domingo, 2 de outubro de 2016

Capítulo 3 - Gelo e Fogo (Cont.)

- Flamus, eu tenho tantas perguntas! - disse Ethan
- Eu juro que responderei todas, mas, primeiro responda: Quanto tempo eu dormi? - disse Flamus - Eu me lembro de você ainda garoto e agora eu só consigo te reconhecer porque sinto o poder elemental emanando de você!
- Você dormiu quase seis anos Flamus! - respondeu Ethan - E, até pouco tempo atrás, eu achei que você estivesse morto!
- Você entende que não nos chamam de "imortais" à toa, certo? - disse Flamus, rindo.
- Bem... - respondeu Ethan, corando - Eu...
- Eu só estou brincando! Eu sei que toda essa história de "dormir" é bem confusa! Mas tudo vai ficar bem! Eu agradeço por vocês terem enfrentado todos os perigos deste lugar para conseguir me despertar!
- Flamus, não me leve a mal, mas... por que este lugar precisa ser tão perigoso? - perguntou Cho.
- Eu sinto muito, mas somente os dignos de tamanho desafio deveriam ter acesso a este santuário!
- Mas nós perdemos algumas pessoas... pessoas corajosas e que se sacrificaram para que...
- Desculpe-me por interrompê-la, mas eu preciso dizer que os seus amigos não estão mortos!
- Mas eles foram... "consumidos"...
- Bem, na verdade, eles apenas perderam as suas essências elementais - esclareceu Flamus.
- Mas, então eles não poderão mais ser elementais?
- Não necessariamente - respondeu Flamus - Ser um elemental é muito mais do que um presente, também é uma responsabilidade! Por exemplo, você não poderia deixar de ser um elemental a menos que Géon concordasse com isso. Somente os Imortais podem retirar completamente os poderes de um elemental. Porém, outros Imortais além do seu patrono podem interferir com a sua essência elemental e até, momentaneamente, extingui-la.
- Mas então, onde estão os nossos amigos? - perguntou Ethan.
- Eles voltaram à forma humana, portanto não podem entrar neste santuário - respondeu Flamus.
- Mas, então por que nós podemos estar aqui se também estamos em nossa forma humana? - perguntou Oliver.
- Há muitos anos, eu encantei este santuário para fazer os humanos nunca o enxergarem - explicou Flamus - Quando algum humano chega à entrada do santuário, este a enxerga como uma parte qualquer da parede da caverna. Porém, elementais não são completamente humanos, então conseguem ver a entrada, mas, de acordo com o encantamento, são despidos de sua essência humana assim que adentram o santuário. Até aí tudo bem, pois humanos, de fato, jamais entraram aqui. Porém, como estou vendo agora, o encantamento despe os elementais de suas essências humanas apenas na entrada! Caso, de alguma forma, algum elemental consiga recuperar essa essência, o encantamento não funciona mais.
- Nós conseguimos utilizar nossos poderes em conjunto, como você e Gélim!
- Estou vendo! - disse Flamus - Preciso parabenizá-los por isso! Nenhuma dupla de elementais do fogo e do gelo jamais conseguiu executar esta técnica! Muitos nem quiseram tentar!
- Mudando de assunto, e quanto a mim? Por que eu não fui "consumida" como os outros elementais?
- Eu também estou muito impressionado com os seus poderes Cho - disse Flamus - Meus escudeiros não conseguiram extinguir a sua essência elemental! Eles apenas a enfraqueceram por algumas horas. Você também desenvolveu, involuntariamente, uma técnica muito rara para um elemental da eletricidade. Um escudo proveniente dos seus próprios poderes enfraquecidos a protegeram do alcance do meus escudeiros. Você ficou "sem poderes", pois utilizou, inconscientemente, o que lhe restava de energia para se proteger. Electris ficaria orgulhosa!
- Obrigada - disse Cho, corada - Eu nem sabia o que tinha ocorrido...
- E quanto aos outros Imortais?
- O que sobre eles? - perguntou Flamus, ligeiramente confuso.
- Você não sabe? - respondeu Sophie, incerta - Eles também estão dormindo!
- O que?! Todos eles?
- Sim! Aparentemente, o grupo anterior de elementais enlouqueceu e botou todos vocês para dormir!
- Isso é impossível! Os elementais não possuem o poder para colocar Imortais em estado de sono! - exclamou Flamus.
- Como assim?! E quanto a você?
- Eu cometi um erro...
- Que tipo de erro?
- Bem, eu revelei este segredo a um dos meu elementais e... eu não deveria ter confiado este tipo de segredo a ele... - confessou Flamus - Mas isso não se aplica aos outros Imortais! Eu estou fadado a correr o risco de ser colocado para dormir por qualquer pessoa que tenha ouvido de um elemental as palavras do encantamento, mas os outros Imortais não revelaram os seus segredos a nenhum elemental! Portanto, não deveriam estar à mercê de serem colocados para dormir como eu!
- Mas eu vi a elemental do gelo colocar o Gélim para dormir!
- Não estou dizendo que isso não seja verdade! - disse Flamus - Mas eu não entendo como isso pode ter acontecido! Além disso, eu estou muito preocupado, pois o mundo deve estar um caos! Nunca houve um tempo em que todos os Imortais estivessem ausentes!
- O mundo tem estado, realmente, muito estranho desde que os Imortais se "foram"!
- Precisamente! O mundo está totalmente desregulado! E, pior ainda, considerando-se que todos os Imortais estejam dormindo, presumo que vocês não tiveram treinamento algum, certo?
- Certíssimo! Os únicos que tiveram o prazer de conhecer algum Imortal foram o Oliver e o Ethan! - disse Sophie, indignada - Eu nem ao menos sei quem é a Hídrina!
- Eu sinto muito por isso - respondeu Flamus - Ela é uma Imortal muito linda e extremamente poderosa! Mas agora tudo vai ficar bem!
- Sim! Agora poderemos encontrar os nossos patronos com a sua ajuda!
- Eu receio que não seja tão simples! - disse Flamus - Veja bem, nós Imortais temos um acordo entre nós: o local de descanso de um Imortal é um segredo absoluto para os outros! Quando Imortais estão fora dos seus santuários, podem sentir a presença uns dos outros, mas jamais quando estes adentram os seus locais de descanso.
- Quer dizer que chegamos a um beco sem saída? - perguntou Gabriela, a qual tinha se mantido apenas ouvindo até então.
- Não necessariamente! - assegurou Flamus - Imortais não conseguem localizar os santuários principais uns dos outros, por conta do nosso acordo, mas elementais não fazem parte desse acordo, portanto são imunes ao encanto.
- Por que você disse principais? você tem outros santuários?
- Definitivamente! Tenho um palácio em casa vulcão!
- Mas e sobre a localização dos Imortais? - disse Ethan - Creio que nenhum de nós saiba como fazer isso!
- É verdade! Eu não faço a mínima ideia - Gabriela parou de falar por um instante e fechou os olhos. Quando os abriu, disse: - Nada! Eu não sinto a minha patrona!
- Essa é uma técnica básica - disse Flamus - Eu posso ensiná-la a vocês, mas depois terei que me ausentar!
- Como assim? Você acabou de voltar! - disse Ethan - E quanto ao meu treinamento?
- Não se preocupe Ethan! Você está muito bem para alguém sem treinamento! - disse Flamus, calmamente - Eu preciso investigar o que ocorreu durante esses últimos anos e como isso se iniciou! De qualquer forma, eu não vou ser muito útil na procura pelos demais Imortais! Por ora, tudo o que posso lhes ensinar é a técnica de conexão, mas eu prometo que, quando eu voltar, você terá um treinamento adequado Ethan!
- Flamus, eu não quero parecer impertinente, mas podemos aprender a técnica fora daqui?
- É claro! - disse Flamus rindo - Eu havia esquecido que alguns de vocês estão no pior lugar para os seus poderes! Venham, eu vou lhes levar até a saída!

Assim, os elementais acompanharam Flamus até a entrada onde haviam sido despidos de suas essências humanas e, assim que a cruzaram, todos voltaram às suas formas originais. Além disso, para a surpresa e felicidade do grupo, avistaram Alba e Marco desacordados próximo ao local. Evidentemente, todos correram em direção aos dois elementais que eles pensavam estar mortos até poucos minutos atrás.

- Alba! - disse Oliver, ajoelhando próximo ao corpo da elemental do ar e tocando, gentilmente, a testa dela - Alba! Acorda! Acabou!
-O qu... - disse Alba, ainda desorientada - Onde?
- Alba, nós conseguimos! - Oliver abraçou a amiga.
- O que aconteceu? - disse ela, mais orientada - Como nós chegamos aqui?
- Você se sacrificou pelo Oliver e, indiretamente, nos fez conseguir chegar até o Flamus, pois os poderes dele foram essenciais na nossa jornada! - disse Ethan, o qual também tinha se ajoelhado perto da elemental do ar.
- Eu nunca vou esquecer disso Alba! - disse Oliver - Você é uma grande amiga!
- Bem... - respondeu Alba, corando - Eu fico feliz de ter ajudado!
- Nós temos muito a agradecer ao Marco também, afinal ele se sacrificou para que nós pudéssemos ajudar vocês! - disse Sophie, a qual estava ajudando o elemental dos animais a se mover para a posição sentado.
- Eu só fiz a minha obrigação pessoal! - disse Marco - Somos um time!
- Vocês foram muito corajosos - disse Flamus, o qual se mantivera a certa distância dos elementais - Esse é o tipo de atitude que esperamos de todos aqueles que recebem a nossa benção! Parabéns! Bem... eu sei que todos devem estar muito cansados, mas nós não podemos perder mais nenhum minuto! Vocês precisam aprender a técnica de conexão e ir atrás dos seus patronos, enquanto eu irei resolver alguns assuntos de extrema urgência!
- Técnica de conexão... - disse Alba, confusa.
- Sim Alba - respondeu Oliver - Há uma longa história a ser contada, mas, aparentemente, nós podemos nos conectar aos nossos patronos e... espera, como faremos para acordá-los? - disse ele, ao perceber que esta parte da tarefa ainda não estava clara.
- Como eu disse - respondeu Flamus - Eu não tenho conhecimento sobre os rituais dos outros Imortais. Mas, quando vocês estiverem mais conectados com os seus patronos, eu tenho certeza que vocês saberão o que fazer.
- Tudo bem - disse Sophie - Agora que estamos todos juntos, você pode nos ensinar a técnica Flamus!
- Bem, neste ambiente, o único que conseguirá executar a técnica será o Ethan - respondeu Flamus - Portanto, os outros deverão apenas assistir!
- Por que somente eu? - indagou Ethan.
- Porque você está no seu nicho elemental - disse Flamus - Abaixo de nós há uma intensa energia de fogo e isso amplifica os seus poderes! Bem, o que você deve fazer para executar a técnica de execução é amplificar o seu lado elemental, sem perder o controle do lado humano. Quando chamas começarem a emanar do seu corpo, elas vão te ligar a mim. Vocês verão o processo acontecer e ele será bem rápido, porque eu estou, literalmente, bem aqui. Mas, dependendo da distância que os seus patronos estão de vocês, isto pode levar várias horas e vocês precisam controlar os seus equilíbrios internos durante todo o processo. Portanto, apesar de simples, a técnica de conexão pode ser relativamente perigosa, pois vocês devem saber o que acontece quando o equilíbrio entre a energia elemental e as suas essências humanas é quebrado.
- Nós somos consumidos pelas nossas energias elementais... - disse Gabriela, apreensiva.
- Exatamente! - respondeu Flamus - Eu sei que é pedir muito para um grupo de elementais, cuja maioria nunca teve um treino adequado, que se exponham a esse risco, mas é essencial que vocês encontrem os seus patronos! O planeta tem aguentado até agora, mas eu posso sentir que ele está morrendo! Vocês não tem ideia de como era isso aqui, antes de nós chegarmos!
- Chegarem? - disse Oliver, confuso - Como assim?
- Essa é uma história para outro dia! Precisamos começar o treinamento de vocês! - disse Flamus - Primeiramente, nós vamos ver o Ethan executar a técnica e depois vamos praticar um pouco de controle do equilíbrio interno. Eu sei que o Ethan pode executar a técnica, sem problemas, porque eu estou muito perto e ele já teve algum treinamento, mas vocês precisam treinar o controle das suas energias elementais antes de qualquer tentativa de conexão!
- Tudo bem, nós vamos conseguir pessoal! - disse Cho - A maioria de nós chegou até aqui sem treinamento, então podemos dominar essa técnica!
- Muito bem Cho! - ressaltou Flamus - Esse é o espírito de um verdadeiro elemental! Bem, vamos começar! Sente-se no chão da caverna, feche os olhos, depois tente focar na energia de fogo bem abaixo de nós! Entre em contato com essa energia, seja essa energia! Assim que chamas plasmarem do seu corpo, você estará pronto para me encontrar! A partir daí, você deverá invocar o meu nome na sua mente, repetidamente, até que as chamas cheguem até mim!
- Entendi! - disse Ethan, determinado - Vamos lá! - O elemental do fogo sentou-se no chão da caverna e fez como instruído por Flamus. Vários minutos se passaram, sem sucesso, então Ethan abriu os olhos e disse: - Eu não consigo me conectar com a energia de fogo! O que está havendo?
- Está tudo bem Ethan - disse Flamus, calmamente - Você estava fazendo um bom trabalho! Você só precisa se acalmar e tratar a energia de fogo como se fosse parte de você! Nesse momento, você está tratando a energia como algo externo que você está pegando emprestado. Porém, de fato, a energia que está dentro de você faz parte de toda a energia de fogo existente no mundo. Portanto, não pense em você como um humano se intrometendo na energia de fogo! Pense em você como o próprio fogo! Eu sei que você pode conseguir! Apenas se concentre!
- Certo! - respondeu Ethan, fechando os olhos novamente. Mais minutos se passaram, até que uma fagulha começou a emanar do corpo de Ethan, a qual foi progressivamente crescendo e se multiplicando. Logo, as chamas começaram a se mover em direção a Flamus e, assim que elas tocaram o corpo de Flamus, uma linha singular se formou entre Ethan e o seu patrono. Porém, apressadamente, o elemental do fogo abriu os olhos e a linha se desfez, bem como as chamas começaram a queimar o corpo de Ethan, o qual gritava de dor.
- Não! - gritou Flamus, o qual extinguiu as chamas que queimavam o elemental do fogo com um gesto de mãos.
- Ethan! - disse Oliver, chegando perto do elemental do fogo - Você está bem?
- Eu acho que sim... - disse Ethan, ainda assustado e, visivelmente, desapontado - Se o Flamus não estivesse aqui...
- Não fique triste Ethan! - respondeu o Imortal do fogo - Você foi muito bem! Conseguiu utilizar a técnica corretamente! Mas é muito importante que vocês mantenham a tranquilidade durante todo o processo!
- Tudo bem... eu acho que aprendi essa lição! - disse Ethan.
- Eu tenho certeza que sim! - respondeu Flamus - Você tem sido um ótimo discípulo!
- É verdade! Você foi muito bem! - disse Oliver animado - Apesar do susto, nós conseguimos ver como a técnica funciona! Você, literalmente, estabeleceu um laço com o seu patrono!
- Isso foi incrível! - complementou Cho.
- Foi realmente incrível e, mais importante, agora o Ethan tem o conhecimento da minha localização exata! - disse Flamus.
- É verdade! - disse Ethan, percebendo este fato naquele exato momento - Eu posso ver na minha cabeça!
- Exatamente! - disse o Imortal do fogo - Vocês só precisam sustentar a conexão até ela chegar até os seus patronos, depois podem, calmamente, desfazê-la! A técnica de conexão permite acessar a localização dos Imortais em um dado momento, mas, de qualquer forma, os seus patronos não vão se mover, pois estão dormindo! Agora, vamos praticar o equilíbrio interno!
- Mas como faremos isso? - perguntou Marco.
- É relativamente simples - respondeu Flamus - Vocês precisam utilizar o poder elemental até atingirem o limite entre o equilíbrio da energia elemental e humana. Há poucos riscos quando este treinamento é realizado com o respectivo patrono. Porém, já que vocês ainda não tiveram oportunidade de treinar esta técnica, nós precisaremos ser muito cautelosos.
- Como poderemos ser cautelosos? - perguntou a elemental das plantas.
- Bem, vocês precisam entender as suas próprias fraquezas e como vocês podem ajudar uns aos outros - respondeu Flamus - Por exemplo, os seus poderes podem ser completamente neutralizados pela combinação dos poderes de Themba e Sophie.
- Como? - perguntou Gabriela, confusa.
- Tente usar os seus poderes - instruiu o Imortal do fogo. Gabriela fez como ele havia dito e fez plantas brotarem do chão e das paredes da caverna. Enquanto isso, ele se dirigiu a Sophie e Themba: - Sophie, absorva a água existente ao nosso redor. Themba, retire os nutrientes do solo e das paredes. Conforme os elementais da água e da terra utilizavam os seus poderes, as plantas que a elemental das plantas havia plasmado das paredes e do solo estavam morrendo. Assim, Flamus concluiu: - Como podem ver, vocês controlam indiretamente a extensão dos poderes uns dos outros e podem intensificá-los ou neutralizá-los.
- Isso é incrível! - disse Themba, animado - Então quer dizer que podemos nos ajudar mutuamente a desenvolver os nossos equilíbrios internos?!
- Exatamente! - confirmou Flamus.

Os elementais passaram uma semana treinando o equilíbrio interno em duplas e trios. Ao final deste período, Flamus decidiu que eles já estavam prontos para se conectarem aos seus patronos.

- Vocês são, efetivamente, um grupo excepcional de elementais! - disse o Imortal do fogo - Conseguiram dominar uma técnica muito importante para qualquer elemental e agora eu tenho certeza que estão prontos para dominarem a técnica de conexão. Muitos de vocês vão, finalmente, conhecer os seus patronos! Infelizmente, eu não serei de muita ajuda nesta nova fase da história de vocês, então aproveitarei para resolver alguns assuntos pessoais de extrema urgência. Não se esqueçam de procurar por locais que lhes forneçam uma quantidade massiva de energia do tipo elemental de cada um, pois isso vai ajudar vocês a se ligarem mais rapidamente com os seus patronos!
- Muito obrigado Flamus! Agora nós temos esperança de, finalmente, encontrarmos os nossos patronos e nos tornarmos elementais completos!
- Sou eu quem precisa agradecer! - disse Flamus - Vocês me salvaram e, consequentemente, estão salvando o mundo de se perder em um completo caos!
- Um completo caos? - perguntou Marco, curioso.
- Sim... - respondeu Flamus, preocupado - Eu não queria ter que jogar esse peso nas costas de vocês, mas, infelizmente, o nosso mundo está morrendo! Desde que acordei eu sinto que algo está estranho com a Terra, mas não tinha certeza do quão grave era a situação. Nesta última semana eu pude ter uma noção melhor e a situação é bem pior do que eu imaginava! Pode não parecer à primeira vista, mas a Terra está entrando em colapso e, caso vocês não encontrem os seus patronos o mais rápido possível, o mundo que nós conhecemos vai se extinguir!
- Mas por que tudo parece estar, relativamente, igual? - perguntou Gabriela - Quero dizer, nós sempre ouvimos falar de coisas como "aquecimento global" e "efeito estufa", que supostamente irão levar a Terra ao colapso, mas isso foi antes mesmo de os nossos patronos desaparecerem!
- Bem, essas coisas, de fato, estão ocorrendo! - respondeu Flamus - Mas os Imortais nunca permitiriam que a Terra entrasse, efetivamente, em colapso total! Veja bem, os humanos estão tratando muito mal este mundo e nós precisamos deixar que eles sofram as consequências de suas ações! Nós sempre esperamos o melhor das pessoas e acreditamos que isso pode ser bom para fazer as pessoas enxergarem o mal que estão fazendo! Porém, agora a situação é diferente! Nós estivemos ausentes por muito tempo e isso criou um desequilíbrio que, com a ajuda dos maus hábitos humanos, está matando este planeta!
- Mas você não pode fazer nada para parar este processo? - Indagou Oliver.
- Eu receio que não! - respondeu o Imortal do fogo - Os danos estão muito além dos meus poderes! Eu preciso dos demais Imortais para poder consertar o dano! Além disso, preciso ir atrás de algumas respostas que podem ser decisivas para o problema que estamos enfrentando! Por isso, peço que vocês deem o máximo de si para encontrar os seus patronos! Eu sei que vocês são competentes e estão à altura desta tarefa que lhes foi imposta!
- Pode deixar conosco Flamus! - disse Ethan, decidido.
- Esse é o espírito Ethan! - disse o Imortal do fogo - Estou muito orgulhoso se você e lhe confio a liderança deste grupo! Bem, agora preciso ir! Boa sorte elementais! - dito isso, Flamus olhou para todos os elementais, acenou com a cabeça e, em seguida, combustou.
- Muito bem, o que faremos agora? - disse Alba.
- Proponho focarmos em quatro pessoas e nos dividirmos para ajudarmos uns aos outros a encontrar os nossos patronos! - disse Oliver.
- Mas, como tomaremos a decisão sobre quem vai ser enfocado? - perguntou Cho.
- Bem, o Ethan já sabe onde está o patrono, então proponho que façamos um sorteio com os nomes das outras sete pessoas! - disse Themba.
- Boa ideia Themba! - disse Alba - Gabriela, você pode nos dar sete folhas de aspecto igual com os nomes das pessoas neles?
- É pra já! - disse Gabriela, materializando as folhas, conforme Alba havia pedido.
- Elas estão perfeitas! - disse a elemental do ar - Agora eu irei misturá-las - Assim, um pequeno redemoinho se formou na frente dos elementais, em cujo centro estavas as folhas - Ethan, queime três das folhas! Os nomes constantes nas quatro folhas remanescentes serão os escolhidos!
- Certo! - Ethan fez como pedido. Depois que ele queimou as folhas, Alba cessou o redemoinho e as folhas restantes caíram no chão. Ethan as ajuntou e leu os nomes em voz alta - Bem, os sortudos foram Alba, Marco, Cho e Gabriela.
- Eu posso ajudar a Cho a controlar os poderes - ofereceu Themba.
- Eu serei o parceiro da Alba - disse Ethan.
- Eu posso ir com a Gabriela! - disse a elemental da água.
- Bem, eu ficarei com você Marco, mas não sei muito bem como funcionam os seus poderes - disse ele, dirigindo-se ao elemental dos animais.
- Eu acho que, na verdade, você é perfeito para a tarefa Oliver - respondeu Marco - Os meu poderes funcionam com base na alteração do tipo de células no meu corpo, então, caso eu acidentalmente comece a virar algum animal, você pode parar o processo através do congelamento, até que eu consiga assumir novamente o controle dos meus poderes.
- Sendo assim, eu acho que já temos os nosso grupos! - disse Oliver, dirigindo-se ao grupo - Agora, precisamos nos separar e achar fontes de poder elemental para amplificar os poderes dos que foram escolhidos.
- Oliver, nós podemos conversas? - disse Ethan, convidando o elemental do gelo para um canto da caverna. Quando estavam um pouco distantes dos outros elementais, Ethan disse: - Eu queria poder ir com você! Sabe, depois de tudo que aconteceu lá no santuário do Flamus... - o elemental do fogo estava corando - Eu não queria me separar de você!
- Ethan - o elemental do gelo tocou, levemente, o rosto de Ethan - Eu também queria poder ir com você, mas precisamos priorizar esta tarefa! Você ouviu o que o Flamus disse!
- Eu sei, mas... - Ethan foi surpreendido por um beijo e se deixou envolver. Depois, ambos ficaram abraçados, sem dizer qualquer palavra por alguns minutos.
- Eu te amo! - disse Oliver, ainda abraçando o elemental do fogo - Eu preciso ajudar o Marco agora, mas eu prometo que, em breve, nós poderemos ficar juntos! Nada vai mudar!
- Tem certeza? - perguntou Ethan, incerto - Você poderia estar comovido pela situação dentro do santuário!
- Eu não... - respondeu Oliver - Bem, pensando bem... sim, eu estava comovido pela situação e isso pode ter me feito ousar mais... Porém, eu me sinto assim em relação a você há algum tempo! Eu só não queria aceitar... pois eu sou estúpido!
- Você não é estúpido Oliver! Nunca diga isso!- exclamou Ethan - Você pode ser cabeça-dura, mas estúpido não! - finalizou ele, rindo.
- O que?! - disse ele, rindo e empurrando Ethan para longe - Eu até admito que possa ser um pouco cabeça-dura, mas você não pode falar nada sobre isso!
- Tudo bem, nós dois somos cabeças-duras! - respondeu o elemental do fogo - Bem, eu precisava falar sobre isso com você antes de nós partirmos! Agora eu estou mais tranquilo, apesar de ainda querer ficar com você! Mas vamos logo terminar esta tarefa e salvar esse planeta de ir pelos ares!
- Assim que eu gosto de te ver! Determinado! - respondeu Oliver - Vamos lá!

Desse modo, os elementais estavam se lançando em mais uma etapa na busca pelos Imortais. Dessa vez, o grupo precisaria se separar para poderem antecipar a finalização da tarefa. Infelizmente, Ethan e Oliver não poderiam seguir juntos, mas a experiência no santuário de Flamus, com certeza, havia mudado completamente a relação entre os elementais do fogo e do gelo.

sábado, 16 de julho de 2016

Capítulo 8 - Aqueles que Amam (Cont.)

- E ninguém conseguiu anotar a placa do carro? - perguntou o responsável pela Delegacia Seccional de Polícia de Lagoa Boa, onde os presentes no jantar ocorrido na casa de Enzo estavam registrando um boletim de ocorrência.

- Não - respondeu Roberto - quando eu corri para ver o que havia acontecido, o carro não estava mais lá! Os meus vizinhos alegam que era um carro preto... um Corsa talvez... mas estava com a placa coberta. Infelizmente, tudo o que sabemos é a cor e, talvez, a marca do carro.
- Isso não é nada bom! - disse o delegado - Sem muitas informações, não há muito que possamos fazer para ajudar... mas eu prometo que faremos o melhor para tentar solucionar esse caso o mais breve possível!
- Bem, muito obrigado... - disse Pedro, visivelmente desapontado - Eu acho melhor nós irmos embora, pois eu tenho certeza que todos estão cansados e, como o delegado disse, não há muito que possa ser feito.
- Eu realmente estou muito cansada - disse Maria - E imagino que todos também estejam famintos, já que não tivemos nem chance de tocar no jantar!
- Quanto a isso, não se preocupem, pois eu faço questão de levá-los até um bom restaurante - disse Pedro - Não vamos deixar que esse vândalo, seja lá quem for, estrague a noite! Afinal, não vamos esquecer que estamos celebrando algo muito importante - Pedro se interpôs entre Enzo e Daniel, abraçando-os - A união deste casal, que já passou por muita coisa junto e que, com certeza, merecem um jantar de noivado descente!
- Obrigado pai! - disse Daniel - O que vocês acham? Ainda estão com disposição para isso?

Apesar do visível cansaço, todos concordaram em sair para tentar completar a celebração do noivado de Enzo e Daniel. Como esperado, Daniel escolheu o "Ristorante Giovanna", visto que o local tinha a melhor lasanha da cidade, na opinião do rapaz. O restaurante estava localizado na zona norte, o que ficava a 50 minutos de carro da casa de Enzo, por isso eles se dividiram em dois grupos: os pais de Enzo seguiram com Pedro, enquanto Pietro e Guilherme acompanharam os noivos.

- Eu tenho certeza que vocês vão adorar o restaurante - disse Daniel, animado - Prometo que vai valer a pena nós sairmos de Lagoa Boa até a zona norte.
- Eu já estive na zona norte, mas nunca ouvi falar desse restaurante - disse Guilherme - Mas eu também não sou particularmente aficionado por comida italiana.
- Isso é porque você nunca provou a comida do Ristorante Giovanna - respondeu Daniel - Eles têm a melhor comida italiana e, especificamente, a melhor lasanha da cidade!
- Se o Daniel está dizendo, é porque deve ser verdade Gui - intrometeu-se Enzo - Acredite em mim, ele gosta muuuito de comida italiana! Principalmente de lasanha! Estou até cogitando apelidar ele de "Garfield"!
- Gostei do apelido! - disse Pietro rindo.
- Nem pensem nisso! - retrucou Daniel.

O jantar de noivado finalmente foi concretizado no restaurante italiano preferido de Daniel e como ele previra, todos adoraram a comida. Depois disso, Pedro e Daniel fizeram questão de deixar todos os outros em suas respectivas casas. Enzo acompanhou o noivo enquanto este levava Guilherme e Pietro até a zona sul de São Patrício, onde ambos moravam. Na volta para Lagoa Boa, que ficava na zona leste, Enzo comentou:

- Amor, você acha foi o Lucas quem fez aquilo?
- Eu não sei... - disse Daniel, pensativo - depois do que você me disse, isso faria muito sentido, mas também não podemos tirar conclusões precipitadas!
- Eu sei, mas... Eu tenho medo do que essa pessoa, seja o Lucas ou não, possa fazer daqui pra frente! - disse Enzo, em tom bastante sério - Amor, eu duvido que alguém que tenha se disposto a ir até a Lagoa Boa para jogar uma pedra na janela da minha casa vá parar por aí! Nós precisamos tomar muito cuidado, principalmente porque essa pessoa não pode ser um completo estranho, já que ela sabe onde eu moro, o que quer dizer que ela pode nos abordar em outros locais que frequentamos! Toma cuidado na volta para casa, tudo bem?

- Tudo bem amor, eu prometo que vou ficar atento!

Quando Daniel, finalmente, deixou Enzo em casa, já passava de duas horas e as ruas estavam relativamente desertas, principalmente na zona leste da cidade. O rapaz se despediu brevemente do noivo e rumou para casa. Porém, no caminho notou que há alguns quarteirões um carro estava seguindo a mesma rota que ele. Levando em consideração o alerta de Enzo, ele parou no meio-fio, na esperança de que ele estivesse apenas paranoico e de que o outro carro fosse seguir em frente. Felizmente, aconteceu o que ele esperava e, sentindo-se bobo por ter pensado que estava sendo seguido, ele continuou o caminho para casa.
No dia seguinte, Guilherme acompanhou Enzo até a consulta na Clínica de Reabilitação da UFTU. Enzo não viu Lucas durante a consulta e, quando indagou sobre ele para os outros estagiários, estes não souberam informar o motivo da ausência do rapaz. Depois da sessão, Enzo seguiu com Guilherme para a Snacks.


- Por que você estava perguntando sobre o Lucas hoje? - perguntou Guilherme.
- Eu preciso esclarecer ainda mais as coisas com o Lucas Gui! - respondeu Enzo - Eu estou em dúvida se ele é uma ameaça ou apenas alguém muito confuso!
- Bem, eu acho que você tem razão... Mas só uma pessoa muito boa como você para esperar que alguém que quase te matou seja apenas "alguém muito confuso"!
- Eu sei, eu preciso ser rancoroso e agressivo que nem você, certo?!
- Exatamente! Eu te garanto, toda essa demonstração de "masculinidade" deixa as pessoas excitadas! - respondeu Guilherme, com a sua caricata expressão sedutora.
- Gui, será que você consegue falar de algo que não seja você e as suas técnicas para seduzir outras pessoas?! - disse Enzo, rindo - Olha, eu vou fingir que você nem disse isso, para o bem do seu relacionamento!
- Eu estou brincando! Eu admiro muito que você seja assim! Eu sou incapaz de perdoar até a pessoa que não sai da minha frente na rua, quando eu estou com pressa!
- Ai Gui, você não existe!- É sério! Você é uma pessoa muito generosa! Isso é uma qualidade muito importante! Eu só fico preocupado, nessa situação, porque ele meio que já tentou te matar... mas eu espero, de coração, estar errado e que ele seja uma pessoa confusa, como você disse. Assim, quem sabe um amigo tão bom quanto você possa o fazer ser mais centrado e menos estanho...ou, você sabe... homicida!
- Obrigado Gui! Mas para de me elogiar, porque eu não quero ficar convencido igual a você!- Acho difícil! Mas eu vou continuar tentando te corromper!


Enquanto isso, Daniel estava saindo de uma aula na UFTU e estava a ponto de mandar uma mensagem para Enzo, a fim de encontrá-lo na Snacks. Porém, foi surpreendido por Lucas, o qual o abordou em um dos corredores da universidade.

- Daniel... Eu li a sua mensagem e... bem, eu queria muito poder me explicar...
- Eu não sei se eu estou com paciência para te ouvir agora Lucas... me desculpe, mas eu estou furioso com você e eu acho que não é a melhor hora para isso!
- Eu só preciso de 5 minutos... por favor!- Eu acho melhor você ter uma boa explicação Lucas! Você tem 5 minutos, que é o tempo que eu chego até a Snacks.
- Tudo bem... - disse Lucas, enquanto andava ao lado de Daniel pelos corredores da UFTU - Olha Daniel, eu... cara, eu nem sei o que dizer...
- Começou mal! - Interrompeu Daniel.
- Desculpe, você tem razão - respondeu Lucas - Eu vou direto ao ponto! Eu...por alguma razão estranha, estava com ciúmes da sua relação com o Enzo...
- Escuta - disse Daniel, parando - Isso ainda não é uma boa razão para o que você fez, então, se você realmente não tem nada melhor do que isso para dizer, eu acho melhor encerrarmos essa conversa!
- Por que você está me tratando assim Daniel? - disse Lucas, visivelmente surpreso - Eu achei que fôssemos amigos novamente!
- Lucas, você nÃO PODE - Daniel parou um instante, respirou fundo e continuou - Desculpe, eu não queria me exaltar... você não pode tentar matar o meu namorado e esperar que eu continue sendo seu amigo! Melhor dizendo, você não pode agir dessa forma com qualquer pessoa e realmente esperar que eu aja normalmente! Isso é algo muito, muito sério! Você tem muita sorte pelo fato de que o Enzo não vai prestar queixa!

- Lá vai você, novamente, fugindo de uma situação que você mesmo criou! - Lucas estava visivelmente irritado - Eu já devia esperar isso de você! Você vai se arrepender de entrar na minha vida de novo, só para poder me humilhar e me deixar sozinho, mais uma vez! - Dito isso, o rapaz virou as costas para Daniel e saiu andando, sem esperar resposta.


Daniel continuou o seu caminho em direção à Snacks, mas não conseguia tirar da cabeça o que Lucas havia dito e o modo como ele parecia, genuinamente, ferido pelo modo como havia sido tratado. Ao chegar à lanchonete, ele avistou Enzo e Guilherme conversando, o que o fez perceber que havia se esquecido de mandar a mensagem para o noivo.

- Oi amor! - disse ele, aproximando-se da mesa onde Enzo estava - Eu ia te chamar para almoçar aqui comigo, mas acabei esquecendo! Ainda bem que você está aqui!
- Gui, o que você acha? - respondeu Enzo, dirigindo-se a Guilherme - Devo perdoar o meu noivo por me esquecer dessa forma?
- Olha, tudo o que eu posso dizer é que eu jamais esqueceria de você assim! - respondeu Guilherme com um sorriso malicioso no rosto - Mas hoje em dia já não produzem namorados como antigamente!
- Em primeiro lugar, cala a boca Guilherme! - disse Daniel rindo - Em segundo lugar, você não é tão mais velho do que eu! Em terceiro lugar, eu tenho uma razão muito boa!

- Bem, nesse caso, vamos ouvir o que você tem a dizer e depois eu darei um veredito, com a ajuda do Gui! - disse Enzo.

Dessa forma, Daniel se juntou aos dois rapazes e, brevemente, contou sobre o que tinha acontecido mais cedo com Lucas.

- Meu veredito é absolvido! - disse Guilherme - Eu também ficaria fortemente perturbado pelo fato de alguém que tentou matar o meu namorado utilizar a palavra "arrepender" uma conversa.
- Sim! Totalmente absolvido! - acrescentou Enzo - O Lucas me surpreende mais a cada dia! Eu acho que ele precisa de ajuda profissional séria!
- Eu concordo! Eu sei que realmente o tratei de forma ríspida, mas ele agiu como se o que ele fez não tivesse qualquer relevância na conversa!
- Eu tenho uma sugestão - intrometeu-se Guilherme - Acho que vocês deveriam conversar com os colegas de classe dele! Talvez isso ajude a descobrir como ele age com outras pessoas! Aí poderemos dizer se ele é estranho só com vocês dois ou com todo mundo!
- Essa é uma ótima ideia Guilherme! - disse Daniel - Eu posso ir até o bloco dele no intervalo de alguma aula.
- Cuidado para ele não te ver e descobrir todo o nosso plano! - disse Enzo.
- Que plano amor?! - perguntou Daniel, confuso.
- Aquele que vamos bolar, já que agora vamos espionar o Lucas! Estou muito animado!
- Amor, você precisa para de ver filmes de espionagem! - acrescentou Daniel, rindo - Mas, mudando um pouco de assunto, o meu pai pediu para te dizer que vai contratar um detetive particular para investigar o que aconteceu na sua casa, pois ele não confia muito no trabalho da polícia nesse caso. Segundo ele, eles só iriam investigar o caso a fundo se alguém tivesse sido seriamente ferido ou se nós oferecêssemos pistas mais concretas que levassem ao autor do crime! Como esse não é o caso, eles provavelmente nem vão investigar nada.
- O seu pai está sendo tão generoso amor! - respondeu Enzo - Eu já agradeço muito o fato dele ter contratado um advogado para lidar com o processo contra o cara que nos atropelou e agora ele também vai lidar com isso!
- Sim! Isso é porque ele gosta muito de você amor! Quem diria né?!
- Eu acho muito legal que o seu pai tenha aceitado o, Enzo tão bem! - disse Guilherme - E, por falar no atropelamento, como anda esse processo?
- Eu acho que no próximo mês haverá uma audiência para decidir a pena - respondeu Daniel - O cara está sendo cooperativo e até tentou entrar em contato com o Enzo, mas o advogado nos aconselhou a evitar qualquer contato até o julgamento.


Os três permaneceram na Snacks, conversando sobre diversos assuntos, incluindo o "plano" de Enzo. Porém, Daniel precisou sair, pois teria outra aula no turno da tarde.


- Foi muito bom almoçar com vocês, mas eu preciso muito assistir essa aula! - disse ele, levantando-se.
- Por incrível que pareça, eu também apreciei a sua companhia Daniel! - disse Guilherme.
- Que bom, mas eu ainda não confio em você perto do meu namorado! - respondeu Daniel - Então não esqueça que eu estou sempre de olho em você! - Dito isso, ele inclinou-se em direção a Enzo e o beijou - Amor, depois da aula eu vou até a casa do Fábio, pois vai ter uma pequena celebração do aniversário dele. Você quer vir?
- Não amor, eu estou um pouco sem disposição para eventos sociais... Mas espero que você se divirta! Onde vai ser?
- Vai ser em Pirapora, então eu vou dormir por lá! Eu também estou sem disposição para eventos sociais, mas preciso me enturmar! - disse Daniel - Então eu te vejo amanhã, tudo bem?
- Tudo bem, cuidado na estrada! - alertou Enzo.
- Eu vou tomar sim! Afinal, eu acabei de noivar e não quero te deixar tão cedo! - respondeu Daniel - Bem, eu preciso correr ou vou chegar atrasado! Até mais!
- Não conta para ele, mas eu estou começando a simpatizar com o Daniel - disse Guilherme, depois que o rapaz tinha ido embora - Eu acho que ele te faz bem!
- Eu também acho que ele me faz bem - respondeu Enzo - Sabe, eu não achei que voltaria para ele, depois de, você sabe... todo aquele lance que rolou entre nós... Mas eu senti que deveria dar uma segunda chance a ele e, até agora, ainda me arrependi disso!
- Eu entendo - disse Guilherme - Essa deve ter sido uma decisão muito difícil, pois eu sei que você não perdoaria o que ele fez, a menos que você achasse que isso não é um padrão.
- Você me conhece muito bem Gui! De fato, eu não acho que isso seja um padrão que nos levará a uma relação abusiva, por isso voltei com ele! O Daniel é um ótimo namorado e uma boa pessoa, então eu acho que ele merece uma segunda chance! Porém, se eu estiver completamente enganado e ele se tornar abusivo dentro da nossa relação, eu o deixo para sempre e sigo com a minha vida! Sei que tenho bons amigos com quem posso contar para me apoiar!
- Espero que você não esteja enganado! Eu jamais quero te ver sofrer daquela forma novamente!
- Obrigado Gui! E por falar em relacionamentos, como andam as coisas entre você e o Pietro?
- Elas estão, surpreendentemente melhor! - respondeu Guilherme, animado - Eu já gostava muito dele antes de descobrir que tenho o HIV, mas agora eu nem sei expressar o quanto eu...
- O ama?! - disse Enzo, surpreso.
- Sim! Eu acho que o amo! - respondeu Guilherme, também surpreso - Meu Deus, eu o amo! Isso é... é tão estranho, eu acabei de perceber isso agora!
- Nossa! Quem diria Gui?! Você está apaixonado, de verdade, por alguém!
- Eu sei! Isso é tão estranho! - disse Guilherme, ainda processando o fato - Quero dizer, eu sei que eu gosto muito dele, já que escolhi namorar com ele, o que já é um grande passo! Mas eu não diria que amava todas as pessoas com quem me envolvi! Sempre foram casos muito mais físicos do que emocionais! E com o Pietro é justamente o contrário! O sexo é incrível, mas o que realmente me atrai nele é o modo como ele enxerga o mundo e como ele lida com as pessoas! Eu acho ele uma pessoa incrível e o modo como ele me aceitou só confirmou isso! Eu acho que estou ficando velho e quero uma relação diferente das que eu já tive até agora! Eu quero um companheiro de vida e acho que o Pietro pode ser essa pessoa!
- Você não sabe o quanto me alegra saber disso! Vocês dois são meus melhores amigos e eu fico muito feliz que as coisas estejam dando certo entre vocês!
- Eu também! - disse Guilherme, sorrindo - Eu confesso que não achei que a nossa relação fosse durar no começo! Eu gosto de passar o tempo ao lado dele, mas não imaginava que ia acabar me apaixonando!
- Eu tenho certeza que ele é a pessoa certa para te ajudar nesse momento tão difícil Gui! O Pietro é uma das pessoas mais sensíveis e companheiras que eu já conheci! Eu aposto, que apesar do choque inicial, o fato de você ter HIV não fez ele gostar menos de você!
- Eu concordo, ele vem me tratando como se nada tivesse mudado! - pontuou Guilherme - E quanto a você? Já pegou os resultados do exame?
- Ainda não - respondeu Enzo - Eu tinha até esquecido disso, depois de tudo o que vem acontecendo. Mas eu vou ligar para a clínica hoje ou amanhã.

Às três da tarde Guilherme deixou Enzo em casa. Enquanto isso, Daniel estava saindo da UFTU, em direção à sua casa e teve a impressão de ver o mesmo carro da noite passada bem atrás dele. Porém, novamente, o carro seguiu um caminho diferente do dele. Quando chegou em casa, o rapaz se arrumou de forma rápida e saiu em direção a Pirapora, que ficava a duas horas de carro de São Patrício.
Daniel não conhecia muitas pessoas na festa, já que Fábio era uma das poucas pessoas com quem ele falava na sua atual turma da faculdade. Às onze horas, apesar do que ele tinha dito a Enzo, ele decidiu que voltaria naquele mesmo dia para São Patrício, pois não estava se sentindo à vontade na casa de Fábio, que apesar de o ter recebido muito bem, não tinha lhe dado muita atenção durante a festa. Assim, ele rumou de volta para a sua casa, sem se importar com o horário, já que no outro dia, excepcionalmente, ele não precisaria acordar cedo, pois não teria aula.
A rodovia estava pouquíssimo movimentada naquele horário e, exceto por alguns caminhões que eventualmente cruzavam o seu caminho, Daniel estava sozinho na estrada. Porém, a partir de certo trecho Daniel notou um carro preto atrás dele e, novamente, o alerta de Enzo ecoou em sua cabeça. Desse modo, ele parou o carro no meio-fio, como havia feito na noite anterior. Entretanto, para a sua preocupação, o outro carro também parou e ele pôde notar que se tratava de um Corsa preto, cuja placa estava coberta. Assim, com o coração fortemente acelerado, ele ligou o carro novamente e voltou à sua jornada para casa. O outro carro, prontamente, começou a se mover de novo, o que confirmava as suas suspeitas de estar sendo seguido. Assim, Daniel pisou no acelerador e, enquanto isso, pegou o celular e discou para a polícia. Ele explicou o que estava ocorrendo e a provável rota que seguiria até a sua casa, que ficava na zona oeste de São Patrício. O rapaz tentou ligar para Enzo enquanto o Corsa preto continuava a segui-lo em alta velocidade, porém a ligação estava sendo encaminhada diretamente para a caixa postal. Em seguida, ligou para o pai, o qual atendeu apenas na segunda tentativa:

- Alô...
- Pai! Graças a Deus! Eu acho que tem alguém me seguindo! É um corsa preto e... pai?
- Daniel, a...ação...ruim...
- PAI! CONSEGUE ME OUVIR?!
- Agora sim. O que aconteceu meu filho?!
- Pai, eu acho que a pessoa que jogou a pedra na casa do Enzo está me seguindo! Parece ser o mesmo carro que os vizinhos descreveram!
- Meu Deus! Onde você está meu filho? Já ligou para a polícia
- Eu estou na Br pai! Eu já liguei, mas estou com medo de que ele faça alguma coisa antes de alguma viatura chegar aqui!

- Mas o que...

A ligação caiu e quando Pedro tentou retornar não obteve resposta. Depois de vinte minutos tentando ligar para o celular do filho, Pedro conseguiu falar com alguém, mas não era Daniel. Um policial estava falando do outro lado da linha e ele tinha péssimas notícias. Aparentemente, o carro de Daniel havia derrapado na estrada e ele havia desmaiado, por isso estava sendo levado para o pronto-socorro municipal. Mesmo extremamente abalado, Pedro orientou o policial a mandar a ambulância para o Hospital Ibero-Brasileiro, para onde ele se dirigira logo que desligou.
Quando estava a caminho do hospital, ele recebeu uma ligação de Enzo, o qual estava preocupado porque não conseguira falar com Daniel. Pedro informou ao rapaz o que havia acontecido e para onde o filho tinha sido levado. No hospital, ele teve outra surpresa ao encontrar Frida na recepção.

- Frida?! - disse Pedro, visivelmente surpreso - O que você está fazendo aqui?
- Seu Pedro - disse ela enquanto o abraçava - Eu estava dirigindo pela Br vi o carro da polícia. Eu estava em dúvida e não queria acreditar que pudesse ser ele, mas então vi o Daniel sendo retirado do carro!
- Você o viu? - disse Pedro alarmado - Como ele está?

- Eu o vi muito rapidamente, pois eles o colocaram na ambulância! Eu os segui até aqui e eles me disseram que não foi nada grave, eles só precisam fazer alguns exames para se assegurarem de que tudo está realmente bem como ele!


Pedro e Frida ficaram esperando, sem qualquer outra notícia, por meia hora, até que Enzo e os pais adentraram a sala de espera. Quando avistou quem estava ao lado do sogro, o rapaz ficou bastante surpreso.

- Frida?!

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Capítulo 7 - Revolução: A Nova Finnel (Cont.)

Uma grande confusão sucedeu a chegada do grupo de exploração. Depois disso, Hugo e Bernardo, o qual ainda estava inconsciente, foram levados para o alojamento do curandeiro do vilarejo, pois o primeiro apresentava alguns ferimentos que precisavam ser tratados e meu marido precisava ser colocado em algum lugar onde o seu estado de saúde pudesse ser avaliado. O pequeno Davi, o qual estava muito assustado, foi levado para o nosso alojamento. Quanto a Rafael II, este foi mantido prisioneiro no local onde realizávamos as nossas reuniões do conselho.
Na casa do curandeiro, unções e misturas foram utilizadas para tratar os ferimentos de Bernardo e Hugo, o qual desmaiou assim que chegou ao local, provavelmente de cansaço. Dessa forma, ambos estavam inconscientes e, segundo o curandeiro, não conseguiríamos obter nenhuma informação deles pelas próximas horas. Além disso, ele me tranquilizou dizendo que o estado de Bernardo não era grave, de modo que ele apenas precisaria de várias horas de repouso para recuperar a saúde e energia.
Depois de sair da casa do curandeiro, onde deixei o meu marido e um dos meus companheiros de jornada, eu me dirigi até o meu alojamento, a fim de conversar com o meu primo. Quando cheguei ao local, encontrei-o gritando com Raul e William, os quais pareciam não saber o que fazer. Assim que me viu, o pequeno Davi veio correndo em minha direção e me abraçou.

- Primo! Eles querem me fazer mal! Eu não quero ficar aqui!
- Calma Davi! Eu estou aqui agora! Você deve estar muito confuso, certo?
- Sim... por que aqueles homens me amarraram? Onde está o meu irmão?
- Davi... o seu irmão está bem! Algumas coisas complicadas estão acontecendo e nós precisávamos trazer vocês para cá...
- Onde está o meu pai?
- Eu não sei...
- Primo, eu estou com medo! Você promete que cuida de mim?
- É claro Davi! Eu vou cuidar de você! Mas você precisa confiar em mim, tudo bem?
- Sim...
- Ouça, estes rapazes são meus amigos e eles não farão mal a você! Eu prometo e eles também prometem! Certo rapazes?
- É claro...
- Certo...
- Viu?! Eles são bonzinhos!
- Eu acho que sim...
- Muito bem, então já que agora você sabe disso, eu posso te deixar aqui com eles enquanto eu vou fazer uma coisa? Você vai se comportar, certo?
- Eu vou tentar...
- Parece bom o bastante! Eu prometo não demorar Davi! Quando eu voltar, nós podemos conversar mais!
- Tudo bem!

Finalmente, eu segui para a sede das reuniões do conselho, onde várias pessoas estavam gritando e ameaçando o meu outro primo de diversas formas. Eu precisei intervir para acalmar os ânimos e solicitei privacidade para falar com ele. Apesar de contrários a isso, as pessoas respeitaram o meu pedido e me deixaram a sós com Rafael II.

- Eu exijo que você me solte agora mesmo!
- Olha, eu acho melhor você parar de reclamar e começar a me contar o que aconteceu! Ou eu vou simplesmente deixar as pessoas fazerem as coisas terríveis que elas pretendem fazer com você! Não se esqueça de que praticamente todas perderam algum familiar por causa do seu pai!
- Você não faria isso!
- Você não me conhece! Não teste a minha paciência! Principalmente agora, quando o meu marido está desmaiado e eu não sei o que aconteceu! Neste exato momento, eu não sou a pessoa mais equilibrada, mas, incrivelmente, eu sou a aquele que quer lhe fazer menos mal! Então você pode começar a falar ou pode ir se resolver com a população enfurecida desse vilarejo! Qual a sua escolha?
- Eu não sei! O seu dito "marido" é um traidor e meu pai nunca vai perdoá-lo!
- Já que não sabe de nada, eu acho que as pessoas pode fazer o que quiserem com você! Adeus!
- Espera! Eu vou contar o que eu sei...

Aparentemente, o meu tio vinha pessoalmente procurando o grupo fugitivo nas últimas semanas. Bernardo tinha se tornado o braço direito de Conde Rafael e o acompanhava em várias das missões de busca. Devido à confiança que meu tio desenvolvera em Bernardo, há alguns dias ele o deixou no comando do reino enquanto iria em mais uma missão de busca. Porém, Rafael suspeitou da saída massiva de guardas do reino logo depois que o seu pai havia saído para a missão de busca e alertou os guardas remanescentes, os quais flagraram Hugo e Bernardo tentando fugir do reino. Os dois tiveram que lutar e Bernardo acabou ferido, de modo que eles teriam morrido se não fosse pela inesperada ajuda de dois guardas que se rebelaram contra os outros. Devido ao fato de haver poucos guardas no reino, já que a maioria tinha sido enviada para missões de busca, eles conseguiram neutralizar os guardas leais a Conde Rafael. Além disso, antes de fugirem, Hugo foi pessoalmente ao quarto de Rafael, o qual havia fora subjugado e amarrado com cordas. O mesmo foi feito com Davi, de modo que ambos foram nocauteados e trazidos como prisioneiros durante a fuga. Rafael não revelou muitos detalhes sobre os fatos antes ou depois do momento da fuga de Pasine, mas fez questão de deixar a sua indignação explícita.

- Fomos tratados da pior forma possível! O pobre Davi passou dias amarrado!
- Quem te ouve dizer isso pode até pensar que você se importa com alguém além de si mesmo! Mas eu sei a verdade Rafael, então pode parar.
- Como você ous...
- CALADO! Eu acho que você ainda não percebeu, mas não está mais em Pasine e não tem qualquer tipo de autoridade aqui! Muito pelo contrário, você corre um sério risco de vida aqui! Portanto, se não quiser que eu precise explicar ao Davi como o irmão dele morreu, eu acho bom você melhorar a sua atitude! Principalmente, porque você vai querer convencer aquelas pessoas de que você merece viver!
- Mas você vai me proteger, certo?
- Olha, eu não poderia te proteger, nem se eu quisesse! Eu não mando neste vilarejo e você não merece que eu entre em qualquer tipo de conflito com os moradores para poder salvar a sua pele! Portanto, a responsabilidade de te salvar é inteiramente sua! Mostre àquelas pessoas que você não é tão mal quanto o seu pai! O máximo que eu posso fazer, e eu só farei por consideração ao Davi, é solicitar uma reunião do conselho para decidir a sua situação. Até lá, supostamente, ninguém deverá te fazer mal... mas, como eu disse, eu não mando neste vilarejo...

A minha proposta, como esperado, fora mal recebida pelas pessoas que aguardavam do lado de fora da sede do conselho. Muitos queriam retribuir ao filho de Conde Rafael todo o sofrimento que meu tio havia causado para as famílias do vilarejo e eu, sinceramente, não discordava deles. Porém, agi do modo como havia prometido a Rafael e obtive resposta positiva das pessoas que faziam parte do conselho para que realizássemos uma reunião no dia seguinte. A população fora instruída para que não atentassem contra a integridade física de Rafael mas, bem no fundo, eu sabia e até mesmo esperava, que alguém fosse desacatar aquela ordem. Assim, meu trabalho tinha terminado ali, de modo que retornei ao meu alojamento para ver como Davi estava lidando com os meus companheiros. Para minha surpresa, todos estavam conversando animadamente ao redor da cama de Tomás, o qual aparentava estar se sentindo bem. Assim que me viu, Davi disse:

- Primo! Você voltou!
- Sim! E eu vejo que você está bem mais calmo! Além disso, parece estar bem mais confortável quanto aos meus amigos!
- Eles são bonzinhos como você disse! Tomás estava me contando sobre o dia do casamento!
- Ah, que bom! Eu adoro essa história!

Novamente, Davi havia me impressionado pela naturalidade com que ele falava sobre uma relação entre dois homens. Considerando-se que ele era filho de Conde Rafael, eu esperaria que ele tivesse sido ensinado a detestar este tipo de comportamento, mas eu estava enganado. Nós conversamos por horas sobre as aventuras de William e Tomás em suas missões como guardas reais. No fim da tarde, eu fui chamado à casa do curandeiro, pois Hugo havia acordado. Quando cheguei ao local, notei que Bernardo ainda estava inconsciente, mas tentei ignorar a preocupação e me concentrei em Hugo, o qual estava acordado e aparentava estar bem melhor. Assim, abracei-o e disse:

- Bem-vindo de volta! Fico tão feliz que vocês tenham conseguido!
- Como é bom te ver Felipe! Eu achei que... eu também estou muito feliz de ter conseguido! Onde estão os outros? E o Raul?
- Calma! Todo mundo está bem! Nós é que estávamos preocupados com vocês!
- Você deve estar querendo saber o que aconteceu, certo?
- Bem, eu não vou negar que estou muito curioso para saber o que aconteceu em Pasine desde que fugimos! Mas você pode nos contar quando estiver se sentindo melhor! Eu só estou um pouco preocupado com o que aconteceu com Bernardo...
- Eu vou te contar tudo agora Felipe! Eu só precisava descansar! Além disso, é o mínimo que eu posso fazer, já que Bernardo foi ferido ao salvar a minha vida! Muito bem, vamos começar do dia em que vocês fugiram...

De acordo com Hugo, a ascensão de Bernardo não foi tão simples quanto Rafael insinuou. Hugo e Bernardo foram trancafiados e interrogados durante quase uma semana, até que pudessem voltar aos seus postos de trabalho. Depois disso, Bernardo passou a sair nas missões de busca ao nosso grupo, visto que Conde Rafael acreditava que ele saberia os possíveis locais para os quais nós poderíamos ter ido. De fato, Bernardo era a pessoa mais indicada para nos encontrar, mas ele confessou a Hugo que sempre levava o meu tio a lugares nos quais ele sabia que não estaríamos. Meu tio não desconfiou da estratégia de Bernardo porque, no início, este os levava a vilarejos onde nós, de fato, tínhamos estado no passado, mas que estavam desabitados porque a maioria da população havia sido enviada a Pasine e morrera no massacre. Posteriormente, ele os levou a outros lugares onde nós nunca tínhamos estado, mas nos quais ele implantava falsas pistas da nossa passagem por lá. Felizmente, como Rafael mencionara, Conde Rafael deixara Bernardo no comando do reino, o que era muito bom, considerando-se que ele já estava ficando sem ideias de lugares para levar o meu tio, sem que este começasse a duvidar da sua lealdade.
Hugo mencionou que ele ficara o tempo todo trabalhando no castelo, já que não era um oficial do meu tio, então todas as informações sobre as missões de busca ele havia recebido de Bernardo, com o qual ele sempre se reunia para organizar uma maneira de nos avisar sobre o que estava acontecendo em Pasine, porém eles nunca encontraram um momento apropriado para fazê-lo, até o dia em que fugiram do reino. No momento em que Bernardo fora nomeado para liderar o reino na ausência de Conde Rafael, Hugo e ele sabiam que esta era a chance que eles vinham esperando para poder fugir de Pasine. Assim, Bernardo começou a enviar vários guardas reais em falsas missões para lugares bem distantes, de modo que não restariam muitos guardas no reino, caso eles fossem apanhados durante a fuga, o que de fato ocorreu. No momento da luta anteriormente relatada por Rafael, Hugo era o alvo de uma flecha que acabou acertando Bernardo na parte posterior da perna, de modo que ele não podia andar adequadamente e, portanto, não poderia fugir. Graças aos guardas que se rebelaram, segundo Hugo, porque também eram homossexuais, eles conseguiram sobrepujar os guardas de Conde Rafael, raptar os meus primos e fugir de Pasine. Porém, Bernardo perdera muito sangue e desmaiara pouco antes de chegarem a um vilarejo ao norte de Arlyston, onde encontraram Raul e o resto da equipe de exploração, os quais, prontamente, ofereceram suporte para que os fugitivos de Pasine encontrassem o nosso refúgio.

- Mas... por que trazer os meus primos?
- Sinceramente, eu estou com vergonha do motivo...
- Como assim?
- Eu cedi... ele foi bastante insistente...
- Quem foi... espera, você quer dizer que... você e o Rafael...
- Eu sei! É horrível! Mas eu acho que isso não devia te surpreender... Afinal, eu nunca fui uma pessoa boa! Veja o problema que eu quase criei entre você e o Bernardo! Mas é que eu preciso tanto de atenção e... eu não sei... acho que tenho algum tipo de problema...
- Escuta Hugo, aquilo é passado! Mas eu não posso negar que ceder aos encantos do Rafael, sejam eles quais forem, não foi a sua melhor ideia! Ele sim tem problemas sérios! Quero dizer, eu até entendo que ele esteja amargurado pelo que o pai fez a ele, mas ele já ultrapassou alguns limites! Você sabe que tipo de coisas ele já fez, certo?
- Eu sei Felipe! Não entenda mal o que eu te contei! Eu sei o que fez, mas ele parece ser alguém perdido, assim como eu... e talvez essa identificação tenha me atraído nele...
- Bem, eu não posso te dizer o que fazer, mas ainda acho uma má ideia! Só mais uma coisa, como fica o Raul nessa história? Você não sente nada por ele? Vocês passaram muito tempo juntos quando estavam presos em Pasine, pelo que ele me contou.
- Eu acho que já fiz muito mal ao Raul... ele merece alguém melhor...
- Mas a pergunta foi: você não sente nada por ele?
- Às vezes eu acho que sim... mas eu tenho medo de magoá-lo novamente! Ele não merece isso! Acho que perder o Paulo já deve ter sido suficiente para ele e essa minha inconstância não vai ser muito boa para ele agora!
- Olha Hugo, eu concordo que o Raul tenha passado por muita coisa nesses últimos tempos e que, realmente, você tem sido bastante inconstante quanto aos seus sentimentos desde que eu te conheço. Mas, se você quer ficar com o Rafael apenas porque você sente que não é uma pessoa boa, saiba que você está completamente enganado! Você está nessa família que formamos há algum tempo e eu sei que você tem inúmeras qualidades, você só precisa as fazer serem mais evidentes do que a sua inconstância! Pense nisso!
- Obrigado Felipe! Você é um bom amigo!
- Eu que agradeço! Por ter trazido o meu marido de volta para mim!
- Ele fez a maior parte de tudo! O seu marido é um homem extraordinário, assim como você! Não é a toa que eu senti algo pelos dois!
- Err... isso ficou para trás, certo?
- Claro! Não me entenda mal, tudo o que sinto por vocês dois agora é uma profunda admiração! Bem, e um pouco de inveja, já que vocês conseguem sustentar o amor de vocês no meio de tanta coisa ruim que vem nos acontecendo! Espero poder fazer o mesmo, seja lá quem eu escolher para ficar ao meu lado!
- Eu sei que você vai conseguir! Quanto ao "quem", eu só tenho uma dica: escolha a pessoa que te faz sentir único, independente da aparência!
- Obrigado! Eu vou levar isso em consideração!
- Eu espero que sim! Agora eu preciso ir, pois o meu adorável priminho está me esperando e eu ainda tenho que pensar em um jeito de alocá-lo no meu alojamento, pois eu tenho a impressão de que ele não vai sair de lá tão cedo!
- Ele é realmente uma criança adorável! Pode dizer a ele que eu sinto muito por tê-lo amarrado, mas eu precisava que ele colaborasse durante a fuga! E desculpe por mais este incômodo que eu lhe causei!
- Eu vou dizer a ele! Quanto a ele ser um incômodo, eu discordo! Talvez ele tenha sido a segunda melhor coisa que você me trouxe de Pasine, depois de ter trazido o meu marido vivo! Bem, espero que você esteja se sentindo melhor! Você vai ter que passar a noite aqui e amanhã discutiremos a reorganização dos alojamentos, agora que temos mais moradores!

O fato de Rafael ter supostamente seduzido Hugo havia me surpreendido muito, visto que eu presumira que o meu primo não fosse se envolver com ninguém depois que Conde Rafael havia destruído a vida do próprio filho. Porém, sabendo da ineficácia do suposto tratamento do meu tio, não me surpreendia o fato de Rafael ainda ter desejos por outros homens. Independente disso, a relação entre ele e Hugo me trazia certo temor, já que Raul havia revelado que talvez ainda tivesse sentimentos pelo ex-namorado. Este tipo de situação não era ideal para o momento que vivíamos no vilarejo e eu, sinceramente, esperava que aquilo não abalasse o potencial de Raul de nos liderar em uma possível nova batalha contra Conde Rafael, visto que ele era o mais capacitado no momento para isso. Quando cheguei ao meu alojamento, Davi estava dormindo em minha cama.

- Ele parecia tão cansado, então o deixamos ficar na sua cama, mas ele acabou adormecendo!
- Tudo bem, acho que essa vai ter que ser a solução! Agora, eu só preciso encontrar um lugar para dormir!
- Você pode ficar com a minha cama irmão! Eu não a uso tão frequentemente e, nos últimos dias, não consigo me afastar da cama de Tomás!
- Eu já disse que eu estou me sentindo bem! Mas eu concordo Felipe, você deveria dormir na cama dele e nós podemos dividir a minha.
- Tem certeza?
- Mas é claro! Amanhã nós decidiremos como podemos alojar o seu primo mais adequadamente!
- Bem, então eu vou aceitar, porque eu estou exausto! Mas onde está o Raul?
- Ele saiu há alguns minutos, mas não disse aonde ia!
- Espero que ele não tenha ido visitar o Hugo!
- Por quê? Achei que eles tivessem se entendido em Pasine!
- Eles tiveram muito tempo para ressignificar o que aconteceu em Finnel!
- Tudo bem, eu vou contar algo muito importante, mas que não deve chegar ao conhecimento do Raul até que seja extremamente necessário!

Contei aos dois sobre a relação entre Hugo e Rafael, o que lhes surpreendeu tanto quanto a mim. Também lhes contei o que havia descoberto sobre a fuga de Finnel, o que levou bastante tempo. Quando terminei de atualizá-los sobre o que Hugo e Rafael haviam me contado, Raul ainda não tinha chegado e meu primo parecia estar em um sono profundo. Assim, considerando-se que eu estava exausto e tivera um dia cheio de tantas surpresas, dormir foi extremamente fácil.
Porém, no outro dia, fora novamente acordado por gritos. Quando saí para verificar a fonte da confusão, encontrei Raul agredindo Rafael no meio de outras pessoas que também faziam o mesmo. Assim, corri em direção à multidão e gritei:

- Parem! Achei que tinha ficado acordado que faríamos uma reunião antes de decidirmos o que fazer com o nosso prisioneiro! Estou certo?
- Felipe, não precisamos de uma reunião para decidir que o pai e ele já nos fizeram muito mal e merecem que a ira das famílias daqueles que morreram caia sobre eles!
- Escutem, eu tenho o direito de lhes dizer o que fazer, eu já deixei isso muito claro! Mas, em nome do bom senso, eu lhes peço que façamos a reunião do conselho antes de continuarmos com... isso...
- O que a reunião vai mudar em nossa decisão de fazê-lo sofrer? Não será apenas uma perda de tempo que acabará no mesmo fim?
- Talvez sim... Mas eu prefiro que tomemos essa decisão em um local calmo e usando de toda a nossa capacidade de analisar os fatos! Eu tenho algumas informações sobre este filho de Conde Rafael, o qual, como sabem, é meu primo! Eu não estou aqui para defendê-lo, mas também não posso deixar de interceder para que ele tenha um julgamento justo, considerando-se a nossa ligação. Prometo que serei imparcial na apresentação das informações que possuo e, aqui na frente de todos, abdico do meu voto no conselho como uma prova do meu comprometimento com as pessoas deste vilarejo.

As pessoas acataram o meu pedido e, assim, a decisão sobre o futuro de Rafael fora momentaneamente adiada para dali a uma hora, quando aconteceria a reunião do conselho. Algumas pessoas levaram Rafael de volta para o local de onde o haviam tirado e o resto se dispersou. Raul também estava indo embora, mas eu o interceptei.

- Raul! Por que você fez aquilo?! Eu achei que você tinha concordado com a minha decisão!
- Eu tinha... até conversar com o Hugo...
- O que ele te disse?
- Você sabe... ele me disse o que aconteceu entre eles nesse período...
- Eu sinto muito Raul! Eu...
- Não importa! Eu te disse que estava conformado com a minha sina! Desculpe pela confusão, eu perdi a cabeça!
- Está tudo bem, esquece isso! Mas, você vai ficar bem?
- Vou... eu sempre fico... Mas eu preciso espairecer! Nos vemos na reunião do conselho, tudo bem?
- Claro...

Raul estava, visivelmente, devastado e eu não podia suportar vê-lo daquela forma. Eu me sentia inútil, pois não sabia o que fazer para fazer aquilo menos devastador para o meu amigo. Como eu previra, o envolvimento de Hugo com Rafael havia trazido problemas para Raul. Aquilo, de certa forma, causara um pouco de frustração e raiva, pois eu estava planejando contar o que havia acontecido de forma menos drástica para Raul, mas Hugo se antecipara. Assim, fui ao local onde ele estava para tirar satisfações. 

- Hugo, eu não acredito que você...
- Como sempre, fazendo questão de ser notado onde quer que você entre!

Lá estava ele. Sentado na cama, sorrindo, com olhos alertas e, o melhor de tudo, vivo! Eu nem me importei de não terminar a frase que havia começado. Eu, simplesmente, corri para os seus braços, encostei-me em seu largo peitoral e lá me mantive, sem pressa e nem intenção de me afastar dele por incontáveis minutos. As lágrimas corriam de forma incontrolável e eu soluçava diante da reciprocidade do abraço do meu marido. Ele estava de volta e, naquele momento, era como se nunca tivéssemos nos separado.