- Mas não tivemos qualquer notícia dele e já se passaram várias semanas!
- Irmão, eu sei que você está preocupado com o Bernardo, mas ele vai ficar bem! Eu tenho certeza!
- Você só diz isso porque o amor da sua vida está bem aqui, onde você pode vê-lo!
- Bem... talvez não por muito tempo...
William se retirou da reunião. Eu sabia que tinha ido longe demais e fui atrás dele para consertar o que eu havia feito.
- Espera William! Eu sinto muito!
- Está tudo bem Felipe...
- Não, eu sinto muito mesmo! Eu estava sendo egoísta quando disse aquilo! Eu sei que a situação do Tomás é crítica!
- Eu sei e eu estou com tanto medo!
Aquela era a primeira vez que eu via William chorar. Eu não sabia muito bem o que fazer, então permaneci em silêncio.
- Desculpa! Eu deveria ser mais forte, mas eu não sei o que eu faria se o pior acontecesse!
- Não vai acontecer! Ele vai ficar bem!
- Você sabe que isso não é verdade... Ele vai ter que perder a perna direita se quiser sobreviver! Eu não posso tomar essa decisão por ele e nem quero! Mas ele insiste que só vai tomar uma decisão com base em minha opinião! Isso está me consumindo, porque, obviamente, eu não quero que ele morra, mas ele é um guerreiro e eu tenho medo que, se perna for retirada, ele definhe por não poder andar como anteriormente!
- Eu entendo a sua aflição. Mas, se você quer a minha opinião, você deveria aconselhá-lo a deixar que cortem a perna, já que essa é a única maneira de conseguir com que ele fique vivo e depois vocês podem encontrar uma maneira de fazê-lo voltar a andar.
- Você tem razão! Eu não sei o porquê de tanta hesitação! Eu deveria me manter calmo, mas vê-lo doente por tanto tempo está acabando comigo!
- Isso é normal William! Ouça, se você quiser nós podemos ir agora conversar com ele e ajudá-lo a tomar a melhor decisão! Eu vou lhe oferecer suporte enquanto você explica o que decidiu para ele!
- Mas eu pensei que você queria ir atrás do Bernardo!
- Eu acho que isso pode esperar mais um dia! Além disso, essa é a minha forma de pedir desculpas por falar besteira durante a reunião!
Aproximadamente, cinco semanas haviam passado desde a fuga de Pasine. Do grupo que havia partido para atacar o reino do meu tio, apenas nove pessoas haviam retornado. Bernardo e Hugo haviam, voluntariamente, ficado para trás, a fim de se infiltrarem no exército de Conde Rafael, já que ambos haviam conquistado a confiança do meu tio. O restante das pessoas, infelizmente, havia morrido ao longo do tempo em que permanecemos prisioneiros em Pasine.
Quando retornamos a Finnel, o vilarejo que havíamos lutado tanto para construir estava completamente devastado e não havia qualquer sinal das pessoas que haviam ficado para trás. Nós sabíamos que Conde Rafael viria atrás de nós, então continuamos a nossa caminhada para outro local no qual pudéssemos nos esconder. Inicialmente, nos alojamos de forma precária em uma floresta muito densa nas proximidades de Finnel, tal como havia ocorrido depois da minha fuga de Heliópolis. Cada noite naquele local fazia-me lembrar de Bernardo, pois ele fora meu porto seguro enquanto eu ainda era um principezinho fraco e assustado que havia acabado de ser expulso de seu próprio reino. Porém, as coisas agora eram diferentes e eu precisava me manter calmo, já que, tecnicamente, eu ainda era o líder daquelas pessoas que haviam sobrevivido ao massacre em Pasine. Mesmo que o meu coração estivesse partido pela distância e pela incerteza que permeavam a minha vida com Bernardo naquele momento, eu tentei me manter centrado na missão de conduzir os meus companheiros a um local seguro.
A minha maior demanda era encontrar um local adequado para tratar Tomás, o qual havia sido atingido na perna direita por um dos guardas de Conde Rafael. Nós estancamos o sangramento, porém a ferida não se curou e foi progressivamente piorando. Além disso, a situação foi agravada pelo fato de nossa alimentação e asseio terem sido bastante precários durante as primeiras semanas, tanto por falta de recursos como pela necessidade de continuarmos escondidos dos guardas do meu tio que, provavelmente, estavam nos procurando.
Na segunda semana, William saiu para procurar outro local, visto que a situação de Tomás vinha piorando muito e não poderíamos mais permanecer naquela floresta ou ele certamente morreria. Felizmente, o meu irmão retornou com ótimas notícias: Carlos, um jovem rapaz que fazia parte do grupo que atacou Pasine, conseguiu escapar da emboscada e avisar ao nosso povo para que fugissem com algumas horas de antecedência do ataque que dizimou Finnel, o qual aparentemente não deixara vítimas. Posteriormente à fuga do nosso vilarejo, o nosso povo foi recebido nos vilarejos que faziam parte do então "quase reino de Finnel". Conde Rafael havia destruído a sede do nosso poder, a Finnel original, mas os vilarejos que nos apoiavam ainda existiam e, naquele momento, eles eram a nossa esperança.
Nós fomos muito bem recebidos no vilarejo para onde Carlos nos levou, o qual ficava ao sul do nosso antigo vilarejo e, portanto, ainda mais longe de Pasine, o que era perfeito para a nossa estratégia de fugir do alcance de Conde Rafael. As pessoas que faziam parte da antiga Finnel nos reverenciaram e nos trataram como heróis de guerra, mas eu não poderia ter me sentido menos heroico, pois muitas daquelas pessoas haviam perdido os seus entes queridos e eu não consegui impedir aquilo.
Outras três semanas decorreram, estranhamente sem nenhum sinal dos homens de Conde Rafael, embora tenhamos recebido notícias de ataques a outros vilarejos ao norte, os quais faziam parte da antiga Finnel. Durante esse período, eu e meus outros oito companheiros nos adaptamos à vida no nosso novo vilarejo, cujo nome era Arlyston. O vilarejo era consideravelmente menor do que Finnel e, considerando-se que muitas pessoas haviam mudado para lá recentemente, eu não fiquei surpreso quando fui designado a dividir um alojamento com outras três pessoas. Felizmente, Raul, Tomás e William concordaram em ficarmos no mesmo alojamento, de modo que a transição não foi tão difícil. Arlyston era um vilarejo predominantemente rural, de modo que a principal atividade era cuidar de bois e vacas, bem como lidar com derivados de leite e abate dos animais. Também havia porcos, ovelhas e galinhas em menor quantidade. O vilarejo tinha um conselho para realizar decisões importante e, mesmo sem ter pedido, fui incluído no grupo de conselheiros. Eu estava bastante à vontade com a função e vinha me sentindo muito bem com a vida no vilarejo, até que a saudade de Bernardo ficou insuportável e eu agi como idiota na frente de todos, bem como ofendi ao meu irmão.
Porém, depois do surto, eu percebi que estava errado e, para me redimir com William, eu ofereci o meu suporte para ele contar ao seu marido que o mesmo iria ter que abrir mão da perna direita, a qual piorou drasticamente desde que ele fora ferido em Pasine, mesmo com a ajuda de curandeiros e outras pessoas que estavam acostumadas a tratar de feridas. Segundo essas pessoas, o tempo na floresta não fez bem ao ferimento e quando Tomás chegou a Arlyston era tarde demais para remediar o estrago. A única medida efetiva seria cortar a perna dele, pelo menos até a altura do joelho, a fim de evitar que a gangrena se alastrasse para as outras partes do corpo.
- Você tem certeza?
- Eu sinto muito! Eu gostaria que houvesse outra solução, mas... eu não quero te perder Tomás, você tem sido meu companheiro há tantos anos! Eu nem imagino a minha vida sem você! Eu sei que eu estou sendo egoísta, mas... por favor, não me deixe! Permita que eles façam o que for necessário para te salvar!
- William... eu não sei se seria capaz de sobreviver dessa forma! Nós estamos em guerra e eu não quero ser um peso morto, caso vocês tenham que lutar ou mesmo se vocês tiverem que fugir! Eu não suportaria viver dessa forma!
- Eu sei Tomás! Eu conheço muito bem o homem com quem eu me casei! Eu não estaria te pedindo isso, se eu não tivesse refletido inúmeras vezes sobre o assunto! Eu sei que não posso decidir isso por você, mas já que você demanda a minha opinião, então saiba que eu prefiro te carregar nas minhas costas por todos os lugares, caso você não consiga andar, ao invés de ter que carregar o seu corpo morto para uma cova.
- William... Eu te amo! Eu não tenho certeza de como vai ser o resto da minha vida sem parte da minha perna, mas já que você está tão decidido a permanecer do meu lado, eu aceito me submeter ao procedimento. Mas eu preciso que você esteja comigo, o tempo todo! Eu não vou mentir William, eu nunca tive tanto medo na minha vida!
- É claro que eu vou ficar ao seu lado! Não se preocupe!
Eu não quis fazer parte da conversa porque me pareceu que aquele momento pertencia a eles e não a mim, então eu discretamente me retirei do alojamento. O amor que existia entre William e Tomás era reconfortante e, ao mesmo tempo, doloroso, porque eu adorava ver o quanto eles se amavam, mas isso me lembrava de Bernardo e toda a saudade que eu sentia naquele momento.
Raul ainda estava na reunião e eu havia saído sem muita explicação, então eu resolvi voltar ao local onde todos estavam reunidos, para me desculpar com os demais. Como esperado, as pessoas do vilarejo foram muito gentis e receptivas ao meu pedido de desculpas. Todos na cidade sabiam do sacrifício de Bernardo, então não era segredo para ninguém que eu estava passando por um momento muito difícil. Antes do meu surto, a reunião daquele dia estava pautada na possibilidade de enviar pequenos grupos para outros vilarejos, em busca de novas informações sobre os avanços de Conde Rafael, afinal nós não tínhamos sido atacados ainda, mas vivíamos todos os dias com a certeza de uma iminente nova batalha contra o meu tio. Eu me voluntariei para ir até os vilarejos do norte, os quais eram mais próximos de Pasine, mas os meus companheiros sabiam que as minhas reais intenções eram ir até o reino do meu tio para ter certeza de que o meu marido estava vivo. No fim, eu desisti de participar das missões de busca e me voluntariei para ficar em Arlyston cuidando do povo que me acolheu.
Raul resolveu se juntar a um dos grupos de exploração. Ele vinha exercendo uma forte influência sobre as pessoas do vilarejo, pois, ao contrário de mim, ele estava bastante focado em sua nova função como conselheiro. Nós continuávamos conversando bastante, mas eu ainda não tinha conseguido definir o estado emocional dele. Segundo William, o rapaz que Raul tinha acabado de conhecer antes de sairmos de Finnel, cujo nome era Paulo, havia morrido durante a batalha em Pasine. Porém, Raul não parecia desconfortável com o assunto e não demonstrava estar sofrendo por isso. Entretanto, ele não gostava de tocar no assunto de Hugo ter ficado para trás, o que me fazia suspeitar que ele, na verdade, não o tinha superado. De qualquer modo, Raul era a pessoas mais visivelmente equilibrada do nosso grupo no momento. Quando a reunião acabou, nós voltamos juntos para o nosso alojamento.
- Então vocês partirão em dois dias?
- Sim, nós precisamos de mais informações o mais breve possível! Eu não sei o que o seu tio está preparando, mas deve ser bem grande! Ele já deveria ter nos atacado, afinal este vilarejo não é tão fora de rota e estava claramente ligado a Finnel! Se ele ainda não nos atacou, é porque está planejando algo muito bem elaborado!
- Eu concordo! Nós precisamos estar preparados!
- Sim! Escuta, está tudo bem com você? Tem certeza que não quer que eu fique para te ajudar a lidar com todas essas pessoas?
- Não Raul, eu estou bem! Eles precisam de alguém com a sua liderança para guiá-los nessa missão! Eu... você sabe... estou sentindo falta do Bernardo e não resisti à possibilidade de poder ir vê-lo! Mas eu preciso agradecer o fato dessas pessoas terem me acolhido através da priorização da necessidade coletiva ao invés da minha necessidade egoísta de ver o Bernardo!
- Eu entendo! Você tem toda razão de se sentir assim, já que o seu marido ainda está naquele lugar! Não se preocupe, ele é um rapaz forte e muito corajoso! Você deveria ter visto o modo como ele organizou a operação que nos permitiu fugir de lá!
- Infelizmente, esse é um lado do Bernardo que eu ainda não vi... mas espero poder ver algum dia!
- Ele te ama! Esse sentimento foi o que moveu todas as ações dele e veja o que ele conseguiu! Ele nos tirou de lá! Não subestime a capacidade de uma pessoa apaixonada de fazer de tudo para poder voltar para o alvo da sua paixão! Ele vai voltar para você!
Raul havia me contado tudo o que acontecera naqueles mais de dois meses nos quais nós tínhamos sido prisioneiros de Conde Rafael. Conforme o meu tio havia dito, a maioria das pessoas que partira de Finnel morrera durante a emboscada do meu tio. Os sobreviventes, exceto eu, foram trancafiados no calabouço, sem receber qualquer tipo de assistência. Dessa forma, inevitavelmente, muitas pessoas acabaram morrendo de sede nos primeiros quatro dias. Posteriormente, quantidades mínimas de água foram fornecidas aos prisioneiros, porém muitos ainda morreram de desnutrição e por complicações devido a feridas mal curadas. Depois de mais alguns dias, apenas quinze pessoas haviam resistido ao tempo no calabouço.
Certo dia, o meu tio foi ao calabouço e ofereceu o tal tratamento para a homossexualidade aos prisioneiros, alegando que queria fazer deles exemplos, para que as pessoas pudessem ver a efetividade do seu tratamento. Para a surpresa de todos, Bernardo se voluntariou e foi submetido às sanguessugas. Ele foi devolvido ao calabouço, embora pudesse desfrutar de comida e água, os quais ele dividia com as outras pessoas. Dois dias depois, ele foi levado à presença do meu tio novamente, o qual informou a Bernardo que ele seria deixado a sós em um quarto com uma serva, para que ele pudesse demonstrar a efetividade do tratamento.
Posteriormente, Bernardo contou a Raul que pensava que seu plano estava fadado ao fracasso, já que ele não conseguiria manter relações sexuais com a serva. Porém, milagrosamente, a moça implorou a Bernardo que ele não fizesse aquilo, pois ela estava apaixonada por outra pessoa e queria se manter virgem até o casamento. Desse modo, ele fingiu que a estava poupando e que, entretanto, ela deveria contar a todos que ele havia mantido relações sexuais com ela. A serva fez como pedido e, felizmente para Bernardo, a partir daquele dia o meu tio passou a exibi-lo como um troféu e uma prova de que existia uma cura para a homossexualidade. Não demorou muito para que Bernardo ganhasse ainda mais a confiança de Conde Rafael, o qual havia sido cegado pela própria soberba. Bernardo ascendeu ao posto de guarda e, frequentemente, ia ao calabouço com a desculpa de torturar os outros prisioneiros, a fim de "convertê-los" para o bom caminho. Ele, de fato, teve que ferir superficialmente alguns de seus companheiros, a fim de dar veracidade à sua desculpa para estar no calabouço e inclusive levou Hugo para ser submetido ao tal tratamento, o qual também conquistou rapidamente a confiança de Conde Rafael e passou a fazer parte da equipe que cozinhava para o meu tio. Porém, na verdade, todos os dias em que Bernardo foi ao calabouço, ele levava comida para os nossos companheiros, a fim de fortalecê-los, bem como estava planejando uma fuga junto com as outras dez pessoas que haviam sobrevivido a todo o tempo que permanecemos em Pasine.
O plano envolvia, discretamente, entrar no castelo para me resgatar e fugir em seguida. O plano foi elaborado durante vários dias e, conforme informações de Bernardo, o qual estava infiltrado nas reuniões de meu tio, poderia ser operacionalizado quando Conde Rafael fosse a outro reino para outra de suas famosas "caçadas", pois ele geralmente levava boa parte dos seus homens consigo nessas ocasiões. O plano realmente iniciou como esperado, mas alguns guardas do meu tio flagraram os prisioneiros entrando no castelo e isso deu inicio a toda a confusão que eu vira e ouvira no dia da fuga de Pasine. Dessa forma, houve mais luta do que esperado e dois dos nossos companheiros morreram, incluindo Paulo. Além disso, Hugo e Bernardo decidiram que ficariam para trás, a fim de atrasar o meu tio. Segundo Raul, os dois haviam conquistado a confiança de Conde Rafael e iriam fingir que foram atacados, assim como os outros guardas. Desse modo, eles poderiam continuar usufruindo da confiança do meu tio, monitorar os seus avanços e nos avisar de qualquer perigo, se fosse o caso. Porém, mais de um mês havia passado sem qualquer notícia deles, o que enchia a minha cabeça com os piores pensamentos e teorias possíveis.
- Mas e você Raul, está tudo bem?
- É claro! Por que não estaria?
- Você perdeu duas pessoas importantes durante a fuga de Pasine e eu não vejo qualquer tipo de sofrimento! Eu estou apenas me certificando se você não precisa de alguém para conversar sobre isso!
- Felipe, isso é muito gentil da sua parte, mas eu já aceitei o fato de que as pessoas que eu amo morrem! Na verdade, eu e o Paulo mal nos falávamos quando ele morreu, pois estar em um calabouço acabou com todo o clima para o romance! Talvez ele não me amasse de verdade, mas ele foi importante pra mim e estar ao meu lado o fez morrer!
- E quanto ao Hugo?
- Eu não...
- Você ainda gosta dele?
- Eu reaprendi a gostar dele... assim como Bernardo, ele nunca abandonou o nosso grupo e ajudou o seu marido a nos manter fortes! Eu o admiro muito...
- Espera, você ainda o ama! Por que está negando isso?
- Ele mudou em Pasine! Sim, eu acho que ainda o amo! Mas eu tenho certeza que ele não sente o mesmo! Ele mesmo disse isso lembra?
- Eu entendo! Mas se Pasine o mudou tanto, talvez ele tenha amadurecido sobre como amar alguém, certo?
- Bem, talvez nunca saibamos...
- O que?!
- Nada! Esquece isso Felipe! Vamos ver como está o Tomás!
A partida do grupo de exploração na verdade foi adiada por mais dois dias, pois Raul queria partir depois de se certificar que o procedimento na perna de Tomás tinha dado certo. De fato, a perna dele foi cerrada na altura do joelho, o que causou um sangramento intenso. Felizmente, tudo foi controlado e dois dias depois o estado de Tomás era, aparentemente, estável. William, entretanto, estava em seu limite e eu tentei oferecer todo o suporte que eu consegui. Depois de se certificar que eu, Tomás e William ficaríamos bem, Raul partiu com o grupo de exploração. Fiquei muito feliz de ver que nós quatro realmente havíamos estabelecido um laço forte de amizade, mas eu acho que nós não poderíamos passar por tanta coisa juntos, sem que se formasse uma ligação forte. Após a partida, eu fui ver como Tomás e William estavam, já que eles não puderam vir se despedir do grupo que partia.
- Obrigado por todo o seu apoio irmão! Eu precisava de alguém ao meu lado nesse momento! Foi muito difícil ver aquele cara cortar a perna do meu marido!
- Eu tenho certeza que foi! Fico feliz de poder ser útil!
- Também foi muito difícil para mim!
- Eu não sabia que você estava acordado!
- É claro! Você me acha tão fraco assim?
- Eu te acho muito forte, mas você precisa descansar!
- Eu sei! Mas você deveria ter ido se despedir do Raul! Eu iria ficar bem!
- Eu não queria te deixar sozinho! O Raul sabe que eu desejo sucesso para ele nessa missão!
- Vocês querem que eu saia? Eu posso ir fazer alguma coisa para que vocês possam ter mais privacidade!
- Claro que não! Esse também é o seu alojamento!
- Eu sei, mas eu não me importo de dar algum espaço a vocês!
- Pode ficar irmão! O Tomás está se fazendo de forte, mas ele vai cair no sono em breve! Afinal, ele ainda está muito fraco!
- É verdade! Eu só estou tentando manter a pose de forte e destemido para o seu irmão, já que foi isso que fez ele se apaixonar por mim!
- Tomás! O Felipe não precisa saber dessas coisas!
- Na verdade, eu adoraria ouvir a história de vocês! Um pouco de romance seria ótimo para o momento que estamos vivendo!
- Está certo! Então, tudo começou quando estávamos em uma missão!
Tomás, brevemente, revelou que ele e William sempre realizavam missões em grupo, de modo que nunca tinham tido a oportunidade de conversar a sós, embora, eventualmente, flagrassem um olhando para o outro. Certo dia, meu tio os designou para uma missão simples em outro reino, de modo que não seria necessário um grupo naquela ocasião. Nesta oportunidade, os dois puderam se conhecer melhor e acabaram confessando que estavam mutuamente atraídos. Assim, a missão foi o ponto de partida para a relação deles e, desde então, eles se apaixonavam cada dia mais um pelo outro. Tudo convergiu para que eles conseguissem se casar em Gorgi, o vilarejo que fora dizimado por Conde Rafael por realizar casamentos homoafetivos. Pouco tempo depois de começar a contar a história, Tomás de fato se sentiu cansado e caiu no sono. Ele estava, milagrosamente, se recuperando muito bem e, após dois dias, já aparentava estar muito melhor do que tinha estado durante todo o tempo que estivemos em Arlyston.
Na manhã do terceiro dia desde que o grupo de exploração partira, nós fomos acordados com gritos vindos da entrada do vilarejo. Eu, prontamente, alcancei a minha espada e saí para verificar o que ocorrera e encontrei Raul, o qual correu em minha direção e disse:
- Ele está bem! Não se preocupe!
- Do que você está falando?
A minha resposta foi a imagem de Bernardo inconsciente em um cavalo, no qual estava montado Hugo. Para completar, eu vi os meus dois primos com as mãos e pés amarrados e sendo carregados por dois outros homens que estavam montados em cavalos.
- O que eles estão fazendo aqui?
- Eu não tenho certeza! Mas precisamos nos preparar para uma guerra!
Uma grande confusão sucedeu a chegada do grupo de exploração. Depois disso, Hugo e Bernardo, o qual ainda estava inconsciente, foram levados para o alojamento do curandeiro do vilarejo, pois o primeiro apresentava alguns ferimentos que precisavam ser tratados e meu marido precisava ser colocado em algum lugar onde o seu estado de saúde pudesse ser avaliado. O pequeno Davi, o qual estava muito assustado, foi levado para o nosso alojamento. Quanto a Rafael II, este foi mantido prisioneiro no local onde realizávamos as nossas reuniões do conselho.
Depois de sair da casa do curandeiro, onde deixei o meu marido e um dos meus companheiros de jornada, eu me dirigi até o meu alojamento, a fim de conversar com o meu primo. Quando cheguei ao local, encontrei-o gritando com Raul e William, os quais pareciam não saber o que fazer. Assim que me viu, o pequeno Davi veio correndo em minha direção e me abraçou.
- Primo! Eles querem me fazer mal! Eu não quero ficar aqui!
- Calma Davi! Eu estou aqui agora! Você deve estar muito confuso, certo?
- Sim... por que aqueles homens me amarraram? Onde está o meu irmão?
- Davi... o seu irmão está bem! Algumas coisas complicadas estão acontecendo e nós precisávamos trazer vocês para cá...
- Onde está o meu pai?
- Eu não sei...
- Primo, eu estou com medo! Você promete que cuida de mim?
- É claro Davi! Eu vou cuidar de você! Mas você precisa confiar em mim, tudo bem?
- Sim...
- Ouça, estes rapazes são meus amigos e eles não farão mal a você! Eu prometo e eles também prometem! Certo rapazes?
- É claro...
- Certo...
- Viu?! Eles são bonzinhos!
- Eu acho que sim...
- Muito bem, então já que agora você sabe disso, eu posso te deixar aqui com eles enquanto eu vou fazer uma coisa? Você vai se comportar, certo?
- Eu vou tentar...
- Parece bom o bastante! Eu prometo não demorar Davi! Quando eu voltar, nós podemos conversar mais!
- Tudo bem!
Finalmente, eu segui para a sede das reuniões do conselho, onde várias pessoas estavam gritando e ameaçando o meu outro primo de diversas formas. Eu precisei intervir para acalmar os ânimos e solicitei privacidade para falar com ele. Apesar de contrários a isso, as pessoas respeitaram o meu pedido e me deixaram a sós com Rafael II.
- Eu exijo que você me solte agora mesmo!
- Olha, eu acho melhor você parar de reclamar e começar a me contar o que aconteceu! Ou eu vou simplesmente deixar as pessoas fazerem as coisas terríveis que elas pretendem fazer com você! Não se esqueça de que praticamente todas perderam algum familiar por causa do seu pai!
- Você não faria isso!
- Você não me conhece! Não teste a minha paciência! Principalmente agora, quando o meu marido está desmaiado e eu não sei o que aconteceu! Neste exato momento, eu não sou a pessoa mais equilibrada, mas, incrivelmente, eu sou a aquele que quer lhe fazer menos mal! Então você pode começar a falar ou pode ir se resolver com a população enfurecida desse vilarejo! Qual a sua escolha?
- Eu não sei! O seu dito "marido" é um traidor e meu pai nunca vai perdoá-lo!
- Já que não sabe de nada, eu acho que as pessoas pode fazer o que quiserem com você! Adeus!
- Espera! Eu vou contar o que eu sei...
Aparentemente, o meu tio vinha pessoalmente procurando o grupo fugitivo nas últimas semanas. Bernardo tinha se tornado o braço direito de Conde Rafael e o acompanhava em várias das missões de busca. Devido à confiança que meu tio desenvolvera em Bernardo, há alguns dias ele o deixou no comando do reino enquanto iria em mais uma missão de busca. Porém, Rafael suspeitou da saída massiva de guardas do reino logo depois que o seu pai havia saído para a missão de busca e alertou os guardas remanescentes, os quais flagraram Hugo e Bernardo tentando fugir do reino. Os dois tiveram que lutar e Bernardo acabou ferido, de modo que eles teriam morrido se não fosse pela inesperada ajuda de dois guardas que se rebelaram contra os outros. Devido ao fato de haver poucos guardas no reino, já que a maioria tinha sido enviada para missões de busca, eles conseguiram neutralizar os guardas leais a Conde Rafael. Além disso, antes de fugirem, Hugo foi pessoalmente ao quarto de Rafael, o qual havia fora subjugado e amarrado com cordas. O mesmo foi feito com Davi, de modo que ambos foram nocauteados e trazidos como prisioneiros durante a fuga. Rafael não revelou muitos detalhes sobre os fatos antes ou depois do momento da fuga de Pasine, mas fez questão de deixar a sua indignação explícita.
- Fomos tratados da pior forma possível! O pobre Davi passou dias amarrado!
- Quem te ouve dizer isso pode até pensar que você se importa com alguém além de si mesmo! Mas eu sei a verdade Rafael, então pode parar.
- Como você ous...
- CALADO! Eu acho que você ainda não percebeu, mas não está mais em Pasine e não tem qualquer tipo de autoridade aqui! Muito pelo contrário, você corre um sério risco de vida aqui! Portanto, se não quiser que eu precise explicar ao Davi como o irmão dele morreu, eu acho bom você melhorar a sua atitude! Principalmente, porque você vai querer convencer aquelas pessoas de que você merece viver!
- Mas você vai me proteger, certo?
- Olha, eu não poderia te proteger, nem se eu quisesse! Eu não mando neste vilarejo e você não merece que eu entre em qualquer tipo de conflito com os moradores para poder salvar a sua pele! Portanto, a responsabilidade de te salvar é inteiramente sua! Mostre àquelas pessoas que você não é tão mal quanto o seu pai! O máximo que eu posso fazer, e eu só farei por consideração ao Davi, é solicitar uma reunião do conselho para decidir a sua situação. Até lá, supostamente, ninguém deverá te fazer mal... mas, como eu disse, eu não mando neste vilarejo...
A minha proposta, como esperado, fora mal recebida pelas pessoas que aguardavam do lado de fora da sede do conselho. Muitos queriam retribuir ao filho de Conde Rafael todo o sofrimento que meu tio havia causado para as famílias do vilarejo e eu, sinceramente, não discordava deles. Porém, agi do modo como havia prometido a Rafael e obtive resposta positiva das pessoas que faziam parte do conselho para que realizássemos uma reunião no dia seguinte. A população fora instruída para que não atentassem contra a integridade física de Rafael mas, bem no fundo, eu sabia e até mesmo esperava, que alguém fosse desacatar aquela ordem. Assim, meu trabalho tinha terminado ali, de modo que retornei ao meu alojamento para ver como Davi estava lidando com os meus companheiros. Para minha surpresa, todos estavam conversando animadamente ao redor da cama de Tomás, o qual aparentava estar se sentindo bem. Assim que me viu, Davi disse:
- Primo! Você voltou!
- Sim! E eu vejo que você está bem mais calmo! Além disso, parece estar bem mais confortável quanto aos meus amigos!
- Eles são bonzinhos como você disse! Tomás estava me contando sobre o dia do casamento!
- Ah, que bom! Eu adoro essa história!
Novamente, Davi havia me impressionado pela naturalidade com que ele falava sobre uma relação entre dois homens. Considerando-se que ele era filho de Conde Rafael, eu esperaria que ele tivesse sido ensinado a detestar este tipo de comportamento, mas eu estava enganado. Nós conversamos por horas sobre as aventuras de William e Tomás em suas missões como guardas reais. No fim da tarde, eu fui chamado à casa do curandeiro, pois Hugo havia acordado. Quando cheguei ao local, notei que Bernardo ainda estava inconsciente, mas tentei ignorar a preocupação e me concentrei em Hugo, o qual estava acordado e aparentava estar bem melhor. Assim, abracei-o e disse:
- Bem-vindo de volta! Fico tão feliz que vocês tenham conseguido!
- Como é bom te ver Felipe! Eu achei que... eu também estou muito feliz de ter conseguido! Onde estão os outros? E o Raul?
- Calma! Todo mundo está bem! Nós é que estávamos preocupados com vocês!
- Você deve estar querendo saber o que aconteceu, certo?
- Bem, eu não vou negar que estou muito curioso para saber o que aconteceu em Pasine desde que fugimos! Mas você pode nos contar quando estiver se sentindo melhor! Eu só estou um pouco preocupado com o que aconteceu com Bernardo...
- Eu vou te contar tudo agora Felipe! Eu só precisava descansar! Além disso, é o mínimo que eu posso fazer, já que Bernardo foi ferido ao salvar a minha vida! Muito bem, vamos começar do dia em que vocês fugiram...
De acordo com Hugo, a ascensão de Bernardo não foi tão simples quanto Rafael insinuou. Hugo e Bernardo foram trancafiados e interrogados durante quase uma semana, até que pudessem voltar aos seus postos de trabalho. Depois disso, Bernardo passou a sair nas missões de busca ao nosso grupo, visto que Conde Rafael acreditava que ele saberia os possíveis locais para os quais nós poderíamos ter ido. De fato, Bernardo era a pessoa mais indicada para nos encontrar, mas ele confessou a Hugo que sempre levava o meu tio a lugares nos quais ele sabia que não estaríamos. Meu tio não desconfiou da estratégia de Bernardo porque, no início, este os levava a vilarejos onde nós, de fato, tínhamos estado no passado, mas que estavam desabitados porque a maioria da população havia sido enviada a Pasine e morrera no massacre. Posteriormente, ele os levou a outros lugares onde nós nunca tínhamos estado, mas nos quais ele implantava falsas pistas da nossa passagem por lá. Felizmente, como Rafael mencionara, Conde Rafael deixara Bernardo no comando do reino, o que era muito bom, considerando-se que ele já estava ficando sem ideias de lugares para levar o meu tio, sem que este começasse a duvidar da sua lealdade.
Hugo mencionou que ele ficara o tempo todo trabalhando no castelo, já que não era um oficial do meu tio, então todas as informações sobre as missões de busca ele havia recebido de Bernardo, com o qual ele sempre se reunia para organizar uma maneira de nos avisar sobre o que estava acontecendo em Pasine, porém eles nunca encontraram um momento apropriado para fazê-lo, até o dia em que fugiram do reino. No momento em que Bernardo fora nomeado para liderar o reino na ausência de Conde Rafael, Hugo e ele sabiam que esta era a chance que eles vinham esperando para poder fugir de Pasine. Assim, Bernardo começou a enviar vários guardas reais em falsas missões para lugares bem distantes, de modo que não restariam muitos guardas no reino, caso eles fossem apanhados durante a fuga, o que de fato ocorreu. No momento da luta anteriormente relatada por Rafael, Hugo era o alvo de uma flecha que acabou acertando Bernardo na parte posterior da perna, de modo que ele não podia andar adequadamente e, portanto, não poderia fugir. Graças aos guardas que se rebelaram, segundo Hugo, porque também eram homossexuais, eles conseguiram sobrepujar os guardas de Conde Rafael, raptar os meus primos e fugir de Pasine. Porém, Bernardo perdera muito sangue e desmaiara pouco antes de chegarem a um vilarejo ao norte de Arlyston, onde encontraram Raul e o resto da equipe de exploração, os quais, prontamente, ofereceram suporte para que os fugitivos de Pasine encontrassem o nosso refúgio.
- Mas... por que trazer os meus primos?
- Sinceramente, eu estou com vergonha do motivo...
- Como assim?
- Eu cedi... ele foi bastante insistente...
- Quem foi... espera, você quer dizer que... você e o Rafael...
- Eu sei! É horrível! Mas eu acho que isso não devia te surpreender... Afinal, eu nunca fui uma pessoa boa! Veja o problema que eu quase criei entre você e o Bernardo! Mas é que eu preciso tanto de atenção e... eu não sei... acho que tenho algum tipo de problema...
- Escuta Hugo, aquilo é passado! Mas eu não posso negar que ceder aos encantos do Rafael, sejam eles quais forem, não foi a sua melhor ideia! Ele sim tem problemas sérios! Quero dizer, eu até entendo que ele esteja amargurado pelo que o pai fez a ele, mas ele já ultrapassou alguns limites! Você sabe que tipo de coisas ele já fez, certo?
- Eu sei Felipe! Não entenda mal o que eu te contei! Eu sei o que fez, mas ele parece ser alguém perdido, assim como eu... e talvez essa identificação tenha me atraído nele...
- Bem, eu não posso te dizer o que fazer, mas ainda acho uma má ideia! Só mais uma coisa, como fica o Raul nessa história? Você não sente nada por ele? Vocês passaram muito tempo juntos quando estavam presos em Pasine, pelo que ele me contou.
- Eu acho que já fiz muito mal ao Raul... ele merece alguém melhor...
- Mas a pergunta foi: você não sente nada por ele?
- Às vezes eu acho que sim... mas eu tenho medo de magoá-lo novamente! Ele não merece isso! Acho que perder o Paulo já deve ter sido suficiente para ele e essa minha inconstância não vai ser muito boa para ele agora!
- Olha Hugo, eu concordo que o Raul tenha passado por muita coisa nesses últimos tempos e que, realmente, você tem sido bastante inconstante quanto aos seus sentimentos desde que eu te conheço. Mas, se você quer ficar com o Rafael apenas porque você sente que não é uma pessoa boa, saiba que você está completamente enganado! Você está nessa família que formamos há algum tempo e eu sei que você tem inúmeras qualidades, você só precisa as fazer serem mais evidentes do que a sua inconstância! Pense nisso!
- Obrigado Felipe! Você é um bom amigo!
- Eu que agradeço! Por ter trazido o meu marido de volta para mim!
- Ele fez a maior parte de tudo! O seu marido é um homem extraordinário, assim como você! Não é a toa que eu senti algo pelos dois!
- Err... isso ficou para trás, certo?
- Claro! Não me entenda mal, tudo o que sinto por vocês dois agora é uma profunda admiração! Bem, e um pouco de inveja, já que vocês conseguem sustentar o amor de vocês no meio de tanta coisa ruim que vem nos acontecendo! Espero poder fazer o mesmo, seja lá quem eu escolher para ficar ao meu lado!
- Eu sei que você vai conseguir! Quanto ao "quem", eu só tenho uma dica: escolha a pessoa que te faz sentir único, independente da aparência!
- Obrigado! Eu vou levar isso em consideração!
- Eu espero que sim! Agora eu preciso ir, pois o meu adorável priminho está me esperando e eu ainda tenho que pensar em um jeito de alocá-lo no meu alojamento, pois eu tenho a impressão de que ele não vai sair de lá tão cedo!
- Ele é realmente uma criança adorável! Pode dizer a ele que eu sinto muito por tê-lo amarrado, mas eu precisava que ele colaborasse durante a fuga! E desculpe por mais este incômodo que eu lhe causei!
- Eu vou dizer a ele! Quanto a ele ser um incômodo, eu discordo! Talvez ele tenha sido a segunda melhor coisa que você me trouxe de Pasine, depois de ter trazido o meu marido vivo! Bem, espero que você esteja se sentindo melhor! Você vai ter que passar a noite aqui e amanhã discutiremos a reorganização dos alojamentos, agora que temos mais moradores!
O fato de Rafael ter supostamente seduzido Hugo havia me surpreendido muito, visto que eu presumira que o meu primo não fosse se envolver com ninguém depois que Conde Rafael havia destruído a vida do próprio filho. Porém, sabendo da ineficácia do suposto tratamento do meu tio, não me surpreendia o fato de Rafael ainda ter desejos por outros homens. Independente disso, a relação entre ele e Hugo me trazia certo temor, já que Raul havia revelado que talvez ainda tivesse sentimentos pelo ex-namorado. Este tipo de situação não era ideal para o momento que vivíamos no vilarejo e eu, sinceramente, esperava que aquilo não abalasse o potencial de Raul de nos liderar em uma possível nova batalha contra Conde Rafael, visto que ele era o mais capacitado no momento para isso. Quando cheguei ao meu alojamento, Davi estava dormindo em minha cama.
- Ele parecia tão cansado, então o deixamos ficar na sua cama, mas ele acabou adormecendo!
- Tudo bem, acho que essa vai ter que ser a solução! Agora, eu só preciso encontrar um lugar para dormir!
- Você pode ficar com a minha cama irmão! Eu não a uso tão frequentemente e, nos últimos dias, não consigo me afastar da cama de Tomás!
- Eu já disse que eu estou me sentindo bem! Mas eu concordo Felipe, você deveria dormir na cama dele e nós podemos dividir a minha.
- Tem certeza?
- Mas é claro! Amanhã nós decidiremos como podemos alojar o seu primo mais adequadamente!
- Bem, então eu vou aceitar, porque eu estou exausto! Mas onde está o Raul?
- Ele saiu há alguns minutos, mas não disse aonde ia!
- Espero que ele não tenha ido visitar o Hugo!
- Por quê? Achei que eles tivessem se entendido em Pasine!
- Eles tiveram muito tempo para ressignificar o que aconteceu em Finnel!
- Tudo bem, eu vou contar algo muito importante, mas que não deve chegar ao conhecimento do Raul até que seja extremamente necessário!
Contei aos dois sobre a relação entre Hugo e Rafael, o que lhes surpreendeu tanto quanto a mim. Também lhes contei o que havia descoberto sobre a fuga de Finnel, o que levou bastante tempo. Quando terminei de atualizá-los sobre o que Hugo e Rafael haviam me contado, Raul ainda não tinha chegado e meu primo parecia estar em um sono profundo. Assim, considerando-se que eu estava exausto e tivera um dia cheio de tantas surpresas, dormir foi extremamente fácil.
Porém, no outro dia, fora novamente acordado por gritos. Quando saí para verificar a fonte da confusão, encontrei Raul agredindo Rafael no meio de outras pessoas que também faziam o mesmo. Assim, corri em direção à multidão e gritei:
- Parem! Achei que tinha ficado acordado que faríamos uma reunião antes de decidirmos o que fazer com o nosso prisioneiro! Estou certo?
- Felipe, não precisamos de uma reunião para decidir que o pai e ele já nos fizeram muito mal e merecem que a ira das famílias daqueles que morreram caia sobre eles!
- Escutem, eu tenho o direito de lhes dizer o que fazer, eu já deixei isso muito claro! Mas, em nome do bom senso, eu lhes peço que façamos a reunião do conselho antes de continuarmos com... isso...
- O que a reunião vai mudar em nossa decisão de fazê-lo sofrer? Não será apenas uma perda de tempo que acabará no mesmo fim?
- Talvez sim... Mas eu prefiro que tomemos essa decisão em um local calmo e usando de toda a nossa capacidade de analisar os fatos! Eu tenho algumas informações sobre este filho de Conde Rafael, o qual, como sabem, é meu primo! Eu não estou aqui para defendê-lo, mas também não posso deixar de interceder para que ele tenha um julgamento justo, considerando-se a nossa ligação. Prometo que serei imparcial na apresentação das informações que possuo e, aqui na frente de todos, abdico do meu voto no conselho como uma prova do meu comprometimento com as pessoas deste vilarejo.
As pessoas acataram o meu pedido e, assim, a decisão sobre o futuro de Rafael fora momentaneamente adiada para dali a uma hora, quando aconteceria a reunião do conselho. Algumas pessoas levaram Rafael de volta para o local de onde o haviam tirado e o resto se dispersou. Raul também estava indo embora, mas eu o interceptei.
- Raul! Por que você fez aquilo?! Eu achei que você tinha concordado com a minha decisão!
- Eu tinha... até conversar com o Hugo...
- O que ele te disse?
- Você sabe... ele me disse o que aconteceu entre eles nesse período...
- Eu sinto muito Raul! Eu...
- Não importa! Eu te disse que estava conformado com a minha sina! Desculpe pela confusão, eu perdi a cabeça!
- Está tudo bem, esquece isso! Mas, você vai ficar bem?
- Vou... eu sempre fico... Mas eu preciso espairecer! Nos vemos na reunião do conselho, tudo bem?
- Claro...
Raul estava, visivelmente, devastado e eu não podia suportar vê-lo daquela forma. Eu me sentia inútil, pois não sabia o que fazer para fazer aquilo menos devastador para o meu amigo. Como eu previra, o envolvimento de Hugo com Rafael havia trazido problemas para Raul. Aquilo, de certa forma, causara um pouco de frustração e raiva, pois eu estava planejando contar o que havia acontecido de forma menos drástica para Raul, mas Hugo se antecipara. Assim, fui ao local onde ele estava para tirar satisfações.
- Hugo, eu não acredito que você...
- Como sempre, fazendo questão de ser notado onde quer que você entre!
Lá estava ele. Sentado na cama, sorrindo, com olhos alertas e, o melhor de tudo, vivo! Eu nem me importei de não terminar a frase que havia começado. Eu, simplesmente, corri para os seus braços, encostei-me em seu largo peitoral e lá me mantive, sem pressa e nem intenção de me afastar dele por incontáveis minutos. As lágrimas corriam de forma incontrolável e eu soluçava diante da reciprocidade do abraço do meu marido. Ele estava de volta e, naquele momento, era como se nunca tivéssemos nos separado.
No caminho, eu percebi que as ruas estavam lotadas de pessoas, aparentemente esperando a decisão que seria tomada. Além disso, quando cheguei à sede de reuniões do conselho, todos os membros, incluindo Raul, já estavam esperando para deliberar sobre o futuro de Rafael, o qual estava no centro da sala.
- Muito bem, agora que meu primo está aqui, nós podemos começar!
- Se eu fosse você, não estaria tão feliz com a minha presença. Não há muito que eu possa fazer para te defender. De fato, se os conselheiros me permitirem, gostaria de fazer algumas considerações antes de começarmos a votação.
- Eu acho que não há problema Felipe.
- Obrigado. Bem, para começar, gostaria de dizer que escolho me abster de voto neste caso, visto que há uma ligação com o Rafael que poderia deixar o meu voto menos objetivo e, assim, desqualificar a seriedade da decisão a ser tomada por este conselho. Segundo, eu gostaria que o nosso companheiro Hugo tivesse a oportunidade de falar, antes da votação, pois há algumas informações que ele escolheu compartilhar conosco, caso vocês concordem. Por fim, eu gostaria de falar um pouco sobre a minha experiência pessoal com o acusado, com o objetivo de lhes mostrar a minha perspectiva sobre o assunto. Estou ciente de que eu e Hugo pretendemos compartilhar informações que podem influenciar os seus votos, portanto peço a sua permissão.
O conselho deliberou a minha requisição e, surpreendentemente, Raul foi mais uma vez o porta-voz.
- Todos concordamos que tanto você como o Hugo contribuíram muito com as pessoas deste vilarejo, portanto, se vocês acham que precisam compartilhar tais informações sobre este caso, nós ficaríamos honrados em ouvi-las. Confesso que, pessoalmente, a sua decisão de abdicar do seu voto me fez refletir e decidir que também preciso abdicar do meu, pois há alguns aspectos deste caso que podem influenciar a objetividade do meu julgamento. Além disso, caso seja possível, gostaria que este conselho me dispensasse desta reunião.
- Se você se sente desta forma, você está dispensado Raul. Quanto a você Felipe, gostaríamos de ouvi-lo primeiro e, em seguida, ouviremos o companheiro Hugo. Somente após os seus discursos nós prosseguiremos com o julgamento.
- Eu agradeço! Bem, como eu imagino que todos saibam, o Conde Rafael é meu tio e, portanto, o acusado é meu primo. Entretanto, nunca houve muita aproximação entre as nossas famílias, tanto que eu nunca soube da existência dos meus dois primos até o incidente em Pasine, o qual, como também é de conhecimento geral, foi um verdadeiro massacre. Eu fui... fui torturado durante vários dias enquanto estive em Pasine e Rafael II estava presente em muitos momentos. O meu primo jamais transpareceu qualquer arrependimento em qualquer uma das vezes. Ele, sem dúvida, é uma pessoa com valores extremamente pervertidos. Além disso, eu sei que ele está envolvido na morte e tortura de familiares e amigos de muitas pessoas deste vilarejo. Com base nestas informações, eu e vocês poderíamos, sem dúvida, concluir que o meu primo merece ser executado como punição por seus crimes. Porém, eu gostaria de ressaltar duas coisas: a primeira, na verdade, é uma história que pertence ao passado de Rafael II e que, portanto, cabe somente a ele revelar, de modo que eu deixo a critério dele lhes contar como todo o ódio que ele sente por "pessoas como nós" começou, pois eu acho que isso pode explicar muito do comportamento que ele vem apresentando. Segundo, gostaria de ressaltar o quão difícil eu imagino que deva ser a convivência com alguém cuja mente é tão deturpada como o meu tio. Eu juro que cheguei a pensar que enlouqueceria durante o tempo que passei em Pasine, pois eu não conseguia acreditar nas loucuras que eu ouvia aquele homem falar. Eu consegui entrar na cabeça dele por algum tempo e isso quase me enlouqueceu, pois ele, de fato, tem uma mente doentia. Porém, isso foi por apenas algumas semanas e eu, sinceramente, não me surpreendo que alguém que passou a vida toda com ele tenha construído valores pessoais tão podres. Dito isso, eu peço que reflitam sobre o que eu disse antes de julgarem o acusado, pois eu acredito em segundas chances, mesmo para alguém como ele. Ressalto que não estou pedindo perdão e nem arranjando desculpas para o que ele fez, pois não há qualquer modo de reverter todo o dano que ele causou e todas as suas ações foram indesculpáveis, mas eu gostaria que ele pudesse ter um recomeço para poder construir valores melhores.
- Nós agradecemos a informação, conselheiro Felipe. Vamos levar em consideração o que foi dito. Agora podemos passar para o discurso do companheiro Hugo.
- Muito obrigado por essa oportunidade conselheiros. Eu sei que a maioria de vocês mal me conhece, portanto agradeço o voto de confiança em um assunto tão delicado. Entretanto, sem querer abusar da sua boa-fé, eu gostaria de pedir que o acusado pudesse contar a sua história antes de revelar o que eu tenho a dizer.
- Bem... acho que não há problema... acusado, você deseja compartilhar conosco a sua história? deseja se defender? se é que isso é possível...
- Não...
- Felipe, por favor!
- Eu já disse que não!
- Felipe, eu preciso que você faça isso... por favor!
- Nã... Por quê? Não há esperança!
- Você não sabe disso! Talvez... de alguma forma...
- Eu sei que não há esperança para mim! Então pare! Ouçam bem, pois eu só vou falar disso uma vez e não espero ser questionado depois de terminar.
- Você não acha que está fazendo muitas exigências para alguém na sua condição?
- Pode ser, mas seu eu vou morrer, o que eu tenho certeza que vai acontecer, o mínimo que eu posso fazer é morrer com honra e alguma dignidade.
- Honra?!Olha aqui... Quer saber, esqueça. Prossiga com a sua história para podermos acabar com isso de uma vez.
- Bem, meu nome é Rafael Carlos Francisco Miguel Xavier Leopoldo Gonzaga Almeida, Visconde de Pasine. Eu sou casado... fui casado com um plebeu do vilarejo de Gorgi de nome Pierre. Sim, caso estejam se perguntando, eu sou homossexual e me casei com um homem... o homem dos meus sonhos... alguém que eu amava... Desde quando eu era criança, sempre gostei de andar disfarçado pelas ruas de Pasine, pois fazia de tudo para passar o mínimo possível de tempo com o meu pai dentro do castelo. Eu mantive este hábito quando estava mais velho e, em uma dessas ocasiões, quando estava andando pelo mercado de trocas, esbarrei em Pierre, o qual estava vendendo produtos que trouxera de Gorgi. Infelizmente para ele, eu me apaixonei no momento em que ele pediu desculpas por ter esbarrado em mim. Eu nunca tinha estado com outro homem até então e sempre fiz de tudo para esconder os meus desejos, mas Pierre, simplesmente, parecia enxergar através de todos os meus esforços, de modo que, de alguma forma, ele me convenceu a acompanhá-lo até a saída da cidade, para que pudéssemos nos conhecer melhor. Quando eu percebi, já estávamos nos beijando em uma floresta ao redor de Pasine e eu percebi que já estava perdidamente apaixonado por ele. Pierre partiria no dia seguinte e, para minha surpresa, ele disse que gostaria que eu lhe acompanhasse. Eu solicitei ao meu pai que pudesse viajar sob o falso pretexto de conhecer outras partes do nosso reino e, no dia seguinte partira em direção a Gorgi na companhia de Pierre. Diferentemente do meu pai, a família de Pierre não via nada de anormal em dois homens se amarem e me acolheram muito bem. Eu costumava ir até Gorgi para visitar Pierre e vice-versa, de modo que a nossa relação floresceu e, finalmente, decidimos que queríamos nos casar. A família dele adorou a ideia e fui convidado a morar com eles em Gorgi, onde eu seria aceito e amado. Nunca tive coragem de contar a Pierre quem eu realmente era... Mal sabiam eles do que estava por vir... Como muitos sabem, Gorgi era conhecido por realizar casamentos entre homossexuais há muitos anos e, há algum tempo atrás, foi devastado pelo exército de meu pai. O que não deve ser de seu conhecimento é que meu pai só descobriu este vilarejo e o devastou porque eu decidi me casar com Pierre e vir morar com ele. A família de Pierre, a qual me acolheu, foi sumariamente executada bem diante dos meus olhos e, pouco tempo depois, o meu pai fez a seguinte proposta para o meu marido: Pierre teria uma hora para decidir entre ficar comigo - neste caso nós morreríamos juntos - ou fugir para bem longe na direção oposta de Pasine ou qualquer outro reino aliado - neste caso nós nunca mais teríamos contato e minha vida seria poupada para que eu pudesse viver com a culpa e a vergonha. Adivinhem qual foi a opção que o meu marido escolheu... Ele nem hesitou...
- Então Gorgi... Foi por sua causa... Mas... por que você odeia os homossexuais e compactua com as ações do seu pai, sendo que você mesmo já amou um homem?
- Veja bem, depois que Pierre fugiu eu caí em desespero profundo. Como prometido, eu vivi para sentir a dor, a culpa, o ódio e a vergonha... Porém, no fundo, eu não sentia nada... No início, o meu pai me mantinha trancado no meu quarto para definhar. Porém, na maior parte do tempo, eu estava desligado daquilo que acontecia ao meu redor. Eu acordava quando algum servo deixava uma porção minúscula de comida e água, ou então quando estava sendo examinado pelos homens de confiança do meu pai, o qual queria me manter minimamente vivo para que eu pudesse sofrer ainda mais. Fora essas duas ocasiões, eu passava os dias dormindo, tentando permanecer nos dias em que eu fora feliz... ainda que eu soubesse que não eram reais, era melhor do que aquilo que eu estava passando. Um dia, o meu pai adentrou o meu quarto e me submeteu a um tratamento que vocês conhecem muito bem... a inestimável "cura". O meu pai acha que há uma "cura" porque, aparentemente, ela funcionou comigo... Mas a grande verdade é que eu não sentia nada por ninguém... Ninguém me interessava... Nenhum amigo ou amor... Eu não precisava fingir...
- Foi aí que você começou a torturar os seus iguais...?
- Não exatamente... Ouça, mesmo sem querer, o fato de estar "curado" melhorou o modo como o meu pai me tratava e, pouquíssimo tempo depois, ele me apresentou à sua mais nova atividade favorita: as caçadas. Segundo o meu pai, ele nunca pretendeu deixar Pierre viver. O que ele realmente queria era me mostrar o quão fraco era o amor dele por mim. Bem... funcionou. Meu pai me contou que, de fato, ele deu uma vantagem de uma hora para que Pierre pudesse fugir, mas logo em seguida ele e seus homens partiram em seu encalço. Ele foi encurralado e violentamente torturado dois dias depois em uma floresta ao sul de Gorgi. Este processo deu tanto prazer ao meu pai que ele teve a ideia de fazer isso com todos os homossexuais nas áreas próximas a Pasine e, principalmente, com as pessoas em Gorgi que ainda tivessem a ousadia de se declararem homossexuais. Isso deu origem ao reino de terror que meu pai vem expandindo nos últimos tempos e eu sempre estive ao seu lado, tanto em caçadas como em invasões a outros vilarejos. Eu assisti a tudo. Porém, por mais surpreendente que isso possa parecer, eu nunca matei ou torturei uma única pobre alma. Eu confesso que assisti e nunca me mobilizei pelo sofrimento das pessoas durante tais eventos e disso eu sou culpado, mas eu jamais feri diretamente uma pessoa. Bem, exceto Felipe, o qual eu realmente torturei e feri deliberadamente, mas isso é porque eu... eu... eu o invejo... Inveja foi a única coisa que realmente eu consegui sentir em muito tempo e isso foi tão avassalador que me fez agir do modo como eu agi...
- Inveja?
- Ah, vamos lá! É só olhar para ele e Bernardo! A relação deles é tão perfeita que chega a ser irritante! O Felipe conseguiu, de uma só vez, despertar inveja, raiva e nojo! Sério, ele me irrita muito e eu tenho vontade de socar a cara dele! Mas este é um caso isolado! Quanto aos demais, em minha defesa, eu fui apenas um cúmplice nas ações doentias do meu pai! Como eu disse, eu sou culpado de omissão e eu sei que nunca poderei ser perdoado por isso, mas eu nunca feri alguém. Pelo menos não fisicamente...
- Algo mais que você gostaria de dizer?
- Acho que isso foi suficiente...
- Muito bem... Hugo, é a sua vez.
- Eu serei breve. Eu pedi ao Felipe que me deixasse falar por dois motivos: o primeiro é porque eu tive ou tenho... na verdade eu não sei direito ainda... uma relação com o acusado. Portanto, conheço o Rafael em um nível mais pessoal e já ouvi estas mesmas histórias que ele acaba de lhes contar. Durante o tempo que passamos juntos em Pasine, eu pude perceber que ele já sofreu bastante e, por mais que ele insista em manter uma postura autoritária e esnobe, eu sei que ele só está procurando paz e algo que o faça sentir algo significativo de novo. Ressalto que o Rafael sabe por experiência própria que a cura não funciona, portanto sabia que eu e Bernardo nunca tínhamos sido "curados", mas ele nunca nos delatou ou armou para que nós fôssemos apanhados enquanto planejávamos a nossa fuga de Pasine. O segundo motivo de estar aqui é porque eu mesmo já cometi muitos erros no passado e posso, com toda propriedade, dizer que estou arrependido e regenerado atualmente. Dito isso, gostaria de pedir aos senhores que considerem olhar para esta pessoa e tentar enxergar os motivos que o levaram a fazer o que ele fez. Assim como o Felipe, eu também acredito em segundas chances, pois eu mesmo já fui beneficiado por isso e consegui melhorar quem eu sou, portanto acredito que o Rafael também merece esse benefício. Isto era tudo o que eu tinha a dizer, eu agradeço a sua atenção!
- Bem, eu acho que já ouvimos todos e agora podemos prosseguir com a votação para decidir o futuro do acusado. Eu peço ao conselheiro Felipe, o qual abdicou do seu direito de voto, que se retire da sala e leve o companheiro Hugo consigo. Procederemos à votação e, assim que finalizarmos, vocês serão informados do veredito.
Eu e Hugo nos retiramos da sala e, assim que saímos, encontramos William, o qual estava na companhia do meu outro primo. Estranhamente, Hugo saiu correndo, sem dar explicações.
- Primo! Eles disseram que o meu irmão está preso! É verdade?
- Sim Davi... É verdade...
- Mas eles disseram que eu poderia ver o meu irmão! Eu vou poder ver ele?
- Eles disseram isso? Que interessante!
- Em nossa defesa, ele é tão voluntarioso quanto o primo! Não havia alternativa!
- Tudo bem irmão, eu acho que você fez a coisa certa! Mas neste momento não vai ser possível, pois eles estão votando...
- William é seu irmão?
- Sim Davi! Bem, meio-irmão na verdade, mas isso não faz muita diferença pra mim!
- Então ele é meu primo também?!
- Eu acho que sim! Na verdade você é meu primo por laços maternos e William não compartilha a mesma mãe comigo, mas, de novo, essas questões não fazem muita diferença já que vocês estão se dando tão bem! Portanto, você pode considerá-lo seu primo!
- Eu não tinha atentado para isso! É verdade Davi, nós somos primos! Viu só? Você não precisa mais duvidar da minha palavra! Afinal, um primo mentiria para você?
- Eu acho que não!
- Eu também penso que não! Quanto ao seu irmão Davi, você só vai poder ver ele depois que as pessoas decidirem se ele é culpado ou não.
- Mas, o que o meu irmão fez?
- Bem... eu...
- Nós combinamos que ele mesmo iria lhe contar, não foi Davi?
- Ah! Essa é uma ótima ideia! Obrigado William!
- Sem problemas! Felipe, você se importa de ficar com o Davi por enquanto? Eu gostaria de ir ficar com o Tomás, afinal ele ficou só enquanto eu vim trazer o Davi para falar com o irmão.
- É claro William! Eu agradeço muito você ter ficado com ele todo esse tempo! Há tanta coisa que eu preciso resolver! Bernardo acordou, mas eu nem pude ficar muito tempo ao lado dele!
- Ele acordou? Então eu vou fazer uma visita e ver como ele está antes de ir encontrar o Tomás!
- Ele vai ficar muito feliz de ver você!
Assim que William saiu, percebi que outras pessoas estavam silenciosamente se aproximando de nós. Finalmente, uma delas indagou:
- Qual foi o veredito?
- Ainda não temos um veredito. Eu abdiquei do meu voto, pois assim não haveria dúvidas de que essa será uma decisão imparcial. Estou esperando para saber o que foi decidido, assim como vocês.
- E quanto a essa criança? Também não é filho de Conde Rafael?
- Sim... este também é meu primo...
- O que vai acontecer com ele? Ele não deveria estar sendo julgado também? Afinal, ele é filho daquele homem vil! Deveríamos infligir dor a Conde Rafael por meio do filho dele! Isso seria uma boa retribuição por tudo que ele já nos fez!
- Primo! Eles querem me ferir!
- Vejam! Ele é só uma criança e está extremamente assustado! Não vamos esquecer de que somos as vítimas e não os vilões aqui! Eu imagino toda a revolta e dor que vocês estão sentindo, mas ferir esta pobre criança não vai deixar nada melhor!
- Ele tem razão! Não vamos nos comportar como selvagens e esquecer de que lutamos contra a violência de Conde Rafael! O próprio fato de pensar em ferir esta criança já enfraquece a nossa causa, pois isso nos faria semelhantes a ele! Seriamos pessoas doentias!
- Sábias palavras Raul!
Depois do que Raul disse, ninguém mais se pronunciou. Mas várias pessoas continuaram esperando do lado de fora da sala de reuniões do conselho para saber o que havia sido decidido. Aparentemente, Hugo e Raul tinham se encontrado e rumado para o local. Ou será que Hugo tinha ido, imediatamente, atrás de Raul quando saíamos da sala de reuniões?
- Está tudo bem entre vocês?
- Sim. O Hugo é meu amigo acima de tudo! Se ele ama outra pessoa, eu deveria pelo menos ser capaz de aceitar isso... Embora eu não goste...
- Obrigado Raul! Eu sinto muito...
- Podemos deixar isso para trás? Eu realmente quero seguir em frente Hugo...
- Claro...
- Você foi atrás dele? Foi por isso que saiu correndo tão de repente?
- Sim! Eu estava tentando ajudar o Rafael, mas não queria magoar o Raul! Eu fui atrás dele e nós tivemos uma breve conversa, então eu o convenci a estar presente quando derem o veredito, pois ele é parte do conselho e tem o direito de estar aqui.
- Eu expliquei a ele que não estou magoado dessa vez! Na verdade ele foi sincero comigo e eu aprecio muito o modo como ele vem lidando com essa situação. Eu apenas estou triste e um pouco frustrado... Mas isso vai passar! Ainda continuamos amigos!
- Com certeza Raul! Todos vocês são muito importantes para mim! Eu nem sei se estaria vivo sem a ajuda de vocês!
- Ei, você é amigo do meu irmão, certo?
- Eu sou sim Davi! Você se lembra de mim?
- Claro! Eu vi você beijando meu irmão e...
- Atenção! A quem interessar, nós já temos o veredito sobre o acusado Rafael II!
A decisão, finalmente, tinha sido tomada. Eu tinha me eximido da responsabilidade de decidir o futuro do meu primo e ainda não estava totalmente certo do quão bom isso tinha sido. Caso ele fosse condenado à morte, eu não seria culpado por omissão? Afinal, eu era a única família que poderia intervir por ele no meio de tantas pessoas que ele magoou! Agora nada disso tinha importância, pois, em alguns instantes, os conselheiros iriam revelar o futuro de Rafael e já não havia mais nada que eu pudesse fazer por ele.
- Inicialmente, é necessário dizer
que esta foi uma decisão difícil e não-unânime...
- Não! Não é justo! – gritou Hugo,
em meio à multidão.
- Companheiro Hugo, por favor,
deixe-me terminar de informar a decisão.
- Pedimos desculpas, ele só está muito
nervoso. Pode prosseguir conselheiro! Certo Hugo?
- Sim, eu peço desculpas...
pode continuar...
- Obrigado! Continuando, esta decisão
é controversa, porém representa a opinião da maioria dos conselheiros. Peço a todos
os presentes que se comprometam a respeitar a decisão de... bem... conceder anistia
ao acusado... – neste momento, várias pessoas na multidão começam a gritar em desaprovação,
mas são prontamente contidas pelo porta-voz - ATENÇÃO! Como eu disse anteriormente,
sabemos que esta é uma decisão controversa, mas pedimos que confiem na decisão
dos vossos conselheiros e, para aqueles que ainda tiverem problemas com esta
decisão, estaremos abertos para ouvi-los a seguir. Entretanto, gostaríamos de
ressaltar alguns pontos importantes acerca desta decisão: quanto ao irmão mais
novo, visto que não teve participação direta no que ocorreu em Pasine e por se
tratar meramente de uma criança, não será realizado julgamento, embora ambos não
estão livres para partir, de modo que devem permanecer em Arlyston sob supervisão
direta do conselheiro Felipe, o qual foi nomeado como guardião dos dois a
partir de agora. Caso algum dos dois tente sair do vilarejo sem supervisão, os
demais moradores estão autorizados a tomar as medidas necessárias. O acusado
está em período probatório por prazo indeterminado, de modo que deve provar o
seu valor ao povo de Arlyston, contribuindo ativamente para o bem do vilarejo.
Caso, seja apanhado em qualquer atividade que prejudique o vilarejo ou não
contribua da mesma forma que os outros, este conselho fará nova avaliação para
reavaliar a decisão de anistia. Por fim, o acusado está obrigado a se desculpar
pessoalmente com as famílias de cada pessoa que foi afetada pelas suas ações.
Caso Rafael II e o conselheiro Felipe estejam de acordo com essas condições, podemos
dar por encerrada a deliberação deste caso e iniciar o período probatório, no
qual o ex-visconde deve tentar se integrar a este vilarejo e tentar se redimir
dos seus erros.
- Eu aceito estes termos e admiro
a objetividade do conselho nesta decisão – prontamente respondi – responsabilizo-me
pelos cuidados de Rafael II e Davi, fazendo o possível para que se integrem ao
nosso vilarejo e sejam dignos da misericórdia que estão demonstrando para com
eles.
- Muito bem, que assim seja –
respondeu o porta-voz – Tragam Rafael II! – ordenou ele. Assim que o meu primo
saiu à rua, a multidão iniciou novamente a gritar – SILÊNCIO! Repito que,
qualquer pessoa que esteja descontente com a decisão pode conversar conosco a
seguir. Por ora, vamos confirmar se o acusado aceita os nossos termos, em cujo
caso será escoltado até o alojamento do conselheiro Felipe. Então, o que tem a
dizer em relação ao que foi decidido? – finalizou ele, dirigindo-se a Rafael.
- Eu... bem... – podia-se ver
que pronunciar aquelas palavras estava a ser uma tortura para ele – Eu agradeço
a oportunidade... vou fazer tudo... tudo para provar que me deixar viver não foi
um erro...
- Sendo assim, dou por encerrado
este veredito e peço que todos voltem às suas atividades. Como eu disse, quem não
se sentiu representado por esta decisão pode vir conversar com o conselho agora
– Assim, a multidão dispersou-se, embora muitas das pessoas estivessem
visivelmente incomodadas e descontentes.
- Então eu acho que podemos ir –
disse eu, depois que a multidão havia se dispersado, dirigindo-me a Rafael, o
qual estava sendo contido por dois conselheiros.
- Rafael! – disse Hugo, abraçando-o
– Ainda bem que, no fim, deu tudo certo!
- Podes parar com... –
respondeu Rafael, corado, visivelmente desconfortável e tentando se desvencilhar
de Hugo – isso... sabes que eu não gosto...
- Bem, pois pode começar a se
acostumar – respondeu Hugo, determinado – Boa parte da mudança que precisa ocorrer
contigo diz respeito a te aceitares! És um de nós agora e aqui nós demonstramos
afeto sempre que nos apetece!
- Sim... é que...
- Nem adianta, este aqui quando
põe algo na cabeça, é extremamente persistente!
- Sou mesmo! – confirmou Hugo -
Agora vamos andando, afinal, com certeza, precisas urgentemente descansar! No
momento estás com uma aparência péssima, que não faz jus à tua beleza!
- Está bem! Está bem! Desde que
pares com estas coisas de abraços e elogios – respondeu Rafael, visivelmente
desconcertado – Será que podem me levar de uma vez ao alojamento... por...
favor? – finalizou ele, dirigindo-se aos conselheiros, os quais assentiram e começaram
a conduzi-lo, enquanto eu me mantive um pouco atrás, junto com Hugo.
- Bem, parece que as mudanças já
começaram – disse eu, sussurrando e rindo – Já até ouvimos um “por...favor?”
- Espero que sim – respondeu Hugo
em um tom mais sério – Sabes tanto quanto eu que ele ainda não está fora de
perigo e, com aquele temperamento, não sei se ele conseguirá mostrar que mudou...
e se eles voltarem atrás na decisão? E se...
- Calma – pus minhas mãos nos
ombros dele – Te importas de verdade com ele, não é? Dá para perceber!
- Sim! Como eu disse, que sei
que ele foi parte de coisas horríveis... que ele te torturou... e eu sinto
muito! Mas eu sei que ele não é tão mau quanto parece!
- Eu também já comecei a perceber
isso, embora não possa perdoá-lo completamente por ora...
- Eu imagino...
- Mas não se engane, eu realmente
espero que isso dê certo! Afinal, ele é meu primo! A única diferença entre ele
e eu é que o meu pai não era um monstro! Olha, eu vou fazer de tudo para que
ele consiga se integrar aqui e tentarei convencer o conselho a manter a decisão,
mas vou precisar da tua ajuda para ter certeza de que Rafael vai fazer a parte dele.
- Quanto a isso, pode ficar
tranquilo, pois eu estarei todos os dias de olho nele! Fazendo de tudo para que
a adaptação seja mais fácil!
- Eu tenho certeza de que sim! – neste
momento os conselheiros, que estavam logo à frente, chegaram ao meu alojamento,
então eu finalizei – Eu fico muito feliz de ver o quanto crescestes
emocionalmente Hugo, a ponto de poderes ajudar outra pessoa que também está
perdida a encontrar o próprio caminho! – dito isso, dirigi-me aos conselheiros –
Eu assumo daqui. Muito obrigado! – Assim que conduzi Rafael para dentro do
alojamento, Davi veio ao nosso encontro e abraçou o irmão, enquanto Tomás e
William expressaram com olhar grande surpresa e confusão.
- Irmão! É tão bom te
ver de novo! Eu pensei que eles fossem...
-
Está tudo bem agora, eu acho… - respondeu Rafael, olhando para mim.
- Ótimo! Quando
podemos ir para casa?
- Bem, quanto a isso... Davi,
esta é sua a nova casa! O conselho aceitou libertar o Rafael, com a condição de
que os dois fiquem aqui em Arlyston... não, se preocupe, pois ninguém os fará
mal, isto eu garanto! Mas vocês precisarão executar tarefas, assim como todos
neste vilarejo!
- Mas eu nunca fiz
nenhuma tarefa... e se não gostarem e quiserem me punir!
- Ninguém vai te punir
Davi! Além disso, não se preocupe, pois nós vamos ajudar!
- Prometem?!
- É claro! Nós gostamos
muito de você e vamos fazer de tudo para que consiga se sentir em casa aqui!
- Exato! Nós vamos
cuidar de você! Isso é uma promessa! E assim que eu estiver melhor eu prometo
que vamos te levar para ver as partes mais bonitas do vilarejo!
- Eu gostaria muito!
Obrigado Tomás!
-
Claro, porque aqui todos vivem felizes para sempre… – resmungou Rafael.
-
E… quase! – respondeu Hugo – Quase ficamos uma conversa inteira sem comentários…bem,
comentários como só você sabe fazer! – Finalizou ele rindo – Eu peço desculpas,
ele ainda é um trabalho em andamento!
- Bem, eu vou dar crédito a ele por ter ficado tanto tempo sem fazer os seus comentários, mas realmente a atitude precisa melhorar! De fato, nós aqui em Arlyston, ultimamente, não temos trabalhado com a perspectiva de “felizes para sempre”, pois, como você mesmo sabe, os nossos entes queridos podem desparecer de nossas vidas de uma hora para outra. Mas temos tentado trabalhar com a perspectiva de fazer tudo uns pelos outros e tentar tirar o melhor do tempo que temos com aqueles que amamos. Talvez essa seja a maior lição que podes aprender conosco e nós... bem... eu, pelo menos, estou disposto a recomeçar do zero e te ajudar no que for possível. Mas eu preciso que estejas disposto a trilhar esse caminho junto comigo.
- Bem…
- Não precisa responder
agora, até porque eu preciso ir ver o Bernardo. Mas pensa sobre isso! E digo
mais, caso você melhore a sua atitude, eu não vou ser o único a te oferecer
ajuda! Aqui em Arlyston, assim como na antiga Finnel, nós estamos abertos a
receber todos aqueles que estejam de coração aberto para fazer parte da nossa
família – dito isso, eu saí e direção ao local onde estava Bernardo, com o
coração um pouco mais leve, por ter momentaneamente resolvido o problema do
julgamento de Rafael. Agora, o que eu mais queria era finalmente ter Bernardo
nos meus braços, sem pressa... apenas nós dois...depois de tanto tempo.
aaaaaaaain
ResponderExcluirEu choro com essa historia. não poq ela é bem emocionante, mas porque eu tenho que esperar meses pra ler cada capítulo .-.
ResponderExcluirEsquece as outras histórias... de prioridade a essa
ResponderExcluirpor favor.
Kkkkkkkkkkk vdd
ExcluirSimplesmente amo a história.porém fico triste pois demora muito ,inclusive o capítulo 7 levou um ano ,espero que você consiga agilizar isso Kali
ResponderExcluirVocê poderia, por gentileza continuar logo o conto por favor?
ResponderExcluirJá está muito irritante toda essa espera e demora sua!
Essa espera é muito torturante!!
ResponderExcluirRs
Sua historia é linda, mais você parece não se importar, está jogando uma historia linda no lixo... :/ é uma pena... eu realmente gosto muito dela.
ResponderExcluirsua historia realmente e muito linda vc se preucupou cm os detalhes a ser passado na historia se retratando na epoca retratada mas ai termine a historia cm um final feliz...
ResponderExcluirMeu Deus, li toda a história de uma vez. Por favor, continua. Tô nervoso pra saber o final!
ResponderExcluirMeu Deus, li toda a história de uma vez. Por favor, continua. Tô nervoso pra saber o final!
ResponderExcluirEstou lendo, E gosto muito porém estou desanimado por saber q demora tanto postar:(
ResponderExcluirpff continue a historia, é muito emocionante!!!
ResponderExcluirAmo todas as suas Histórias...
ResponderExcluirMas é nessa que eu choro mais...
E eu tomei a liberdade de indicar este blog para uns amigos... rsrsrsrsrsrsrs
transforme sua historia em um livro,se você quiser pode publicar na perse que e uma editora que publica livros para autores independentes e é gratuito, aqui esta o link http://www.perse.com.br/novoprojetoperse/WF1_ShopWindows.aspx
ResponderExcluirVelho,até agora não terminou?
ResponderExcluirJá estamos em 2017 e nada do último capítulo. Por favor continua
Cadê os próximos capítulos???
ResponderExcluirJa li 3 vezes essa história. Publiquem loo
Por favor dê continuidade à a história, é mto inspiradora.
ResponderExcluirVc é muito talentoso cara, continue escrevendo e tente transformar essa maravilhosa historia em um livro, voce não faz ideia do quanto essa historia alegrou e tornou divertidas as minhas madrugadas, muito obrigado, e continue a escrever
ResponderExcluirOlá, agradeço muito por acompanhar as histórias Não tenho conseguido postar as continuações, mas comentários como esse me deixam mais motivado. Por isso, tentarei postar novos capítulos em breve.
ExcluirJa que você desapareceu e não escreveu mais, eu irei me apropriar dessa história e terminá-la, pronto falei.
ResponderExcluirOlá, agradeço muito por acompanhar as histórias. Nos últimos anos a minha vida enveredou por outros caminhos e não tenho conseguido postar as continuações, mas não é necessária a apropriação haha (entretanto o encorajo a escrever as suas histórias, com certeza serão muito interessantes e eu ficaria feliz de lê-las. Caso o faça, me mande um link). Tentarei postar novos capítulos em breve.
ExcluirCadê a continuaçãooooooo??? :(
ResponderExcluirOlá, agradeço muito por acompanhar as histórias. Nos últimos anos a minha vida enveredou por outros caminhos e não tenho conseguido postar as continuações, mas tentarei postar novos capítulos em breve.
ExcluirE morreu...
ResponderExcluirThe and 😭😭😭😭
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