domingo, 2 de março de 2014

Capítulo 5 - As Batalhas: Perdendo ou Vencendo? (Cont.)

A primeira ação de Daniel ao chegar na sala de espera foi correr até o pai e o abraçar o mais forte possível, enquanto Enzo, convenientemente, se manteve mais afastado, já que o namorado não estava precisando dele por enquanto e ele preferia se manter o mais longe possível dos olhos de Pedro. Várias horas se passaram, durante as quais pai e filho conversavam sobre as reviravoltas no quadro clínico de Cássia e aguardavam novas atualizações do médico, na medida em que Enzo continuava sentado em um local afastado dos dois, também aguardando novidades e pronto para confortar Daniel caso o pior acontecesse.
Aproximadamente, às três da tarde um médico veio, muito solenemente, informar que a equipe de profissionais fizera o melhor para reanimar Cássia, porém  o coração dela não resistira e ela havia morrido. Evidentemente, aquele fato teve um efeito devastador tanto em Pedro como em Daniel, que ao receber a noticia entrou em choque e desmaiou na sala de espera, de modo que fora levado para um quarto para ser examinado. Enzo por sua vez ficou, a principio, sem reação, porém, ao ver o namorado cair no chão e ser levado pelos enfermeiros, resolveu que seria melhor acompanhá-lo, deixando assim Pedro sozinho na sala de espera. Entretanto, passados alguns minutos em que ele desabou em um choro incontrolável, chegou um sujeito que se identificou como enfermeiro e lhe disse:


- Com licença...o senhor se chama Pedro Henrique de Souza Galvão? Marido de Cássia Helena Santos Galvão?
- Sim... - Pedro enxugou as lágrimas e ergueu a cabeça para fitar o homem - Por que?

- Bem, senhor...eu não sei se essa é a melhor hora...mas eu me chamo João e sou o enfermeiro que estava cuidando da sua mulher antes dela ter a parada cardíaca, e...bom...ela, com muito esforço, me pediu que lhe entregasse essa mensagem que eu transcrevi - o homem estendeu um pedaço de papel para Pedro, tocou no braço dele e então disse: - Eu lamento muito a sua perda! - depois disse se retirou.

O papel que João, o enfermeiro, entregou a Pedro continha as seguintes palavras:

"Eu amo a minha família, por isso quero que ela esteja sempre unida.
Pedro, ame o nosso filho como ama a mim.
Esteja sempre ao lado dele, não importa o que aconteça.
Se eu não estiver mais aqui lembre sempre que eu amo vocês"

A carta foi breve mas teve um efeito ainda mais devastador sobre Pedro, que se jogou quase inerte na cadeira em que estava e fechou os olhos, ainda chorando. Porém, alguns segundos depois ele se recompôs, se levantou da cadeira e foi providenciar as ações legais para liberação do corpo e preparação do funeral e enterro da mulher. Depois de arranjar tudo, ele se dirigiu para o quarto em que o filho estava.
Enquanto Pedro estivera dedicando o seu tempo à preparação do funeral e enterro, Enzo estava ao lado de Daniel, que foi reanimado logo depois do desmaio, mas permanecia em observação, o que deu aos dois algum tempo para conversar sem a presença do pai de Daniel, embora o rapaz tenha chorado na maior parte dele. Quando Enzo percebeu que o namorado já estava mais controlado, tentou iniciar um diálogo:

- Amor, eu lamento muito que isso tenha acontecido...

Porém, Daniel não conseguiu verbalizar qualquer coisa, apenas segurou mais forte a mão de Enzo, que se resignou a acariciar os cabelos do namorado e permanecer de mãos dadas com ele, sem qualquer outra tentativa de diálogo. Alguns minutos depois, Pedro irrompeu pela porta do quarto e, apesar de ter fingido que não, viu os rapazes de mãos dadas, os quais rapidamente assumiram outras posições, na esperança de não terem sido flagrados. O que de fato ocorrera!
Diante da chegada de Pedro e avaliando a situação de quase flagrante em que se encontravam, Enzo, sem se atrever a olhar o pai do namorado nos olhos, disse:

- Oi seu Pedro, eu estava fazendo companhia ao Daniel...mas agora que o senhor chegou...eu imagino que vocês tem muito o que conversar. Então eu vou pra casa!
- Ah sim...eu agradeço Enzo - disse Pedro em um tom formal.
- Bom, então tá...me liga se precisar de mais alguma coisa Daniel...e...até mais seu Pedro...
- Tudo bem Enzo, eu ligo... - Disse Daniel, de cabeça baixa, sem fixar os olhos no pai ou no namorado.

Assim, Enzo deixou o hospital com um sensação estranha no estômago e ele sentia que algo entre ele e Pedro havia mudado, mas não sabia como isso iria influenciar o seu relacionamento. Alheio a isso, Daniel permaneceu no quarto com o pai, que prontamente lhe dissera:

- Meu filho...eu não sei o que vai ser da minha vida agora! - o homem abraçou o filho.
- Eu também estou perdido pai...a mamãe era o nosso pilar e agora... - Daniel soluçou - Agora ela se foi...pra sempre...
- Ela te amava muito meu filho - Pedro segurou as duas mãos de Daniel e olhava fixamente para ele - nunca se esqueça disso! Nunca se esqueça que você foi a maior realização da vida dela!
- Espero que sim pai...talvez eu não fosse exatamente o que ela queria... - Daniel estava pensando se a mãe aprovaria o seu relacionamento com Enzo, afinal, ela fora a pessoa que mais lhe reprimira por causa do ocorrido na sua infância, porém, mudou de assunto: -  Mas e agora pai? E o velório? Enterro?
- Não se preocupe com nada disso filho! Eu já resolvi tudo! Bom, por falar nisso, eu não vou poder ficar aqui com você, porque eu preciso ir em casa, trocar de roupa e finalizar os preparativos para o velório! Você entende filho?
- Claro pai! Eles não devem demorar a me liberar, mas você pode ir na frente e, assim que me dispensarem da observação, eu corro para casa.
- Muito bem, sendo assim eu te aguardo lá meu filho! - Pedro beijou o topo da cabeça de Daniel e se retirou do quarto.

Realmente, não demorou muito até que os médicos dispensassem Daniel e ele estivesse livre para ir pra casa. Chegando lá, o rapaz foi direto para o quarto, tirou as roupas que usava, atirando-as em um canto do quarto, e se dirigiu para o banheiro. Durante o banho, e mesmo depois quando vestiu roupas limpas e se deitou para descansar, Daniel se sentia emocionalmente anestesiado, pois ele não chorava mais, mas também estava realizando todas as coisas de modo automático e sem empenho.
Quando o corpo de Cássia chegou para ser velado, Daniel desceu e encontrou várias pessoas que, com certeza, haviam chegado enquanto ele estava deitado, sendo que, entre elas, estavam Enzo e os pais, Roberto e Maria, que vieram falar com ele logo que o viram:

- Daniel, meu querido - disse Maria em tom calmo - eu sinto muito pela sua mãe! Eu não imaginava que eles estava tão mal, se não a teria ido visitar no hospital!
- Eu também sinto muito meu filho - completou Roberto - pode contar com o nosso apoio no que precisar tá?!
- Muito obrigado seu Roberto e Dona Maria! - disse Daniel - Agradeço por terem vindo, vocês são como da família pra mim, então fiquem a vontade!
- Posso falar com você um instante? - Indagou Enzo.
- Pode ser depois do enterro? Eu tenho que ajudar o meu pai a receber as pessoas que compareceram ao velório...
- Tudo bem...

Daniel não conseguia parar de pensar em algo que lhe ocorreu enquanto ele estava no hospital: ele nunca tivera a chance contar à mãe sobre Enzo e agora se sentia um pouco culpado, como se ele a tivesse enganado, até mesmo em seu leito de morte, quando se referiu a Enzo como se fosse apenas um amigo e, agora, não haveria mais tal oportunidade. Isso o fazia se sentir estranho quando pensava em Enzo no velório da sua mãe, como se ele pudesse escandaliza-la, mesmo depois de morta e isso o deixava desconfortável quanto ao namorado, por isso, decidiu que naquele momento iria de dedicar inteiramente a velar a mãe e confortar o pai. Assim, depois de cumprimentar as pessoas que compareceram ao velório, Daniel se dirigiu ao caixão,  tocou a mão esquerda da mãe e, olhando em seus olhos, agora eternamente cerrados, o rapaz falou em pensamento: - Mãe...eu espero que encontres a paz aonde que que você tenha ido. Espero que  paraíso seja  melhor do que a vida que você teve ao nosso lado e, apesar de ficar desvastado pela sua ausência, eu acredito que tudo tem um propósito e talvez você tivesse que partir para seu próprio bem. Eu não sei se fiz tudo o que deveria como um filho, mas eu fiz o meu melhor! Quero ainda me desculpar por nunca ter te contado sobre o Enzo e espero que, de onde estás, entendas que eu o amo e que espero que me perdoe por ter mentido sobre ele. Ele não é meu amigo...é meu grande amor! Mas agora, pra honrar a sua memória eu prometo que vou abdicar disso, assim não me sentirei tão culpado por ter omitido a verdade! Mãe...eu vou achar uma boa moça, como a senhora sempre quis!
Algumas horas transcorreram, enquanto várias pessoas iam e vinham para dar os votos de pesar a Daniel e Pedro, bem como velar Cássia. No outro dia, às sete da manhã, a mãe de Daniel foi enterrada, sendo que, novamente, a família de Enzo estava presente e, enquanto os pais do rapaz conversavam com Pedro, ele se dirigiu a Daniel, que estava afastado dos demais, admirando a sepultura de Cássia:

- Oi amor...como é que você está se sentindo?
- Oi... - Daniel falou com Enzo sem tirar os olhos da sepultura e/ou se virar para o namorado - Na verdade eu não consigo sentir nada desde ontem...não tenho vontade de chorar e nem de fazer mais nada...acho que até vou trancar a faculdade...
- Amor... - Enzo falou em tom agudo - você não pode se deixar abater dessa maneira - então o rapaz fez menção de tocar no ombro de Daniel, que imediatamente se afastou.
- Tem mais uma coisa - agora Daniel tinha os olhos fixos em Enzo - Eu quero terminar com você!
- O que? - Enzo estava boquiaberto e confuso - Mas...por que? Isso é algum tipo de brincadeira?
- Não - Daniel estava decidido - Eu não quero mais namorar com você! Eu sinto muito...acho que nós precisamos nos afastar...
- Amor...eu... - lágrimas rolaram pela face de Enzo - eu não estou entendendo o porquê disso!
- Você não precisa entender...apenas aceite que está acabado - Dito isso, Daniel se virou e caminhou na direção em que seu pai estava conversando com a família de Enzo. Quando chegou onde eles estavam disse: - Pai, acho que já podemos ir, certo? Bom dia seu João e Dona Maria!
- Claro filho - respondeu Pedro e então se dirigiu ao casal com quem conversava: - Bem, obrigado por terem vindo!
- Não há de que! - respondeu Maria.
- O Enzo não estava contigo Daniel? - Indagou Roberto.
- Ah...sim - respondeu Daniel - Ele já está vindo - depois saiu caminhando na companhia do pai.

Minutos depois, Enzo se junto aos pais, que percebendo a vermelhidão em seu nariz e seus olhos, perguntaram:

- Aconteceu alguma coisa Enzo?
- O Daniel...ele terminou comigo...

Naquele dia, houveram duas causas para luto: a morte de Cássia e o, aparente, fim do namoro de Enzo e Daniel, sendo que este ultimo fato ocorrera pelo fato de Daniel estar alheio à verdadeira opinião da mãe sobre o seu relacionamento com Enzo, um mal-entendido que só poderia ser desfeito por Pedro, o qual, desde o inicio se mostrara contrário aquela relação. Assim, muitos fatores culminam para que os rapazes fiquem juntos ou não, mas a principal questão é: Será que a vontade de Cássia de que o marido amasse o filho mesmo ele sendo homossexual prevaleceria para que ele desfizesse o mal-entendido de Daniel?

Um comentário:

  1. Muito triste, espero que isso seja resolvido, torço muito por eles, não quero que acabe assim.

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