quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Capítulo 5 - As Batalhas: Perdendo ou Vencendo?

Quando chegaram ao hospital, Enzo e Daniel encontraram Pedro na sala de espera. O pai de Daniel, que tinha cerca de 40 anos, parecia muito mais velho e as suas vestes que estavam sempre em bom estado e alinhadas, estavam desarrumadas, o que conferia a ele uma imagem ainda pior. Ele pareceu não perceber a chegada dos jovens até que Daniel sentou ao lado dele e, agitadamente, perguntou:

- Pai...cadê a mamãe? como ela está? como isso aconteceu?
- Calma filho... - disse Pedro reunindo todas as suas forças para se manter calma em frente ao filho - eu não sei como aconteceu...só sei que a sua mãe está em um estado muito grave! Ela está sendo operada agora mesmo, pra conter a hemorragia, averiguar os danos e estabilizar o quadro dela.
- Meu deus pai... a mamãe... - Daniel não conseguiu terminar a frase, pois um choro incontrolável irrompeu e ele se curvou, colocando as mãos no rosto e apoiando a cabeça nas pernas.
- Daniel...eu vou pegar algo pra tomares...pode ser água? - disse Enzo que até agora não tinha sido notado por Pedro.
- Pode ser...obrigado - disse Daniel tentando controlar o choro.
- Ah...oi Enzo...obrigado por acompanhar o Daniel... - disse Pedro ao notar o jovem, tentando ser o mais cordial possível frente às circunstancias.
- Não é nada Seu Pedro, eu sinto muito pela Dona Cássia...o senhor quer alguma coisa pra beber?
- Não meu filho...traz só a água para o Daniel e, muito obrigado novamente - Pedro respondeu a Enzo e, imediatamente, se voltou para seus próprios pensamento.
- Tudo bem, eu já volto então... - disse Enzo se dirigindo para a lanchonete do hospital.

Enzo não conhecia muito bem o hospital, por isso demorou algum tempo para ir até a lanchonete e reencontrar o local onde estavam Daniel e Pedro. Quando o rapaz chegou, Daniel já havia se recomposto, embora ainda demonstrasse uma grande aflição, o que era, absolutamente normal, visto que a mãe do rapaz já estava há mais de 2 horas na sala de operações e nenhum boletim médico havia sido dado. Ao sentar ao lado do namorado, Enzo disse:

- Aqui está a água. Estás melhor?
- Obrigado! Na medida do possível, sim...mas eu ainda não acredito que a minha mãe sofreu um acidente de carro e está sendo operada! Enzo, se acontecer alguma coisa com ela...eu nem sei...
- Calma Daniel - interrompeu Enzo - eu imagino o que deve estar passando pela tua cabeça, mas tenta não pensar no pior! Vamos só aguardar e ouvir os médicos quando a cirurgia terminar...talvez eles possam conseguir estabilizar o quadro dela e ela saia dessa sem nenhuma sequela! Mas nós precisamos ter paciência e, principalmente, fé! Além disso... - Enzo chegou mais perto de Daniel e sussurrou: - eu estou aqui com você! Eu não vou sair do seu lado, não se preocupe!
- Obrigado! Isso é muito importante!
- De nada! Eu só preciso ligar para os meus pais avisando...mas já volto!

A cirurgia de Cássia demorou 6 horas, durante as quais pouco houve diálogo entre os três homens esperando. Posteriormente, o médico veio dar o primeiro boletim sobre o quadro da mãe de Daniel: a mulher tinha sofrido politraumatismo, sofreu dano a órgãos internos e ainda estava inconsciente, entre outras complicações, porém, o quadro estava, momentaneamente estável, visto que a hemorragia tinha sido controlada. Além disso, o médico informou que ela ficaria na UTI em observação e seriam utilizados aparelhos para auxiliar na respiração, de modo que somente uma pessoa estava autorizada a entrar, brevemente, na sala para vê-la.
O pai de Daniel prontamente pediu para vê-la e, como o filho não ofereceu resistência, ele acompanhou o médico até a sala. Enquanto isso, os dois rapazes ficaram conversando:

- Viu?! O quadro está estável e eu tenho certeza que ela vai acordar logo! - disse Enzo tentando soar esperançoso.
- É...Deus queira amor! - disse Daniel incerto - Obrigado por ter vindo comigo! O meu pai tá um caco e eu precisava de alguém como você pra me dar força! Eu sempre penso logo no pior e você sempre diz a coisa certa pra me animar - ele tocou levemente a bochecha de Daniel com uma das mãos.
- Isso não é nada amor! É minha obrigação ficar aqui com você...na verdade obrigação dupla! Melhor amigo e namorado! - Enzo tentou soar brincalhão e riu.
- É verdade! - disse Daniel, que também riu, apesar das feições de preocupação - Bom...de qualquer jeito, muito obrigado mesmo! E...desculpa se eu não posso te tratar como eu devia com meu pai aqui! Deve estar sendo chato pra você não poder me consolar, apesar de ver como eu estou sofrendo!
- Eu já disse, não se preocupe com isso! - respondeu Enzo, prontamente - mas eu confesso que preferia te pegar nos meus braços e te consolar como um namorado...bom, mas eu entendo e posso me contentar com a "consolação de amigo".
- "consolação de amigo"? - Daniel riu - como é isso?
- Ah...não sei... - disse Enzo um pouco encabulado - algo do tipo: "vai ficar tudo bem", "força", "seja forte" ou "eu sinto muito"...sei lá! Coisa não necessariamente tão pessoais quanto eu dizer que eu sinto muito pela sua mãe ter sofrido um acidente e que eu vou estar aqui ao seu lado para o que for preciso, não porque eu me compadeço da sua dor, mas porque eu te amo e nunca vou querer te ver sofrendo! - Enzo baixou o olhar e depois olhou profundamente nos olhos de Daniel dizendo: - percebe a diferença?
- Percebo sim! - Daniel também olhou profundamente nos olhos de Enzo e deu um breve sorriso.

Antes que qualquer outra demonstração de amor fosse feita, o pai de Daniel voltou para a sala de espera, o que fez o rapaz se levantar da cadeira, indagando:

- E aí pai? O senhor viu ela? Como ela está?
- Vi sim filho - Pedro sentou e continuou falando - Nossa...ela está muito mal! O rosto dela está muito ferido e inchado e ela não me respondeu! Nós só podemos esperar e rezar pra que ela acorde!
- Poxa pai...como isso foi acontecer?! - exclamou Daniel.
- Não sei meu filho...não sei...
- Seu Pedro, o senhor não prefere ir pra casa trocar de roupa e descansar um pouco? - disse Enzo - Eu e o Daniel podemos ficar aqui aguardando e, se algo acontecer, a gente liga avisando.
- Acho que tens razão Enzo, eu preciso mesmo descansar e trocar essa roupa! - assentiu Pedro - Eu vou fazer isso mesmo! Muito obrigado de novo meu filho, estás sendo muito bom nos dando suporte nesse momento difícil!
- Imagina Seu Pedro, eu gosto muito da Dona Cássia e estou torcendo pra que ela consiga sair dessa!

Enquanto Pedro foi para casa fazer o que Enzo havia sugerido, os dois rapazes continuaram no hospital esperando atualizações no quadro de Cássia. De fato, novamente, não houve muito conversa entre eles, de modo que alternaram o tempo entre vigília e sono, até que, cerca de 5 horas da manhã Daniel foi avisado de que a sua mãe estava acordado e ele, prontamente, foi vê-la. Ao entrar no quarto ele avistou a mãe deitada e quando chegou próximo a ela ele, hesitantemente, disse:

- Mãe?
- O...oi...meu filho... - Cássia estava muito debilitada para falar, mas se esforçou.
- Que bom que você acordou! Eu já estava muito preocupado! Eu não sabia o que pensar... - ao perceber que estava aumentando o tom de voz, Daniel se recompôs e falou em um tom mais calmo - Você vai se recuperar logo mãe! A gente vai te levar pra casa tão logo a senhora já esteja boa, o que eu tenho certeza que vai ser em breve!
- Eu...te amo...fi...lho - disse Cássia com lágrimas nos olhos.
- Eu também te amo mãe! Eu não vou poder demorar, pois o médico disse que você precisa descansar, mas eu volto pra te ver mais tarde tá?! Ah...o Enzo também está aqui e ele também está torcendo pela sua melhora.

Cássia não respondeu, apenas piscou, então, Daniel percebeu que ela precisava descansar e se retirou do quarto. Quando encontrou Enzo na sala de espera o rapaz estava com feições bem mais leves e aparentava estar mais feliz. Assim que percebeu isso Enzo indagou:

- E aí? ela está melhor?
- Sim amor! - disse Daniel animado - ela ainda tá com dificuldades pra falar e aparenta estar bem debilitada, mas eu tenho certeza que ela vai melhorar!
- Que bom! - Enzo abraçou Daniel sem se preocupar com quem estivesse ao redor - Eu não te disse que ela ia sair dessa!
- Sim você disse! - Daniel afastou Enzo para poder olhar em seus olhos, então sorriu pra ele, beijou-o brevemente e depois continuou: - você sempre diz a coisa certa!

O beijo foi breve, mas demorou tempo suficiente para que Pedro, que estava chegando ao hospital naquele momento, pudesse ver. Porém, ele não comentou sobre isso quando se aproximou dos dois rapazes, de modo que estes ficaram alheios ao fato do pai de Daniel ter presenciado a cena.
No mesmo momento em que Pedro sentou na sala de estar Daniel contou as boas novas:

- Pai! Eu já ia te ligar, a mamãe acordou! Ela tentou falar comigo!
- O que ela disse meu filho? - Pedro pareceu mais vívido depois de escutar aquilo.
- Ela disse pouca coisa, porque ela ainda está muito debilitada, mas ela me reconheceu e disse que me amava! - Disse Daniel.
- Mas isso é muito bom meu filho! - disse Pedro animado - Quer dizer que ela não sofreu danos á memória e que já está se recuperando, considerando-se que ontem ela nem abriu os olhos.
- O fato dela estar consciente é um bom sinal! - disse Enzo, tentando participar da conversa.
- Ainda estás por aqui Enzo? - disse Pedro, voltando o olhar para o rapaz - Não tens aula? Acho que podes ir pra casa descansar, eu ficarei aqui!
- Tenho sim Seu Pedro, mas eu não me importo em ficar aqui com vocês!
- Eu insisto Enzo, talvez seja melhor ires pra casa! - Pedro assumiu um tom de voz ríspido, porém ponderou e continuou em um tom mais suave - Não quero abusar da tua boa vontade.
- Ah... - Enzo estava confuso com o modo como Pedro falara com ele, mas assentiu - tudo bem então Seu Pedro...mais tarde eu volto pra ver como as coisas estão.
- Bem... - Daniel também tinha ficado confuso com a cena, então disse: - Sendo assim eu vou levar o Enzo na casa dele, depois vou em casa tomar um banho e já volto, tudo bem pai?
- É claro meu filho, eu estarei aqui esperando. Qualquer coisa eu te ligo!
- Então tá! Até daqui a pouco - Daniel levantou, abraçou o pai e continuou falando - Vamos Enzo!
- Vamos...até mais Seu Pedro! - disse Enzo ainda confuso.
- Até - respondeu Pedro distraidamente.

Os dois rapazes percorreram olongos corredores do hospital em direção ao estacionamento e, quando estavam no carro, Enzo disse:

- Amor... - disse ele incerto - Foi impressão minha ou o seu pai praticamente me expulsou de lá?
- Ele foi um pouco grosso mesmo amor - disse Daniel - mas eu acho que ele está estressado e triste com essa situação da mamãe, então dá um desconto pra ele! Ele apreciou que você ficou aqui com a gente, mas acho que agora ele quer mesmo ficar sozinho!
- Sem problemas amor, eu não estou chateado, mas fiquei surpreso com a atitude dele.
- Eu também fiquei, mas enfim...obrigado por ter ficado comigo no hospital e me dado força quando eu já estava perdendo a fé, você é um ótimo namorado e uma pessoa incrível!
- Que nada amor, eu já disse que você sempre pode contar comigo! - Enzo se inclinou em direção a Daniel e eles se beijaram. Depois disso, Daniel seguiu em direção à casa do namorado.

Quando chegou em casa Enzo ainda estava incomodado com o modo como fora tratado no hospital, mas como ele mesmo dissera, não estava chateado com o ocorrido, apenas não podia deixar de pensar que algo tinha mudado desde que o pai de Daniel deixara o hospital na noite anterior, visto que ele o tratara muito bem ao sair, mas praticamente disse que ele não queria que ele ficasse no hospital quando voltou na manhã seguinte. De qualquer maneira, ele ele ainda estava decidido a ficar ao lado de Daniel enquanto a mão dele estivesse hospitalizada, independente do modo como pai dele o tratara ou trataria na próxima vez em que ele fosse ao hospital.

Um comentário:

  1. AINDA BEM!!!!! Ja tava ficando louco pra ver o proximo e agora to louco pelo proximo desse... Ah e to esperando o proximo capitulo de "um conto medieval" sou fã e acompanho ambos desde o começo... Aguardando ansiosamente... Vê se nao demora viu? Bjs

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