segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Capítulo 6 - Revolução: Pasine

Aproximadamente, um mês se passou desde a Homorevolta em Finnel e, infelizmente, desde a morte de Maria, uma mulher que nos acolheu tão bem e que morreu em nome de nossa causa, assim como José, um pai orgulhoso de lutar para que outras pessoas não morressem pelas mãos de Conde Rafael, assim como acontecera com o seu filho, que foi caçado por ser homossexual.
O meu grupo transformou a tristeza pela morte dessas pessoas em força para continuar resistindo contra a caça dos homossexuais. Assim, nós começamos pela revitalização e reorganização do vilarejo para ser, efetivamente, a nossa primeira base de resistência ao meu tio.
Novamente, nós fomos distribuídos em subgrupos, de acordo com as habilidades de cada componente do grupo. Dentre as atividades, estavam inclusas: construção de cercas ao redor do vilarejo, mapeamento dos túneis subterrâneos, organização e racionamento dos suprimentos, (re) construção das casas que estavam abandonadas ou destruídas, planejamento de estratégias de defesa e ataque, cuidado com as pessoas que estavam feridas e em recuperação depois da tomada do vilarejo, entre outras.
Eu nunca realmente aspirei a um cargo de liderança, porém, eu senti que aquelas pessoas precisavam de mim por algum motivo, pois de alguma maneira eu as inspirava a continuar seguindo em frente. Bernardo estava eventualmente ao meu lado no grupo de planejamento de estratégias, porém ele se mostrou bastante confortável em liderar o grupo de construção de cercas, assim como o de (re) construção de casas pelo vilarejo. Quanto a Raul, Tomás e William, estes também compunham o grupo de planejamento, porém, concomitantemente, estavam empenhados em liderar pequenos grupos de treinamento para batalha, para as pessoas que estavam recuperadas da tomada do vilarejo. Hugo dificilmente participava das reuniões de planejamento e se sentiu mais confortável em liderar o grupo de organização e racionamento de suprimentos, assim como de preparação de comida para a população.
Assim, de certo modo, nós construímos uma nova sociedade, na qual cada pessoa contribuía de alguma forma para o desenvolvimento de Finnel e para a organização dos próximos passos da nossa revolução contra Conde Rafael. Eu sempre estava, rotativamente, presente em todos os grupos do vilarejo e liderava o grupo de planejamento, no qual participavam dez pessoas. Em umas das reuniões matinais deste grupo, Raul mencionou a seguinte estratégia:

- Nós temos que ser meticulosos em relação ao nosso próximo passo! Nós precisamos atacar os pequenos vilarejos, como Finnel, nos quais é mais provável que nós sejamos vitoriosos e consigamos novos recrutas para atacar Conde Rafael em seu próprio reino!
- Bem, eu não faço a mínima ideia de quais vilarejos são aliados de Conde Rafael, portanto acho que não poderia liderar isso, porém você pode ficar no comando Raul!
- Não seja bobo Felipe! Essas pessoas seguem a você e não a mim! Eu consigo reconhecer que talvez possas ser um líder bem melhor do que eu fui, pois olha só o quanto nós já progredimos desde que tomamos Finnel! Além disso, não precisas conhecer o local, mas sim liderar a investida quando tivermos essa informação!
- Eu conheço dois outros vilarejos próximos da fronteira com Heliópolis, que estavam sob o controle de Conde Rafael! Posso conduzi-los até lá!
- Isso é ótimo Valentim! Nós já temos dois possíveis alvos!
- Bem, realmente nós já temos por onde começar, mas...talvez nós pudéssemos organizar um grupo de mapeamento dos locais que estão ou não sob o controle do meu tio ao redor de Finnel e, sucessivamente, ir progredindo com as conquistas! Assim, poderemos fazer aliados antes mesmo de começar a invadir vilarejos!
- Isso é uma excelente ideia Felipe! Eu me voluntario para esse serviço, afinal o meu grupo está quase terminando as cercas ao redor de Finnel!
- Eu, com certeza, posso guiar o meu grupo de treinamento em uma missão também! Vocês também certo?
- Absolutamente! O meu grupo parece estar preparado para eventuais batalhas!
- Sim, o meu também está preparado para esse tipo de serviço Tomás!
- Muito bem, então nós já temos quatro grupos para realizar o mapeamento ao redor de Finnel! Ouçam bem, precisamos ser meticulosos, pois se encontrarmos inimigos, nós precisamos neutralizá-los, para que as nossas intenções não cheguem ao conhecimento de Conde Rafael! Esse serviço vai começar em uma semana a partir de hoje nos quatro vilarejos vizinhos de Finnel, sendo que Bernardo vai para o norte, Tomás para o sul, William para o oeste e Raul para o leste, o que acham?
- Perfeito Felipe! Está decidido então!
- Muito bem meu amor...digo, Felipe!
- Err...então eu acho que esta sessão está encerrada e nós podemos voltar para as nossas atividades! Até a próxima sessão!

Assim que todos saíram, Bernardo se aproximou de mim e disse:

- Oi meu amor! Nós não temos nos visto muito esses dias certo?
- Eu sinto muito meu amor, mas esse papel de líder consome muito o meu tempo! Eu queria poder passar mais tempo com você!
- Não há problema! Eu estou orgulhoso do excelente trabalho que você está fazendo e por você ter encontrado algo que te faz sentir bem aqui nesse lugar! Mas, será que você tem um tempinho pra gente hoje à tarde?
- É claro que eu tenho um tempo pra gente! Ainda mais quando você me pede com esse olhar tão cativante! Mas agora eu vou adiantar as minhas tarefas do dia então, tudo bem?
- Claro! Eu também tenho trabalho agora com o meu grupo! Nós vamos afixar a última fileira de cerca ao redor de Finnel!

Naquele dia faziam dois meses que Bernardo havia se tornado meu marido e eu tinha certeza que ele havia preparado algo para nós comemorarmos isso, porém o deixei pensar que me surpreenderia. Eu havia aprendido com Hugo uma maneira artesanal de fazer um cordão e havia sido, relativamente, bem-sucedido em confeccionar um para presentear Bernardo. No final da tarde, ele me levou até a nossa casa, que havia sido reconstruída pelo seu grupo - todas as pessoas foram sequencialmente alocadas, na medida do possível, em casas individuais e/ou para famílias, embora algumas pessoas ainda estivessem a espera de novas casas que estavam em reconstrução. No centro da nossa sala, havia uma pequena mesa repleta de comida e duas velas, que atribuíam um estilo que somente Bernardo conseguiria imprimir: simples, porém completo.

- Meu amor, isso é muito romântico! Olha toda essa comida! E essas velas!
- Você sabe que hoje fazem dois meses que nós estamos casados certo?
- Como eu poderia esquecer um dos dias mais felizes da minha vida? É claro que eu sei!
- Felipe, eu quero te dar um presente e não quero esperar até depois do jantar!
- Ora, sem problema meu amor! Você pode me dar agora!
- Tudo bem, mas eu quero que você feche os olhos enquanto eu vou buscá-lo! Não pode olhar!
- Tudo bem, eu não vou!

Eu fechei os meus olhos e, em poucos segundos, Bernardo deixou minhas mãos tocarem um objeto aparentemente grande, quadrado e largo, o qual eu não consegui associar a nenhum presente em particular. Quando Bernardo me disse que eu poderia abrir os meus olhos, eu fiquei maravilhado e sem palavras com o que eu vi: uma pintura enorme de mim, a qual era a mesma imagem que Bernardo havia reproduzido no retrato que me fez confessar os meus sentimentos por ele quando nos conhecemos. Ao perceber isso eu indaguei:

- Bernardo, como você conseguiu reproduzir essa imagem novamente? Na verdade, como você conseguiu material para fazer isso?
- Bem, quanto aos materiais, eu descobri que alguém nesse vilarejo gostava de pintar, pois havia um estoque de materiais de pintura em uma casa abandonada! Alguns materiais não puderam ser aproveitados, mas eu consegui o suficiente para fazer isso! Quanto à imagem, foi fácil reproduzir, considerando-se que eu sempre estou com essa imagem no meu bolso!

Bernardo retirou um pedaço de papel do bolso e eu reconheci a imagem que ele desenhara do meu rosto há muito tempo atrás, quando nós nos conhecemos e eu me apaixonei por ele.

- Eu somente melhorei a imagem e adicionei cores a ela! Porém ficou igual! Eu queria que você ficasse com isso como um presente! Essa imagem mostra o porquê de eu te amar e continuar todo dia me apaixonando ainda mais! Você é lindo e é extremamente genuíno!
- Amor...

Eu o beijei. Delicadamente. Apaixonadamente.

-Eu também tenho algo para você!

Eu puxei o cordão do meu bolso e envolvi a redor do pescoço dele.

- Ele não é tão bonito quanto o seu quadro, mas ele mostra que eu sempre vou me esforçar para conseguir ser o melhor que eu posso para você!
- Você já é mais do que eu sonhava em conquistar! Mas eu fico feliz que nós possamos crescer ainda mais juntos!

Depois disso, nós jantamos juntos e passamos muito tempo curtindo o nosso tempo juntos, o qual realmente tinha se tornado bastante escasso desde que eu havia assumido um cargo de comando, porém, aparentemente, isso não tinha afetado a nossa relação.
Uma semana depois, os diversos grupos estavam prontos para realizar a primeira missão exploratória ao redor de Finnel. O primeiro grupo a partir foi o de Raul, o qual estava cada vez mais apaixonado por Hugo, de modo que houve uma grande cena de despedida entre eles dois, e então o grupo partiu em direção ao leste nas primeiras horas da manhã. Tomás e William não fizeram uma grande cena, porém também reservaram um tempo para despedidas, sendo que esta era a primeira vez em muito tempo que eles estariam em uma missão separados, porém, logo ambos os grupos saíram, respectivamente, em direção ao sul e ao oeste logo depois do almoço. Bernardo, a meu pedido, foi o último a partir, assim eu poderia me despedir dele com calma, já que todos os outros grupos já haviam partido.

- Meu amor, não se preocupe! Eu vou voltar logo!
- Eu tenho certeza disso meu amor! Mas mesmo assim eu não posso evitar de sentir nervosismo por estar lhe deixando ir em uma missão sem mim, enquanto eu tenho que ficar aqui e cuidar do vilarejo.
- O seu trabalho é tão importante quanto o meu, além disso eu vou voltar bem depressa, para que nós possamos ficar juntos novamente! E com muita sorte, eu voltarei com mais aliados para a nossa revolução!
- Assim eu espero meu amor! Bem, eu não vou mais te deixar nervoso, apenas volte logo!

Nós nos beijamos e então fomos nos reunir ao resto do grupo de Bernardo o qual partiu logo em seguida. Depois disso, eu tentei ficar calmo e pensar que nada de mais ocorreria na jornada dos meus amigos e do meu marido além deles encontrarem mais aliados para a nossa causa. Desse modo, eu voltei às minhas atividades normalmente e esperei até ter notícias deles.
Três dias se passaram sem qualquer notícia, sendo que Hugo estava sempre por perto para conversar comigo quando não estava nos seus grupos de trabalho. Porém, no quarto dia, eu acordei com batidas na porta e corri, pensando que pudesse ter ocorrido alguma coisa com Bernardo, porém, Hugo estava parado na porta com uma bandeja cheia de comida para o café-da-manhã, então eu o deixei entrar e nós conversamos por algum tempo, porém, em certo momento da conversa, Hugo começou a agir estranho:

- Felipe, você ama mesmo o Bernardo?
- É claro Hugo, por que a pergunta?
- Eu não sei, vocês parecem tão diferentes! Eu não sei realmente o que foi que te fez se apaixonar por ele!
- Bem, amar é subjetivo! Eu o amo por uma série de razões que não são fisicamente aparentes! Mas você e o Raul também são bastante diferentes!
- Err...bem, mas eu não o amo!
- O que?! Mas então o que foi toda aquela despedida quando ele partiu?
- Eu não sei como dizer a ele! Eu gosto de outra pessoa...
- Hugo, apenas diga a verdade! É sempre melhor!
- Tudo bem...

Hugo se aproximou mais de mim e disse:

- Felipe, eu estou gostando muito de você!

Tudo aconteceu extremamente rápido: Hugo me beijou e, antes que eu pudesse ter qualquer reação, eu vi um vulto dele saindo pela porta. Bernardo chegara em nossa casa exatamente no momento em que Hugo passou dos limites. Eu corri atrás dele, pensando no quão sem caráter eu pareci aos olhos dele e desejava intensamente poder encontrá-lo logo, para que eu pudesse me explicar, mas acima de tudo, para que eu pudesse abraça-lo e sentir o seu corpo vivo, junto ao meu.

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