa o incômodo!
- Não fica assim Daniel, isso me deixa triste!
- Do que você está falando?
- Daniel, podes tentar mentir para outra pessoa, mas eu sei muito bem quando estás triste! Fazes um olhar de cachorro com fome! - Enzo riu.
- Não é verdade! - respondeu Daniel, rindo também.
- Olha, desculpa, eu sei que estás te esforçando para reatar a amizade. Eu aprecio muito isso, mas ainda tenho algumas restrições e acho que podes entender o porquê.
- Sim, eu entendo!
- Pois é, mas como uma demonstração de que eu também estou me esforçando eu quero te convidar para dar uma volta hoje! Lanchar, passear e conversar! A velha tríade!
- "A velha tríade"! Eu me lembro disso! - disse Daniel risonho.
- E aí, aceitas?
- É claro que aceito! Mas...eu posso vir te buscar!
- Olha, eu acho melhor não! Mas eu aceito que me tragas de volta! Tudo bem assim?
- Já é um começo!
- Então estamos combinados! Agora dá o fora, antes que meu pai venha te dar um soco! - finalizou Enzo  entre risos.

Depois disso, Enzo caminhou até a sua casa e, ao passar pela sala, encontrou seu pai lhe esperando na sala, o qual, prontamente, disse ao vê-lo:

- Enzo, o que aquele rapaz estava fazendo aqui?
- Pai...eu sei que o senhor não vai aprovar isso, mas ontem ele veio me pedir para eu perdoá-lo e para nós voltarmos a ser amigos e, bem...eu aceitei.
- Meu filho, eu tive que te buscar naquela festa, porque vocês estava simplesmente encolhido no chão do banheiro! E por causa dele! você lembra disso?
- Eu lembro pai, mas pega leve com ele, afinal a mãe dele morreu há pouquíssimo tempo! Confia em mim, eu acho que é melhor assim!
- Olha filho, nada justifica aquele tipo de atitude, então, se realmente fores dar uma segunda chance para ele, faça isso porque quer e não por pena, tudo bem? Eu sei que você é uma pessoa sensata, mas às vezes erramos em nossas escolhas, então eu só te peço para ter cuidado com essa relação! Não deixa ele te ferir novamente filho!
- Ah pai, obrigado pela preocupação! - Enzo abraçou o pai.
- É o meu papel meu filho! Eu te amo muito para deixar qualquer pessoa te machucar!

Assim, Enzo resolveu a situação com o pai e se arrumou para ir à consulta médica que estava marcada para 10:00. Como de costume no último mês, Pietro sempre acompanhava Enzo para todos os lugares e, quase sempre, utilizando o carro que ele afirmara ser do tio. Isto despertou a curiosidade de Enzo que, enquanto os dois estavam na sala de espera da clínica, indagou:


- Pietro, o teu tio não usa muito o carro né?
- Por que estás perguntando isso? - respondeu Pietro sobressaltado.
- Ah, não sei, eu sempre te vejo com ele! - afirmou Enzo.
- Enzo...se eu te confessar uma coisa, prometes não ficar chateado?
- Depende...o que é?
- Bom...é que, na verdade o carro é meu!
- SABIA! - gritou enzo, o que atraiu a atenção de algumas outras pessoas presentes na sala de espera, então, baixando o tom de voz, continuou: - mas por que mentiu para mim?
- Como sabias? - indagou Pietro surpreso.
- Ah Pietro, não é preciso ser um gênio para perceber que as tuas coisas vivem jogadas pelo carro e os teus CDs estão sempre por lá também! Mas, por que mentiu para mim menino?
- Ah... - Pietro corou - acho que eu não sei mentir muito bem, certo? - ele riu então, continuou - não menti por mal Enzo, apenas não sabia como te dizer a verdade depois que eu já tinha dito naquele dia que eu sempre andava de ônibus!
- Mas por que dissestes isso então?
- Eu queria te acompanhar até a parada e continuar conversando contigo! Depois voltei e peguei o carro no estacionamento - Pietro continuava corado - Sinto-me meio idiota nesse momento!
- Relaxa, não és idiota não! Mas se mentir para mim de novo eu vou te bater! - Enzo riu.

Depois da consulta, Pietro e Enzo foram para a UFTU, para as suas respectivas aulas da tarde, porém, como ainda estava cedo, eles resolveram almoçar na "Snacks". Entre muita conversa e uma farta refeição, o tempo passou e os dois foram para as salas de aula. Quando Enzo chegou à sua sala, encontrou Frida, que, para sua surpresa, veio falar com ele:

- E aí Enzo?! Eu vim perguntar o que você quer com o meu namorado! - ela finalizou apontando o dedo indicador para o rapaz.
- Frida, você tem dois segundos para tirar esse dedo da minha frente ou vai precisar de reabilitação depois! E, quando à sua pergunta, eu não quero nada que não seja uma boa relação de amizade! - Enzo sorriu e piscou para ela.
- Eu acho melhor que seja isso mesmo!
- Frida, eu não te devo qualquer explicação e também não fico nem um pouco amedrontado com qualquer ameaça sua! Agora faz o favor de voltar para o teu lugar!
- Eu voltarei porque eu quero! Só mais uma coisa, eu acho que formas um casal melhor com aquele desajeitado com quem estás sempre andando agora! - ela riu e se dirigiu à sua cadeira.

Durante a aula, Enzo recebeu uma mensagem de Daniel: vamos sair depois da tua aula tá? eu saio ás 18:00 e eu sei que vais sair às 17:00, então me espera na "Snacks" e quando eu sair te encontro lá. Assim, quando a aula terminou, Enzo fez como o rapaz tinha dito, esperou na lanchonete até o horário marcado, enquanto lia algumas anotações e estudava alguns assutnos. Daniel chegou quase pontualmente no horário, dizendo com um semblante abatido:

- Oi Enzo...
- Oi Daniel! Aconteceu alguma coisa? Estás com uma cara abatida.
- Por que não me contastes que estás namorando de novo?
- Por que eu não estou! - respondeu Enzo calmamente - quem te disse isso?
- Uma fonte segura! Apenas pensei que fosses sincero comigo!
- Olha Daniel... - disse Enzo irritado - em primeiro lugar, sabes muito bem que eu odeio que me acusem injustamente e sem provas! em segundo lugar, eu não te devo satisfação e nem preciso da tua permissão para que eu possa namorar ou não alguém!
- Ah claro, isso porque você disse que tinha ficado arrasado com o término do nosso namoro! Imagina se não tivesse ficado!
- Como ousas falar disso! E como ousas continuar me acusando! - Enzo se levantou da cadeira em que estava.
- Por que eu sei que estás namorando com aquele tal de Pietro! Qual é? Por que não admite logo, vocês dois estavam juntos naquele dia da festa, vocês vivem juntos o tempo todo! Até deixastes ele te trazer de carro hoje.
- Eu já disse que não te devo satisfação! E, para a sua informação, o Pietro tem sido um amigo tão bom ou até melhor que você! - Enzo caminhou furioso até a saída da lanchonete.

Enquanto caminhava distraído pela calçada, em direção à parada de ônibus, Enzo não percebeu que uma figura se aproximava dele, até que sentiu o cano de um revólver tocar em suas costas e alguém dizer: - passa a carteira!
Minutos depois que a figura que o abordara havia deixado o local com a sua carteira, Daniel chegou ao local e, ao ver Enzo ainda atordoado, disse:

- Enzo? Aconteceu alguma coisa?
- Eu acabei de ser roubado! - Enzo falava pausadamente - o cara apontou uma arma para mim! Isso...isso foi horrível!
- Meu Deus! Mas estás bem?
- É claro que eu não estou bem Daniel! E já era para eu estar em casa se eu não tivesse que esperar você sair da aula, somente para me importunar a paciência!
- Eu vim pedir desculpas Enzo...eu não sei porque eu agi daquele jeito!
- Eu sei! Porque você é um idiota! E quer saber, eu acho que isso não vai dar certo! Eu não quero ter que ficar te desculpando todo santo dia! Vamos voltar a como estava antes tá? Eu preciso seguir em frente e você não está colaborando nenhum pouco!
- Eu já disse que sinto muito!
- Tudo bem por aqui? - disse Pietro que havia chegado repentinamente.
- Oi Pietro! - respondeu Enzo - Tudo bem sim!
- Estás precisando de ajuda? Parecia que vocês estavam discutindo.
- Bom, nós estávamos de fato! Mas está tudo sob controle! Porém, eu acho que vou precisar de ajuda com outra coisa, porque eu acabei de ser roubado e fiquei sem dinheiro para voltar para casa, então será que poderias me dar uma carona?
- Claro Enzo! Vamos logo!
- Podes ir logo pegar o carro enquanto eu termino de conversar com o Daniel? Por favor.
- Posso sim, te espero no estacionamento tá?
- Tudo bem! Muito obrigado Pietro! Te encontro daqui a pouco.
- Por que pediu carona para ele? Eu posso muito bem te deixar em casa!
- Eu sei, mas eu não quero! Daniel, eu fiquei muito chateado com o que me dissestes hoje! Pensa bem, aparecestes namorando com a Frida só alguns dias depois de ter terminado comigo, e sabe o que eu fiz? Eu chorei! Mas eu toquei no assunto desde então? é claro que não! Uma amizade às vezes necessita que as pessoas finjam que certas coisas não aconteceram e você, simplesmente, não consegue! Então, se você for ficar me fazendo recordar cada dia que nós namoramos e que você agiu como um crápula comigo, eu, sinceramente, acho que isso não vai dar certo!
- Eu... eu não sei o que dizer! - Daniel baixou a cabeça.
- Não diz nada - Enzo, para surpresa de Daniel, abraçou o ex-namorado - apenas siga com a sua vida e me deixe seguir com a minha. Eu juro que eu queria que pudesse ser diferente, mas acho que nós não podemos nem mesmo ser amigos! - Enzo se afastou de Daniel, enquanto limpava algumas lágrimas do rosto - eu te amo demais para isso e acho que estar tão próximo de você talvez seja mais doloroso do que eu pensei!
- Enzo...
- Daniel, a pessoa por quem eu me apaixonei não existe mais, porém eu pensei que o meu melhor amigo ainda estivesse aí em algum lugar! Aquele que fazia cada segundo do meu dia mais feliz!
- Eu ainda posso ser esse cara...
- Eu acho que não! Esse seu ciume me faz ter esperanças que você me disse há algum tempo que não existem mais e isso me faz mal!
- Enzo, eu não quero ficar longe de ti! Esse mês em que não nos falamos foi horrível!
- Eu também me senti da mesma forma, mas eu acho que preciso de um tempo maior para, efetivamente, seguir em frente! Deixar de te ver, para mim, é um mal necessário! Espero que possas compreender! Eu não estou mais com raiva de você, é só que eu não consigo lidar com isso como eu achei que conseguiria!
- Eu compreendo! Mas me diz, pelo menos, que isso não é um fim e sim uma pausa!
- Nada é um fim nas nossas vidas Daniel! Eu não posso controlar o dia de amanhã, mas, por hoje, eu acho melhor não nos vermos mais!

Enzo saiu caminhando de volta para o estacionamento da UFTU, onde encontrou Pietro lhe esperando. Este apenas disse:

- Tudo bem mesmo?
- Nem um pouco! Me leva para casa , por favor!
- Como quiser!

Durante a viagem de volta para casa, Enzo se permitiu chorar e aliviar os sentimentos que ele vinha tentando conter em relação a Daniel, pois ele sabia que Pietro não diria nada até que ele estivesse pronto para falar. Quando chegaram em frente da sua casa, ele ainda demorou a sair do carro, para tentar se recompor, então, finalmente, desceu e caminhou em direção à casa, depois de agradecer e se despedir de Pietro, que realmente não tinha dito ou perguntado nada durante toda a viagem. Ao passar pela sala, o rapaz apenas cumprimentou brevemente os pais e correu diretamente para o quarto, onde se deitou e adormeceu em poucos minutos, pois estava cansado e não conseguiu se permitir pensar ou refletir sobre o que acontecera naquele dia.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Eu Não Quero Voltar Sozinho (Eu Não Quero Voltar Sozinho)

Eu Não Quero Voltar Sozinho (Eu Não Quero Voltar Sozinho), 2010


Neste curta, Leonardo (Ghilherme Lobo) é um adolescente deficiente visual, cuja vida muda totalmente com a chegada de Gabriel (Fabio Audi), um novo aluno em sua escola. Os dois passam a formar um trio praticamente inseparável em conjunto com Giovana (Tess Amorim), a melhor amiga de Leonardo. Com o passar do tempo, Leonardo passa a vivenciar um novo tipo de sentimento por Gabriel e experimenta a inocente descoberta do primeiro amor.

Trailer




quinta-feira, 8 de maio de 2014

Capítulo 1 - A Benção dos Imortais (Cont.)

08 DE NOVEMBRO DE 2012, 16:07

Há dois dias Ethan vem treinando incansavelmente para atingir a meta que Flamus havia estabelecido para a primeira fase do treinamento: controlar um grande quantidade de lava do Vulcão Yellowstone, onde fica localizado o palácio de rocha ígnea do imortal.
O garoto já havia manipulado o fogo inúmeras vezes desde que descobriu os seus poderes, por isso o imortal estabeleceu que ele deveria aprender a controlar algo mais complexo, praticamente incontrolável e implacável, ou seja, a lava.
Neste período em que vem tentando controlar a lava, o garoto teve pouco progresso, pois a sua meta de desviar o fluxo da lava não vem dando certo e este sempre acaba submerso no material. Embora Ethan possua a habilidade dos elementais de fogo de resistir à combustão causada pelo contato com o fogo, isto não é tão efetivo nesse contexto, pois, devido à lata temperatura da lava e ao grande esforço exigido para resistir a ela, este acaba sofrendo queimaduras graves, as quais são rapidamente curadas por Flamus.
Somente às 16:07 o garoto conseguiu algum progresso, quando, efetivamente, desviou o fluxo da lava para ambos os seus lados e criou um "rasgo" no material, que fluiu durante cinco minutos sem tocá-lo, Porém, repentinamente, Ethan sentiu a pele fervilhar e manchas vermelhas aparecerem, então caiu no chão e foi envolto pela lava novamente.
Quando o garoto recobrou a consciência, viu Flamus ao seu lado e percebeu que estava deitado na cama que o imortal tinha lhe designado para dormir no palácio. Quando o viu consciente, Flamus imediatamente lhe disse:

- Eu já lhe disse para ter cuidado Ethan! Você excedeu as suas energias,! Quantas vezes vou ter que explicar o que acontece quando isso ocorre?
- Desculpa Flamus! Relaxa, eu sou só um garoto! Queria ver se estivesses no meu lugar! - Ethan tinha a habitual expressão de indignação no rosto.
- Como assim no teu lugar? - Flamus estava perplexo.
- Queria ver você sendo meramente um mortal com um poder tão grande para lidar e não um ser todo imponente como és!
- Agradeço o elogio! E eu entendo a sua dificuldade meu jovem, mas eu eu preciso lhe advertir disso sempre, afinal eu não vou estar lá toda vez que isso, eventualmente, acontecer no futuro! Então, ou você aprende a controlar os seus poderes ou eu vou ter que me contentar em perder um excelente elemental só porque ele não conseguiu se controlar!
- Você acha mesmo que eu sou excelente Flamus? Quero dizer, eu não consigo me controlar e ainda nem consegui passar dessa primeira meta! - O garoto rapidamente assumiu uma expressão, concomitantemente, de surpresa e contentamento.
- Mas é claro Ethan! Absolutamente! És um dos melhores elementais que eu já treinei e, para sua informação, esta é a segunda etapa do treinamento, mas para você é a primeira já que não há muito mais que eu posso lhe ensinar sobre controle do fogo simples.
- Sério? Então eu realmente sou bom?!
- Claro que sim!Só precisa treinar um pouco mais.
- Eu vou me esforçar ainda mais Flamus! Eu quero ser o melhor elemental do fogo que já existiu e... - a expressão de Ethan se tornou, repentinamente, pesarosa - também...também quero fazer algo que pudesse deixar o meu pai orgulhoso!
- Eu tenho certeza que ele já estaria orgulhoso de teres aceitado realizar o treinamento Ethan! - Flamus colocou a mãe na cabeça do garoto e bagunçou seu cabelo em um gesto de apoio e confortamento - aliás, eu acho que tem outra coisa que o deixaria orgulhoso também, o que me leva à outra notícia que eu tenho para te dar...
- O que é Flamus? Fala! - O garoto pulava de ansiedade.
- Bem, eu acho que temos a nossa primeira missão, se é que posso chamar assim...bem, deixe-me explicar: alguém acabou de criar uma cúpula de gelo em uma cidade da Sibéria e, geralmente, nós Imortais resolvemos essas coisas...porém, já que você tem demonstrado tanta destreza no uso do fogo, achei que poderia vir comigo e praticar um pouco. O que achas?
- Eu acho que estamos perdendo tempo! - O garoto pulou da cama - Vamos logo!
- É assim que um elemental do fogo deve pensar! Tentar usar a sua impetuosidade para algo produtivo! Gostei de ver! Então vamos!
- Mas como vamos chegar lá Flamus?
- Bem, eu geralmente me transporto através de combustão espontânea e me rematerializo no local onde eu quero, mas creio que isso seja muito avançado para você, então vamos utilizar a ligação geológica entre os vulcões e nos transportar até os Trapps Siberianos!
- O que é isso?
- É uma região de formação ígnea muito antiga da Sibéria!
- Mas como faremos para usar essa ligação geológica?
- Bem, é só você se concentrar no local onde quer ir quando estiver dentro da lava!
- Dentro da lava?!! - Ethan tinha empalidecido e agora suava muito.
- Não se preocupe Ethan, nada vai te acontecer enquanto estiver comigo, mas não tente isso enquanto estiver sozinho e ainda não tiver controle sobre a lava, tudo bem?
- Nem precisa mandar duas vezes!
- Certo, então vamos!

Os dois caminharam para fora do palácio e se debruçaram sobre a cratera, cujo fundo estava cheio de lava, então, antes de pularem, Flamus disse:

- Seguro no meu braço Ethan, eu preciso manter algum contato contigo, para que possas resistir à ação da lava.
- Certo! - o garoto prontamente segurou no braço esquerdo de Flamus, então ambos pularam em direção à lava.

Quando atingiram o material, Ethan sentiu como se estivesse acabado de mergulhar em um lago e, logo em seguida, sentiu como se uma forte corrente o puxasse. Esta se tornou cada vez mais intensa, até que ele começou a sentir um zumbido no ouvido, devido à grande pressão do fluxo. Segundos depois a velocidade diminuiu e eles emergiram em uma grade cratera feita de rocha ígnea. Prontamente Ethan disse:

- Nossa! Que experiência ao mesmo tempo assustadora e empolgante! Algum dia eu vou ser capaz de viajar assim Flamus?
- Claro Ethan! Mas eu confesso que você vai preferir utilizar a combustão espontânea, pois a lava é muito traiçoeira e mesmo um elemental bem treinado pode sucumbir a ela!
- Mal posso esperar para poder fazer isso sozinho!
- Impulsivo como sempre! - Flamus deu um risada longa, então disse: Bem, agora vamos andando, porque ainda estamos relativamente distante de Ulan-Ude!
- Certo, e como chegaremos lá dessa vez?
- Bem, agora que já estamos perto, nós podemos utilizar a combustão espontânea!
- Como isso funciona? Nós vamos explodir?
- Não meu jovem, nós apenas vamos transformar as partículas do nosso corpo em energia, então vamos viajar rapidamente pelo espaço e então, vamos nos reconstituir no local onde queremos!
- Isso parece complicado!
- Não se preocupe, esse é um processo que dura pouquíssimos segundos e sou eu quem vai realizá-lo!
- Mas então por que não fizemos isso desde o começo?
- Porque eu preciso que, quando estivermos em forma de energia, você se mantenha concentrado no local para onde vamos e no desejo de permanecer em forma de energia! Qualquer pensamento fora esse pode te fazer se reconstituir parceladamente pelo caminho! Assim,  distância influência muito, porque o tempo de viajem é maior, principalmente quando teríamos que atravessar continentes para chegar aqui! Além disso, para um elemental do fogo, se concentrar é um ato que requer muito esforço, já que vocês são muito impulsivos!
- Ah...entendi! Certo, eu não quero minhas partes sendo materializadas pelo caminho!
- Muito bem, então mantenha em mente: Ulan-Ude e deseje de todo o seu coração que você permaneça em forma de energia!
- Entendi! Eu estou pronto!
- Então lá vamos nós!

Ethan viu uma labareda surgir das mãos de Flamus e envolvê-los, lentamente, em um redemoinho de fogo, então percebeu que seu corpo estava se desmaterializando de baixo para cima. Quando viu sua cintura ser desmaterializada ele sentiu novamente um fluxo que o puxava em alguma direção, então ele pensou insistentemente em Ulan-Ude e manteve em mente que queria permanecer em forma de energia. Segundos depois ele se viu de pé ao lado de uma casa toda coberta de gelo, acompanhado por Flamus e rodeado por uma fumaça que, rapidamente, se dissipou. Depois de se recuperar da experiência ele disse:

- Você não disse que seria rápido?
- Bom, eu queria te mostrar como "combustar", então eu fiz o processo de forma mais lenta que o normal, por isso você viu as suas partes se desmaterializarem! Mas eu te asseguro que isso não acontece!
- Espero que não, foi muito estranho! E o que é "combustar"?
- Eu imagino que sim! Ah, é um termo que um dos elementais criou para esse processo, para não dizer "entrar em combustão". Outro se referiu ao outro modo, como lavear, acredita? - Flamus ria simpaticamente enquanto falava.
- Gostei desses termos! Bom, eu achei, aparentemente, mais fácil lavear do que combustar!
- Isso é porque combustar exigiu uma atitude semi-ativa da sua parte, enquanto lavear pôde ser realizado inteiramente por mim, mas eu ressalto que lavear é, com certeza, muito mais perigoso!
- Enfim, pretendo aprender corretamente os dois!
- Que legal Ethan, eu estou gostando muito do seu empenho no treinamento, eu confesso que achei que você fosse ser outro problemático que eu teria que ensinar!
- E não sou?
- Para os padrões de um elemental do fogo? Você é quase um anjo - Flamus riu novamente.
- Sério? - Ethan se juntou à risada, então indagou - Seus discípulos eram tão ruins assim?
- Não me entenda mal, eles não eram ruins, apenas tinham um temperamento bastante dificil. Assim, treiná-los sempre exigiu de mim a habilidade de contornar essa característica! O que pode levar algum tempo, dependendo do caso. Mas eu sempre achei muito quando eu conseguia e me afeiçoei a praticamente todos os meus discípulos.
- Quase todos?
- Bem, digamos que os elementais não deixam de ser humano, então não podemos controlar as suas ações e nem de quem vocês gostam, então, algumas vezes, nossa relação acaba sendo somente de treinadores-discípulos e, quando vocês estão prontos, saem pelo mundo em busca de aventuras, sem nunca manter contato. Há também casos, em que o elemental acaba usando o treinamento e os poderes para algo ruim e/ou se voltando contra o seu próprio Imortal, como é o caso dessa pessoa que fez isso à esta cidade - Flamus estava apontando para algo que Ethan ainda não tinha percebido. Havia uma cúpula maciça de gelo envolvendo um ponto da cidade, na qual haviam pessoas congeladas em posições que evidenciavam o seu desespero e horror no momento do congelamento.
- Mas quem faria isso?
- Bem, foi uma elemental do gelo para quem o meu primo deu um treinamento de primeira qualidade, porém, ela se tornou tão poderosa que acha que pode fazer o que quiser com os poderes, até mesmo se vingar de algumas pessoas que lhe tratavam mal em sua cidade natal.
- Isso tudo foi só por vingança?
- Foi...ela era meio instável e o meu primo é um pouco coração mole, então não acho que ele tenha visto maldade nela durante o treinamento.
- Já está falando mal de mim primo? - Gélim acabara de se materializar bem em frente aos dois e, atrás dele, estava um garoto de 12 anos: Oliver.
- Estava apenas falando a verdade! Você é mesmo um coração mole!
- Se chama flexibilidade Flamus, mas não acho que você conheça essa palavra certo? Além disso, é justamente por eu ser um "coração mole" que eu continuo gostando de você! Agora dê um abraço no seu primo, que, diga-se de passagem, você não visita há muito tempo!
- Digamos apenas que eu não aprecio muito aquele clima onde você vive!
- Tampouco eu aprecio ter que ir até a boca de um vulcão para poder te ver, mas isso nunca me impediu - Nesse momento, Gélim notou a presença de Ethan, então disse: - Ah, suponho que este seja o seu atual elemental!
- Ah sim, este é o Ethan.
- Muito prazer Ethan - o Imortal estendeu a mãe em um gesto de cumprimento, ao qual Ethan retibuiu - Meu nome é Gélim e eu sou o Imortal do gelo! - Depois ele puxou Oliver para a sua frente e continuou: - E este é Oliver, o meu atual elemental! - os dois garotos apertaram rapidamente as mãos, enquanto Gélim ainda falava -  Espero que você seja tão talentoso quanto ele!
- É claro que ele é! Talvez até mais!
- Ora, você ainda não parou com essa sua mania de competir em tudo? Vamos ao que interessa,  aonde ela foi? - Gélim movia a cabeça freneticamente para observar o lugar.
- Aonde quem foi? - perguntou Ethan.
- Bem Ethan, como eu disse, quem fez isso foi uma elemental do gelo muito poderosa, que não teme nem mesmo os Imortais, então ainda deve estar por aqui - disse Flamus.
- Ela teria coragem de enfrentá-los? - disse Oliver, timidamente.
- Ah sim Oliver, não seria a primeira vez! - respondeu Gélim.
- Não que nós não possamos derrotá-la, mas o meu primo aqui não quer acabar com ela...ele acha que ela está com problemas e precisa de ajuda! - afirmou Flamus.
- Flamus, por favor, não faça nada contra ela, eu preciso conversar a sós com a Nádia para ver o que está acontecendo!
- Relaxa primo, eu não quebro as minhas promessas! Apesar de lamentar fazê-las - Flamus suspirou então disse: - Bem, o que faremos então?

Gélim não precisou responder, pois um bloco maciço de gelo atirado de trás de um a casa veio em direção a eles, o qual foi derretido por Flamus. Em seguida, uma moça aparentando ter 25 anos surgiu vinda do local de onde havia sido atirado o bloco de gelo. Ela tinha longos cabelos ruivos e cacheados, pele branca, como a neve que a envolvia, lábios extremamente vermelhos e volumosos, nariz pequeno, olhos castanhos penetrantes e media, aproximadamente, 1,80 m. Depois de andar alguns passos, ela, finalmente, disse:

- Olá mestre! Que bom te reencontrar de novo! Por que você está aqui? - Um sorriso malicioso cortava a parte inferior do seu rosto.

sábado, 3 de maio de 2014

Capítulo 5 - Revolução: A Homorevolta

Os dias que se seguiram à fuga de Heliópolis foram os piores da minha vida, porém a presença de Bernardo e Manoel amenizaram os seus efeitos, afinal, apesar de tudo, eu estava com a minha família.
Tomás e William também se mostraram pessoas muito agradáveis e fiquei surpreso em saber que eles escondiam um romance, há 10 anos, bem diante do meu pai, o que, segundo eles, era muito perigoso e ao mesmo tempo lhes despertava uma sensação que avivava a relação.
Porém, o que mais me surpreendeu em relação à relação daquele casal, foi a revelação de que, há um ano, enquanto eles viajavam coletando impostos, eles se casaram em um pequeno vilarejo no qual, tal como Luminus, a relação homoafetiva era considerada absolutamente normal.
Assim, no nosso quarto dia de viagem, após termos dormido em clareiras - encostados em troncos de árvores ou aninhados nos galhos mais altos -, nós paramos em um vilarejo que, aparentemente, estava despovoado, então adentramos uma casa e nos alojamos. Prontamente, William, que parecia ser o mais centrado e decidido da equipe, disse:

- Não poderemos ficar muito tempo! Precisamos verificar se há suprimentos, tomar um banho, trocar nossas roupas e continuar na estrada!
- Certo! Eu verificarei a dispensa e vocês três podem ir tomar banho e trocar de roupa!
- O que aconteceu a esse lugar William?
- Bem, digamos que Conde Rafael esteve aqui!
- Não me diga que este é o vilarejo de que vocês tinham falado?
- Sim...Infelizmente, este é o local onde nós nos casamos...Ele foi invadido, há dois meses, por Conde Rafael!
- Mas eu pensei que ele não tivesse domínio sobre Heliópolis!
- E não tem...ou não tinha...Mas nós não estamos mais em Heliópolis Felipe! Estamos no vilarejo de Gorgi, que fica no Reino de Naquim. Nós passamos a fronteira oeste de Heliópolis há uma hora!
- Nossa! Eu nunca estive em Naquim William!
- E nem deveria! Este não é um reino amigo de Heliópolis! Por isso mesmo é um dos poucos lugares para onde Conde Rafael acha que viríamos, porém é melhor não confiarmos muito nisso, então vamos nos apressar!
- Acho que vocês terão que ir sem mim rapazes...eu não aguento mais prosseguir com vocês!
- Seu Manoel! O senhor está passando mal?
- Não meu filho, eu apenas estou cansado demais para continuar a jornada! Eu já não sou mais tão vigoroso quanto antes!
- Pai...eu lamento dizer isso, mas eu acho que o senhor precisa voltar para Luminus sem mim!
- Você não virá comigo?
- Eu...eu não posso deixar o Felipe...quero dizer, não agora! Ele precisa de mim ao lado dele e você não pode seguir conosco ou acabará definhando! Então, volte para casa e eu prometo que, em breve, eu voltarei!
- Bernardo, não precisa...eu acho que você deveria voltar com o seu pai...

Inesperadamente, Bernardo me puxou para si e me abraçou forte. Então, disse:

- Eu não poderia ficar em casa sem notícias suas! Eu não conseguiria viver assim! Então eu serei de mais serventia ao seu lado!
- Mas Bernardo...
- Não Felipe, ele tem razão! Eu sei como é amar alguém e eu não tenho a mínima dúvida que, desde o primeiro dia em que vocês se viram, foi amor o que aconteceu entre vocês! Eu posso ver isso claramente e eu entendo a opção do meu filho!
- Muito obrigado por entender pai!
- De nada meu filho! Mas eu, com certeza, também ficarei aflito em casa sem notícias suas, então, por favor, não demore a retornar!
- Eu prometo!

Assim, decidimos que Manoel nos deixaria e seguiria em direção a Luminus por uma rota que William e Tomás conheciam muito bem, devido aos anos em que caminharam para recolher impostos. Porém, antes disso, todos nós tomamos banho, trocamos nossas roupas, que já estavam esfarrapadas e sujas, bem como coletamos os pouquíssimos suprimentos que restaram na casa. Posteriormente, já estávamos prontos para a partida, então me despedi de Manoel dizendo:

- Muito obrigado pela sua companhia Manoel, você tem sido um pai para mim e eu espero poder te ver muito em breve!
- Você, como eu sempre digo, já é parte da minha família Felipe e eu também espero que possas retornar em breve para a minha casa! Quanto a você Bernardo, cuide de si e do Felipe, por favor! E retorne o quanto antes para casa meu filho, o meu coração só irá sossegar depois de poder te ver na minha frente!
- Pode deixar pai, eu cuidarei de nós dois e não se preocupe, porque nos veremos em breve!

Desse modo, eu e Bernardo abraçamos e nos despedimos de Manoel, que montou em seu cavalo e, antes de partir, disse:

- William e Tomás, cuidem dos meus filhos! Por favor!
- Pode deixar Manoel!
- Nós cuidaremos!

Depois disso, Manoel se virou e partiu em direção ao horizonte com o seu cavalo. Enquanto observávamos ele se afastar até se perder de vista, não percebemos duas figuras que se aproximaram de nós e nos golpearam. A última coisa que vi foi um rosto com uma expressão agressiva e, quando acordei, encontrava-me com as mãos amarradas, em uma sala na qual também estavam Bernardo, William e Tomás, os quais estavam inconscientes.
Enquanto uma forte dor martelava em minha cabeça, eu vi uma figura, a mesma que me nocauteou, adentrar a sala, dizendo:

- Quem enviou vocês aqui? Quantos vocês apanharam e onde os esconderam?
- O que? Eu não estou entendendo!

Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, um golpe me atingiu no rosto, o qual fico, insuportavelmente, latejando e, enquanto um zumbido ressoava em meu ouvido, a figura perguntou novamente:

- Responda à pergunta: Quem enviou vocês aqui? Quantos vocês apanharam?
- Eu não sei do que você está falando! Nós não pegamos ninguém!
- Não minta pra mim!

Enquanto o homem bradava isso e cerrava os punhos para desferir outro golpe, eu fechei os olhos, porém, antes de ser atingido, eu ouvi a voz de William gritando:

- NÃO! NÃO! Nós não estamos aqui para ferir ninguém! Nós somos como vocês!
- O que quer dizer com "nós somos como vocês"?
- Quero dizer que nós também estamos sendo caçados!
- Como vou saber que não é mentira? Eu nunca vi vocês por aqui!
- Bem, isso é por que não somos daqui e sim...e sim...
- E SIM DE ONDE? RESPONDA!
- E sim de Heliópolis! Mas nós estamos fugindo de lá pelo mesmo motivo que vocês estão sendo caçados aqui! Conde Rafael quer se apossar de Heliópolis!
- NÃO DIGA ESSE NOME AQUI! Então vocês também são homossexuais? provem!
- Provar? Mas como vamos provar?
- Eu não sei, apenas provem!
- Escute, nós até casamos aqui! Você deve se lembrar de nós!
- Nós celebramos muitos casamentos aqui em Gorgi! Não posso lembrar de cada pessoa que passou por aqui!
- Espera, eu estou te reconhecendo! Você é o homem que foi deixado no altar pelo namorado! Ele disse não no último momento e você correu atrás dele para fora da igreja!
- COMO VOCÊ SABE DISSO?
- Porque nós nos casamos naquele dia! É verdade Tomás, é ele mesmo! Agora eu me lembro.
- Bem, eu acho que vocês estão dizendo a verdade! Eu ameacei todos que comentassem sobre isso e se vocês sabem desse fato, então é porque estavam lá e não são daqui para terem a ousadia de falar sobre isso na minha cara!
- Então vai nos libertar?
- Sim, mas se vocês comentarem sobre isso outra vez eu garanto que não vão viver para espalhar a história!

O homem, que informou se chamar Raul, nos libertou e nos conduziu até um outro cômodo onde encontramos o seu comparsa, que prontamente disse:

- Por que você os libertou Raul?
- Eles são como nós! Não acho que seja a hora de eliminar as pessoas do nosso próprio "tipo", não é verdade? Principalmente se realmente vamos fazer aquilo!
- Fazer "aquilo" o que Raul?
- Bem, acho que talvez vocês possam ajudar! Nós queremos encontrar e matar o Conde Rafael! Nós temos um grupo de, aproximadamente, 30 pessoas comprometidas com essa causa, as quais foram as únicas que sobreviveram ao massacre que ocorreu em Gorgi há dois meses! Então...vocês querem ajudar?
- Como nós poderíamos os ajudar!
- Bem, eu não sei, digam vocês! Mas eu sei que estes dois aqui e você têm corpos que parecem terem sido moldados para o combate! O que vocês faziam antes de fugirem?
- Eu era pastor de ovelhas!
- E quanto a vocês?
- Nós dois também!
- E quanto a você rapaz? O que fazia? Não parece muito proveitoso para o combate, mas talvez possa ser de alguma serventia na área estratégica!
- Ele trabalhava comigo! Ajudava a contabilizar os ganhos!
- Ah, interessante! Bem, vamos ver onde colocar você depois! Agora, vocês querem ajudar ou não?
- Sim, com certeza! Conte conosco!
- Nesse caso, nos acompanhem até o nosso acampamento...nós já ficamos tempo demais aqui!

Nós pegamos nossos cavalos e os seguimos até uma floresta muito densa, então penetramos fundo na vegetação, até que encontramos uma clareira na qual podiam ser vistas diversas pessoas amontoadas ao redor de uma fogueira, Estas, quando nos viram, apontaram várias armas em nossa direção, porém, ao verem Raul e se companheiro, as baixaram.
Raul nos apresentou ao resto das pessoas, que foram pouco receptivas e aparentavam estarem bastante abatidas e apáticas, o que ele explicou ser decorrente do racionamento de comida e do luto pela morte de entes queridos.
Depois de nos mostrar um local em que poderíamos ficar, Raul se retirou. Depois disso, eu rapidamente me dirigi a Bernardo:

- O que nós estamos fazendo? Por que acompanhamos esse homem?
- Nós não tínhamos escolha Felipe! Aquilo de "vocês querem ajudar?" não era uma pergunta e sim uma intimação, pois se nos recusássemos, ele iria acabar conosco ali mesmo, afinal o que ele teria a perder?
- Mas então o que faremos? Nós não podemos ajudá-lo! Não podemos nos envolver em um conflito direto com Conde Rafael!
- Felipe, com todo respeito, a vida é mais complexa fora dos muros do castelo ou dos limites de Luminus! Aqui a pessoas estão sendo cassadas e mortas por pura diversão e somente porque elas escolheram dizer ao mundo que gostam de pessoas do mesmo sexo! Eu, particularmente, quero me envolver nessa luta e, apesar de não ter gostado de Raul em si, eu gostei da proposta dele! Era isso que eu estava esperando a minha vida toda: uma chance fazer a diferença e parar de me esconder porque eu amo o Tomás! Sinceramente, eu entendo se vocês quiserem ir embora e até os ajudarei nisso, mas, me digam, vocês não querem fazer a diferença?
- Eu concordo com ele Felipe! Luminus foi a melhor coisa que aconteceu para alguém como você depois que foi expulso de Heliópolis, então você não pôde perceber o quão difícil é a vida fora do castelo! Nem eu mesmo sei, afinal eu nunca saí de Luminus e sou aceito na minha família e na minha comunidade. Mas será que não é nosso destino estar aqui para lutarmos pelo nosso direito de amar quem nós quisermos? Pensa bem, havia tantos lugares para nós irmos em nossa fuga e acabamos encontrando um grupo tão grande de pessoas que querem lutar por isso!
- Bernardo, eu entendo que queiras lutar, mas o que eu poderia fazer? Você ouviu o que ele disse, eu não tenho um porte de um guerreiro!
- Felipe, eu preciso comentar que as mais bem-sucedidas guerras não foram ganhas por corpos treinados para combate e sim por mentes treinadas para pensar além do óbvio! Além disso, eu sei que você teve muitas aulas de luta e combate desde de pequeno!
- Bem, sim, mas eu nunca pus isso em prática, afinal eu nunca me interessei muito por esse tipo de assunto!
- Não tem importância, nós podemos treinar juntos! Eu acho que William e Tomás não vão se importar de nos dar aulas, certo? Por que eu, apesar do porte, não entendo nada de combate!
- Seria uma honra!
- Mas então vocês aceitam ficar aqui e lutar conosco?
- Claro que sim...eu não tenho como recusar isso, afinal, se não fosse por vocês eu nem estaria aqui, então eu preciso fazer o esforço valer a pena! Mas a gente precisa necessariamente matar o Conde Rafael? Eu não compartilho muito desse espírito sanguinário!
- Felipe, eu entendo isso, mas você não pode impedir essa gente de querer matá-lo, afinal eles viveram coisas que você nem imagina vendo os filhos deles serem presos e depois caçados pela nobreza. Então, lute conosco e apenas se mantenha longe de Conde Rafael, porque eu tenho certeza que se você não quiser matá-lo, há muitos aqui que irão!
- Tudo bem!
- Outra coisa...como eu disse, Naquim não é um reino onde Heliópolis é bem-vinda, então jamais mencione que você é da realeza de lá e tampouco que é o príncipe! Para todos os efeitos nós somos meros camponeses de Luminus!
- Certo!
- Certo!
- Bom, agora temos que descansar, porque amanhã vamos começar o treinamento! Então, boa noite a todos!

Tomás conduziu William até um tronco de uma árvore, onde os dois se aconchegaram e dormiram abraçados. Quanto a mim, eu me encostei em uma árvore e rapidamente adormeci, enquanto Bernardo tinha ido conversar com outras pessoas para se ambientar. Eu acordei durante a noite com ele se aconchegando ao meu lado e, por algum tempo, não consegui voltar a dormir. Durante esse período eu refleti sobre a sucessão de acontecimentos que se passaram no período de uma semana em minha vida e, principalmente, sobre a nova tarefa que me tinha sido imposta: participar de uma revolução para defender o direito de amar Bernardo, a qual terminaria com a morte de Conde Rafael, que, embora fosse alguém por quem eu não nutria nenhum tipo de afeto, eu não necessariamente queria ver morto. No fim das contas eu me sentia lisonjeado por poder participar deste fato, pois se nós fossemos bem-sucedidos, eu poderia viver tranquilamente ao lado de Bernardo e até poderia voltar a ver meu pai. Assim, quando o sono veio, eu me entreguei e voltei a dormir.

Noodzee Texas (No Caminho das Dunas)

Noodzee Texas (No Caminho das Dunas), 2011


Pim (Jelle Florizoone) é um menino quieto, que vive com a sua negligente mãe (Eva van der Gucht) em uma pequena cidade da costa belga. Pim cresce desenhando e sonhando com uma vida de fantasia, e chega à adolescência mantendo seus desejos emergentes em segredo, até que, aos 15 anos, ele se apaixona pelo seu amigo e vizinho Gino (Mathias Vergels), por quem alimenta uma grande e não correspondida paixão.

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