quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Gone, But Not Forgotten (Perdido Mas Nunca Esquecido)

Gone, But Not Forgotten (Perdido Mas Nunca Esquecido), 2003


Mark (Matthew Montgomery)  foi salvo no meio de uma tempestade por Drew (Aaron Orr), um guarda florestal. Mark está com amnésia, sem saber quem é, nem donde veio, então Drew o convida para passar o período de convalescênça em sua casa, onde eles acabam tento um relacionamento. Porém, quando Mark recupera a memória as coisas mudam completamente.

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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Capítulo 4 - Heliópolis: Minha Ascensão e Minha Queda (Cont.)

Depois de contar sobre a conversa com a minha mãe, pela primeira vez em muito tempo, eu não conseguia decifrar a expressão de Bernardo, o que eu entendia perfeitamente, pois eu estava muito feliz pela minha mãe ter praticamente aceitado a minha homossexualidade, mas também não queria colocar tudo a perder se meu pai me flagrasse com Bernardo ou fosse informado do nosso relacionamento por algum servo. Assim, eu disse a Bernardo:

- Você se importa de ficar sozinho aqui? Creio que não posso dormir aqui com você...
- Bem...pra ser sincero, eu me importo com a sua ausência, mas compreendo os seus motivos! Então não se preocupe, eu vou estar amanhã na sua cerimônia como um simples companheiro de viagem...
- Ah...sobre isso...
- Não importa....se é o que você quer...tudo bem!
- Espera...você...você acha que eu quero voltar a ser um príncipe?
- Bem...sim...o seu pai disse que a cerimônia vai ser amanhã...meu pai e eu formos convidados e depois poderemos ir embora...

Bernardo falava as palavras cada vez mais compassadamente e eu notei um tom de mágoa em sua voz, então eu entendi o que ele estava pensando e me apressei em dizer:

- Bernardo, não é nada isso que você está pensando! Eu já te disse que não quero voltar a ser príncipe....mas...bem, o meu pai acha que é preciso desfazer o meu exilamento em frente a todo o povo do reino! Então eu meio que preciso voltar a ter o meu título para continuar aqui no reino com a minha mãe! Coisas de nobreza!
- Ah...então isso não foi ideia sua?
- Claro que não! Não seja bobo! Por que você pensou que fosse ideia minha?
- Bom...você demorou tanto pra vir falar comigo e, quando veio, praticamente não me deixou te tocar! Pensei que tivesse vindo me dizer que pensou melhor sobre a vida...a vida ao meu lado...quer dizer, olha só pra tudo o que você tem aqui! Por que abriria mão de tudo isso?
- Isso é simples de responder! Eu te amo! E, como diria minha sabia mãe, o importante é fazer as coisas por amor!

Inesperadamente, Bernardo me agarrou em seu braços, levantou-me e girou pelo quarto, depois me colocou na cama e me deu um beijo apaixonado. Depois de recuperar o fôlego, eu me apressei em pontuar:

- Desculpe-me por ter lhe deixado sozinho tanto tempo, mas a minha mãe tinha muito pra me falar e eu estava com tanta saudade...quanto ao que aconteceu quando eu cheguei...bem, eu não quero colocar tudo a perder com o meu pai, então eu quero lhe pedir um favor...aja como meu amigo enquanto estivermos aqui, pelo menos até que a minha mãe possa dissuadi-lo de suas más ideias quanto ao homossexualismo ou até que tenhamos partido...
- Você realmente deixaria a sua mãe aqui, se fosse preciso?
- Bem, eu realmente espero que não seja preciso! Mas sim, eu a deixaria, pois tenho certeza que ela entenderia e nós estamos harmonizados agora, então, mesmo que o pior aconteça a ela, meu coração está em paz...mas não vamos pensar assim, eu acredito que o amor do meu pai por ela seja a nossa maior esperança!
- Certo! Bem...então você precisa ir não é?
- Sim...eu preciso, afinal nós não queremos que nenhum servo relate a meu pai que eu passei a noite em seu quarto né?
- Você tem razão! Bom, então boa sorte na sua cerimônia amanhã!
- Espero que dê tudo certo!
- Vai dar, com certeza! Boa noite!
- Boa noite.

Houve um beijo de despedida e então eu fui para o meu quarto dormir. A caminho do meu quarto eu ouvi um ruido vindo de um dos inúmeros corredores do castelo, então eu fui averiguar e tive uma surpresa quando encontrei os dois oficiais que tinham vindo comigo de Luminus se beijando. Ao me verem os dois pareciam bastante desconfortáveis, então eu me adiantei e disse:

- O que está acontecendo?
- Príncipe Felipe, lamento que tenha presenciado isso, bem...
- Calma, é William o seu nome certo?
- Sim, isso mesmo senhor...
- Veja bem, eu queria lhes agradecer pessoalmente pelo que fizeram durante a nossa viagem, eu fiquei muito satisfeito com o modo como trataram a mim e aos meus convidados, então muito obrigado por isso! Bem...eu esperava que as circunstancias fossem bem menos embaraçosas, mas não acho que isso realmente seja importante. Quanto ao que estava acontecendo, não se preocupem, porque eu sou a última pessoa que reportaria isso ao meu pai.
- Agradecemos a sua gentileza senhor, mas tudo o que fizemos durante a viagem foi o nosso trabalho!
- Bem, na verdade, William não gosta de admitir, mas saber que alguém da nobreza é, digamos assim, "como nós", é reconfortante, o que pode ter influenciado o nosso modo de tratá-los, afinal o senhor parece ser uma boa pessoa, então gostar de um homem não deve ser tão ruim quanto o rei nos faz pensar, com todo respeito ao seu pai.
- Cuidado com o que diz Tomás!
- Não William, deixe que ele fale, pois eu acho que ele está certo! Tomás, eu aprendi a amar alguém durante o exílio e não é realmente ruim, mas o meu pai pensa muito diferente, o que pode tornar isso perigoso, então vocês não precisam se preocupar comigo, mas tenham mais cuidado, pois se meu pai chegar a tomar conhecimento disso, algo muito ruim pode acontecer a vocês!
- Nós nos descuidamos senhor, mas teremos mais cuidado!
- Muito bem, então eu vou me deitar e, cá entre nós, você formam um belo casal!
- Obrigado senhor!

Depois de ouvir a última frase em uníssono dos dois eu me despedi com um sorriso e me dirigi ao meu quarto. Quando me deitei eu não passei nem um minuto pensando no dia em que eu tive, então já estava dormindo.
No outro dia, eu não pude falar com Bernardo, pois logo ao amanhecer vários servos me ajudavam a me preparar para a cerimônia, desde o banho até a escolha das roupas. Quando se aproximava das dez horas eu já estava pronto, em vestes que eu não vestia havia muito tempo, mas que me faziam sentir muito bem. Os servos me guiaram até a sacada do castelo, onde estavam meu pai e minha mãe, que fazia o seu melhor para sorrir, apesar de eu perceber o quanto aquilo era difícil para ela em seu atual estado.
Quando eu cheguei à sacada pude ver a multidão que se espalhava no pátio de castelo e além dos portões e aquilo me fez ficar nervoso, mas mantive a postura formal que meus pais me ensinaram durante muito tempo e acenei para as pessoas. Então, meu pai elevou a voz e disse:

- Povo de Heliópolis! Estamos hoje aqui para celebrar o retorno do meu filho, o Príncipe Felipe II, que retorna do seu exílio e novamente se juntará à família real! A partir de hoje ele voltará a residir em nosso reino e a tratar dos assuntos reais. Para consagrar esse fato, eu chamo a Vossa Reverendíssima, o Sacerdote João Bosco, para abençoá-lo.

Um homem de aparência velha e dura adentrou a sacada, acenou para a multidão e então e virou para mim, então proferiu algumas palavras em tom quase inaudível, após as quais a multidão se agitou e eu fora oficialmente reiterado à Família Real de Heliópolis. Porém, eu não estava feliz com isso, afinal, segundo o que meu pai dissera, eu teria que voltar a Heliópolis, o que eu não almejava de modo algum, visto que eu adorava a minha vida em Luminus e, pelo que eu consegui visualizar da expressão de Bernardo durante o breve discurso do meu pai que se seguiu, ele também não estava contente com aquela notícia.
Ao final da cerimônia, enquanto o meu pai continuou conversando com o Sacerdote sobre alguns assuntos reais, eu segui até o aposento em que estava a minha mãe, a qual se regozijou ao receber a notícia de que a cerimônia havia transcorrido bem, exclamando:

- Que alegria te receber de volta em minha vida meu filho, principalmente nesse momento tão difícil! Obrigado por ter regressado!
- Bem...não é como se eu tivesse muita escolha com os oficiais que o papai mandou para me escoltar, mas, de qualquer forma, eu nunca deixaria de regressar para te ver!
- Realmente o seu pai tem um jeito, digamos assim, um pouco ameaçador, mas ele faz as coisas pensando no melhor para a nossa família!
- Eu sei mãe, eu o compreendo...eu acho...
- Que bom! Mas agora me diga uma coisa, onde estão as pessoas que te acolheram durante o seu exílio?
- Mãe...na empolgação de vir te ver eu esqueci completamente deles...mas, você quer vê-los?
- Claro meu filho! Quero agradecer pessoalmente a eles por cuidarem e me devolverem você!
- Isso é muito gentil da sua parte mãe! Bom, então eu vou chamá-los e volto em breve!

Eu não admiti para minha mãe que, de fato, eu não tinha esquecido de Bernardo e Manoel, apenas não conseguira encará-los depois da cerimônia, pois não sabia o que dizer em relação ao fato de que teria que permanecer em Heliópolis bem mais tempo do que eu esperava e não sabia se eles poderiam me aguardar, visto que tinham deixado a família em Luminus. Entretanto, eu criei coragem e sai do quarto de minha mãe, caminhando em direção aos quartos de Manoel e Bernardo.
O quarto de Manoel foi o primeiro, principalmente porque eu sabia que seria mais fácil lidar com ele e, realmente foi já que, quando eu entrei no quarto, ele logo exclamou:

- Felipe, meu filho, percebo que você está triste e acho que sei o motivo...Não se preocupe, eu e, imagino que Bernardo também, entendo a importância da sua permanência aqui nesse momento tão delicado da vida da sua mãe e, embora eu receie que nós não poderemos permanecer aqui com você, visto que eu deixei o meu pai e meus filhos em Luminus, eu quero que saiba que tens todo o meu apoio!
- Manoel...eu nem sei o que dizer...isso estava me matando por dentro de tanta angústia! Mas o senhor sempre sabe me acalmar! Muito obrigado pelo seu apoio e eu realmente lamento não poder retornar com vocês para Luminus, pois eu quero que o senhor saiba que eu me senti extremamente bem acolhido nesse tempo em que eu fiquei lá, além disso eu o considero o meu segundo pai, então eu prometo que voltarei para visitá-los em breve!
- Estaremos aguardando o seu retorno ansiosamente!
- Quando vocês pretendem partir?
- Eu acordei com Bernardo de partirmos em dois dias e ele, relutantemente, concordou! E, por falar nele, acho que vocês precisam conversar, certo?
 - Sim, de fato nós precisamos...eu vou ao quarto dele fazer isso, mas eu volto daqui a pouco, pois a minha mãe quer conhecê-los!
- Será uma honra conhecer a Rainha! Eu estarei aqui aguardando.

Depois de sair do quarto de Manoel, eu ainda permaneci alguns instantes parado em frente à porta do quarto de Bernardo, sem coragem de bater, até que, inesperadamente, a porta se abriu e uma mão me puxou para dentro do aposento. Em um único movimento, Bernardo me puxou em direção ao seu peito, me envolveu com um braço e fechou a porta com o outro, então disse:

- Eu te amo!
- Bernardo...eu...eu também te amo...
- Eu não queria ter que partir! Eu queria ficar aqui com você! Mas eu não posso deixar o meu pai, minhas irmãs, meu irmão e meu avô sozinhos! Eu te peço desculpas por ter que te deixar...
- Shh...Você não tem nada pelo que se desculpar Bernardo! Na verdade, sou eu quem deve pedir desculpas por te trazer aqui só pra me ver ficar enquanto você tem que partir sozinho! Mas, eu não posso deixar a minha mãe nesse momento tão difícil!
- Eu entendo isso! Eu compreendo e aprecio o que você tem que fazer par ficar com a sua mãe...mas isso me deixa tão triste!
- Isso também me entristece! Por isso eu não vim logo falar com você depois da cerimônia...eu estava tão triste que não sabia o que fazer ou como te contar que eu não poderia regressar com você para Luminus, então eu fugi para o quarto da minha mãe...Eu peço desculpas por te deixar sozinho novamente!
- Não há qualquer problema! Mas...e quanto a nós?...digo...nós ainda seremos namorados?
- É óbvio que ainda seremos namorados! Ninguém, em toda a minha vida, me fez tão feliz quanto você me faz! E não há ninguém aqui que possivelmente possa fazer! Então, sim, nós ainda seremos namorados...bem, se você quiser, é claro...
- O que você acha?

A minha resposta foi Bernardo me agarrar mais forte e me beijar tão apaixonadamente quanto na primeira vez em que declaramos amor um pelo outro. Depois disso, eu contei a Bernardo sobre o desejo da minha mãe de conhecer os meus bem-feitores e isso pareceu animá-lo bastante, embora eu tenha notado que isso também o deixou bastante nervoso, pois, segundo ele, era uma grande responsabilidade conhecer a mãe do namorado que também era Rainha do grande Reino de Heliópolis!
Em detrimento do nervosismo ele me acompanhou de bom grado, então nós paramos no quarto de Manoel para chamá-lo e depois seguimos em direção ao quarto da minha mãe. Aquele encontro entre a minha velha e a minha nova família tinha me deixado bastante feliz, pois parecia que, finalmente, juntar a minha antiga realidade com a minha nova e feliz vida ao lado de Bernardo e sua família poderia ser um objetivo alcançável e que traria bons frutos.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Adam & Steve (Adam & Steve)

Adam & Steve (Adam & Steve), 2005


Adam (Craig Chester) e Steve (Malcolm Gets) se conhecem nos anos 80 em uma desastrosa noitada. Eles se reencontram quinze anos depois, porém não se reconhecem, então se apaixonam um pelo outro, Com a ajuda dos seus melhores amigos, a antiga obesa Rhonda (Parker Posey) e Michael (Chris Kattan), até descobrirem, só depois de um ano que estão juntos, que eles já se conheciam antes e que inconscientemente mudaram o curso da vida de cada um naquela noite.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Capítulo 5 - As Batalhas: Perdendo ou Vencendo? (Cont.)

Naquele dia, Enzo faltou às aulas da manhã para descansar, mas foi às aulas da tarde, a fim de não perder muito do conteúdo, principalmente agora, quando ele nem poderia contar com Frida para lhe repassar a matéria.
Quando saiu da UFTU, Enzo foi diretamente para o Hospital Ibero-Brasileiro, uma instituição particular que ficava no centro de São Patrício. Ao chegar na ala em que a mãe de Daniel estava internada, ele avistou o rapaz ao lado do pai, o qual parecia estar ainda mais abatido, então, cautelosamente se aproximou deles e disse:

- Boa tarde Daniel...Seu Pedro...
- Oi Enzo, que bom que viestes! - Disse Daniel, no tom mais agradável que ele conseguiu.
- Ah...o que estás fazendo aqui Enzo? - Disse Pedro e então continuou displicentemente - Não é necessário deixar de fazer as suas coisas pra vir a hospital...
- Bem...eu queria saber como estava a Dona Cássia...mas, se eu for incomodar, eu posso ir embora...
- Pai... - disse Daniel surpreso com a atitude do pai - O Enzo veio com toda bondade visitar a mamãe!
- Sim...está certo meu filho...eu peço desculpas Enzo - Pedro respondeu, ainda distraído - Eu não quis ser grosseiro, apenas quis dizer que eu não quero te incomodar além do necessário...mas eu agradeço a visita, você pode ficar o tempo que quiser.

Nesse momento, a conversa foi interrompida pelo médico responsável por Cássia, que veio dar um boletim sobre o quadro clínico dela. Aparentemente, ela estava consciente, porém, diferente do que Daniel pensara no dia anterior, o quadro clínico dela ainda era instável, o que, visivelmente, abalou tanto o rapaz como o pai. Depois disso, o médico convidou Pedro a ir vê-la e, quando este chegou lá, ele a encontrou acordada, de modo que, ao se aproximar do leito, prontamente, disse:

- Meu amor! Como você está se sentindo? - Disse ele, fracassando em esconder o quanto ele estava abalado com aquela situação.
- Oh, querido...eu... - Cássia inspirou forçosamente e, aparentemente, dolorosamente - eu estou fazendo o meu melhor pra resistir...mas eu quero lhe dizer uma coisa...é sobre o Daniel...sobre o nosso filho...se eu não conseguir...
- Não Cássia! - Pedro segurou a mão dela e disse: - Não...você...você vai sair dessa...os médicos...eles...
- Eu sei...o que os médicos dizem...eu os escutei hoje...meu quadro... - ela, novamente, fez esforço para inspirar e continuou - meu quadro é instável, talvez meu coração não aguente...
- Não... - implorou Pedro.
- Deixe-me continuar - ela apertou a mão dele - cuide bem...cuide dele...ele é a melhor coisa...que aconteceu na minha vida...assim como você! Cuide dele...seja paciente...o ame...
- Eu amo! Ele é resultado do nosso amor, ele é o melhor presente que você poderia ter me dado! Mas você não vai...você não vai morrer Cássia! Fica comigo, por favor!
- Sim...sim, meu amor...eu estou tentando...mas está muito difícil... - ela segurou firme em suas mãos e,  olhando diretamente nos olhos do marido disse: Mas, tem...tem outra coisa...o Daniel...eu acho que ele...tem alguma coisa com o Enzo...
- O que?! - Pedro estava chocado - Você...você sabia meu amor?
- Sim...há algumas semanas eu vi uma mensagem no celular dele...do tipo que alguém apaixonado escreveria...mas...quando eu vi o...o remetente - ela inspirou com muito esforço - o remetente era o Enzo...mas e você, como descobriu...querido?
- Bem...ontem eu os vi se beijando aqui no hospital! Não pude suportar Cássia, esse garoto parecia tão bom, porque ele está desencaminhando o nosso filho dessa maneira? Hoje ele retornou e eu não tive como mandá-lo embora, mas não consigo nem olhar direito pra ele sem sentir nojo!
- Não... - ela inspirou com ainda mais dificuldade - Não...meu amor...esse garoto faz bem ao Daniel...você deveria ver como ele tem estado mais...feliz...ele nunca foi assim...ele está amando...
- Mas Cássia, o Daniel não é....gay - disse ele sussurrando a última palavra - ele não é isso! Ele não vai cair em perdição Cássia, eu não admito isso!
- Ele...é o seu único filho...ame ele...ame ele do jeito....do jeito que ele é...a vida é tão curta... - Nesse momento Cássia começou a chorar e a ter mais dificuldade para respirar.
- Calma meu amor! Calma! Ela não acabou pra você!
- Prometa... prometa que vai amá-lo...mesmo se ele for...se ele for...isso que você disse - a sua voz estava cada vez mais fraca, mas ainda imprimia um tom decidido.
- Tudo bem! Tudo bem meu amor, só...se acalme...tudo bem? Descanse! Eu vou me retirar agora, para que você possa descansar!

Pedro saiu do quarto ainda mais abalado, pois, apesar de ficar feliz pela mulher estar consciente, ele não poderia imaginar que ela já soubesse daquele fato que tanto o impressionara no dia anterior, tampouco esperava que ela aceitasse aquilo de modo tão natural, afinal, eles sempre foram muito observadores dos preceitos bíblicos e, sem dúvida, homossexualismo não é uma forma de comportamento aceitável. Mas em uma coisa a mulher tinha razão, a vida é tão curta e Daniel sempre fora muito um filho exemplar, que ele nem sabia como reagir aquilo que presenciara, por isso tinha decidido pensar nisso depois que a esposa estivesse recuperada.
Quando chegou à sala de espera, Pedro mantinha sua expressão abalada, o que levou o filho a saltar da cadeira e perguntar:

- O que foi pai?! Aconteceu alguma coisa? A mamãe...a mamãe...
- Não, não meu filho - Pedro tentou se concentrar no filho, apesar de inúmeros pensamentos passarem pela sua mente naquele momento - Nada aconteceu, ela continua consciente, embora bastante debilitada.
- Mas e quanto ao que os médicos disseram? Sobre ela estar instável?
- Não se preocupe...bem...pelo que eu entendi, houve hemorragia, que foi controlada a tempo, mas...meu filho, não era pra você saber disso agora, mas...diante das consequências...
- O que pai? Diga!
- Bem...há uns 2 meses a sua mãe descobriu que tem uma doença do coração, inclusive ela estava diminuindo o ritmo de trabalho e dando entrada em uma solicitação de aposentadoria ou remanejamento ocupacional, enfim...a sua mãe teve muita sorte, digamos assim, porque as lesões causadas pelo acidente não foram tão ruins quanto poderiam ser, considerando-se o estado em que ficou o carro...porém, a recuperação está exigindo muito do coração da sua mãe, de modo que, podemos dizer que o acidente piorou essa doença e acelerou a debilidade cardíaca...você entende o que eu quero dizer?
- Sim...acho que sim pai, então o acidente não é totalmente responsável pelo estado da mamãe né? - Daniel pensou um pouco e olhou com tristeza para o pai - Mas por que ninguém me contou?
- Ah meu filho, sua mãe não queria te preocupar, ela comentou que você estava mais feliz esses tempos, que você não estava mais tão fechado e que até falava mais quando vocês conversavam, então ela não queria que isso te abalasse!
- Que bobagem pai, eu me importo mais com a saúde dela, algo assim é muito grave! - disse Daniel indignado - Mas enfim...o importante agora é que eu já sei e que e estou aqui pra dar força a ela na recuperação! Ela falou alguma coisa? Sobre o que você conversaram?
- Ah... - Pedro não quis contar sobre o que conversara com Cássia, pois não queria abalar a fé do filho na recuperação da esposa - Nós conversamos por pouquíssimo tempo, eu perguntei como ela estava e...espera - ele olhou ao redor da sala e, somente agora, percebera que Enzo não estava lá, então, tanto por curiosidade como para mudar de assunto, perguntou: - Cadê o Enzo?
- Ele foi embora pai...bem, ele acha que a presença dele aqui poderia te deixar mais nervoso, então preferiu voltar pra casa... - Daniel falava em um tom bastante calmo e compassado - mas ele deixou votos de melhora pra mamãe!
- Ah sim...bom, não foi minha intenção fazer ele e sentir indesejado - Pedro se sentia mais aliviado em não ter que encarar Enzo, mas também sentiu um pouco de culpa, pelo fato do rapaz realmente estar bem-intencionado e preocupado com Cássia então finalizou dizendo: - Peça desculpas a ele, eu estou estressado com a situação da tua mãe e a presença de alguém que não seja da família aqui me deixou desconfortável.
- Tudo bem pai, o Enzo entende... - Daniel tentou falar da forma mais normal possível, mas Pedro pôde perceber que tinha um pouco de mágoa no tom de voz dele.

Depois disso não houve mais diálogo e os dois permaneceram sentados na sala de espera até que às 22 h Daniel disse que iria pra casa e voltaria no dia seguinte, depois das aulas da manhã a UFTU, visto que ele precisava descansar e se distrair, mesmo que fosse na universidade.
Cerca de 4 h, Cássia teve uma parada cardíaca e foi reanimada, de modo que o seu estado de saúde sofreu um agravo. Pedro avisou o filho do que tinha acontecido, mas pediu que ele continuasse em casa, enquanto ele estava sofrendo sozinho ao ver a mulher definhar no hospital, mas, de fato, ele preferia, naquele momento, se preocupar apenas com o fato de Cássia estar severamente doente e não com o que vinha acontecendo entre o Daniel e Enzo.
No dia seguinte, Daniel compareceu à UFTU, mas estava, visivelmente, muito abatido e quase não conseguia prestar atenção na aula, então pediu ao professor para se retirar, foi até a "Snacks" e mandou a seguinte mensagem para Enzo:

" Amor, preciso muito de você! Não estou conseguindo me concentrar em nada da aula.
Estou aqui na Snacks e queria você me fizesse companhia.
Por favor!"

Quando viu a mensagem, Enzo imediatamente saiu de sala e correu até a lanchonete. Chegando lá, ele encontrou Daniel encostado em um dos assentos, com as mãos bloqueando o rosto, mas ele percebeu que ele estava chorando, então se aproximou  delicadamente e disse:

- Amor?...

Ao ouvir isso, Daniel bruscamente puxou Enzo em sua direção e o abraçou. Os dois passaram vários minutos assim, e, embora a lanchonete estivesse cada vez mais cheia e algumas pessoas os estivessem olhando, Enzo não se importou em ficar abraçado com ele sem dizer qualquer palavra, até que o rapaz, ainda fortemente abraçado a Enzo, sussurrou quase inaudível:

Minha mãe...
- O que aconteceu? - Perguntou Enzo calmamente.
- Ela... - Daniel se afastou de Enzo para poder olhar diretamente pra ele, esfregou o rosto para enxugar as lágrimas e disse: - Ela tem um problema no coração...
- Do acidente?
- Não, ela descobriu há dois meses...e nunca me contou... - Daniel baixara a cabeça com tristeza, porém, tornou a fitar Enzo e contou o que o seu pai lhe dissera na noite anterior.
- Nossa....eu não sabia...Nesse caso o quadro dela é bem mais delicado quanto eu tinha pensado - Enzo percebeu que Daniel havia baixado novamente a cabeça, então ele segurou o queixo do namorado e ergueu suavemente a cabeça dele até poder olhar em seus olhos, então disse: - Mas ainda assim, nunca devemos perder a fé! Ela é forte!
- Ela teve uma parada cardíaca ontem de madrugada...eu não sei amor...ela estava tão fraca quando eu falei com ela, mas eu pensei que ela fosse melhorar...só que agora a situação é diferente, essa maldita doença está deixando ela ainda mais fraca...

Neste momento, o celular de Daniel tocou  e, quando ele atendeu, a sua expressão se tornou ainda mais abatida e o seu rosto adquiriu um tom ainda mais pálido. Ao desligar, ele disse a Enzo, enquanto se levantava do assento:

- Ela teve outra parada cardíaca! Vamos pro hospital!
- Nós dois? - disse Enzo também se levantando - Mas será que é uma boa ideia? Ainda acho que o seu pai não me quer lá...
- Não me deixa ir sozinho, por favor! - chorou Daniel.
- Tudo bem - disse Enzo em um tom calmo - Vamos! E...seja o que Deus quiser!

Assim, os dois partiram em direção ao Hospital Ibero-Brasileiro. Daniel estava agitado e preocupado em chegar o mais breve possível, rezando que a mãe pudesse suportar até que ele chegasse lá. Enzo, por sua vez, também estava preocupado com Cássia, principalmente depois do que Daniel havia lhe contado, mas também estava receoso de ter que encarar Pedro novamente, quando este expressara de forma tão evidente a sua aversão à presença do rapaz no hospital, porém, mais uma vez ele estava se atendo à sua promessa feita a Daniel de ficar sempre ao lado dele.

Alex Und Der Löwe (Alex Und Der Löwe)

Alex Und Der Löwe (Alex Und Der Löwe), 2010


Alex (André Schneider) e Leo (Marcel Schlutt) se encontram pela primeira vez em um café em Berlim. Tempos depois os dois se reencontram, mas desta vez Alex está solteiro e Leo mais consciente de sua sexualidade. Os melhores amigos de Alex, Tobi (Udo Lutz), Kerstin (Beate Kurecki) e Steffi Graf (Sasca Hai) se envolvem na história, ora dificultando e ora facilitando a relação que os dois rapazes parecem estabelecer, apesar dos seus próprios dramas pessoais.


sábado, 15 de fevereiro de 2014

Capítulo 1 - A Benção dos Imortais

Uma vez a cada dez anos, desde o início dos tempos, crianças são escolhidas para serem abençoadas com os poderes dos imortais. Estes eleitos são denominado "elementais" e sempre exercem uma grande influência sobre a humanidade, ainda que, na maior parte do tempo, de modo anônimo.
Os oito grandes imortais originais são: Hídrina - patrona das águas, Géon - patrono da terra, Áeris - patrona do ar, Flamus - patrono do fogo, Florên - patrona das plantas, Gélim - patrono do gelo, Electris - patrona da eletricidade e Faunum - patrono dos animais. Além destes, existem outros imortais menores ou descentes que também abençoam humanos com o seu poder, porém, de modo seletivo.
Ciclicamente, os grandes imortais se reúnem em diferentes locais do planeta, para discutir as questões referentes à humanidade e, a cada dez anos, uma grande cerimônia, com a participação de todos os imortais, é realizada em um dos domínios de um grande imortal, que é o anfitrião da cerimônia denominada "Elementária", no qual os grandes imortais são obrigados a escolher uma criança para abençoar e os outros imortais menores podem expressar o seu desejo de escolher um elemental.
A elementária do ano 2001 foi realizada no mês de março, no domínio de Hídrina, que ofereceu o seu palácio subaquático no meio do oceano atlântico sul. Antes da escolha dos elementais, os imortais sentaram em uma grande mesa redonda para compartilharem as mudanças em seus domínios de poder, principalmente os menores, que não se reuniam com tanta frequência como os grandes. Após compartilharem informações e planejarem estratégias de ação para o próximo decênio, a grande mesa desapareceu e as cadeiras dos convidados foram direcionadas para uma extremidade da sala, na qual surgira um palanque, então a cerimônia finalmente começou com um discurso da anfitriã:

- Sejam bem vindos imortais! Espero que estejam apreciando a estadia no palácio do atlântico sul! Bem, não pretendo me deter em longos discursos, então somente queria ressaltar a importância dos elementais para assegurar o bem-estar e a prosperidade na Terra, portanto a essencialidade desta cerimônia que nós estamos realizando neste dia. Como anfitriã, eu começarei a minha benção...

Neste momento Hídrina desapareceu e surgiu um grande telão no palácio subaquático, no qual os imortais podiam vê-la batendo à porta de uma casa. Depois que um homem, aparentando ter cerca de 30 anos atendeu à porta e a deixou entrar, foi possível acompanhar um diálogo entre a imortal e o homem, que, em seguida, chamou a esposa para participar da conversa, na qual ela explicava que a filha deles seria abençoada com poderes do elemento água.
De um modo geral, todos os grandes imortais visitavam uma casa no dia da Elementária, para comunicar aos pais dos eleitos, que os seus filhos seriam abençoados com poderes dos diferentes elementos. Os imortais explicavam a importância dos elementais, os tipos de poderes que os seus filhos teriam conforme cada tipo de elemento, procedimentos para melhorar a aceitação e o desempenho das crianças no papel de elemental, solicitavam sigilo e, claro, ofereciam apoio até que os pais pudessem assimilar a ideia e efetivamente aceitassem a benção. Somente depois da aceitação dos pais, os imortais se dirigiam à criança e entoavam um canto, diferente para cada imortal, que significava a concessão do poder.
Praticamente todos os imortais escolhiam os seus elementais conforme o seu gênero, portanto, quase todos os elementais de água, ar, plantas e eletricidade eram mulheres e aqueles de terra, fogo, gelo e animais eram homens. Porém, eventualmente, ocorria de modo diferente, visto que cada imortal tinha liberdade para escolher o gênero do seu elemental.
Desse modo, os imortais se tornariam responsáveis por garantir a plena segurança da criança até a próxima elementária, ou seja, durante 10 anos, e, a partir daí os poderes começariam a se manifestar de modo sútil, até que, entre os 12 e 14 anos os poderes passariam por um aumento exponencial, quando as crianças se tornariam adolescentes e poderiam construir a sua identidade como um elemental, sendo que, nessa época, os elementais precisariam encontrar os seu imortal-patrono, para serem orientados e alcançarem o melhor potencial no uso dos poderes.
Naquele ano, somente os grandes imortais escolheram elementais, visto que os outros imortais não expressaram vontade de abençoar algum humano com os seus poderes. Portanto, a elementária do ano 2001 produziu 8 fortes elementais que protegeriam, de modo anônimo, o mundo contra qualquer ameaça:

Elemental da Água
Sophie Smith
Cidade Natal: Sydney - Austrália
D.N.: 15/02/2001
Histórico: A primeira manifestação dos poderes de Sophie aconteceu quando ela tinha 11 anos e derrubou água no chão. Antes de poder pegar um pano para secar ela percebeu que a água a estava "seguindo", então ela correu até a mãe, que lhe contou sobre os seus poderes e, desde então, ela vem tendo progressos no controle da água.

Elemental da Terra
Themba Mokoena
Cidade Natal: Joanesburgo - África do Sul
D.N.: 20/04/2000
Histórico: Durante uma brincadeira no quintal de casa, quando tinha 10 anos, Themba descobriu que poderia transformar um pouco de terra em uma pequena pedra e vice-versa. Os pais do garoto lhe contaram sobre a benção dada a ele, além disso, vêm ajudando o garoto a treinar para desenvolver esta e outras habilidades.

Elemental do Ar
Alba Hernández
Cidade Natal: Guadalajara - México
D.N.: 01/06/2000
Histórico: Aos 11 anos, Alba estava brincando em cima de uma árvore e, de repente, caiu, porém, antes de chegar ao chão, movimentou os braços e planou minimamente, o suficiente para evitar sofrer o impacto da queda. Quando ela contou o fato aos seus pais adotivos, eles não acreditaram, porém, a garota exercita secretamente os seus poderes e vem tendo grandes resultados, principalmente em levitação.

Elemental do Fogo
Ethan Miller
Cidade Natal: São Francisco - Estados Unidos
D.N.: 10/09/1999
Histórico: Quando tinha 10 anos, Ethan estava ajudando o pai a preparar o jantar e, quando pegou a caixa de fósforos, os palitos começaram a acender e a sua mão incandesceu, porém isto não injuriava a sua pele. O pai lhe explicou sobre a visita do imortal e, desde então, o garoto vem aprendendo a controlar o fogo.

Elemental das Plantas
Gabriela Rodrigues
Cidade Natal: Rio de Janeiro - Brasil
D.N.: 25/10/2001
Histórico: Quando tinha 11 anos, Gabriela estava cuidando das plantas no jardim de casa, quando percebeu que poderia influenciar as plantas a crescerem mais rápido e repelir as ervas-daninhas. A tia, para quem a mãe de Gabriela tinha revelado o segredo antes de morrer, lhe contou sobre a benção e lhe incentivou a praticar o controle das plantas, no qual ela já obteve progressos.

Elemental do Gelo
Oliver Fletcher
Cidade Natal: Birmingham - Inglaterra
D.N.: 05/08/2000
Histórico: Oliver tinha 10 anos quando, acidentalmente, congelou parte da água da pia do banheiro, enquanto escovava os dentes. O pai esclareceu os fatos para ele, com a ajuda da mãe, que lhe contou com detalhes a visita do imortal, que lhe concedera tais poderes. O garoto tem praticado o controle do gelo e vem tendo grandes progressos nas habilidades de (des) congelamento e modelação do gelo.

Elemental da Eletricidade
Cho Sasaki
Cidade Natal: Osaka - Japão
D.N.: 30/01/1999
Histórico: Quado tinha 10 anos, Cho estava ligando a televisão na tomada e viu uma pequena corrente elétrica se materializando ao redor do seu braço, mas sem qualquer efeito danoso. Os seus pais lhe contaram sobre os poderes que a imortal lhe concedera e sempre a ajudaram a desenvolver o controle da eletricidade de modo seguro, sendo que a garota teve um grande progresso ao longo dos anos.

Elemental dos Animais
Marco Montejo
Cidade Natal: Cidade de Belize - Belize
D.N.: 31/05/2001
Histórico: Marco tinha 10 anos quando, em um passeio com o pai a um santuário da vida selvagem próximo à sua cidade natal, conseguiu se comunicar com os animais. Apesar de ter levado um susto por eles o compreenderem, ele continuou conversando com eles durante o passeio, sendo que o seu pai, ao perceber o que o filho estava fazendo, lhe explicou sobre a benção recebida e o incentivou a desenvolver as suas habilidades, que têm progredido bastante ao longo do tempo.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Capítulo 4 - Heliópolis: Minha Ascensão e Minha Queda (Cont.)

Depois de sair do pequeno povoado denominado Kai, fato que eu descobri no dia seguinte, nós seguimos viagem por mais três dias, sendo que, felizmente, encontramos outros povoados para passar as noites. Na tarde do terceiro dia de viagem desde Kai, nós avistamos o imponente castelo e o resto da cidade de Heliópolis que era protegida por uma imensa muralha. Apesar de ter nascido e crescido aqui eu estava impressionado, como se fosse a primeira vez que eu via o lugar. Bernardo e Manoel também parecia deslumbrados com a beleza da cidade.
Quando chegamos a um grande portão, os oficiais que nos acompanhavam solicitaram que ele fosse aberto e anunciaram que estavam voltando de uma missão de escolta do príncipe. Ao ouvirem isso, os outros oficiais pareciam surpresos e, quando adentramos a cidade, não pude deixar de notar que eles não paravam de me olhar e, provavelmente porque pensavam que eu não estava prestando atenção, cochichavam algumas coisas entre si, as quais eu não consegui distinguir, Eu os ignorei e continuei caminhando em direção ao castelo, que ficava na parte mais alta cidade, mas a cada passo eu senti uma sensação de aperto no abdômen crescia e o meu coração palpitava mais rápido: meu pai estava dentro daquele castelo, com a minha mãe doente.
Apesar do nervosismo eu continuei caminhando pelas ruas, tentando parecer o mais calmo possível, mas , como era de se esperar, Bernardo, que me enxergava além do que somente os olhos podem ver, se aproximou de mim e, com um sorriso muito terno no rosto, disse:

- Tudo vai dar certo!
- Eu sei...na verdade eu espero!

Nós continuamos caminhando em ascensão, até que chegamos à beira de uma cratera que, ao olhar mais atentamente, percebi ser um fosso circundando todo o castelo, o qual estava cheio de água, onde eu poderia jurar ter visto algo se movimentar. Mas não tive tempo de perceber mais coisas, visto que os oficiais nos convidaram a prosseguir sobre uma ponte de madeira que acabara de ser baixada.
O castelo de Heliópolis era, sem dúvida, muito grande. Percebi era constituído de blocos de pedra polida, o que lhe conferia ainda mais beleza sob a luz do sol, pois ele praticamente brilhava. A ponte sobre a qual havíamos atravessado o fosso já estava novamente suspensa e, junto com uma imensa muralha que também circundava o castelo e na qual haviam torres - certamente para arqueiros e outros oficiais se posicionarem durante um eventual ataque -, isolava a família real do resto da cidade, ou seja, somente entraria no local quem fora convidado. Bernardo também percebera essas coisa, de modo que comentou:

- Nossa Felipe! Este deve ser o local mais seguro que existe! Olha o tamanho dessa muralha....e aquele fosso lá fora!
- Realmente muito impressionantes!

Assenti à afirmação de Bernardo, mas além de impressionado eu também estava apreensivo, porque isso demonstrava o quanto Heliópolis era forte e, no caso de alguém contrariar o rei, o quão bem preparados eles estavam para uma batalha. Isso me afetou porque eu nunca fui a pessoa mais adepta aos preceitos do meu pai.
Alheio a estes pensamentos, Bernardo continuava caminhando com olhos atentos a tudo no pátio do castelo, o que me fez acalmar um pouco, pois ver ele tão feliz deixava meu coração mais leve. Desse modo, nós também adentramos o castelo e ficamos esperando no salão real, enquanto dois servos foram avisar à meu pai, o qual estava no quarto com a minha mãe, de que havíamos chegado. A espera fez  reaparecer e aumentar o incômodo no abdômen, porém, isso foi amenizado quando algo bastante inesperado, pelo menos para mim, aconteceu: meu pai apareceu no salão, correu em minha direção com braços abertos e, antes que eu pudesse ter qualquer tipo de reação, ele me deu um forte, apertado e demorado abraço, ao final do qual ele disse:

- Meu filho! Que bom que você voltou!
- Ah...mas pai...eu suponho que não poderia ter voltado antes....
- Oh, está certo....aquilo...bem, conversaremos sobre isso mais tarde, agora você precisa ver a sua mãe imediatamente! Ela o aguarda ansiosamente e sentiu muito a sua falta durante estes meses em que você esteve fora!
- Estive fora...mas...
- Oh, não fique aí parado meu filho, siga-me até o aposento real!
- Espera pai! Eu...
- Sim...
- Bem...eu tenho que lhe apresentar algumas pessoas! Estes são Manoel e seu filho Bernardo...eles foram...meus anfitriões nestes meses em que estive...hum...em que estive fora!
- Ah, muito bem! Muito prazer em conhecê-los Manoel e Bernardo! Agradeço o que fizeram pelo meu filho! O Reino de Heliópolis tem uma grande dívida com vocês e com o vilarejo de Luminus!
- Muito prazer em conhecê-lo Vossa Majestade!
- Sim Vossa Majestade, estamos muito lisonjeados!
- Ora ora, eu lhes agradeço novamente e providenciarei para que vocês sejam bem recebidos em meu Castelo! William e Tomás, sua missão foi um sucesso! Meu filho está são e salvo em minha presença! Agora, levem estes dois sujeitos para um de nossos aposentos e comuniquem aos empregados para lhes fornecer comida, roupas e tudo mais que eles necessitarem, enquanto eu levo o meu filho para rever a mãe. Depois disso estão dispensados!
- Sim Senhor!

Os dois oficias disseram isso em uníssono e em posição de guarda, depois se retiraram acompanhando Manoel e Bernardo aos aposentos, reverenciando o meu pai e a mim. Naquele momento, eu percebi que eu nunca tinha perguntado os nomes dos dois oficiais, apesar de ter gostado do modo como eles trataram a mim e aos dois membros da minha nova família, então eu resolvi que depois iria lhes agradecer mais apropriadamente pelo que fizeram, pois, apesar deles sempre dizerem que estavam apenas fazendo o seu trabalho, eu podia sentir que eles tinham algum tipo de simpatia para conosco. Quanto a Bernardo e Manoel, eu fiquei apreensivo em deixá-los serem levados para longe de mim, mas quando estavam saindo, eu pude ver Bernardo movimentar a boca e formar as palavras: está tudo bem, o que me tranquilizou e me fez voltar a atenção para o meu pai, que dizia:

- Agora nós podemos ir, certo?
- Claro pai, vamos lá! Eu estou muito ansiosos para ver minha mãe!

Eu o segui até o seu quarto, no qual eu encontrei a minha mãe, que estava, aparentemente, muito debilitada. Ao lado dela estava um senhor, que aparentava ser ancião, com uma maleta cheia de remédios e uma expressão séria, apesar de tentar forçar um sorriso quando adentramos o quarto. O senhor me cumprimentou e, enquanto eu caminhei para falar com a minha mãe, o meu pai o levou para fora do quarto. Ao chegar próximo à cama os meus olhos começaram a ficar pesados e eu senti as lágrimas quentes escorrerem pelo meu rosto, mas eu as enxuguei e tentei ficar o mais centrado possível, quando eu sentei na beira da cama, segurei a mãe da minha mãe e disse:

- Oi mãe!

Quando ela me viu o seu rosto se iluminou e ela pareceu bem menos abatida do que quando eu a vi da porta do quarto. Então, com um tom de voz baixo e pesado ela respondeu:

- Olá meu filho...Graças a Deus nada lhe aconteceu! Eu sinto tanto pelo que aconteceu....
- Não se preocupe com isso mãe, o importante agora é você! O que aconteceu? O que a fez ficar assim?
- Eu estou não estou em meu melhore dias não é mesmo?
- Uma rainha como a senhora não perde a majestade tão fácil!
- Oh...não seja bobo meu filho! Eu estou definhando cada dia mais! O meu coração está fraco e o médico, aparentemente, não pode fazer nada para parar o processo! Por isso eu pedi a seu pai que o trouxesse de volta...eu quero o meu único filho ao meu lado até que chegue o fim dos meus dias!
- Ah, então eu posso ser perdoado por... a senhora sabe... o meu "erro"?
- Oh, por favor meu filho!Eu nunca me importei com isso e o seu pai também não deveria se importar! Mas não posso lhe tirar a autoridade, portanto não pude fazer nada por você naquela época, mas agora que, digamos assim, a situação é delicada, eu acho que ele teve que repensar!
- A senhora não se importa realmente?
- Veja bem meu filho...eu não lhe direi que essa é a melhor escolha para você, afinal, alguém da família real se relacionando com alguém do mesmo sexo é um escândalo! Mas eu penso que Deus é quem tem que se importar com essas coisas e se ele lhe concedeu este tipo de "natureza", digamos assim, eu não posso me opor a isso! Além do mais, agora isso já é um escândalo e não pode ser mudado! Portanto eu prefiro que você esteja a meu lado com as suas preferências, ao invés de estar desamparado ou até mesmo morto em algum lugar só porque nós não pudemos lidar com isso.

Eu não consegui mais conter as lágrimas e me inclinei sobre minha mãe para abraçá-la. Chorei copiosamente em seus braços, até que me ergui para olhar para ela e disse:

- Talvez, se eu tivesse lhe contado sobre isso antes, as coisas pudessem ser diferentes!
- Quem sabe meu filho! Mas Deus, muitas vezes, tem caminhos diferentes daqueles que nós imaginamos ou esperamos! Agora me conte, por onde você andou?
- Antes de lhe contar por onde estive, eu preciso lhe perguntar algo...
- Prossiga...
- O que a senhora diria se eu tivesse encontrado alguém...digamos...um futuro marido...alguém com quem eu tenho um relacionamento, melhor dizendo, durante esse tempo em que eu estive exilado?
- Você encontrou?
- Bem...acho que sim...sim...
- E você o ama?
- Muito!
- Nesse caso eu não posso dizer qualquer coisa! Como eu disse, esse não é o melhor caminho! Mas se tem uma coisa em que eu acredito desde pequena é amor! Acho que já lhe contei essa história, mas eu e seu pai éramos os primeiros nas linhas de sucessão de nossos próprios reinos, por isso nosso casamento não era o mais aconselhável, pois eram reinos poderosos e seria melhor que pudéssemos casar com príncipes e princesas de reinos menores, que não afetassem o processo de sucessão de seus reinos. Sabe o que nós dizemos?
- Vocês se casaram e criaram um novo reino chamado Heliópolis, que engloba as terras do seu reino, chamando Grindum, e as do antigo reino do meu pai, que se chamava...como era mesmo?
- Sumarim! Eu sempre achei um nome muito feio, então fiquei mais contente com o novo nome: Heliópolis! Mas veja bem, o nosso reino hoje é tão poderoso quanto os dois reinos eram antigamente e eu casei por amor a seu pai, o que é muito incomum em nossos dias, quando o casamento não é nada mais que um grande negócio para aumentar o poder dos reinos!
- Você realmente o ama muito não é mãe?!
- Muitíssimo meu filho! O meu lado da família, como você sabe, apesar de ter sido muito favorecido com a criação do novo reino, ainda tem pessoas que murmuram sobre o fato do seu pai ter se tornado o soberano, quando eu poderia ter sido a soberana do meu próprio reino...mas eu não me importo de ter abdicado dessa grandeza toda, além disso, como eu casei por amor, o seu pai me dá muita importância em todas as decisões referentes ao futuro de Heliópolis, diferentemente de muitos reis que tratam suas esposas como meros objetos de exposição! Mas enfim...o que eu queria ressaltar é: faça as suas escolhas por amor! Se você realmente ama esse rapaz que você encontrou durante o exílio, eu acho que deveria ficar com ele, porém...
- Ele veio comigo pra cá!
- Ele está aqui?!
- Sim, ele veio com o pai, me acompanhando na viagem até aqui...mas qual o problema?
- Como eu estava dizendo, porém, essa é uma das poucas coisas sobre as quais o seu pai nunca me ouve! Ele pode ter me escutado agora que estou doente, mas não acho que ele aprovaria tal união, então, se você realmente ama esse rapaz e quer o bem dele, sugiro que tenha calma e oculte essa relação por enquanto!
- Eu entendo...mas...
- O que foi? diga!
- Bem, eu estava pensando...já que você não é contrária a isso, se eu poderia lhe apresentar a ele...isso me faria muito feliz!
- Oh...bem...eu não estava esperando tal pedido, mas...sim, sim você pode trazê-lo aqui! Mas em outro momento, quando eu estiver em melhor estado!
- Tudo bem mãe! Eu espero até o dia em que você estiver se sentindo mais "apropriada"!

Depois disso, eu contei á minha mãe sobre o tempo em que eu estive em Luminus e sobre o modo como eu e Bernardo nos apaixonamos. Minha mãe parecia, genuinamente, encantada com a nossa relação e pareceu satisfeita e me ver feliz contando histórias sobre ele. Passado algum tempo, o meu pai adentrou o aposento, visivelmente, transtornado e bradando:

- Esse médico é um incompetente! Ele não sabe nada sobre medicina! Vou mandar expulsá-lo do meu reino e solicitar que os oficiais peçam a assistência de outro médico em um dos nossos reinos aliados!
- Calma querido! Não é preciso se exaltar e nem expulsar o médico do reino! Não é culpa dele que eu esteja tão doente!
- Tudo bem, eu não vou expulsá-lo. Mas eu insisto em solicitarmos um outros médico!
- Se isso vai lhe acalmar, então eu lhe apoio em sua decisão querido! Mas agora, vamos nos concentrar em nosso filho que voltou!
- Sim sim, uma grande notícia! Já estou providenciando tudo!
- Err...Tudo? Como assim?
- A sua cerimônia de nova titulação é claro! Eu preciso lhe conceder o título de Príncipe de Heliópolis novamente em uma cerimônia oficial! Já que eu...bem...lhe tire esse título perante todo o povo da cidade, eu preciso, naturalmente, devolvê-lo perante a multidão!
- Ah...sim, o título, claro...então eu serei príncipe novamente?
- É claro meu filho! Bem, você nunca deixou de ser na verdade, mas essa formalidade é necessária!
- Eu entendo...
- Que bom, então esteja o mais apresentável possível amanhã na cerimônia! Eu acho que a sua mãe precisa descansar e eu suponho que você também precise, depois de uma viagem tão longa, vindo de Luminus...então vamos deixar a sua mãe aqui descansando e eu vou te levar até o eu quarto!
- Tudo bem pai. Bom, até amanhã então mãe!

Eu beijei minha mãe na testa e acompanhei meu pai para fora do quarto. Ele me levou até o meu antigo quarto, que ficava imediatamente ao lado do deles, então me acompanhou para dentro do aposento e disse:

- A cerimônia vai ser às dez horas no pátio do castelo! As suas roupas foram recolocadas no seu antigo armário e a sua cama está como era antigamente! Tenha uma boa noite meu filho!
- Espera pai...e quanto aos meu amigos?
- Ah sim, eles foram colocados em quartos de hóspedes! Já se alimentaram, trocaram as vestes e agora estão em seus respectivos aposentos.
- Hum, bem...eu gostaria de vê-los...
- Naturalmente. Bem, eu vou pedir a Maria que lhe mostre os quartos...mais alguma coisa?
- Não pai, é só isso!
- Muito bem! Agora sim, boa noite!

Ele rapidamente se retirou do quarto e, alguns minutos depois, alguém bateu à porta. Quando eu verifiquei quem era, uma jovem com roupas simples disse:

- Boa noite senhor! O rei pediu que eu lhe mostre os quartos dos visitantes.
- Sim, por favor.
- É por aqui, siga-me...

A jovem me levou em direção ao quartos deles e passamos por vários aposentos, que eu não reconhecia, mas sabendo que o castelo era enorme, eu imaginei que realmente teríamos muitos aposentos disponíveis e alguns, inclusive, estavam vazios. Quando chegamos ela me disse, apontando para uma porta:

- Neste quarto está o senhor de idade e no próximo está o jovem rapaz que o acompanhava.
- Muito obrigado!
- Mais alguma coisa senhor?
- Bem, sim! Eu ainda não comi nada desde que cheguei, então apreciaria se você pudesse levar uma bandeja com comida para o meu quarto. Mas depois disso, está dispensada.
- Como queira senhor.

A jovem reverenciou e então partiu. Eu fiquei parado em frente ao quarto de Manoel, mas não quis perturba-lo, afinal eu queria mesmo era falar com Bernardo. Quando bati e entrei no quarto dele eu estava ansioso para contar o que havia ocorrido, então fui surpreendido por Bernardo, que me abraçou e me beijou. Porém, eu tive o impulso de afastá-lo e, depois de fechar a porta, disse:

- Preciso te contar algumas coisas!