Depois desse dia perfeito, eu comecei a me sentir cada vez mais a vontade naquela casa e realmente me sentia parte daquela família. Com o passar dos dias eu e Bernardo começamos a circular pela cidade como um verdadeiro casal, primeiramente, porque nós estávamos nos apaixonando cada dia mais e, segundo, porque não havia nada naquele bendito vilarejo que me fizesse temer a reação das pessoas a esse fato. Além disso, ele passou a dormir quase todas as noites comigo em meu quarto, sendo que, com inegável esforço da minha parte, não houve nenhum tipo de relação sexual nesse período. Depois de dois meses, quando o pai de Bernardo percebeu esse fato, ele propôs que nós convivêssemos no mesmo quarto.
Em suma, tudo estava indo perfeitamente bem para mim naquele pequeno vilarejo, porém, como a vida é semelhante ao mar, que da calmaria pode passar à agitação com ondas violentas, algo mudou alguns meses depois: enquanto eu e Bernardo andávamos na principal rua do vilarejo, avistamos dois homens trajando vestes pomposas, as quais eu tive a impressão de já ter visto, recolhendo pequenos sacos de algumas pessoas, nos quais eu desconfiei haver dinheiro.
A princípio pensei que a minha impressão sobre aquelas pessoas pudesse ter sido apenas uma confusão, porém, mais a frente, eu perceberia a importância de se valorizar aquilo que foge aos olhos mas sensibiliza os outros sentidos, ou seja, algo pressentido inconscientemente. Neste dia nós seguimos o nosso caminho em direção à casa de Arthur, o senhor para quem Bernardo vendia lã e que tinha feito as minhas primeiras roupas.
- Bom dia Bernardo...Felipe! Como estão os rapazes?
- Estamos muito bem Arthur! Aqui está a encomenda de lã, como de costume.
- Ah sim! Espere um instante que eu vou buscar o dinheiro!
- Não precisa Arthur, na verdade nós queremos encomendar várias roupas em troca disso! Podes tirar as medidas para as minhas e do Felipe agora e depois o resto da família vem para que possas tirar as deles também.
- Claro Bernardo, farei isso com muito gosto! Então vocês dois podem entrar!
As roupas que nós formos encomendar eram para o noivado de Luíz e Henrique, que seria oficializado dentro de três meses. Toda a cidade fora convidada para o evento, que aconteceria no salão de festas da igreja.
- Então quer dizer que o Luíz vai casar?! mas ele não é muito novo pra isso? ainda tem tanta vida pela frente!
- Bem Arthur, os dois estão namorando há dois anos e a relação vem amadurecendo ao longo desse tempo, então eles decidiram levar isso a um nível mais sério de comprometimento.
- Sob essa perspectiva, você tem razão Bernardo! Mas e vocês dois, também estão pensando em casar?
- Por enquanto não! certo Felipe?!
- Realmente ainda não estamos pensando nisso, mas quem sabe daqui a alguns anos também!
- Desde a primeira vez que vocês vieram aqui eu sabia que algo ia acontecer entre os dois!
- Desde que vi ele pela primeira vez, eu também sabia que algo DEVERIA acontecer entre a gente!
- Que bom que aconteceu né?!
- Fico feliz por você dois, principalmente depois do Estevão...
- Não vamos falar disso Arthur! Por favor...
- Tudo bem...o que eu queria dizer é que, às vezes a gente encontra alguém especial só depois de passar por uma situação difícil...olha o meu caso, eu encontrei o Rodolfo depois de ter passado por momentos muito turbulentos!
- Que bom que vocês se encontraram então! Espero que esse seja o nosso caso, né Bernado?
- Com certeza!
Depois de ter encomendado as roupas para o noivado de Luíz nós caminhamos até a praça da cidade e permanecemos lá durante um bom tempo. Posteriormente, voltamos para casa e dormimos juntos. Há algum tempo, todas as vezes que dormimos juntos, as carícias e os beijos vinham se tornando cada vez mais intensos, mas Bernardo continuava firme em suas convicções e eu realmente não me importava de não poder ter esse tipo de prazer com ele ainda, pois a simples presença dele me fazia sentir pleno.
No outro dia, enquanto tomávamos café, alguém bateu à porta e Manoel foi atender. Quando voltou mencionou a presença de dois homens cobrando impostos e, enquanto ia buscar o dinheiro disse:
- Eu me esqueci que nessa época do ano eles vêm coletar os impostos!
Quando voltou e entregou o dinheiro aos homens, estes solicitaram averiguar quantas pessoas moravam na casa, então todos nos dirigimos à sala para a verificação.
- Na última verificação constava que apenas seis pessoas viviam nesta casa, porém aqui estão sete pessoas. Quem se juntou à família?
- Este rapaz é namorado do meu filho e está morando conosco atualmente!
- Como se chama e de onde veio rapaz?
- Meu nome é....
- Não há necessidade dessas formalidades agora...em breve iremos à sede do reino para registrá-lo como morador desta cidade.
- Bem...nesse caso vocês tem até o próximo ano para efetuar o registro, caso contrário precisarão pagar uma multa por abrigar estrangeiros ilegalmente.
- Com certeza providenciaremos isso até o próximo ano.
- Muito bem...nesse caso nós iremos embora. Tenham um bom dia!
Mais uma vez, por obra do acaso, informações importantes relacionadas ao local de onde eu vim foram ocultadas. Porém, este mesmo acaso viria, em breve, desvelar estas informações. Nesse momento a calmaria sofreu uma leve agitação, pois eu não conseguia tirar a impressão de familiaridade que aqueles rapazes me traziam, embora eu tenha ignorado este sentimento anteriormente.
Porém, momentaneamente, a história da minha vida ainda caminhava, alheia a outros acontecimentos, para o noivado de Luíz, que estava radiante. Este me convidou para organizar junto com ele a festa, portanto eu pedi para ser dispensado do trabalho no pasto para que pudesse me dedicar aos preparativos. Como sempre, Manoel e Bernardo foram muito amáveis e compreensíveis quanto a isso.
Desse modo, durante os três meses seguintes eu auxiliei Luíz na tarefa de organização do noivado, providenciando enfeites, convites, comida, bebida, entre outros detalhes, incluindo a confirmação da presença dos convidados.
Quando o grande dia chegou, a cidade inteira estava na festa, que transcorreu como o esperado. Nesse sentido, é importante destacar que a felicidade coletiva direcionada para aquela união homoafetiva me emocionou muito, pois, apesar de viver há algum tempo naquela cidade de preceitos tão abertos, eu ainda me comovia com a aceitação daquelas pessoas.
Os noivos também quase não conseguiam conter a felicidade e, nesse clima de festivo e feliz, os dois deram um passo importante na caminhada da vida, o qual seria concretizado dali a um ano, quando, de fato, o casamento ocorreria.
Depois que a festa havia acabado e nós retornamos para casa, Luíz veio me agradecer pela contribuição a festa:
- Felipe, muito obrigado pela sua ajuda na organização da festa! Tudo saiu como eu esperava hoje e eu não poderia estar mais feliz! Eu gosto de ti desde que chegastes a esta casa e sempre te considerei um segundo irmão, porém nesse período me mostrastes que eu realmente posso contar contigo.
- Pode ter certeza que podes contar comigo Luíz! Sempre que precisares é só me chamar que eu estarei à disposição! Como eu sempre disse, me sinto acolhido por essa família e sempre te considerei um irmão também, mas além disso, tu tens um papel fundamental na minha relação com o Bernardo, que me faz tão feliz, pois se não tivesses me alertado sobre os sentimentos dele e me apoiado, talvez nós não estivéssemos juntos.
- Que bom que está assim feliz Felipe! e eu considero que o Bernardo também esteja da mesma forma! Sendo assim, eu espero que daqui a algum tempo sejam vocês dois a subir naquele altar e consagrarem um laço de amor eterno! O Bernardo merece isso depois de tudo o que ele passou com o Estevão!
- Luíz, quem é esse sujeito? o Arthur também mencionou ele há algum tempo, mas o bernardo não quis falar sobre o assunto.
- Olha Felipe, eu não sei se eu deveria te contar, já que o Bernardo não o fez, mas acho que também tens o direito de saber do passado dele, afinal ele sabe tanto do teu, certo?
- Pensando por esse lado...
- Bem, mas eu só posso te contar amanhã, tudo bem?! porque hoje eu estou muito cansado e preciso dormir imediatamente!
- É claro Luíz! podes me contar isso amanhã...agora vai dormir que eu imagino o quanto deves estar cansado! Boa noite!
- Boa noite!
Depois de ouvir aquele nome ser mencionado mais de uma vez, eu fiquei muito curioso sobre o papel do sujeito denominado Estevão na vida de Bernardo, e estava ansioso para que Luíz esclarecesse essa história para mim no outro dia.
Além disso, mesmo passado algum tempo, eu ainda não conseguia me esquecer da impressão que havia tido em relação àqueles homens que coletaram impostos há alguns meses atrás, até que, enquanto estava deitado na minha cama refletindo sobre isso, eu consegui lembrar de onde eu os conhecia, e apenas uma palavra me veio à cabeça: Heliópolis.
Em suma, tudo estava indo perfeitamente bem para mim naquele pequeno vilarejo, porém, como a vida é semelhante ao mar, que da calmaria pode passar à agitação com ondas violentas, algo mudou alguns meses depois: enquanto eu e Bernardo andávamos na principal rua do vilarejo, avistamos dois homens trajando vestes pomposas, as quais eu tive a impressão de já ter visto, recolhendo pequenos sacos de algumas pessoas, nos quais eu desconfiei haver dinheiro.
A princípio pensei que a minha impressão sobre aquelas pessoas pudesse ter sido apenas uma confusão, porém, mais a frente, eu perceberia a importância de se valorizar aquilo que foge aos olhos mas sensibiliza os outros sentidos, ou seja, algo pressentido inconscientemente. Neste dia nós seguimos o nosso caminho em direção à casa de Arthur, o senhor para quem Bernardo vendia lã e que tinha feito as minhas primeiras roupas.
- Bom dia Bernardo...Felipe! Como estão os rapazes?
- Estamos muito bem Arthur! Aqui está a encomenda de lã, como de costume.
- Ah sim! Espere um instante que eu vou buscar o dinheiro!
- Não precisa Arthur, na verdade nós queremos encomendar várias roupas em troca disso! Podes tirar as medidas para as minhas e do Felipe agora e depois o resto da família vem para que possas tirar as deles também.
- Claro Bernardo, farei isso com muito gosto! Então vocês dois podem entrar!
As roupas que nós formos encomendar eram para o noivado de Luíz e Henrique, que seria oficializado dentro de três meses. Toda a cidade fora convidada para o evento, que aconteceria no salão de festas da igreja.
- Então quer dizer que o Luíz vai casar?! mas ele não é muito novo pra isso? ainda tem tanta vida pela frente!
- Bem Arthur, os dois estão namorando há dois anos e a relação vem amadurecendo ao longo desse tempo, então eles decidiram levar isso a um nível mais sério de comprometimento.
- Sob essa perspectiva, você tem razão Bernardo! Mas e vocês dois, também estão pensando em casar?
- Por enquanto não! certo Felipe?!
- Realmente ainda não estamos pensando nisso, mas quem sabe daqui a alguns anos também!
- Desde a primeira vez que vocês vieram aqui eu sabia que algo ia acontecer entre os dois!
- Desde que vi ele pela primeira vez, eu também sabia que algo DEVERIA acontecer entre a gente!
- Que bom que aconteceu né?!
- Fico feliz por você dois, principalmente depois do Estevão...
- Não vamos falar disso Arthur! Por favor...
- Tudo bem...o que eu queria dizer é que, às vezes a gente encontra alguém especial só depois de passar por uma situação difícil...olha o meu caso, eu encontrei o Rodolfo depois de ter passado por momentos muito turbulentos!
- Que bom que vocês se encontraram então! Espero que esse seja o nosso caso, né Bernado?
- Com certeza!
Depois de ter encomendado as roupas para o noivado de Luíz nós caminhamos até a praça da cidade e permanecemos lá durante um bom tempo. Posteriormente, voltamos para casa e dormimos juntos. Há algum tempo, todas as vezes que dormimos juntos, as carícias e os beijos vinham se tornando cada vez mais intensos, mas Bernardo continuava firme em suas convicções e eu realmente não me importava de não poder ter esse tipo de prazer com ele ainda, pois a simples presença dele me fazia sentir pleno.
No outro dia, enquanto tomávamos café, alguém bateu à porta e Manoel foi atender. Quando voltou mencionou a presença de dois homens cobrando impostos e, enquanto ia buscar o dinheiro disse:
- Eu me esqueci que nessa época do ano eles vêm coletar os impostos!
Quando voltou e entregou o dinheiro aos homens, estes solicitaram averiguar quantas pessoas moravam na casa, então todos nos dirigimos à sala para a verificação.
- Na última verificação constava que apenas seis pessoas viviam nesta casa, porém aqui estão sete pessoas. Quem se juntou à família?
- Este rapaz é namorado do meu filho e está morando conosco atualmente!
- Como se chama e de onde veio rapaz?
- Meu nome é....
- Não há necessidade dessas formalidades agora...em breve iremos à sede do reino para registrá-lo como morador desta cidade.
- Bem...nesse caso vocês tem até o próximo ano para efetuar o registro, caso contrário precisarão pagar uma multa por abrigar estrangeiros ilegalmente.
- Com certeza providenciaremos isso até o próximo ano.
- Muito bem...nesse caso nós iremos embora. Tenham um bom dia!
Mais uma vez, por obra do acaso, informações importantes relacionadas ao local de onde eu vim foram ocultadas. Porém, este mesmo acaso viria, em breve, desvelar estas informações. Nesse momento a calmaria sofreu uma leve agitação, pois eu não conseguia tirar a impressão de familiaridade que aqueles rapazes me traziam, embora eu tenha ignorado este sentimento anteriormente.
Porém, momentaneamente, a história da minha vida ainda caminhava, alheia a outros acontecimentos, para o noivado de Luíz, que estava radiante. Este me convidou para organizar junto com ele a festa, portanto eu pedi para ser dispensado do trabalho no pasto para que pudesse me dedicar aos preparativos. Como sempre, Manoel e Bernardo foram muito amáveis e compreensíveis quanto a isso.
Desse modo, durante os três meses seguintes eu auxiliei Luíz na tarefa de organização do noivado, providenciando enfeites, convites, comida, bebida, entre outros detalhes, incluindo a confirmação da presença dos convidados.
Quando o grande dia chegou, a cidade inteira estava na festa, que transcorreu como o esperado. Nesse sentido, é importante destacar que a felicidade coletiva direcionada para aquela união homoafetiva me emocionou muito, pois, apesar de viver há algum tempo naquela cidade de preceitos tão abertos, eu ainda me comovia com a aceitação daquelas pessoas.
Os noivos também quase não conseguiam conter a felicidade e, nesse clima de festivo e feliz, os dois deram um passo importante na caminhada da vida, o qual seria concretizado dali a um ano, quando, de fato, o casamento ocorreria.
Depois que a festa havia acabado e nós retornamos para casa, Luíz veio me agradecer pela contribuição a festa:
- Felipe, muito obrigado pela sua ajuda na organização da festa! Tudo saiu como eu esperava hoje e eu não poderia estar mais feliz! Eu gosto de ti desde que chegastes a esta casa e sempre te considerei um segundo irmão, porém nesse período me mostrastes que eu realmente posso contar contigo.
- Pode ter certeza que podes contar comigo Luíz! Sempre que precisares é só me chamar que eu estarei à disposição! Como eu sempre disse, me sinto acolhido por essa família e sempre te considerei um irmão também, mas além disso, tu tens um papel fundamental na minha relação com o Bernardo, que me faz tão feliz, pois se não tivesses me alertado sobre os sentimentos dele e me apoiado, talvez nós não estivéssemos juntos.
- Que bom que está assim feliz Felipe! e eu considero que o Bernardo também esteja da mesma forma! Sendo assim, eu espero que daqui a algum tempo sejam vocês dois a subir naquele altar e consagrarem um laço de amor eterno! O Bernardo merece isso depois de tudo o que ele passou com o Estevão!
- Luíz, quem é esse sujeito? o Arthur também mencionou ele há algum tempo, mas o bernardo não quis falar sobre o assunto.
- Olha Felipe, eu não sei se eu deveria te contar, já que o Bernardo não o fez, mas acho que também tens o direito de saber do passado dele, afinal ele sabe tanto do teu, certo?
- Pensando por esse lado...
- Bem, mas eu só posso te contar amanhã, tudo bem?! porque hoje eu estou muito cansado e preciso dormir imediatamente!
- É claro Luíz! podes me contar isso amanhã...agora vai dormir que eu imagino o quanto deves estar cansado! Boa noite!
- Boa noite!
Depois de ouvir aquele nome ser mencionado mais de uma vez, eu fiquei muito curioso sobre o papel do sujeito denominado Estevão na vida de Bernardo, e estava ansioso para que Luíz esclarecesse essa história para mim no outro dia.
Além disso, mesmo passado algum tempo, eu ainda não conseguia me esquecer da impressão que havia tido em relação àqueles homens que coletaram impostos há alguns meses atrás, até que, enquanto estava deitado na minha cama refletindo sobre isso, eu consegui lembrar de onde eu os conhecia, e apenas uma palavra me veio à cabeça: Heliópolis.
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