domingo, 17 de novembro de 2013

Capítulo 4 - O Início de Uma Guerra (Cont.)

Depois de sair da UFTU, Enzo voltou para a cada de Daniel, que já o estava esperando, visto que havia saído muito mais cedo da universidade naquele dia.

- Daniel! - Gritou Enzo enquanto esperava à porta da casa de Daniel, depois de ter apertado a campainha mais de uma vez.
- Oi amor...entre, me desculpe! - disse Daniel ao abrir a porta - eu acabei cochilando enquanto te esperava! Mas que história de me chamar de Daniel é essa?
- Claro amor, você queria que eu gritasse aqui na rua da sua casa: AMOR, JÁ CHEGUEI!?
- Realmente - respondeu Daniel rindo - mas eu prefiro que você me chame assim!
- Tudo bem! Então vamos começar tudo de novo, eu vou lá fora gritar por você novamente! - Enzo se dirigia para a porta enquanto falava.
- Deixa de ser engraçadinho, vem cá - disse Daniel enquanto envolvia Enzo em seus braços - Eu preparei uma seleção de filmes pra gente assistir e estava pensando em fazer pipoca! Topa?
- Com certeza amor! Só que eu não vou poder dormir aqui hoje, porque eu estou cheio de matéria para estudar!
- Tudo bem! Eu já me contento em ter tido a oportunidade de dormir agarradinho com você ontem - Daniel deu um beijo em Enzo ao final da frase.
- Bom, deixa-me olhar essa seleção que você fez!
- Tá bom! Enquanto isso eu vou preparar a pipoca!

Enquanto os dois apaixonados estavam fazendo esse programa caseiro, em outro lugar da cidade Frida estava arquitetando o seu plano para se vingar de Enzo, junto com Juliana, a moça que os viu se beijando há algum tempo.

- Mas no que estás pensando Frida? De que forma pretendes te vingar do Enzo? - perguntou Juliana.
- Apesar de ser assumidamente gay, o Enzo não gosta de ter a sua vida pessoal exposta - respondeu Frida - então eu vou revelar para toda a universidade que tipo de pessoa ele é: primeiramente, um homossexual, em segundo lugar, um perigo para os relacionamentos e, em terceiro lugar, um traidor de amizades.
- E como pretendes fazer isso?
- Se eu bem conheço o Daniel, ele e o Enzo devem ter um ritual de parar o carro no mesmo local onde os vistes naquele dia, para fazer sabe-se lá o que! Então quero contar com a tua ajuda para tirar uma foto disso, sendo totalmente despercebida como da última vez!
- Bem, eu posso tentar, pois eu estou do teu lado nessa história, afinal o cara é um traidor e te deu uma apunhalada da pior forma! Mas tens certeza de que eles estarão no mesmo lugar?
- Com certeza! O Daniel é maníaco por rituais! - disse Frida com muita convicção - Ele sempre sentava de um lado do sofá quando estávamos em casa, sempre me deixava no mesmo local quando íamos pra UFTU, sempre sentava no mesmo lugar na "Snack", e assim por diante!
- Bom, nesse caso eu posso fazer isso sem problemas, afinal é no meu caminho habitual de casa pra UFTU.
- Muito obrigada Jú! Eu não vou esquecer esse favor!

Na manhã seguinte, Daniel foi buscar Enzo em casa para irem juntos para a UFTU. Quando chegou no local foi convidado pelos pais do rapaz a tomar café com eles.

- O que achou do bolo Daniel? - Perguntou Maria.
- Está delicioso! Como sempre dona Maria!
- Eu adoro comer bolo de manhã, principalmente o da minha mãe! - disse Enzo, que já estava no segundo pedaço de bolo - Eu vou até mais feliz pra universidade! - ele riu.
- Ah amor, mas você é um papa-bolo mesmo né?! - disse Daniel.
- O Enzo não sossega enquanto a mãe dele não faz um bolo para ele comer antes de ir pra universidade - disse Roberto - é, praticamente, sagrado que tenha isso pra café-da-manhã, se não ele reclama!
- Eu imagino! - respondeu Daniel - quando, a gente sai para comer alguma coisa ele sempre pede a mesma coisa! Bolo de chocolate.
- Eu quero saber se você veio me buscar para ir à para a UFTU ou para me difamar na frente dos meus pais - replicou Enzo rindo - e vocês dois não deem muito papo pra ele, se não já viu!
- Bem, o café-da-manhã está muito bom tios, mas acho que a gente já tem que ir né amor? - disse Daniel, levantando-se da cadeira.
- É verdade amor! Pai, mãe, volto de tarde tá? - disse Enzo enquanto caminhava em direção à saída - beijos!

No caminho para a UFTU, como Frida previra, Daniel parou o carro a alguns metros da universidade, para que ele e Enzo, como de costume, pudessem se despedir de uma maneira mais íntima sem que ninguém visse. Porém, novamente, os dois estavam alheios à presença de Juliana, que os observava e, dessa vez, registrava o seu momento intimo através de uma câmera.
No final da tarde, enquanto Daniel estava na casa de Enzo, visto que fora convidado novamente pelos pais do rapaz a se juntar a eles, Juliana acabara de entregar a Frida as fotos tiradas naquela manhã.

- Muito bem Jú! Agora aqueles dois vão ver o quanto eles me magoaram!
- O que você vai fazer com a fotos? - perguntou Juliana - eu ainda não entendi!
- Amanhã você e toda a universidade vão saber, não se preocupe!

No outro dia, cartazes com fotos de beijo estavam afixados por toda a extensão da universidade, acompanhadas do seguinte título:
Ladrão de Namorados!

Quando chegaram à universidade, os dois não acreditavam no que viam, principalmente Daniel, que estava tão perplexo a ponto de ficar estático na posição em que se encontrava quando avistou o primeiro cartaz.

- Amor...me diz...que isso não está acontecendo! - disse Daniel quase inaudível.
- Amor...eu...eu não...- Enzo mal conseguia pronunciar as palavras - eu não sei como isso...

Antes que Enzo pudesse concluir a frase, Frida se aproximou deles e disse:

- Gostaram?
- Frida...Você...Você fez isso? - disse Daniel ainda incrédulo.
- Claro! Eu particularmente acho que estás um gato nessas fotos! - ela replicou.
- Por que? para que? - Enzo estava praticamente gritando.
- Eu te disse Enzo, você arranjou uma inimiga! Isso é só o começo! - ela disse isso enquanto ia embora, então parou e acrescentou - pode esperar mais!
- Amor, eu não posso ficar aqui - disse Daniel se dirigindo à saída da universidade - você vem comigo?
- Claro amor! me espera!

Enquanto se dirigiam à saída, eles perceberam algumas pessoas olhando diferente e fixamente para eles, fazendo comentários em tom de voz baixo, cochichando umas nos ouvidos das outras. Quando chegaram à saída, Daniel prontamente correu até o carro, enquanto Enzo parou um instante no portão, olhando para trás e refletindo sobre o fato de realmente ter perdido uma amiga. Pior do que isso, foi ter arranjado uma inimiga que sabia de todos os seus segredos, assim como todas as suas fraquezas. A guerra tinha realmente começado, mas quando virou e rumou para o carro de Daniel, Enzo estava determinado a não ser um inimigo tão fácil de se abater.
Depois de deixarem a universidade, Daniel estava bastante nervoso, tanto que começou a acelerar cada vez mais, até o ponto em que Enzo pediu a ele que parasse o carro, para que pudessem conversar sobre o que havia ocorrido.

- Amor...você precisa se acalmar...a Frida...
- Amor...eu... - Daniel não conseguiu conter as lágrimas, então desabou no colo de Enzo. Depois de se sentir novamente preparado ele continuou - eu não posso passar por algo assim de novo...
- Passar pelo quê...eu não...
- Eu vou te contar tudo amor - disse Daniel o interrompendo.

Daniel relatou o fato ocorrido com o amigo Lucas quando tinha sete anos de idade e as reações por parte tanto de sua babá como de seus pais.

- Amor...que horrível! Por que nunca me constastes isso? Não é uma coisa muito saudável de se guardar para si! - disse Enzo preocupado.
- Eu não gosto de falar do assunto amor! A rejeição que eu recebi por esse fato tão insignificante foram tão severas que até pensar nisso ainda é doloroso! - Daniel parou um momento e depois continuou - Os olhares que eu recebi hoje na UFTU foram iguais aos que eu recebi dos meus pais...Enzo, e se eles, de alguma forma chegarem a ter conhecimento disso...e se...
- Calma amor! - disse Enzo enquanto o abraçava - você se lembra do que me disse quando me pediu que ficássemos junto? que não ia temer a opinião das pessoas se eu estivesse com você?! Pois eu estou aqui e não vou te deixar sozinho nisso! Tudo vai dar certo!
- Mas eu não sabia que seria exposto dessa maneira!
- Realmente amor, eu também não imaginava que as coisas iam ser dessa forma, mas tudo bem! sabe por que? - Enzo beijou o topo da cabeça de Daniel - Porque eu te amo e não vou deixar que nada abale esse sentimento! O que ocorreu é obra de uma pessoa mesquinha e infantil, que eu um dia considerei uma amiga, mas hoje se tornou alguém que nem merece que eu me preocupe com as coisas que ela faz!
- Amor...eu não estou preparado para voltar à universidade tão cedo e, se não te importares, eu queria ira pra casa descansar e refletir sobre tudo isso!
- Eu entendo amor, não se preocupe! Só quero dizer mais uma coisa: o que nós estamos fazendo não tem nada de errado! Ser gay não tem nada de errado! Independentemente do que os seus pais, a sua babá ou qualquer outra pessoa diga!
- Amor...muito obrigado! Eu te amo!
- Eu também te amo! - Enzo o abraçou forte e o beijou, então prosseguiu falando - Agora me deixa em casa, por favor! e quando chegar em casa me liga, tudo bem?
- Claro! eu ligo sim, com certeza!

sábado, 16 de novembro de 2013

Capítulo 3 - Lembranças do Passado (Cont.)

- Felipe...eu não entendo o motivo dessa atitude por parte dos teus pais! Bernardo e Luiz naturalmente se interessam por homens e eu não vejo qualquer problema nesse sentido, assim como não veria se eles se interessassem por mulheres.
- Eu compreendo a sua perplexidade Manoel, pois os costumes desse vilarejo, de certa forma, assustaram até a mim! Eu não conseguia compreender como esta questão era tratada tão naturalmente aqui. Os meus pais também não entenderiam e é por essa falta de conhecimento que eles agiram tão severamente para comigo, mas no fundo são pessoas de bom coração.
- Realmente não faz o menor sentido essa atitude da sua família! Durante muito tempo fui cortejada por mulheres, mas atualmente estou compromissada com um rapaz do vilarejo. Se nossa relação não der certo eu poderia muito bem me engajar com uma dama.
- Naturalmente Paula, nós somos livres para escolher quem nos agrada, ou melhor, quem nos encanta! Apesar de eu nunca ter sido cortejada e nem ter me engajado com mulheres, eu não vejo qualquer restrição quanto a isso.
- Este é um dos pontos que sempre me fez sentir "encaixado" aqui nesta casa, além da acolhida de vocês é claro. Quem me dera meus pais fossem tão liberais sobre esse assunto, tal como você Manoel!
- Eu também sou muito rígido com minhas crenças Felipe, por isso estou tentando compreender a atitude dos teus pais, mas o que realmente me intriga é que eles puseram isto acima de você, que é o único filho deles. Isto não está certo!
- Manoel, agora que vocês já sabem de onde eu vim...eu terei que ir embora desta casa?
- Ora, mas que bobagem Felipe, é claro que não! Você já é parte dessa família desde o dia em que chegou e agora que és companheiro de Bernardo, isto seria totalmente despropositado!
- Eu te disse!
- Muito obrigado Manoel! Eu estava tão aflito com essa possibilidade!
- Pois não há com o que se preocupar! Você é e sempre será parte desta família! És um filho pra mim, em vários sentidos!

Depois que tudo havia sido esclarecido e a minha mente estava em paz novamente, eu parti com Bernardo rumo ao pasto, pois já me sentia preparado para voltar ao trabalho. Mas antes de chegarmos ao local, Bernardo me conduziu até uma lagoa localizada no meio do caminho. Nós sentamos à beira da lagoa e, como eu não entendia o motivo de estarmos ali, esperei até que Bernardo dissesse algo. E ele o fez:



- Felipe...o dia está lindo não é?
- Claro, está lindo! Por mim a gente poderia ficar apreciando a vista por horas, mas precisamos trabalhar!
- Não se preocupe...nós já vamos para o pasto, mas antes eu queria te dar uma coisa...

Conforme verbalizava ele tirou de um dos bolsos um cordão com um pingente e, sorrindo tão lindamente quanto sempre o fazia, o estendeu para mim segurando em ambas as mãos.


- O dia não podia estar mais perfeito do que hoje para eu poder te dar esse presente! Assim como esse sol refletindo nesse lago, você iluminou a minha vida de uma maneira sem precedentes! Este pingente representa você, pois pra mim o seu símbolo será sempre o sol, pois és majestoso e, ao mesmo tempo, generoso! Você tem brilho próprio e, por onde passa, ilumina a vida das pessoas!




Como de costume, Bernado me deixou sem palavras e/ou reação, mas isso não estragou o momento, pois ele se inclinou e colocou o cordão em meu pescoço. Ao terminar ele me beijou e nós ficamos tão envolvidos que simplesmente nos deitamos na relva, de uma forma cada vez mais intensa. Porém, repentinamente, Bernardo, interrompeu o processo, antes mesmo que ele ficasse ainda mais intenso. Então, finalmente, rumamos para o pasto e, quando eu estava descendo do cavalo no local, Bernardo me disse algo antes de irmos, efetivamente, trabalhar:

- Eu te amo! Hoje não poderei ficar com você, mas volto em breve!
- Tudo bem Bernardo, eu ficarei bem! Te aguardo ansiosamente!

Enquanto Bernardo estava na cidade comercializando os produtos advindos das ovelhas, eu tentei me concentrar no meu trabalho de condução e selecionamento das ovelhas, que aliás eu desempenhava cada vez melhor, mas eu, absolutamente, não me focar totalmente, pois vinha à minha mente, constantemente, as imagens dos momentos felizes que Bernardo vinha me proporcionando e na sensibilidade com qual ele  os conduzia, então aquelas três palavras fizeram sentido vindas de mim também, tanto que, quando Bernardo chegou, eu o abracei fortemente e as pronunciei, quase gritando:

- EU TE AMO!

- Felipe...eu...nossa! É tão bom ouvir isso de você, que eu fico quase sem saber o que dizer!
- Não diga nada, apenas saiba que estas palavras são genuínas e você é o único homem que já as ouviu vindas de mim!

Depois de ouvir isso, uma brilho surgiu nos olhos de Bernardo, deixando-os ainda mais lindos, assim como um sorriso no canto dos seus lábios que expressava a sua felicidade. Então, ele fez algo, ao mesmo tempo, lindo e inesperado: se ajoelhou perto de mim, segurou minha mão direita e fez a seguinte pergunta:

- Você, Senhor Felipe, me dá a honra de te conduzir até em casa?


Eu ri da situação, mas também entrei no personagem e respondi:


- É claro Senhor Bernardo! Nada me deixaria mais contente!


Nesse clima, seguimos para casa. Quando chegamos lá, jantamos com o resto da família, conversamos sobre o dia de cada um e eu não podia deixar de me sentir a pessoa mais feliz do mundo, afinal aquela família me fazia sentir incluso e o meu namorado era incomensuravelmente romântico e sensível.
Depois do jantar, Bernardo me conduziu até meu quarto e, antes que ele fosse embora, eu pedi que ele ficasse comigo. Ele aceitou e se deitou comigo, então conversamos sobre diversos aspectos da nossas vida até então desconhecidos para ambos, como a nossa infância.
Antes de dormirmos, naturalmente, nos abraçamos, nos beijamos e trocamos carícias. Nesse momento o processo se intensificou novamente, e, mais uma vez Bernardo o interrompeu, porém, desta vez, ele me disse o porquê:

- Felipe...acho que nós precisamos conversar sobre isso...
- Se você não quiser a gente não precisa levar isso adiante, não há problema algum!
- Bem...eu realmente quero...você não sabe o quanto eu estou te desejando nesse momento! Mas eu prefiro esperar até depois que nós tivermos um compromisso ainda mais sério!
- É claro Bernardo, como eu disse, não há problema! Mas o que seria um compromisso mai sério?
- Bem...casar, não é óbvio?
- Espera...nós...
- O que foi...Você não quer?
- Não...É claro...Digo, a gente pode fazer isso?
- Claro, quando duas pessoas se amam muito, elas se casam!
- Desculpa Bernardo, não me entenda mal, eu não sabia que nós podíamos fazer isso! Nada me faria mais feliz do que ter um laço ainda mais forte com você!
- Ainda bem, eu realmente cheguei a pensar que você não queria! E você realmente não se importa se esperar até depois da cerimônia para consumarmos esse desejo? Desculpe, mas eu levo muito a sério o preceito de consumar apenas depois do casamento.
- Não, eu com certeza esperarei! Ansiosamente, mas esperarei!

Nós rimos bastante da minha última fala, então nos aconchegamos para podermos dormir.

- Você ainda quer que eu durma aqui com você?
- Claro! nem ouse me deixar sozinho!
- Tudo bem, estarei aqui ao seu lado!
- Antes de dormirmos, posso perguntar uma coisa?
- Sim, pergunte!
- Se você leva aquele preceito tão a sério, quer dizer que você...nunca...nunca consumou um relacionamento?
- Bem...não! Isso é muito estranho pra você!
- Não! Na verdade eu estava pensando se, a partir do que eu te contei, não te incomoda o fato de eu já ter tido essa prática há bastante tempo?!
- Ora, você não me parece nenhum pouco com aquela pessoa, então não me importo com o seu passado. Nossos preceitos são um pouco diferentes, mas quem sabe podemos aprender muitas coisas dividindo nossas crenças um com o outro.
- Sabe Bernardo, quando eu penso que você não pode ser mais perfeito, você abre a boca e me surpreende!
- Eu te amo!
- Eu também te amo! Boa noite!