- Nádia! Por que você está fazendo isso a este lugar? - Afirmou Gélim enfaticamente.
- O que você esperava?! Que eu realmente agisse como se nada tivesse acontecido? - Nádia demonstrava ira enquanto falava.
- Mas o que aconteceu? Vamos conversar Nádia!
- Eu não quero conversar! Só preciso agir e causar tanta dor quanto eles me causaram! Obrigado por me dar o poder para fazer isso! - Nádia sorriu brevemente, mas não era de fato felicidade que irradiava pelo seu rosto.
- Os seus poderes não deveriam causar nenhum mal às pessoas! Deixe-me ajudá-la Nádia!
- Cale a boca Gélim! Você nunca me compreendeu!
- Eu nunca....
- Chega! - Bradou Nádia enquanto levantava ambas as mãos.
Repentinamente, surgiu uma tempestade de neve a partir das mãos de Nádia e, conforme ela movimentava alternadamente cada mão, estalactites de gelo voavam em direção a Gélim, que as desviava facilmente.
- Nádia, por favor, pare com isso! - Disse Gélim incerto.
- Por que eu deveria? - Nádia ainda sustentava o sorriso no rosto.
- Porque eu estou mandando! - Gélim abriu os braços e uma tempestade de neve se formou progressivamente até atingi Nádia, que surpreendentemente, não saiu do lugar.
- Não desta vez mestre! - Ela olhou diretamente para o Imortal e, fazendo a gesticulação das palavras, disse: - отдых в мирном Gelim!
Nesse momento, a tempestade cessou progressivamente, até sobrar apenas uma estátua de gelo no lugar onde Gélim esteve, a qual, segundos depois, se desfez em minúsculos flocos de neve, que foram levados pelo vento e deixaram o lugar antes ocupado pelo Imortal do gelo vazio.
- COMO VOCÊ SOUBE DISSO? - Bradou Flamus.
- Por que eu ensinei a ela o que eu mesmo pretendia fazer hoje! - Disse um homem que surgiu de trás de uma das casas do pequeno vilarejo.
- Espera...essa voz - Flamus virou em direção ao locutor - Não pode ser! Você morreu há muitos anos!
- Eu acho que não Flamus! Talvez você devesse se esforçar mais da próxima vez! Ah...que pena que não vai haver uma! - O homem fez a gesticulação das palavras e disse: - requiescant in pace Flamus!
De repente, uma labareda de fogo surgiu ao redor de Flamus e, quando esta se extinguiu, restava apenas a neve derretida e um circulo vazio onde antes estivera o Imortal do fogo.
- O QUE VOCÊ FEZ? - Gritou Ethan.
- Nada que você não fosse ter vontade de fazer muito em breve! - Respondeu o homem, que aparentava ter 35 anos - A propósito, meu nome é Saulo e eu quero que você seja o meu pimeiro aprendiz!
- NUNCA! - Bradou Ethan enquanto corria em direção a Saulo - DESFAÇA ISSO AGORA! - Enquanto falava Ethan movimentava os braços e um anel de fogo circulava sobre a sua cabeça, então ele o atirou em direção a Saulo.
- Desine! - Assim que Saulo proferiu as palavras, o anel de fogo se extinguiu - Você é bom, mas eu posso te tornar ainda melhor! Flamus nunca te ensinaria o que eu irei se você aceitar ser meu discípulo, porque ele não queria que você crescesse, estava apenas preocupado em possuir outro seguidor! Pense nisso e, se quiser, pode me encontrar no Monte Corona para iniciarmos o seu verdadeiro treinamento! - Finalizadas as palavras o homem desapareceu, deixando um resquício de fumaça no ar.
- NÃO! - Bradou novamente Ethan.
Logo em seguida, surgiram labaredas nas mãos de Ethan, que se espalharam pelo corpo todo. O garoto permaneceu em uma posição estática enquanto as chamas se tornavam ainda mais intensas.
Quando as chamas se tornaram um redemoinho de fogo, surgiram queimaduras pelo corpo de Ethan, que permanecia imóvel. Nesse momento Oliver disse:
- Ei! Pare com isso...acho que você sobrecarregou o seu corpo... - Oliver estava aflito e não sabia o que fazer, enquanto Ethan permanecia sem esboçar nenhuma resposta, então disse: - Desculpe por isso! - Oliver abraçou Ethan e o envolveu em uma grossa camada e gelo, que cessou o fogo e congelou o corpo do garoto.
Na confusão, Oliver não percebeu quando Nádia também desapareceu, então se viu sozinho com Ethan, que lhe era um completo estranho cuja vida ele acabara de salvar. Inicialmente, ele descongelou Ethan, que caiu no chão e prontamente começou a se contorcer de dor. Oliver perguntou:
- Precisa de ajuda?
- O que aconteceu? - respondeu Ethan em meio aos gritos de dor - O que você fez?
- Eu não fiz nada! - disse Oliver um pouco ofendido - Apenas apaguei o fogo que você mesmo criou!
- Eu criei?
- Sim...e depois ficou como se estivesse hipnotizado ou em transe...eu não sei direito...
- Eu não lembro disso! - Ethan ainda gritava de dor - Meu deus! Meu corpo está doendo muito!
- Eu posso te ajudar...com o gelo...queres?
- Sim! Sim, por favor!
Oliver criou uma fina camada de neve, a qual foi colocada sobre as áreas de vermelhidão no corpo de Ethan, então disse:
- Você...lembra do que aconteceu?
- Sim...eu não sabia o que fazer, então simplesmente me desesperei e...bem, acho que entrei em crise... - Ethan demonstrava frustração - Meu corpo está queimado agora e eu não estou acostumado com isso, porque...bem, você sabe...esse é o meu elemento!
- Relaxa! - Disse Oliver enquanto continuava com as "compressas de gelo" - Eu também nunca tive medo do gelo, até ter euqueimaduras graves por conta dele! Bem, eu ainda me sentia seguro para lidar com meu elemento quando...bem, quando Gélim estava aqui, mas agora...eu...simplesmente não sei que fazer.
- Pelo menos você não é um perigo para as pessoas ao teu redor....já eu...
- Nunca subestime uma tempestade de neve! - Disse Oliver, para amenizar o assunto.
- Bem, isso é verdade...mas...e agora? Eu não tenho para onde ir! Flamus era meio que meu tutor!
- Quer dizer que você não tem pais?
- Bem...é uma longa história, sobre a qual eu não quero falar!
- Tudo bem! Eu entendo...olha...eu acho que tenho uma solução, por enquanto - disse Oliver incerto - Eu tenho que voltar para casa, já que eu não sei onde está Gélim. Se você quiser vir comigo...
- Ir para a sua casa? Mas você mal me conhece!
- Você é um elemental certo? Isso quer dizer que, tecnicamente, somos quase primos!
- Bem...eu não sei...e quanto aos seus pais?
- Vem logo! De qualquer maneira temos que sair daqui!
- Isso é verdade! Vamos então!
Os garotos caminharam até a estação mais próxima para pegar o trem transiberiano até Moscou, de onde continuaram utilizando a malha ferroviária europeia para chegar até Londres e, finalmente, à cidade natal de Oliver: Birmingham. Quando se aproximavam da casa de Oliver, este disse:
- Ethan...podes esperar um pouco aqui fora, enquanto eu converso com eles?
- Eles não vão deixar eu ficar né? Eu já sabia! - Disse Ethan em tom desanimado - Eu não quero te colocar em problemas, eu já agradeço muito por teres me salvo...
- Não seja teimoso! - Disse Oliver em tom firme, porém gentil - Eles são muito compreensivos e nunca te deixariam ficar por aí sozinho! Só preciso de um minuto para dizer a eles o que aconteceu, tudo bem?
- Certo.
Oliver adentrou a casa e, alguns segundos depois, surgiu uma mulher alta, de cabelos loiros, como os de Oliver, a qual parecia aflita com alguma coisa. Quando esta se aproximou do garoto, perguntou:
- Você está bem?
- Err...sim senhora! - Disse Ethan timidamente.
- Ora, não fique nesse frio - fazia 5° na região - entre, vamos! - enquanto convidava o garoto a entrar ela continuou: - Você pode ficar o tempo que quiser aqui conosco! Este é o meu marido Darwin - disse ela quando adentraram a enorme sala dos Fletcher, apontando para um homem de estatura mediana, cabelos marrons, olhos verdes, como os de Oliver, e que aparentava ter 40 anos.
- Muito prazer meu jovem! - Disse o homem oferecendo a mão a Ethan, que a apertou fracamente - Qual o seu nome?
- Ethan senhor...
- Pode me chamar de Darwin.
- Mãe...pai...o Ethan precisa descansar...posso levar ele para o quarto e já volto para nós conversarmos melhor?
- É claro meu filho - Disse Darwin - Até mais Ethan.
- Até mais senh...quero dizer...Darwin! Até mais senhora.
- Até mais Ethan, mas você pode me chamar de Daisy também.
- Eu já volto.
Oliver levou Ethan até o seu quarto, que felizmente tinha um beliche e era grande como todo o restante da casa. Ethan o acompanhou observando tudo em silêncio, porém, quando notou as duas camas, perguntou:
- Você tem irmãos?
- Bem, tecnicamente eu sou filho único...
- Como assim?
- A minha mãe estava grávida de gêmeos, porém o meu irmãozinho morreu logo depois de nascer...bem, a minha mãe nunca superou isso, então ela continua comprando tudo em dobro desde o meu nascimento. É um pouco estranho, mas o meu pai me disse que os médicos não veem problema nisso, já que ela é... "funcional", é esse o termo que eles usam!
- Ah, entendi...bom, eu sinto muito!
- Tudo bem! Na verdade, de certa forma é melhor, porque eu tenho tudo em dobro e, se quiseres, eu posso dividir contigo!
- Comigo? Como assim?
- Eu sempre quis ter um irmão ou algo assim...os meus pais não querem mais ter filhos, porque isso poderia piorar o estado da minha mãe, e a minha família é muito pequena, eu não tenho primos ou algo do tipo sabe...então, já que você não tem casa, você poderia ficar aqui e ser meu...amigo, pelo menos!
- Mas a gente mal se conhece...por que você acha que eu seria um bom amigo?
- Por que você é como eu!
- Ah... - Isso deixou Ethan sem mais palavras.
- Não precisa responder agora! - disse Oliver rapidamente - Apenas descanse e depois eu vou fazer mais uma compressa de gelo - dito isso o garoto saiu do quarto.
Oliver levou mais de duas horas para compartilhar os detalhes da sua jornada e para tranquilizar os pais depois e contar sobre o que acontecera em Ulan-Ude, incluindo as queimaduras de Ethan. Além disso, ele conversou com os pais sobre a possibilidade de Ethan passar a morar com eles. A mãe do garoto proferiu a seguinte resposta:
- Eu adoraria que ele pudesse ficar aqui, porque ninguém merece ficar sozinho nesse mundo e nós temos uma casa tão grande, mas nós só podemos fazer isso com o consentimento dele!
- Então, se ele aceitar, vocês deixam ele viver aqui com a gente? - Perguntou Oliver animado.
- É claro que sim meu filho! Nós nunca poderíamos deixar ele sair sozinho pelas ruas.
- Mas nós também precisamos nos certificar de que ele não tem nenhuma família! - Disse Darwin - Se ele não tiver, nós com certeza preferimos que ele fique aqui meu filho!
- Legal! Eu vou contar para ele!
Oliver subiu as escadas correndo, porém, quando abriu a porta, encontrou Ethan com meio corpo para fora da janela, o qual levou um susto ao ver o garoto e disse:
- Não era para você ver isso!
- O que você está fazendo? - Disse Oliver, confuso.
- Meu lugar não é aqui...e eu tenho coisas para fazer!
- Coisas? - Perguntou Oliver atravessando o quarto em direção à janela - Que tipo de coisas?
- Você não entenderia...
- Tenta... - Oliver parou a poucos centímetros da janela, levantou ambos os braços e disse: - Olha eu não posso te obrigar, mas gostaria muito que ficasses, assim como os meus pais...
- Eu quero...eu quero vingança...eu não quero mais ficar sozinho ou ter culpa pela morte daqueles que eu gosto!
- Eu não acho que os Imortais estejam, de fato, mortos - disse Oliver tranquilamente - E aquilo não foi culpa sua!
- Então onde eles estão? Se eu não fosse fraco eu teria acabado com aquele idiota do Saulo! - Ethan estava visivelmente irado.
- Aquilo não foi sua culpa! Esquece isso tá! E, se depender de mim, nunca estarás sozinho de novo!
- Eu preciso ir atrás do Saulo...
- Acho que uma força-tarefa elemental seria melhor que apenas você certo?
- Do que você está falando? - perguntou Ethan mais calmo.
- Talvez você não saiba, mas eu sou um ótimo elemental do gelo e, bem...antes de "morrer", Gélim me disse que os elementais podem encontrar uns aos outros!
- Outros elementais?
- Sim! Somos oito a cada 10 anos! Então ainda existem seis pessoas da nossa geração com seus seis respectivos Imortais para encontrarmos e nos unirmos para encontrar o Saulo e a Nádia também!
- Tem certeza de que eu posso ficar aqui?
- Bem, tem só um problema...
- Qual?!
- Você precisa me chamar de irmãozinho! - Oliver riu, assim como Ethan - Agora falando sério, você tem algum parente vivo?
- Não... - Ethan assumiu um tom melancólico - sempre fomos eu e o meu pai, até...
- Quer falar sobre isso?
Ethan aceitou contar a história da morte de seu pai, ao final da qual Oliver disse:
- Isso não foi sua culpa...de verdade! Você não poderia controlar o seu poder por muito tempo! Quem sabe o que poderia ter acontecido aos meus pais se eu esperasse até os 14 anos...
- Eu sei...foi burrice minha...
- Não, isso foi um gesto de amor pelo teu pai e eu acho isso muito legal! Eu sei que os meus não podem substituir ele, mas eles são muito bons para mim...
- Então eu posso ficar mesmo?
- Claro! Meu pai só impôs essa condição, então quer dizer que você pode ficar.
- Bem, eu gostaria de ficar então...
- Legal! Eu vou ser o melhor amigo que você já teve!
- Bom, eu nunca tive muitos amigos, então não vai ser algo tão difícil!
- Todos os elementais do fogo são estraga-prazeres ou é só você mesmo?
Desde esse dia, Ethan passou a morar com os Fletcher, que o adotaram como um filho alegando que este fora encontrado na rua e o rebatizaram, depois de dois anos de um longo processo legal, como Ethan Fletcher.
Os dois garotos passaram este dois primeiros anos procurando os os outros elementais, até que em 2014, eles finalmente, encontraram Gabriela Rodrigues, a elemental das plantas. Depois disso, a casa dos Fletcher, que tinha muitos quartos, se tornou uma espécie de quartel-general, com a total provação dos pais de Oliver, pois, infelizmente, os outros Imortais também tiveram o mesmo destino de Gélim e Flamus e os meninos e meninas, apesar de terem casa para voltar, precisavam aprimorar as suas habilidades de controle dos poderes.
Assim, no quartel-general dos Fletcher, os oito elementais, escolhidos no ano de 2001, começaram a treinar as suas habilidades juntos e eles se tornaram cada dia mais fortes e precisos na utilização dos seu poderes.
Seis anos se passaram desde o desaparecimento de Gélim e Flamus e, nesse tempo, Ethan e Oliver se tornaram praticamente inseparáveis, pois construíram uma amizade que, na verdade, os tornou realmente irmãos. Eles se tornaram os lideres dos outros elementais e uma espécie de instrutores para eles, visto que foram os únicos que realmente receberam, ainda que pouco, algum tipo de treinamento de um elemental.
Porém, uma coisa ainda inquietava Ethan: Ele nunca achou Saulo, o homem que "matou" Flamus, o Imortal que se tornou uma especie de pai para ele, mesmo que por pouquíssimos dias, depois que ele perdeu o seu pai biológico na triste tragédia ocorrida quando ele tinha 14 anos. Apesar disso, Ethan seguiu a vida normalmente diante de toda a receptividade dos Fletcher e até quase esqueceu a sua vingança contra Saulo. Porém, muito em breve, este personagem do seu passado voltaria para lhe lembrar destes sentimentos.
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