- Be...bem, então chegamos ao carro e já terminamos nossa conversa – disse Enzo, manobrando a cadeira de rodas na direção contrária – Agora eu vou voltar... – antes de Enzo terminar a frase, sentiu um braço pressionado contra o seu pescoço, a apertar cada vez mais forte, até que ele perdeu a consciência.
Ao retomar a
consciência, Enzo se sentia confuso e indisposto. Ele percebeu que suas mãos
estavam atadas e ele estava amarrado em uma cadeira. Olhando ao redor, não
reconhecia onde estava, porém, ao focar um pouco mais a atenção, percebeu duas
vozes vindas de outro cômodo, as quais ele prontamente reconheceu:
- ... limites? eu não
sei como pretendes sair dessa... mas eu não quero ter nada a ver com isso! Cumpra
a sua parte do acordo! – disse a pessoa que Enzo supunha ser Lucas.
- Mas eu ainda preciso da sua ajuda! – respondeu
Frida. Enzo reconheceria aquela voz em qualquer lugar, seja porque antes tinham
sido muito amigos ou porque, atualmente, era a sua maior inimiga - Eu só quero
dar um susto nele e depois vamos deixa-lo no mesmo lugar! – Naquele momento,
Enzo estava muito confuso, afinal os dois estavam trabalhando juntos este tempo
todo?
- Não foi isso que
combinamos! – Exclamou Lucas - Eu quero que apague definitivamente a gravação e
que nunca mais nos falemos! Eu já cumpri a minha parte! Dei aquele “recado” no
dia do noivado dos dois e hoje trouxe o Enzo até você! Daqui pra frente você
está por conta própria! – Espera... então Lucas tinha sido o autor do incidente
no dia do seu noivado, mas Frida tinha sido a mentora? Enzo estava cada vez
mais confuso.
- Ah sim?! E se eu não
apagar a gravação e ao invés disso mandar para o amigo do meu pai que trabalha
na polícia?! O que ele vai achar da sua confissão de que intencionalmente
deixou que alguém quase se afogasse?
- Olha, eu me arrependo profundamente
disso e quando confessei isso para ti eu achei que fossemos amigos... não podia
estar mais enganado! Mas eu não vou me deixar envolver ainda mais nos teus
planos ou eu temo que coisa pior possa acontecer com um dos dois!
- O que você quer dizer?
Então eu posso enviar esta gravação para a polícia?
- Faça o que quiser! Se
me entregar para a polícia, eu te entrego também! Eu posso muito bem provar
onde eu estava ontem à noite! Mesmo que o seu plano fosse me incriminar! – disse
Lucas, decididamente - Quando me pediu para usar o meu carro, eu imaginei que
iria fazer alguma loucura, então me certifiquei de estar em algum lugar com
várias testemunhas! Mas eu nunca imaginei que fosse fazer isso ao Guilherme! O que
você tem na cabeça? – Esta foi a parte que mais surpreendeu Enzo. Então o carro
era mesmo o do Lucas, mas era a Frida quem estava ao volante! Ela, de fato, tem
um Uno vermelho, por isso não teve problemas em responder à pergunta sobre o
seu carro na frente de todos!
- Então é assim que vai
ser? Tudo bem, pode ir embora então! Eu resolvo essa situação sozinha! Mas eu
não vou esquecer dessa traição! E mais uma coisa, você não é ninguém para falar
de loucuras! Afinal, ias deixar o Enzo se afogar por puro ciúme! O que te
diferencia de mim? Nada!
- Você não sabe do que
está falando... foi um momento de fraqueza...
- Olha, eu não posso te
julgar! O Enzo é extremamente irritante, eu também faria o mesmo e...
- Não é nada disso! –
interrompeu Lucas – Eu não tenho nada contra o Enzo, ele é uma pessoa amável e
gentil, por isso eu estou realmente arrependido do que fiz e, se eu soubesse
que isso me levaria a ter que te ajudar a raptá-lo hoje, eu teria ajudado ele a
sair daquele piscina... mas, naquele momento, tudo o que eu conseguia pensar
era que, se ele não estivesse ali talvez eu tivesse uma chance...
- Uma chance de que?
- De ter uma segunda
chance com o Daniel... – ao ouvir isso, tudo fez sentido para Enzo. Todo o
comportamento errático, as mudanças extremas de humor e a obsessão em ir ao
encontro de Daniel, mesmo quando ele já tinha sido rejeitado múltiplas vezes.
- Bem, continuo a não
poder julgar... – respondeu Frida, mais calma – tudo o que eu estou fazendo, no
fundo, é porque eu ainda amo o Daniel... se ele não quer ficar comigo...
- Então ele não vai
ficar com ninguém, certo? – completou Lucas – Eu sei como se sente, mas eu não
acho que seja o melhor caminho...
- Como assim?
- De fato não há chance
para nenhum de nós dois, pois o Daniel é perdidamente apaixonado pelo Enzo.
Eles já passaram por tantas coisas juntos, que eu não acho que ele vá ter esse
tipo de sentimento por mais ninguém. Portanto, no meu caso, o que eu estou
tentando fazer é participar da vida dele de alguma forma, mesmo que não seja
como o companheiro dele. O Daniel foi o meu primeiro amor e ele já era incrível
como criança, mas ele cresceu para se tornar uma pessoa ainda mais
impressionante! Será que é justo acabar com a vida dele? Ou, pior ainda, acabar
com a vida do Enzo, que não tem culpa do fato de o Daniel não nos amar?
- Você não entende o que
esses dois fizeram comigo! – respondeu Frida, contrariada.
- Você já me contou a
história...
Enquanto Frida e Lucas
conversavam no outro cômodo, Enzo estava com a cabeça cheia de pensamentos e
memórias eliciadas pela conversa que acabara de ouvir. Muitas das coisas que
estavam acontecendo nos últimos tempos faziam muito mais sentido agora e ele,
surpreendentemente, estava feliz em saber que Lucas afinal parecia não estar
totalmente convencido em prejudicar a ele e a Daniel. Adicionalmente, Enzo
estava mais consciente do ambiente ao seu redor e começou a perceber que ele já
havia estado ali há muito tempo atrás. Ele agora reconheceu o quarto de Frida e
agora só precisava pedir ajuda, portanto, tentou alcançar o celular que estava
no seu bolso esquerdo. Era difícil alcançar o celular com a corda a pressionar
o seu tronco e com as mãos atadas, entretanto ele continuava a tentar, pois
precisava avisar alguém onde ele estava.
- ... afinal, vai me
ajudar ou não?! – disse Frida, no outro cômodo.
- Se você não fizer nada
com ele, eu te ajudo a levar ele a algum lugar onde possam encontra-lo, sem que
descubram quem o tinha raptado – caso queira fazer algo de mal a ele, eu não
quero me envolver e saio daqui com as minhas mãos lavadas.
- Por que, de repente,
você ficou tão preocupado em não machucar o Enzo?
- Pra começo de conversa,
eu nunca tive interesse em machucar ele! Eu já disse que o que aconteceu na piscina
foi um erro, mas não é como seu eu tivesse empurrado ele! Ele escorregou das
minhas mãos e eu fiz uma escolha errada de não o ajudar!
- Tanto faz, eu já me
arrependi desse plano. Vamos fazer isso então... deixamos ele em algum lugar,
depois avisamos alguém para... – Neste momento, Enzo estava no meio da sua tentativa
de alcançar o celular no bolso, mas o aparelho acabou escorregando do seu bolso
e caindo no chão, alertando os demais de que algo se passava no quarto – O que
foi isso?
- Eu não sei, parece que
veio do quarto. Acha que ele acordou?
- Vamos verificar –
disse Frida, dirigindo-se para o quarto. Ao entrar e ver o aparelho no chão e
Enzo consciente, este disse: - Viu do que eu estava falando? Extremamente
irritante!